Caracterização físico-química de polpa in natura de araçá vermelho (Psidium cattleianum)
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Alimentos
Autores
Sganzerla, W.G. (IFSC) ; Oliveira Xavier, L. (IFSC) ; Beling, P.C. (IFSC) ; de Lima Veeck, A.P. (IFSC) ; Akitoshi Komatsu, R. (IFSC) ; Ramos Nunes, M. (IFSC) ; Gonçalves da Rosa, C. (UNIPLAC) ; Veronez da Cunha Bellinati, N. (UNIPLAC)
Resumo
Este trabalho, tem como objetivo avaliar a composição físico-química, compostos bioativos e atividade antioxidante de polpa in natura de araçá vermelho (Psidium cattleianum) oriundos do sul do Brasil. A partir das análises nutricionais, físico-químicas e antioxidantes foi possível comprovar que a polpa de araçá vermelho apresenta um elevado teor de umidade e carboidratos, baixo teor de cinzas, lipídios e proteínas. A polpa de araçá apresenta elevado teor de compostos bioativos, o que resultou numa elevada atividade antioxidante, comprovada por três métodos. Dessa forma, o araçá vermelho torna-se uma fruta promissora para o consumo in natura, devido ao fato de apresentar boas propriedades nutricionais e antioxidantes.
Palavras chaves
Frutos nativos; Compostos bioativos; Atividade antioxidante
Introdução
O Brasil é um país com uma grande biodiversidade, apresentando cerca de 210 mil espécies de árvores, correspondendo a 13% da biota do mundo (NASCIMENTO et al., 2011), destacando-se por apresentar um amplo número de espécies nativas e exóticas com potencial para a agroindústria e como fonte de renda para a população local (RUFINO et al., 2010). Aliado a isso, a busca por alimentos saudáveis que proporcionem a redução do risco de doenças crônicas e patogênicas têm motivado a população quanto ao consumo de frutas exóticas. Estudos demonstram que frutas nativas do Brasil, como butiá (Butia catarinensis), guabiroba (Campomanesia xanthocarpa) e uvaia (Eugenia pyriformis) apresentam atividade antioxidante e antimicrobiana (PEREIRA et al., 2012; RUFINO et al., 2010). Os compostos que proporcionam a capacidade antioxidante em frutos, são os compostos bioativos. Esses compostos são sintetizados pelo metabolismo secundário das plantas, e são armazenados em folhas e principalmente em frutos (THILAKARATHNA; RUPASINGHE, 2012, HELENO et al. 2015). Polifenóis oriundos de alimentos vegetais têm atraído à atenção da indústria alimentícia, farmacêutica e da população em geral, devido ao fato desses compostos possuírem alta ação antioxidante, sendo promissor no combate do estresse oxidativo celular, inibindo a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e outras espécies reativas secundárias. A presença de moléculas antioxidantes em frutas auxilia no mecanismo de defesa e controle de danos celulares causados por radicais livres (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 1984; RUFINO, et al., 2009). Além dos compostos essenciais, o consumo de frutas proporciona a inserção de macromoléculas fundamentais para o fornecimento de energia ao corpo humano. Muitos vegetais apresentam elevados teores de lipídios, proteínas e carboidratos, o que favorece o consumo in natura das frutas (NASCIMENTO et al., 2011; CONTRERAS-CALDERÓN et al., 2011 ). Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar a composição nutricional, físico-química, compostos bioativos e atividade antioxidante de polpa in natura de araçá vermelho (Psidium cattleianum) oriundo do Sul do Brasil.
