AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE CARRAPATICIDA IN VITRO SOBRE LARVAS DO CARRAPATO RHIPICEPHALUS SANGUINEUS ATRAVÉS DO USO DE FORMULAÇÕES CONTENDO CARVACROL
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Bioquímica e Biotecnologia
Autores
Moreira, J.C. (UFMA) ; Sousa, A.I.P. (UFMA) ; Costa-junior, L.M. (UFMA) ; Soares, A.M.S. (UFMA)
Resumo
O carrapato Rhipicephalus sanguineus tem um forte impacto sobre a saúde dos animais e seu controle é afetado pela resistência aos carrapaticidas sintéticos. O carvacrol pode ser uma alternativa eficiente para o controle dos carrapatos. O objetivo desse trabalho foi desenvolver formulações com efeito carrapaticida contendo carvacrol sobre R. sanguineus. As formulações foram preparadas com tensoativos, viscosificante e carvacrol. Atividade carrapaticida foi avaliada usando o teste de imersão larval. A formulação FBC exibiu alta atividade no teste triagem com o R. microplus (0,26 mg/mL), enquanto que, para R. sanguineus a concentração letal >2 mg/mL. Diante dos resultados, sugere-se o desenvolvimento de produtos carrapaticidas com o uso de substancias naturais.
Palavras chaves
monoterpeno; formulação; controle
Introdução
O carrapato Rhipicephalus sanguineus, é amplamente distribuído no mundo, tendo preferencialmente os cães como hospedeiros, e estes são adequados para todos os estágios parasíticos, além disso, eles não desenvolvem uma resposta imune eficiente contra o carrapato (LABRUNA, 2004; GUGLIELMONE et al., 2006).Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Animais de Estimação (ABINPET) o faturamento do mercado pet em 2015 e 2016 foi aproximadamente R$ 18 bilhões, tendo destaque para o segmento de medicamento veterinário. Os carrapaticidas sintéticos são os mais utilizados para o controle do R. sanguineus, entretanto, em consequência do uso incorreto desses produtos sem uma estratégia adequada, resultou em um aumento da seleção de carrapatos resistentes a diversos grupos químicos (BEUGNET & FRANC, 2012). O mecanismo de resistência já foi encontrado em químicos como, amitraz, cipermetrina e deltrametrina (Miller et al. 2001).Assim, existe uma preocupação pelo desenvolvimento de alternativas que tenham uma maior eficiência e menor toxicidade (RIBEIRO et al., 2010; CRUZ et al., 2013). O carvacrol é um monoterpeno volátil, presente em vários óleos essenciais de plantas e usado em indústrias alimentícias, cosméticas e farmacêuticas (MILADI et al., 2016; PADUCH, 2007). Esse composto vem apresentando resultados promissores sobre o R. sanguineus e R. microplus (CRUZ et al., 2013; ARAÚJO et al., 2016). Entretanto, formulações ainda não foram desenvolvidas e avaliadas para que se possa pensar em um produto comercial. O presente trabalho visou desenvolver uma formulação com efeito carrapaticida contendo carvacrol sobre larvas R. sanguineus .
Material e métodos
As formulações foram preparadas mediante agitação manual, tendo como principais constituintes um tensoativo primário, tensoativo secundário, agentes de viscosidade e conservante. Duas formulações base foram desenvolvidas (FA e FB), e partindo delas, incorporou-se o carvacrol nas formulações denominadas FAC e FBC na percentagem 5%. O monoterpeno foi adicionado juntamente com os componentes oleosos e posteriormente vertido na fase aquosa. Depois de 24h, foram realizadas avaliações organolépticas e físico-químicos. Para atividade carrapaticida, foi realizado uma triagem inicial usando o teste de imersão larval sobre uma população resistente de R. microplus, para obtenção das concentrações a serem testadas sobre o R. sanguineus , de acordo com a técnica Klafke et al. (2006). As formulações foram diluídas em água destilada em concentrações que variaram 1,56 a 12,5 mg/mL. Foi transferida uma alíquota de 1 mL de cada formulação nas diferentes concentrações para tubos de 1,5 mL, no qual acrescentou-se cerca de 500 larvas de carrapato. Após 10 minutos, as larvas foram colocas sobre papel filtro para secagem. Posteriormente, transferiu-se aproximadamente 100 larvas para pacotes com dimensões de 8,5 × 7,5 cm, que foi fechado com auxílio de clipes. Os testes foram incubados a 27 ± 1°C com umidade relativa (UR) de ≥80% durante um período de 24 horas. Após este período, as larvas vivas e mortas foram contadas. Foi usado como controle água destilada, formulação base e o carvacrol. Para cada concentração foram feitas três repetições. Os dados foram analisados pelo software GraphPad Prism 6.0, obtendo a concentração letal para 50%, com respectivos intervalos de confiança de 95%.
Resultado e discussão
As duas formulações apresentaram parâmetros organolépticos homogêneo,
translúcido e não demonstrando separação de fases (Figura 1). O pH das
formulações FAC e FBC, com o carvacrol foi
5,5 e 5,6, respectivamente, permanecendo estáveis e inalteradas após a
centrifugação. O teste de centrifugação permite o estresse das
amostras simulando um aumento na força de gravidade, aumentando a mobilidade
das partículas e antecipando possíveis instabilidades (BRASIL, 2004).
Em relação aos testes carrapaticidas, a formulação FBC exibiu uma alta
atividade com CL50 de 0,26 mg/mL, enquanto que a formulação FAC apresentou
CL50 de 3,23 mg/mL. O carvacrol obteve CL50 de 1,66 mg/mL sobre larvas de R.
microplus. Para larvas de R. sanguineus, FBC e FAC obtiveram CL50 de 2,88 e
5,22 mg/mL, respectivamente. Os resultados referentes a formulação FAC
demonstram que não houve uma boa interação dos componentes envolvidos para
que ocorresse uma atuação de forma aditiva com o carvacrol. Somente em FBC
usou-se diferentes tipos de tensoativos e um polímero aniônico com a
propriedade de formar um filme sobre a área aplicada. A adição desses
agentes pode ter favorecido uma maior interação com o carvacrol,
contribuindo nas taxas de mortalidade. Conforme Chagas et al.(2003),os
artrópodes possuem dois meios de absorção, o lipolítico e hidrofílico, e
para uma molécula lipolítica ter seu efeito potencializado na cutícula do
carrapato é necessário que ela tenha essas duas vias. O carvacrol apresenta
um perfil lipolítico e a adição de componentes, como os tensoativos
favorecem a miscibilidade, e, consequentemente torna o sistema com
caráter anfifílico. Assim, as moléculas podem penetrar mais facilmente no
tegumento do carrapato.
A: Formulação base FA; B: Formulação base FB; C: Formulação FAC com carvacrol; D: Formulação FBC com carvacrol.
Conclusões
Os resultados expostos nesse trabalho demonstraram efeito carrapaticida sobre larvas do carrapato R. microplus e R. sanguineus, assim destaca-se a importância do desenvolvimento de novos produtos provenientes de vias naturais que possibilitem o controle de parasitose e promovam a estabilidade de fármacos com adjuvantes farmacêuticos.
Agradecimentos
A Deus pelo seu infinito amor,a Universidade Federal do Maranhão e ao PIBIC/CNPq pela bolsa concedida e ao Laboratório de Controle de Parasitos.
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