O USO TERAPÊUTICO DO TURU (Neoteredo reynei) EM UMA COMUNIDADE DE SÃO CAETANO DE ODIVELAS-PA
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Iniciação Científica
Autores
de Lima Santos, B. (IFPA) ; M. V. Corrêa, S. (IFPA) ; Silva, I. (CESUPA) ; C. da Silva, J. (CESUPA) ; A. Rodrigues, E. (IFPA) ; T. S. da Luz, P. (IFPA)
Resumo
Este trabalho teve como objetivo realizar estudo químico preliminar e taxonômico das amostras em fase AcOEt e MeOH de Extrato Orgânico (E.O.) do turu e coletar dados sobre culturas e hábitos relacionados ao seu uso terapêutico. Para tanto, foram coletadas suas amostras; após, verificou-se sua taxonomia e submeteu-se os E.O a testes através de técnicas de prospecção fitoquímica. Como resultado, destacou-se a predominância de alcaloides e desenvolveu-se discussão na tentativa de atribuí-las como principal indicativo da bioatividade do turu frente ao Mycobacterium tuberculosis, como justificativa para seu potencial terapêutico. Os dados sobre hábitos culturais foram discutidos em palestra a uma comunidade de pescadores de São Caetano de Odivelas.
Palavras chaves
Turu; São Caetano de Odivelas; Alcaloides
Introdução
Os teredos, conhecidos popularmente como “turu”, são moluscos largamente distribuídos sobre o globo terrestre, ocorrendo tanto em ambientes estuarinos como oceânicos. (FIGUEIREDO, 1994). No Brasil, os turus de manguezais são utilizados no norte do país como alimento, fortificante, afrodisíaco e também no tratamento de diversas doenças, entre elas, anemia e tuberculose (TB) (MÜLLER; LANA, 2004). De acordo com Rios (1994), a costa do Pará tem potencial para manifestar 19 espécies do turu. Sendo a espécie Neoteredo reynei a mais encontrada na região da faixa litorânea do município de São Caetano de Odivelas-PA. Reconhecendo-se os organismos marinhos como promissora fonte de produtos naturais, considerou-se a necessidade de estudos sobre os recursos biológicos disponíveis no ambiente amazônico, além da necessidade de maior divulgação dos benefícios do turu à população, os quais foram relatados por comunidades de pescadores que acreditam na sua capacidade terapêutica e por Figueiredo (1994). Portanto, teve-se como objetivos, coletar dados sobre culturas e hábitos relacionados ao uso terapêutico do turu; realizar estudos químicos preliminares e taxonômicos das amostras em fase AcOEt e MeOH dos Extratos Orgânicos (E.O); discutir alguns resultados em conformação com a literatura. Ao aliar-se estudo da prospecção fitoquímica para testes de classes específicas de metabólitos secundários, obteve-se como resultado a predominância de alcaloides, os quais são apontados como possuidores de atividades biológicas importantes para a saúde humana e para avaliação das atividades farmacológicas. (MATOS, 1997.)
Material e métodos
Realizou-se visita técnica a uma comunidade de pescadores do município de São Caetano de Odivelas-PA e nesta etapa, ministrou-se uma palestra sobre a história, taxonomia e alguns estudos referentes ao turu, a partir de dados da literatura e, após, os componentes da comunidade relataram fatos de “cura” da tuberculose através do caldo do molusco, emplasto ou in natura, aliado a medicamentos receitados por médicos ou não. A palestra e a conversa foram gravadas em meio digital. Na próxima etapa, coletou-se amostras do molusco em troncos de Rhizophora mangle, com a colaboração de pescadores da região na escolha e cortes dos troncos das árvores em estado inicial de decomposição. Obteve-se cinco amostras in natura do turu, limpas superficialmente com água destilada e acondicionadas diretamente aos frascos de vidro, esterilizados, contendo os solventes AcOEt e MeOH. Identificou-se para posterior tratamento de identificação taxonômica e de análises químicas. Ratificou-se a identificação taxonômica da espécie a partir do “Manual de Identificação de Moluscos Bivalves da Família dos Teredinídios Encontrados no Litoral Brasileiro” (MÜLLER; LANA, 2004). Submeteu-se os E.O de Neoteredo reynei a testes químicos para determinar a ausência ou presença das principais classes de metabólitos secundários, de interesse farmacológico, a partir dos extratos AcOEt e MeOH obtidos na coleta, executando-se os testes segundo a metodologia descrita por Matos (1997). A escolha dos solventes para realizar a extração foi feita visando os objetivos do estudo e os resultados da abordagem, então selecionou-se solventes de intermediária e alta polaridade, levando-se em consideração a polaridade das substâncias presentes nos extratos AcOEt e MeOH. (MATOS, 1997).
