ESPECIAÇÃO QUÍMICA DE FERRO EM FARINHAS DE CEREAIS INFANTIS FORTIFICADOS COM FERRO

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Alimentos

Autores

Silvério Filbido, G. (IFMT) ; Oliveira Gonçalves, T. (IFMT) ; Bécker, G. (IFMT) ; Paiva de Oliveira, A. (IFMT)

Resumo

Dentre as estratégias para prevenção da anemia por carência de ferro, encontra-se a fortificação de alimentos. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi determinar o teor de ferro total, ferro II e ferro III em farinhas de cereais infantis fortificados com ferro. Foram coletadas duas marcas de cereal infantil (A e B) e de farinha láctea (A e B). A quantificação do teor de ferro total foi feita utilizando o método da ortofenantrolina e de ferro III pelo método tiocianato. Já o teor de ferro II foi calculado por diferença. Constatou-se que apenas um dos quatro produtos analisados apresentou resultado compatível de ferro total com o rótulo. Portanto, é necessária a criação de medidas mais rigorosas de fiscalização para garantir a qualidade de alimentos fortificados com ferro.

Palavras chaves

Alimentos fortificados; Anemia ferropriva; Estado de oxidação

Introdução

O ferro é um elemento químico que desempenha funções importantes no metabolismo humano, principalmente relacionado com o transporte e armazenamento de oxigênio. A deficiência de ferro, incluindo a sua forma mais rigorosa, a anemia, é a carência nutricional mais comum no planeta (BALTUSSEN et. al., 2004). Dentre as estratégias empregadas para precaução da anemia por insuficiência de ferro, encontra-se a fortificação de alimentos, apontada como a melhor abordagem para aumentar o consumo desse mineral (FIB, 2018). Os cereais infantis são considerados os principais meios para serem fortificados com ferro, pois são muito usados e bem adaptados à alimentação infantil, porém a falta de controle e de medidas que obriguem as empresas a manterem bons níveis de fortificação podem trazer sérias consequências para a saúde da população (SALGUERIO et. al., 2002). Para identificar ou quantificar o teor de ferro heme e ferro não heme em determinado alimento, utiliza-se a especiação química. De acordo com URE (2001) a especiação química é definida como um processo de identificação e quantificação das diferentes espécies, formas ou fases presentes no material ou na descrição dos mesmos. Diante disto, para o planejamento de programas de prevenção da deficiência de ferro, é imprescindível conhecer não apenas a ingestão de ferro total, como também o tipo de ferro ingerido e se este é absorvido pelo organismo ou não. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi avaliar e determinar o teor de ferro total, ferro II e ferro III em cereais infantis fortificados com ferro.

Material e métodos

Foram coletados duas marcas de cereal infantil (A e B) e de farinha láctea (A e B). Para a realização das análises, os produtos passaram por processo de homogeinização e em seguida foram quarteados para retirada de uma amostra representativa conforme o IAL 2008. O procedimento de preparo de amostras consistiu da calcinação em forno mufla, seguida da decomposição por via úmida do resíduo calcinado com ácido clorídrico e nítrico. A quantificação do teor de ferro total foi feita por espectrofotometria UV-Visivel utilizando o método da ortofenantrolina. O teor de ferro III foi calculado pelo método tiocianato. E o ferro II por sua vez foi calculado por diferença entre as concentrações quantificadas de ferro total e ferro III. Todas as leituras foram realizadas em quadriplicata e acompanhadas de um branco analítico.

Resultado e discussão

A Tabela 01 apresenta a média de ferro total, II, III e o desvio padrão das amostras das farinhas de cereais infantis. Foi constatado que os valores obtidos de ferro total dos cereais infantis das marcas A (14,96mg/100g±0,89) e B (17,59mg/100g±1,04) estão abaixo do teor de ferro exposto na rotulagem nutricional, onde a mesma contém teor de ferro de 30,45mg/100g e 31,43mg/100g respectivamente. Em relação aos resultados da farinha láctea, apenas o produto da marca B (13,77mg/100g±0,54) apresentou concordância com o rótulo (13,66mg/100g), enquanto o teor de ferro total da farinha láctea da marca A (9,78mg/100g±0,28) foi maior do que o teor apresentado no rótulo (6,00mg/100g). É necessário ressaltar a forma química do mineral ferro que será adicionado em determinado alimento e se o mesmo encontra-se na forma heme (Ferro II) ou não heme (Ferro III). Sabe-se que quando o Ferro III é reduzido para Ferro II, o mesmo torna-se mais biodisponível para o organismo (TEIXEIRA, 2014). De acordo com a Tabela 01, verificou-se que os resultados obtidos para os cereais infantis das marcas A (6,80mg/100g±0,09) e B (7,35 mg/100g±0,17), apresentaram elevado teor de Ferro III (menor biodisponibilidade), consequentemente o ferro destes alimentos será menor absorvido pelo organismo humano. Por outro lado, as farinhas lácteas das marcas A (9,71mg/100g±0,27) e B (11,36 mg/100g±0,64) obtiveram elevado teor de Ferro II (maior biodisponibilidade). Além disso, uma das substâncias que afeta a biodisponibilidade do mineral ferro é o Ácido Fítico. Estes elementos se encontram em vegetais (principalmente em grãos) e em sua forma de fitato possui a capacidade de se unir ao ferro e formar complexos insolúveis de difícil absorção pelo organismo (REDDY e SATHE, 2001; TEIXEIRA, 2014).

Tabela 1. Teor de ferro obtido nas farinhas de cereais infantis.



Conclusões

Através das análises realizadas dos alimentos infantis fortificados, foi possível observar que entre quatro produtos analisados, apenas um se encontrou com os parâmetros de ferro compatível com a rotulagem nutricional. Além disso, fatores como teor de ferro III e ácido fítico estão associados diretamente com a baixa absorção e biodisponibilidade de ferro pelo organismo humano. Para isso, nos programas de fortificação, é necessário identificar e adicionar uma forma química de ferro biodisponível e que participe o mínimo possível de reações químicas indesejáveis com outros elementos.

Agradecimentos

Ao IFMT, a CAPES e a FAPEMAT.

Referências

BALTUSSEN, R.; KNAI, C.; SHARAN, M. Iron fortification and iron supplementation are cost-effective interventions to reduce iron deficiency in four subregions of the world. J Nutr 2004; 134:2678-84.

IAL. Instituto Adolfo Lutz. Métodos Físico-químicos para análise de alimentos, Agência de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde, Quarta edição, 2008.

REDDY, N. R.; SATHE, S. K. Food Phytates. Taylor & Francis, 2001.

REVISTA FIB - FOOD INGREDIENTS BRASIL. Enriquecimento de alimentos com ferro. São Paulo. n° 31, 2018. Disponível em: http://revista-fi.com.br/. Acesso em: 01 de agosto de 2018.

SALGUERIO, M.; ZUBILLAGA, M.; LYSIONEK, A.; CARO, R.; WEILL, R.; BOCCIO, J. Fortification Strategies to combat zinc and iron deficiency. Nutr Rev 60: 52-58, 2002.

TEIXEIRA, M. G. Avaliação e especiação do Ferro bioacessível em alimentos. Departamento de Química, USP – dissertação de mestrado. São Paulo, 2014.

URE, A. M.; DAVIDSON, C. M. Chemical Speciation in the Environment. 2.ed. Glasgow: University of Strathdyde, Blackwell Science, 480 p. 2001.

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