Material e métodos
Coleta das amostras: As amostras de araçá vermelho foram coletadas no ponto de maturação fisiológico característico da espécie, no primeiro semestre de 2018 em municípios do Sul do Brasil. Após a coleta, os frutos foram sanitizados com solução de hipoclorito de sódio (NaClO, 2 ppm) e lavados em água corrente. Em seguida, a polpa foi separada das sementes em uma despolpadora e armazenados sob refrigeração (-18 ± 2 °C) até o momento das análises. Composição nutricional: O teor de umidade foi determinado utilizando uma alíquota de 5 g de amostra, sendo submetido à estufa de circulação forçada de ar a 105 °C durante 24 horas, até peso constante. A fração resultante foi submetida à análise de cinzas totais, em mufla a 550 °C por 12 horas (IAL, 2008). O teor de proteínas (N×6,25) foi determinado pelo método de Micro Kjeldahl (AOAC, 1996). Os lipídios totais foram determinados pela extração a frio (BLIGH; DYER, 1959). Os carboidratos totais foram calculados pela diferença entre os demais compostos [100 - (umidade + cinzas + proteínas + lipídios)]. Caracterização físico-química: Para determinar a acidez total, 5 g de amostra foi homogeneizada em 50 mL de água deionizada e titulada com NaOH 0,1 M, sendo os resultados expressos em mg de ácido cítrico/100g de polpa (IAL, 2008). Foi determinado o pH, utilizando pHmetro digital devidamente calibrado. O teor de Sólidos Solúveis Totais (SST) foi determinado utilizando um refratômetro digital portátil, sendo expresso em graus Brix (°Brix). Composto bioativos e atividade antioxidante: Uma fração da polpa foi conduzida para a extração dos compostos bioativos. A extração foi realizada utilizando 5 g de polpa em 50 mL de solução etanólica (1:10 m/v, extrato a 10%) (SGANZERLA et al., 2018). Os compostos fenólicos foram determinados pelo método de Swain e Hillis (1959), e o teor de flavonoides totais foram determinados de acordo com Zhishen et al. (1999). A atividade antioxidante foi determinada por três métodos distintos: inibição do radical DPPH (1,1- difenil-2-picrilhidrazil) (BRAND-WILLIANS et al., 1995), ABTS (ácido 2,2'- azino-bis(3-etilbenzotiazolina-6-sulfónico) (RE et al., 1999) e pela redução do ferro (FRAP - Ferric Reduction Antioxidant Power) (BENZIE; STRAIN, 1996).
Resultado e discussão
A Tabela 1 apresenta os resultados da composição nutricional e físico-
química de polpa in natura de araçá vermelho.
A polpa do fruto de araçá vermelho apresentou elevado teor de umidade (85,08
g/100g) o que é condizente com o teor de muitas frutas exóticas encontradas
na região sul do Brasil (PEREIRA et al., 2012). A elevada presença de água
no fruto, confere uma diluição dos outros macronutrientes na polpa do fruto.
Desse modo, foi encontrado um baixo teor de cinzas (0,81 g/100g), lipídios
(0,31 g/100g) e proteínas (0,40 g/100g), mas condizente com o obtido na
literatura (DAMIANI et al., 2011). O teor de carboidratos totais obtido
nesse trabalho foi elevado (13,40 g/100g). Estudos realizados por Damiani et
al. (2011) obtiveram valores semelhantes de carboidratos totais (16,95
g/100g), e além disso, encontraram um elevado teor de açúcares solúveis
(9,99 g/100g), açúcares redutores (5,91 g/100g), além de fibras (4,82
g/100g) e pectina (0,72 g/100g). Já com relação à caracterização físico-
química, pode-se perceber que a polpa de araçá é levemente ácida, pois
apresenta um baixo pH (3,82) e uma elevada acidez (1,99 mg/100g).
A Tabela 2 apresenta os resultados de compostos bioativos e atividade
antioxidante em polpa in natura de araçá vermelho.
Avaliando os dados da Tabela 2, pode-se perceber que a polpa in natura de
araçá vermelho apresenta elevado teor de compostos bioativos, nos quais
incluem os compostos fenólicos (165,93 mg AGE/100g) e os flavonoides (131,38
mg QE/100g). O teor de flavonoides foi inferior devido ao fato desse
composto ser um das subdivisões dos compostos fenólicos totais (LIU, 2004).
Os compostos bioativos propiciaram uma elevada atividade antioxidante para a
polpa de araçá vermelho. O método de redução do ferro (FRAP) foi o que
apresentou melhor valor de atividade antioxidante (3206,50 mg TE/100g),
sendo seguido pelo método de remoção do radical DPPH (548,61 mg TE/100g) e
ABTS (488,15 mg TE/100g). Comparado com outras frutas nativas do Brasil
(RUFINO et al., 2010; NASCIMENTO et al., 2011; PEREIRA et al., 2012), o
araçá vermelho mostra-se uma fruta promissora, pois o araçá amarelo,
guabiroba, jambolão, umbu, uvaia e bacuri apresentam teores de compostos
bioativos e atividade antioxidante inferiores quando comparado à fruta
estudada nesse trabalho.