Resultado e discussão
Confirmou-se a presença de alcaloides, de grande importância por
apresentarem aplicações bem estabelecidas no campo farmacológico. Alcaloides
são categorizados em poucos grupos de acordo com suas estruturas e
isolamento de fontes terrestres e marinhas. Estas novas drogas podem ser uma
linha decisiva na luta à TB.
Buscou-se na literatura e verificou-se a existência de uma família de
alcaloides bromopirrólicos exclusivamente biosintetizados por invertebrados
marinhos, caracterizados estruturalmente pela presença das subunidades mono
ou dibromopirrólica, carboxamida e imidazólica funcionalizada, conectadas
através de uma cadeia espaçadora alifática, geralmente propílica,
funcionalizada ou não. (ARNDTET al., 2008). Tais classes não podem ser
descartadas, pois apresentam características antimicrobianas promissoras
para o desenvolvimento de fármacos à TB. Apesar dos avanços realizados no
tratamento e manejo, a TB ainda permanece como um dos principais problemas
de saúde pública. Os efeitos adversos dos fármacos de primeira e segunda
linha para o tratamento geraram maior interesse na pesquisa em produtos
naturais com esperança de desenvolver novas drogas.
Quanto ao relato da comunidade de pescadores, estes apontaram que o período
menos chuvoso é o melhor para consumo do turu, pois o deixa mais nutritivo,
saboroso e o torna mais apropriado para o consumo que favoreça a cura de
doenças como, anemia, tuberculose, câncer e outras; no período de chuvas,
não são muito utilizados com a finalidade de tratamento para doenças. Estes
relatos, por certo, necessitam de mais acuradas pesquisas no intuito de
verificar se há relação entre o período chuvoso da região e a presença, no
turu, de compostos que tenham atividade terapêutica.
Conclusões
Por meio desta pesquisa, notou-se a importância de se estudar também os animais marinhos como fonte de produtos naturais, a qual revela-se promissora na busca de novas classses de substâncias bioativas, para que possa ratificar o uso, pela população, na cura de doenças. Porém, faz-se necessário investigações mais avançadas e específicas, como utilização de HPLC, RMN, entre outras técnicas, afim de obter-se resultados mais satisfatórios, frente a classe de alcaloides presentes nos E.O. de Neoteredo reynei.
Agradecimentos
Ao IFPA, que oportunizou a pesquisa e ao Centro de Estudos Superiores do Pará, por ter disponibilizado laboratório e materiais necessários para a realização de testes para metabólicos secundários.
Referências
ARNDT, H.; RIEDRICH, M. Synthesis of marine alkaloids from the oroidin family. Angewandte Chemie. 2008, 47, 4785. [CrossRef] [PubMed].
FIGUEIREDO, N. Os ‘bichos’ que curam: os animais e a medicina de ‘folk’ em Belém do Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Göeldi, 10: 75-91. 1994.
MATOS, F. J. A. Introdução a fitoquímica experimental. Ed. UFC. Fortaleza. 12 Ed. 1997.
MÜLLER, A. C. P.; LANA, P. C. Manual de identificação de moluscos bivalves da família dos teredinídeos encontrados no litoral brasileiro. In: Paraná. UFPR, 2004.
RIOS, E. C. 1994. Seashells of Brazil. 2. ed. Rio Grande: Fundação Cidade do Rio Grande. 492 p., 113 pranchas.