AVALIAÇÃO CITOTÓXICA DO EXTRATO ALCOÓLICO DE PERESKIA ACULEATA MILLER EM ARTEMIA SALLINA LEACH
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Iniciação Científica
Autores
Marques Chagas, R. (IFRJ CAMPUS NILÓPOLIS) ; Leal de Castro, D. (UFRRJ)
Resumo
Pereskia aculeata Miller é uma trepadeira arbustiva conhecida comumente como ora-pro-nobis. Apresenta elevado teor de mucilagem e proteína, sendo empregada na indústria alimentícia e farmacêutica. Na medicina popular, é utilizada externamente como emoliente. Na busca de substância(s) biologicamente ativa(s), este trabalho realizou um estudo fitoquímico biomonitorado no qual foi testado o extrato alcoólico obtido das folhas desta espécie, sendo possível então avaliar e dimensionar a toxicidade relativa dessa substância. O presente projeto teve como principal objetivo realizar o ensaio toxicológico nessa espécie vegetal utilizando a Artemia salina como bioindicador, teste este considerado como uma das ferramentas mais utilizadas para a avaliação preliminar de toxicidade.
Palavras chaves
Análise fotoquímica; Bioensaio; Toxicidade
Introdução
O uso de plantas e seus derivados, com finalidades terapêuticas, tem sido realizado de maneira extensiva e crescente ao redor do mundo, conforme dados obtidos junto ao mercado farmacêutico e aos altos números que circundam a comercialização de fitomedicamentos, observados na ultima década (NIERO, 2010). A crescente busca por fontes naturais aparece como uma alternativa ao uso dos constituintes sintéticos (como os antioxidantes, por exemplo) para fármacos e a ora-pro-nobis se apresenta como uma das fontes naturais mais procuradas. (SOUSA et al., 2014). Comumente chamada de ora-pro-nobis, trepadeira-limão e groselha-de-barbados, a espécie vegetal Pereskia aculeata Miller é uma trepadeira semilenhosa, que pode atingir 10m de altura, com ramos longos e espinhos na axila das folhas elípticas e carnosas (ALZUGARAY; ALZUGARAY, 1988; LORENZI; SOUZA, 1995; MANKE, 1998). É oriunda de regiões tropicais e subtropicais como Brasil, África do Sul e Argentina. Por apresentar alto teor de mucilagem, essa espécie acaba sendo empregada externamente como emoliente na medicina popular e consumida como fonte alimentar (CRUZ, 1995). Em virtude da presença do biopolímero arabinogalactana e do elevado conteúdo protéico, essas plantas têm despertado o interesse das indústrias alimentícia e farmacêutica (MERCÊ et al., 2001). Visando avaliar a introdução desse produto natural como matéria-prima para a preparação de novas moléculas com potencial aplicação na área de fármacos, resolveu-se testar sua toxicidade. Os testes de toxicidade são elaborados com os objetivos de avaliar ou prever os efeitos tóxicos nos sistemas biológicos e dimensionar a toxicidade relativa das substâncias (FORBES e FORBES, 1994). O ensaio de toxicidade utilizado nesse projeto foi o que utiliza o microcrustáceo Artemia salina como bioindicador, ensaio este desenvolvido para detectar compostos bioativos em extratos vegetais (MEYER et al., 1982). A Artemia salina é uma espécie de microcrustáceo da ordem Anostraca, encontrado em águas salgadas (CARVALHO et al., 2008). É um crustáceo filtrador que se alimenta basicamente de bactérias, algas unicelulares, pequenos protozoários e detritos dissolvidos no meio. A filtração ocorre nos toracópodos, encarregados de conduzir as partículas alimentícias em direção ao sistema digestivo. A Artemia é utilizada como alimento vivo para peixes, sendo seus ovos encontrados em lojas de aquaristas. Essa espécie de microcrustáceo marinho tem sido utilizada em experimentos laboratoriais como um bioindicador, pois o seu grau de tolerância é reduzido e específico em relação ao fator ambiental, de modo que apresenta uma resposta nítida frente a pequenas variações na qualidade do ambiente. A letalidade desse organismo tem sido utilizada para identificação de repostas biológicas, nas quais as variáveis como a morte ou vida são as únicas envolvidas (MEYER et al., 1982). Experimentos que visam testar a toxicidade utilizando modelos baseados em ratos em crescimento apresentam desvantagens para o método como o gasto de quantidade de amostra e o elevado custo (RIOS, 1995). A utilização do crustáceo Artemia é uma espécie de fácil manipulação em laboratório e baixo custo econômico (CALOW, 1993). Estudos comprovam a ação tóxica de várias substâncias naturais ao crustáceo Artemia (RIOS, 1995). Portanto, o presente trabalho tem como objetivo principal testar a ação dos bioativos da espécie Pereskia aculeata Miller frente a Artemia salina.
