ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE EXTRATO DE Eugenia dysenterica A PARTIR DE DIFERENTE FRAÇÕES DE SOLVENTES
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Alimentos
Autores
Tomborelli, P.M. (IFMT) ; Oliveira, M.L. (IFMT) ; Oliveira, M. (IFMT) ; Costa, D.L.M.G. (IFMT)
Resumo
A cagaita é uma espécie frutífera nativa do Cerrado, aproveitada pela população local tanto para fins alimentares, quanto medicinais. Dessa forma, o presente trabalhos propõe a avaliar a atividade antirradicalar das frações butanólica e acetato de etila da polpa de E. dysenterica, obtidas por partição do extrato metanólico. O IC50 encontrado na análise de atividade antirradicalar por DPPH para extrato metanólico, fração acetato de etila e fração butanólica foram de 0,152 mg/mL e 1,053 mg/mL, respectivamente. O teor de fenóis totais encontrados foi de 2,98 mg EAG.g-1 para fração de acetato de etila e 1,47 mg EAG.g-1 para fração butanólica. Os resultados mostram que os extratos possuem potencial antioxidante e estudos adicionais é necessários caracterização para aplicações diversas.
Palavras chaves
Antirradicalar; Cagaita; Myrtaceae
Introdução
Dentro da biodiversidade brasileira, o Cerrado, é fonte de muitas espécies vegetais que desempenham importante papel (RODRIGUES & CARVALHO, 2001). Neste cenário destacam-se espécies da família Myrtaceae, uma das mais importantes famílias da flora brasileira, com 23 gêneros e aproximadamente 1000 espécies (SOUZA & LORENZI, 2008). Representante dessa família, a Eugenia dysenterica DC. (Myrtaceae), popularmente conhecida como “cagaita”, é uma árvore frutífera nativa dos cerrados pouco exigente em fertilidade, pode chegar até 10 m de altura, de ramos e tronco tortuosos, casca grossa, fissurada. Seus frutos possuem formato globoso, bagáceo, cor amarelo-clara, levemente ácido, epicarpo membranoso, com peso entre 14 a 20 g (RIZZINI, 1971; RIBEIRO et al., 1986; NAVES et al., 1995; NAVES, 1999). Muitas espécies nativas do cerrado oferecem frutas que possuem concentrações elevadas de nutrientes além de suas características únicas sensoriais (CARDOSO et al., 2011). As propriedades funcionais dos frutos e folhas são atribuídas à presença de metabólitos secundários, como os compostos fenólicos, que mesmo em pequenas quantidades podem apresentar efeitos fisiológicos adicionais como antioxidante (ROCHA, et al.; 2011). Pesquisas recentes mostraram que extratos de plantas podem exercer ação antioxidante sendo indicados para atenuar ou prevenir os efeitos deletérios do estresse oxidativo celular (ROCHA et al., 2007; RODRÍGUEZ et al., SILVA, et al.; 2012). Nesse sentido existe um crescente interesse na busca de espécies vegetais que possam atuar no combate aos radicais livres. Dessa forma, o presente trabalhos propõe a avaliar a atividade antirradicalar das frações butanólica e acetato de etila da polpa de E. dysenterica.
