Avaliação da Qualidade do Ar do Município do Rio de Janeiro
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Iniciação Científica
Autores
Tavares, V.M. (IFRJ) ; Vieira, F.A. (IFRJ)
Resumo
Atualmente a poluição atmosférica é tratada como questão de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde, sendo que o sistema cardiorrespiratório é o mais afetado por essas massas poluentes. A partir dos boletins diários de qualidade do ar, divulgados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro no programa MonitorAr Rio, foi elaborado um levantamento com a finalidade de avaliar a qualidade do ar carioca. Nos ano de 2016 e 2017, das 8 estações de monitoramento disponíveis, a maioria não apresentou índices bons em mais de 50% dos dias divulgados, representando concentrações não seguras à população da região, motivando análises complementares para que possam ser feitas propostas visando otimizar as políticas públicas destinadas às áreas de saúde e meio ambiente.
Palavras chaves
Qualidade do Ar; Meio Ambiente; Poluição Atmosférica
Introdução
Com a concentração da queima de combustíveis em centros urbanos na Europa no século XX, foram registrados os primeiros indícios da influência direta da poluição atmosférica em mortes de humanos. Em dezembro de 1952, Londres, uma massa de ar fria estacionou sobre a cidade, acarretando em uma espécie de cadeia de poluição que impediu a dispersão do ar poluído. Nos primeiros 30 dias após este acontecimento, cerca de doze mil pessoas morreram por motivos respiratórios. Apesar de trágico, esse episódio ocasionou as descobertas posteriores de micro partículas tóxicas que foram as principais responsáveis pelas mortes ocorridas (WALLACE; HOBBS, p. 179, 2006). O material particulado consiste na concentração da mistura de massas de sólidos e líquidos em suspensão gasosa, também conhecidas como aerossóis, que são em sua grande maioria emitidas por fatores antropogênicos. A organização mundial da saúde estimou que a cada 10 microgramas por metro cúbico de material particulado inferior a 10 micrometros aumenta a mortalidade diária geral entre 0,2% e 0,6% (WORLD HEALTH ORGANIZATION, p. 2, 6, 2013). O ozônio é um poluente secundário gerado na natureza a partir de complexas reações fotoquímicas (reações que normalmente envolvem energia da radiação solar), sendo o dióxido de nitrogênio e os compostos orgânicos voláteis, principalmente os insaturados, apontados como principais precursores da formação deste poluente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, p. 24-28, 2005). O levantamento dos índices diários dos poluentes atmosféricos tem como finalidade qualificar o risco ao qual a população está exposta além de servir como ferramenta de gestão ambiental para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde, haja vista que esse tipo de poluição impacta diretamente na saúde dos habitantes da região.
Material e métodos
A partir dos boletins diários de qualidade do ar publicados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (SMAC) foram feitos os levantamentos das concentrações diárias nos anos de 2016 e 2017 das estações: Centro, Copacabana, São Cristóvão, Tijuca, Irajá, Bangu, Campo Grande e Pedra de Guaratiba. Além disso, foram registradas as classificações dos índices de qualidade do ar (boa, regular, inadequada, má ou péssima) diários de cada estação, que levam em conta todos os poluentes, e o poluente responsável pelo maior índice. A partir da disposição anual e mensal dos valores aferidos diariamente, nos anos estudados, para cada estação, foram calculados individualmente: o número de aferições diárias de cada poluente, a média e mediana das concentrações de todos os poluentes, as concentrações máximas e mínimas de todos os poluentes, a porcentagem da classificação do índice de qualidade do ar e a porcentagem do poluente responsável pelo maior índice em cada estação. Para as estações São Cristóvão, Irajá, e Pedra de Guaratiba, foram feitas caracterizações meteorológicas a partir dos dados publicados pelo Sistema AlertaRio. Para enquadrar no mesmo período de 24 horas das aferições do sistema MonitorAr Rio, foram feitas as médias da temperatura e umidade relativa do ar no mesmo período e para a precipitação, foi feita o somatório. Sendo assim foi analisada a influência de cada um dos fatores climáticos registrados.
Resultado e discussão
Estação Copacabana: Essa região apresentou um comportamento singular dentre
as estações estudadas, sendo a única em que o material particulado figurou
como o poluente de maior impacto para a população pelos parâmetros
utilizados. Uma possível explicação para essa discrepância encontrada nesta
região pode ser a proximidade com o mar, que ao interagir com os raios
solares, pode gerar partículas grossas (de diâmetro aerodinâmico
compreendido entre 2,5 μm a 10 μm) que são deslocadas para o território
terrestre pelas correntes aéreas. Estação Tijuca: Nesta região foram
analisadas as maiores concentrações de dióxido de nitrogênio dentre todas as
estudadas, entretanto vale ressaltar que apenas quatro das estações
apresentaram resultados desta natureza, ainda assim, nenhum índice ruim foi
aferido, e apenas uma pequena parte das publicações apresentou índices
regulares. A estação obteve resultados positivos nos dois anos, sendo que em
2017 houve uma queda na proporção de índices ruins e regulares. Estação
Bangu: Foi, incomparavelmente, a pior região entre todas do município, com
mais de 10% de índices ruins ou muito ruins ao longo dos anos analisados e
com a menor proporção de índices considerados bons, podendo ser considerada,
uma área de risco para a população. Foi possível observar uma região onde a
qualidade do ar pode ser considerada boa, que se compreende entre o Centro,
São Cristóvão e Tijuca, pois nestas, mais de 50% dos índices foram
classificados como bons. Além disso, avaliou-se que o ozônio troposférico
foi o principal poluente presente no município do Rio de Janeiro, sendo
responsável pelos maiores índices diários em 7 das 8 estações estudadas nos
anos de 2016 e 2017, além de ter sido o único poluente a apresentar índices
considerados muito ruins.
Conclusões
O ar inalado pela população carioca apresenta um potencial risco aos habitantes da região e com a avaliação de apenas dois anos, sendo que em cerca de 60 dias nenhum resultado foi aferido no ano de 2016, há a dificuldade de se analisar mudanças no cenário. Vale ressaltar que a disponibilidade das aferições realizadas a cada 15 minutos pelas estações seria de grande utilidade e permitiria a produção de resultados mais particulares como a análise de transfronteiricidade dos poluentes, uma caracterização meteorológica muito mais exata, e o comportamento desses corpos nocivos ao longo de 24 horas.
Agradecimentos
Agradeço ao CNPq e ao IFRJ pelo apoio e oportunidade de participar do PBITI e à SMAC-RJ pela disponibilização dos boletins diários.
Referências
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Air Quality Guidelines: Global Update 2005. Disponível em: <http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0005/78638/E90038.pdf> Acesso em: 26 mar. 2018.
WALLACE, J.M.; HOBBS, P.V. Atmospheric Science: An Introductory to Survey. Segunda edição. Elsevier, 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health effects of particulate matter: Policy implications for countries in eastern Europe, Caucasus and central Asia, 2013. Disponível em: < http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0006/189051/Health-effects-of-particulate-matter-final-Eng.pdf> Acesso em: 26 mar. 2018.