Material e métodos
O extrato alcoólico foi preparado a partir de folhas recém colhidas da planta que foram postas para secar naturalmente, dando uma massa de aproximadamente 17g; esta massa foi transferida para um balão volumétrico de 500 mL, onde fez-se a adição de 100 mL de etanol. Foi utilizada água do mar para a eclosão dos ovos de Artemia salina em local arejado e sob constante iluminação como fonte de calor (para isso fez-se o uso de uma lâmpada), por um período de 48 horas. Após a passagem do tempo estabelecido as larvas eclodidas foram postas em tubos de ensaio contendo 5 mL de água do mar, adicionando-se 10 microcrustáceos por tubo. O teste foi realizado em triplicata, com as seguintes concentrações do extrato alcoólico: 10, 100 e 1000 μg/mL. Além disso, realizou-se o ensaio em branco, também em triplicata. Após 24 horas houve a contagem do número de nauplios, de modo a avaliar o índice de mortalidade, sendo possível determinar a intensidade da toxicidade do extrato alcoólico através do cálculo de DL50.
Resultado e discussão
Os náuplios, sob as condições descritas para o teste, foram recontados após
24h, e observou-se o nível de mortalidade em cada dose e o número de vivos,
sendo possível determinar a intensidade da toxicidade do extrato alcoólico
através do cálculo de DL50.
No ensaio em branco, como era de se esperar, o número de indivíduos vivos
permaneceu o mesmo. Na concentração de 10 μg/mL do extrato alcoólico,
observou-se que o número de náuplios também se manteve inalterado. Com o
aumento da concentração para 100 μg/mL, observou-se que nenhum náuplio se
manteve vivo em nenhum dos três tubos (teste foi feito em triplicata). O
resultado foi o mesmo para os tubos com soluções de concentração igual a
1000 μg/mL.
No gráfico da figura 1, tem-se o resultado dos valores de DL50 (dose letal),
obtidos a partir da equação DL50 = (% de larvas vivas)/log〖da dose〗.
O valor DL50 expressa a concentração do extrato ou do padrão, necessária
para provocar a morte de 50% dos exemplares de Artemia salina presentes em
um cultivo.
A toxicidade foi calculada a partir do gráfico do percentual de animais
vivos contra o logarítmico das concentrações do extrato alcóolico,
utilizando o programa Microsoft Office Excel 2010, e a DL50 foi determinada
com o ajuste dos pontos através da regressão linear. A dose letal obtida
para o extrato alcóolico foi de 31,6 μg/mL, conforme pode ser conferido no
cálculo a seguir:
50 = -40x + 110
X = 1,5 = log da dose letal
Dose letal 50% = 31,6 μg/mL
Segundo Dolabela (1997), a classificação da toxicidade dos extratos em
Artemia salina podem ser classificados como altamente tóxicos se a dose
letal 50% (DL50) for inferior a 80 μg/mL; moderadamente tóxicos para valores
entre 80 e 250 μg/mL; e pouco tóxicos se esse valor for superior a 250
μg/mL. Portanto, o extrato alcoólico pode ser classificado como altamente
tóxico de acordo com essa escala de toxicidade.
Houve um índice de mortalidade igual a 100% quando a concentração aumentou
para 100 μg/mL, de modo que os pontos não seguiram o formato de uma reta,
sendo necessário portanto o cálculo do desvio padrão (em função do teor de
larvas vivas), que foi igual a 57,735.
Gráfico de regressão linear do extrato alcoólico de Pereskia aculeata Miller
Conclusões
O teste de toxicidade do extrato alcoólico de Pereskia aculeata Miller demonstrou um alto nível de toxicidade (DL50= 31,6 µg/mL). Em uma avaliação qualitativa dos metabólitos secundários do extrato alcoólico das folhas de Pereskia aculeata Miller foram identificados a presença de grupos que possuem determinada toxicidade como triterpenóides, o que justifica o resultado do teste.
Agradecimentos
Referências
ALZUGARAY, D.; ALZUGARAY, K. 1988. Enciclopédia de plantas brasileiras. São Paulo: Três.
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