Material e métodos
A polpa da “cagaita” foi encaminhada ao Laboratório de Pós Graduação de Físico- química de Alimentos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus Bela Vista, Cuiabá – Mato Grosso. A polpa passou por secagem em estufa (SP Labor 100/100) com circulação a 45°C até peso constante e depois, submetida ao procedimento de percolação exaustiva com metanol (MeOH) (PRISTA, ALVES & MORGADO, 1995). O extrato foi liofilizado (LÍOTOP L101) e posteriormente rotaevaporado (RE – 52A) sob pressão reduzida, em temperatura de 40°C, sendo posteriormente armazenado em recipientes fechados e acondicionados em dessecador. Foi realizada a partição do extrato por extração líquido-líquido com solventes de polaridades crescentes. O extrato foi parcialmente solubilizado em metanol e água, sendo a seguir realizada a extração com os demais solventes, na seguinte ordem: hexano, clorofórmio, acetato de etila e butanol. A fração metanol+água não pode ser recuperada devido à inexistência de um liofilizador que pudesse ser utilizado para este fim. O potencial antioxidante foi avaliado por meio de um ensaio espectrofotométrico, de acordo com metodologia descrita por Pauletti et al. (2003) e Brand-Williams et al. (1995). Utilizando-se uma solução de DPPH 0,004% em metanol (100 mM), que foi misturada à solução das amostras, que teve como padrão a quercetina para a construção da curva. Em seguida foram realizadas diluições e calculado a capacidade de sequestro de radicais livres. A concentração de fenóis totais foi determinada colorimetricamente conforme o procedimento padrão de Folin-Ciocauteau (KÄHKÖNEN, M.P. et al. 1999; GHASEMZADEH, A. et al. 2010). Foi utilizado o ácido gálico como padrão a 1 mg.mL-1 de metanol e seu resultado expresso em mg por equivalente de ácido gálico por grama de extrato (mg EAG.g-1).
Resultado e discussão
A utilização de substâncias com capacidade antioxidante pode ser de grande
relevância na prevenção e terapêutica de doenças relacionadas com o aumento do
estresse oxidativo. Nas últimas décadas ocorreu um enorme crescimento da
investigação científica nessa área, envolvendo o efeito de extratos brutos, de
frações purificadas ou de componentes isolados e compostos fenólicos (TEPE, 2007).
A atividade antioxidante medida através do radical estável DPPH, mostra a capacidade
de substâncias pertencentes ao extrato da E. dysenterica obtido em seqüestrar
radicais livres do meio existente. O IC50, corresponde a concentração do extrato da
planta necessária para inibir 50 % da atividade do radical livre. O IC50 encontrado
na análise de atividade antirradicalar por DPPH para extrato com fração de acetato
de etila e fração butanólica foram de 0,1527mg/mL, 1,0535 mg/mL, respectivamente,
sendo o valor encontrado valores superior ao encontrado para quercetina
(0,037mg/mL), um flavonol com comprovada atividade antioxidante. Takao, Imatomi e
Gualtieri (2015) encontraram 6,83 mg/mL para o valor do IC50 a partir da mesma
fruta. A diferença entre os valores pode se justificar pelo métodos de extração, a
parte do material vegetal utilizada, a origem deste, o grau de processamento, o
tamanho da partícula, o solvente utilizado, o tempo de extração, temperatura,
polaridade e concentração do solvente influenciam na extração (TIWARI et al., 2011).
O teor de fenóis para o extrato metanólico foi avaliado pelo reagente de Folin-
Ciocalteu. As amostras do extrato foram analisadas com o reagente de Folin-Ciocalteu
e obteve-se uma concentração de fenóis totais de 2,98 mg EAG.g-1 para fração de
acetato de etila e 1,47 mg EAG.g-1 para fração butanólica. Rocha et al. (2011)
analisou fenóis totais extraídos com acetona a 70 % em diversas espécies do gênero
Eugenia spp, encontrando elevadas concentrações de compostos fenólicos totais,
variando de 2,12 mg•GAE.g-1 a 3,27 mg•GAE.g-1 de polpa de acordo com cada espécie de
cada fruta estudada.
Rufino et al. (2010), estudaram o conteúdo fenólicos totais de várias frutas e
classificaram os frutos em três categorias: baixo (<1 mg•GAE /g), médio (1-5 mg•GAE
/ g) e alto (> 5mg•GAE/g). De acordo com esta classificação, a E. dysenterica
estudada no presente trabalho, se encaixa na categoria média, assim com a encontrada
por Neri-Numa et al. (2013).
Conclusões
A fração de acetato de etila, investigada pelo método DPPH e pelo reagente de Folin- Ciocalteu, de destacou em relação extrato butanólico, demostrando uma atividade antioxidante relevante. O que pode ter uma grande importância na prevenção do estresse oxidativo, merecendo estudos mais avançados nesse sentido.
Agradecimentos
Referências
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