Discriminação entre méis de Melipona sp. e Apis mellifera comercializados em Itaituba-PA por meio da caracterização físico-química e antioxidante associados à análise por componentes principais (PCA)
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Alimentos
Autores
Gomes, V.V.G. (UFOPA) ; Dourado, G.S. (UFOPA) ; Bandeira, A.M.P. (UFOPA) ; Costa, K.S. (UFOPA) ; Gonzaga, L.V. (UFSC) ; Fett, R. (UFSC) ; Taube, P.S. (UFOPA)
Resumo
O mel de abelha é um alimento composto por açúcares e outros componentes que variam com a sua origem. Para assegurar a qualidade e autenticidade do fluido, o objetivo deste trabalho foi aplicar a análise por componentes principais (PCA) em dados físico-químicos e antioxidantes para discriminar méis comerciais pela espécie da abelha. Amostras de A. mellifera (n=3) e Melipona sp. (n=2) foram coletas em mercados de Itaituba – PA. Foram feitas análises de umidade, minerais totais, acidez livre, pH, 5-HMF, sólidos solúveis, açúcares, fenólicos totais e inibição do radical DPPH. A PCA conseguiu discriminar as amostras por espécies, com 88,3% da variabilidade total explicadas pelos dois primeiros componentes. Assim, a distinção ratifica que méis de Meliponinae spp. carecem de legislação própria.
Palavras chaves
mel de abelha; qualidade e autenticidade; PCA
Introdução
O mel de abelha é um líquido aromático e doce, com grande concentração de açúcares (principalmente glicose e frutose) além de substâncias como ácidos orgânicos, minerais, aminoácidos, compostos fenólicos e voláteis (BALTRUŠAITYTE et al., 2007). No Brasil, as principais linhas de produção deste fluido provêm da apicultura e a meliponicultura. As duas tratam da criação racional, respectivamente, de abelhas Apis mellifera (VIEIRA, 2009) e da subfamília Meliponinae spp. (também conhecidas também como abelhas indígenas, nativas ou sem ferrão) (VILLAS-BÔAS, 2012). Na região oeste do estado do Pará, essas atividades possuem evidentes potenciais para a produção de mel e demais produtos apícolas/meliponícolas (RAYOL & MAIA, 2013). O conhecimento acerca da origem floral e o local onde foi produzido o mel é relevante para evitar a adulteração (GHELDOF & ENGESETH, 2002). Para isso, a aplicação da análise multivariada a partir das propriedades físico-químicas e bioativas do mel são usadas para discriminar a origem geográfica e botânica (SILVA et al., 2016). Entretanto, poucos estudos utilizaram esta ferramenta estatística para classificar o mel pela origem da abelha (DUARTE et al., 2012; KEK et al., 2017a,b). Assim, a proposta deste trabalho foi aplicar a técnica multivariada por componentes principais (PCA) em dados físico-químicos e antioxidantes de méis comercias de abelhas Melipona sp. e Apis mellifera oriundas do município de Itaituba – PA, como garantia de qualidade e autenticidade destes produtos.
Material e métodos
As amostras foram coletadas (n=5) em comércios populares localizados no município de Itaituba – Pará no mês de agosto de 2017, sendo duas da espécie Melipona sp. (IM1 e IM2) e três da espécie Apis mellifera (IA1, IA2 e IA3). Os méis permaneceram no frasco de origem e em temperatura ambiente para posterior análises. Os teores de umidade e sólidos solúveis (ºBrix) foram determinados por refratometria, os teores de minerais totais por gravimetria e acidez livre por titulometria (AOAC, 2006). O pH das amostras foi avaliado segundo Bogdanov et al. (1997). A cor dos méis foi analisada pelo método espectrofotométrico UV/Vis desenvolvido por Bianchi (1981). Os açúcares (frutose, glicose e sacarose) foram obtidos seguindo método indireto por eletroforese capilar de acordo com Rizélio et al. (2012a). As concentrações de 5-Hidroximetilfurural (5-HMF) foram avaliadas segundo a metodologia de Rizélio et al. (2012b) utilizando a cromatografia eletrocinética micelar capilar (MECK). Para análise da composição fenólica total dos méis, aplicou-se o método espectrofotométrico UV/Vis de Folin-Ciocalteu (SINGLETON & ROSSI, 1965). A capacidade antioxidante foi determinada através do método de sequestro do radical DPPH (GOMES et al., 2017). Todas as análises realizadas foram em triplicata e os seus resultados expressos com média e desvio padrão. Aplicou-se a análise multivariada por componentes principais (PCA) com o auxílio do software Minitab® 17.1.0, a partir da construção de uma matriz 5x11.
Resultado e discussão
A distribuição espacial das amostras e das variáveis para os dois primeiros PCs
podem ser vistos na Figura 1. Ressalta-se que o parâmetro sacarose foi excluído
da matriz, pois não foi detectado em nenhuma das amostras. Pode ser observado
um distanciamento entre as amostras IA1, IA2 e IA3 visto a elevada quantidade
de variáveis que marcaram estas amostras no gráfico. Entre as amostras IM1 e
IM2, é observado um distanciamento ínfimo, tendo os teores de 5-HMF, umidade e
cor como marcadores para estes méis. A PCA possibilitou a discriminação entre
méis de Melipona sp. (com correlação positiva com a PC2) e Apis mellifera (com
correlação positiva com a PC1), com uma variabilidade total de 88,3% explicadas
pelos dois primeiros componentes, analisado como uma variação de resultados
satisfatória (CHUDZINSKA & BARALKIEWICZ, 2010). Estudos semelhantes obtiveram
variabilidade total dos dados entre 72% e 78,55% (DUARTE et al., 2012, SILVA et
al., 2013; KEK et al., 2017a,b), entretanto, ainda não havia relatos do 5-HMF
como marcador de qualidade e autenticidade. Essa discrepância das
características de qualidade autencidade entre as amostras avaliadas, reforçam
a necessidade de uma legislação específica para méis produzidos por abelhas sem
ferrão (VILLAS-BÔAS, 2012).
Pesos e escores da PCA para méis de Melipona sp. (IM) e A. mellifera (IA) de Itaituba – PA, baseado em características físico-químicas e antioxidantes
Conclusões
Reforça-se que as características físico-químicas, fenólicas e antioxidantes entre méis de abelhas nativas e Apis mellifera possuem discrepâncias, podendo ser discriminadas pela análise por componentes principais (PCA). Em relação aos parâmetros de qualidade e autenticidade, esta ferramenta estatística ratifica a necessidade de regulamento específico para méis de abelhas sem ferrão. Além disso, sugere-se um armazenamento diferenciado (em baixas temperaturas) para méis de Melipona sp., visto as elevadas concentrações do composto resultante de degradação, o 5-HMF.
Agradecimentos
À UFOPA, UFSC, CNPq, CAPES e FAPESPA
Referências
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