AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DO MICROMINERAL LÍTIO NO AÇAÍ PROVENIENTE DE BOA VISTA, RORAIMA, EM RELAÇÃO À TOXICIDADE E À ESSENCIALIDADE NUTRICIONAL

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Alimentos

Autores

Márcia Becker, M. (UFMA) ; Marques Mandaji, C. (UFMA) ; Braga Ribeiro, E. (UFMA) ; Paiva Silva e Silva, F.E. (UFMA) ; Silva Nunes, G. (UFMA)

Resumo

A relação entre a deficiência de lítio endógeno e o desenvolvimento de psicopatologias humanas graves tem sido reportadas nas últimas décadas. Diante da importância em investigar o teor de lítio em alimentos naturais, este trabalho objetivou determinar este mineral, por ICP-OES, em amostras de açaí. Os resultados revelam que o fruto possui um alto teor desse micronutriente, o que tem favorecido nutricionalmente, não só a população do Estado de RR, mas tambpém toda a região amazônica.

Palavras chaves

lítio; açaí; ICP-OES

Introdução

O lítio é um metal alcalino de ocorrência natural, que os organismos vivos ingerem a partir de fontes alimentares, especiamente grãos e vegetais, e pelo consumo d’água, estando por isso presente em traços no corpo humano (DEMLING et al., 2001). Sua presença nos frutos varia conforme a origem, e depende de fatores naturais, como qualidade do solo, clima, espécie do fruto, entre outros (ANKER, SCHAFER e AMHOLD, 2003). Doenças relacionadas à deficiência de lítio não estão ainda bem elucidadas e os mecanismos bioquímicos de ação são complexos e inter-relacionados às funções de várias enzimas, hormônios e vitaminas, bem como com a fatores de crescimento e transformadores (SCHRAUZER, 2002). A quase ausência de lítio na água de abastecimento foi associada ao aumento das taxas de suicídios, homicídios e taxas de prisão por uso de drogas e outros crimes por Schrauzer e Shrestha (1990). Além disso, o uso do lítio como medicamento no controle de algumas doenças mentais e estados emocionais caracterizados por grandes e frequentes alterações de humor, incluindo transtornos depressivos maníacos, tem sido uma prática corriqueira na área psiquiátrica (DEMLING et al., 2001). Diante desse contexto, e considerando que as frutas são fontes naturais em minerais, este trabalho avaliou o potencial nutricional da polpa de açaí quanto à essencialidade e/ou toxicidade em lítio nos limites de tolerância fisiológicos.

Material e métodos

Os reagentes utilizados foram de grau de pureza analítica e a água utilizada foi deionizada. Os materiais utilizados foram previamente descontaminados em HNO3 a 10% (v/v) por no mínimo 24h. Frutos de açaí foram adquiridos em seus ambientes de produção em Boa Vista, Roraima. Foram tomadas porções de 0,2-0,5 g das amostras homogeneizadas, e adicionados sequencialmente 5,0 mL de HNO3 concentrado, 2,0 mL de H2O2 a 30% (v/v) e 0,5 mL de ítrio (Y) a 100 mg.L-1,o qual foi usado como padrão interno. A mistura obtida foi homogeneizada e submetida à digestão em forno microondas (MARSX press 6.0), de acordo com o método estabelecido pela AOAC (2002). O material digerido foi diluído com água deionizada para 25,0 mL e filtrado em papel de filtro quantitativo (28 μm),antes das análises dos teores do mineral. As determinações do teor de lítio foram feitas por Espectrometria Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES) (Shimadzu, modelo 9820, com nebulizador concêntrico), sob 1,2 kW de potência, 10 L.min-1 de argônio e comprimentos de onda de 610,364 nm. A curva analítica foi construída com 7 valores de concentração, mediante diluição de uma solução padrão de Li a 1000 mg.L-1 em 2 % (v/v) de HNO3.