Tabela da Composição nutricional e físico-química de polpa in natura de araçá vermelho.
Tabela dos Compostos bioativos
Conclusões
O araçá vermelho nativo da região sul brasileira apresenta boas propriedades nutricionais, elevado teor de sólidos solúveis, e caracteriza-se por ser uma fruta levemente ácida. Além disso, é uma fruta rica em compostos bioativos, principalmente fenólicos e flavonoides, o que resulta numa elevada atividade antioxidante, comparada por três métodos distintos. Estudos posteriores irão ampliar o estudo sobre as propriedades bioativas e antioxidantes das frutas nativas in vivo, com o intuito de promover a inserção desse fruto na dieta alimentar da população.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Campus Lages, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Universi
Referências
AOAC, Official Methods of Analysis of the Association of Official Analysis Chemists (16th edn). Association of Official Analytical Chemists, Arlington VA, 1996.
BENZIE, I. F. F.; STRAIN, J. J. The ferric reducing ability of plasma (FRAP) as a measure of ‘‘antioxidant power’’: the FRAP assay. Analytical Biochemistry, v. 239, p. 70–76, 1996.
BLIGH, E.G & DYER, W.J. A rapid method of total lipid extraction and purification. Canadian Journal of Physiology and Pharmacology, v. 37, p.911-917, 1959.
BRAND-WILLIAMS, W. et al. Use of a free radical method to evaluated antioxidant activity. LWT - Food Science and Technology, v. 28, p. 25-30, 1995.
CONTRERAS-CALDERÓN, J. et al. Antioxidant capacity, phenolic content and vitamin C in pulp, peel and seed from 24 exotic fruits from Colombia. Food Research International, v. 44, n. 7, p.2047-2053, 2011.
DAMIANI, C. et al. Characterization of fruits from the savanna: Araça (Psidium guinnensis Sw.) and Marolo (Annona crassiflora Mart.). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 31, n. 3, p. 723-729, 2011.
HALLIWELL, B.; GUTTERIDGE, J. M. C. Oxygen toxicity, oxygen radicals, transition metals and disease. Biochemical Journal, v. 219, p. 1-14, 1984.
HELENO, S. A. et al. Bioactivity of phenolic acids: Metabolites versus parent compounds. Food Chemistry, v. 173, p.501-513, abr. 2015.
IAL - Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Métodos físico-químicos para análise de alimentos. 1020p. Versão eletrônica. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008.
LIU, R. H. Potential Synergy of Phytochemicals in Cancer Prevention: Mechanism of Action. The Journal of Nutrition, v. 134(12), p. 3479-3485, 2004.
NASCIMENTO, V. T. et al. Chemical characterization of native wild plants of dry seasonal forests of the semi-arid region of northeastern Brazil. Food Research International, v. 44, n. 7, p.2112-2119, 2011.
PEREIRA, M. C., et al. Characterization and antioxidant potential of Brazilian fruits from the Myrtaceae family. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 60, p. 3061-3067, 2012.
RE, R., et al. Antioxidant activity applying an improved ABTS radical cation decolorization assay. Free Radical Biology and Medicine, v.26, p.1231-1237, 1999.
RUFINO, M. et al. Free radical-scavenging behaviour of some north-east Brazilian fruits in a DPPH system. Food Chemistry, v. 114, n. 2, p.693-695, 2009.
RUFINO, M. S. et al. Bioactive compounds and antioxidant capacities of 18 non-traditional tropical fruits from Brazil. Food Chemistry, v. 121, n. 4, p.996-1002, 2010.
SGANZERLA, W.G., et al. Nutritional, physicochemical and antimicrobial properties of uvaia pulp (Eugenia Pyriformis Cambess). Communications in Plant Sciences, v. 8, p. 1-7, 2018.
SWAIN, T.; HILLIS, W. E. The phenolic constituents of Prunus domestica. Journal Science Food Agriculture, v. 10, p. 135-144, 1959.
THILAKARATHNA, S. H.; RUPASINGHE, H. P. V. Anti-atherosclerotic effects of fruit bioactive compounds: A review of current scientific evidence. Canadian Journal of Plant Science, v. 92, p. 407-419, 2012.
ZHISHEN, J., et al. The determination of flavonoid contents in mulberry and their scavenging effects on superoxide radicals. Food Chemistry, v. 64, n. 4, p. 555-559, 1999.