Resultado e discussão

Eficiência da metodologia analítica O método empregado para a determinação do teor de Li nas amostras de açaí mostrou-se preciso, com valores de RSD de 5,37%. A faixa linear instrumental, obtida mediante injeção das soluções padrão, foi de 0,01875 a 20,0 mg.L-1. Os valores de limite de detecção (LOD) e de limite de quantificação (LOQ) foram de 0,1 e 0,4 µg.L-1, respectivamente, acima do limite do instrumento para o elemento, porém dentro de um elevado nível de sensibilidade, considerando a linearidade. Avaliação da presença de Li no fruto A concentração média de lítio encontrada nas amostras de açaí foi de 15,34 mg.100g-1 de amostra fresca. Fazendo-se uma comparação com outros frutos também muito consumidos na região, esse teor médio foi superior ao encontrado no fruto abricó do norte (9,5 mg.100g-1), também amazônico, e inferior ao teor médio de Li encontrado na maçã (35 mg.100g-1), uma fruta não autóctone, mas que fora paulatinamente introduzida na alimentação, sendo igualmente apreciada pelos amazonenses e nortistas (VAITSMAN, VAITSMAN, e AZEVEDO, 1991). A exigência diária mínima de lítio têm sido motivo de divergências. Apesar de Schrauzer (2002) defender ser 1 mg.dia-1, Marshall (2015) estima uma necessidade de quantidades maiores, por considerar que existem diferenças individuais que podem exigir ingestão maior para uma saúde ideal, levando em conta ainda a perda de energia diária, que é diferente para cada indivíduo. Além disso, a EPA estimou que uma ingestão dietética de lítio nos EUA entre 0,6 a 3,1 mg.dia-1 (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 1985). Nos Andes, ao norte da Argentina, o consumo estimado é de 2 a 30 mg.dia-1 (CONCHA et al., 2010). Em consumidores franceses, estimou-se um consumo médio díario de 11 µg para lítio (NOËL et al., 2003). Embora exista divergência na ingestão diária recomendada (IDR), a avaliação nutricional da polpa de açaí permite classificar o fruto com sendo um alimento de alto teor em lítio, tendo como base o Relatório Técnico do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998), o qual classifica um alimento como fonte em determinado mineral, quando 100 g deste apresentar de 15 a 29 % de sua IDR, e um alimento de alto teor mineral, quando este apresentar mais que 30 % da sua IDR. É importante salientar que mecanismos muito diferentes governam altas e baixas doses de lítio. Somente em doses muito altas, cerca de 50 a 300 vezes maior do que a ingestão dietética natural de alimentos e água, o lítio atua como uma droga (NOËL et al., 2003). Neste sentido, não são ainda conhecidos os valores basais para o lítio na região em que as amostras de açaí foram produzidas. Assim, os valores reportados no presente estudo representam novos dados referentes ao potencial nutricional do fruto.

Conclusões

Os resultados aqui apresentados fornecem novas informações sobre o conteúdo de lítio presente na polpa do açaí estudada. Apesar de não serem conhecidos os valores basais para o lítio na região norte brasileira, as informações aqui apresentadas são importantes para profissionais da química, geoquímica, medicina, nutrição, biologia e biotecnologia.

Agradecimentos

Referências

ANKER, M.; SCHAFER, U.; AMHOLD, W. Lithium. In: Encyclopedia of Food Sciences and Nutrition, Caballero, B. (Ed.). Academic Press, New York, USA, p. 3589-3593, 2003

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Regulamento técnico referente à informação nutricional complementar. Portaria N° 27 de 13 de jan. 1998.

CONCHA, G.; BROBERG, K.; GRANDÉR, M. High-level exposure to lithium, boron, cesium, and arsenic via drinking water in the Andes of northern Argentina. Environ Sci Technol 44(17) (2010) 6875-6880.

DEMLING, J. H.; EGLAU M. C.; AUTENRIETH, T. On the physiological function of lithium from a psychiatric view point. Med. Hypoth. 57 (2001) 506-509.

NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH. U.S. Dept of Health and Human Services. Stem Cell Information. 2015.

NOËL, L.; LEBLANC, J. C.; GUÉRIN T. Determination of several elements in duplicate meals from catering establishment using closed vessel microwave digestion with inductively coupled plasma mass spectrometry detection: Estimation of daily dietary intake. Food Addit. Contamin. 20(1) (2003) 44–56.

SCHRAUZER, G. N. Lithium: occurrence, dietary intakes, nutritional essentiality. J Am Coll Nutr 21 (1) (2002) 14-21.

SCHRAUZER, G. N.; SHRESTHA K. P. Lithium in drinking water and the incidences of crimes, suicides, and arrests related to drug addictions. Biol Trace El Res 25 (1990) 105-113.

VAITSMAN, D. S.; VAITSMAN, E. P.; AZEVEDO, I. S. Determinação de metais alcalinos em frutas por fotometria de chama. Quim. Nova. 14(4Sup) (1991) 51.

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