DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL MICROMINERAL DE MURTA (Eugenia punicifolia)
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Alimentos
Autores
Barbosa da Costa, N. (UFMA) ; Marques Mandaji, C. (UFMA) ; Márcia Becker, M. (UFMA) ; Malta Aranha, T. (ESTÁCIO DE SÁ) ; Silva Nunes, G. (UFMA)
Resumo
Foram analisadas amostras de Murta (Eugenia punicifolia) coletada no município de Paço do Lumiar- MA, quanto à presença de microminerais essenciais ao organismo. Analisou-se quantitativamente cobre, ferro, manganês e zinco, empregando Espectrometria Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP- OES). Foram encontrados os seguintes teores dos minerais, em mg/100g: 0,16 para Cu; 0,75 para Fe; 0,42 para Mn e 0,07 para Zn. A metodologia analítica utilizada foi precisa com coeficientes de variação (CV) menores que 10 %. O fruto mostrou ser fonte em Cu e Mn correspondendo a 17,78% e 18,26%, respectivamente, aos índices diários recomendados (IDR). Os valores apresentados fornecem novas informações sendo úteis para a construção de uma base de dados de composição mineral e aplicação industrial.
Palavras chaves
Murta; ICP-OES; microminerais
Introdução
Numa dieta saudável, as frutas desempenham papel de grande destaque pela saúde que nos proporcionam, traduzida em aumento da expectativa de vida, vitalidade e prevenção de inúmeras doenças por serem ricas em uma vasta gama de vitaminas, minerais e fibras (LORENZI et al., 2006), devendo estar presentes diariamente nas refeições. Somado a isso, estudos revelam que plantas alimentícias não-convencionais são mais ricas nutricionalmente do que plantas domesticadas (KINUPP; BARROS, 2008). No Brasil, diversas espécies não tradicionais vêm sendo utilizadas pelas populações locais, por apresentarem grande potencial para exploração no mercado de consumo in natura e/ou na industrialização. No entanto, tais espécies necessitam ser preservadas, cultivadas racionalmente e caracterizadas através do estudo de suas propriedades, visando sua utilização no mercado de alimentos funcionais (RUFINO, 2008). Considerando a importância dos frutos tropicais aliada à potencialidade de algumas espécies ainda pouco exploradas, esse trabalho objetivou realizar a determinação de microminerais (cobre, ferro, manganês e zinco) em uma fruta tropical ainda pouco conhecida, coletada no estado do Maranhão, murta (Eugenia punicifolia). A murta (Eugenia punicifolia) é uma planta arbustiva de até 3 m de altura, sendo nativa e endêmica do Brasil, distribuída em todos os ecossistemas brasileiro. Suas flores e frutos são encontrados durante o ano inteiro, sendo estes, pequenos e arredondados de cor vermelho-alaranjado quando maduro, contendo 1 a 2 sementes. Em geral, seus frutos são consumidos in natura. Não obstante sua utilização para fins alimentício e terapeutico, a murta é pouco conhecida pelos brasileiros não sendo reconhecida ainda como uma espécie de importância para exploração econômica. Dados sobre a composição mineral são escassos. Diante disso, a caracterização deste fruto em relação à presença de minerais, é importante, não só por se referir a novos dados de constituintes considerados importantes à saúde humana, mas também por estar relacionado à saúde e produtividade do vegetal. O conhecimento da composição de frutas regionais é fundamental para incentivar a comercialização nacional e internacional; para a rotulagem nutricional a fim de auxiliar consumidores na escolha dos alimentos; para a orientação da educação nutricional por especialistas baseada em princípios de desenvolvimento local e diversificação da alimentação, assim como, para a avaliação e adequação da ingestão de nutrientes de indivíduos ou populações.
Material e métodos
Amostra e amostragem Foi contemplada, nesse estudo, o fruto murta (Eugenia punicifolia), adquirida in natura no município de Paço do Lumiar (MA), sendo S 02˚29’39.7” W044˚08’41.4” as coordenadas do ambiente de coleta . As amostras foram devidamente acondicionadas em sacos plásticos, rotuladas, armazenadas e transportadas ao laboratório, onde foram lavadas para remoção das partículas do solo, poeiras e outros resíduos e, em seguida, armazenadas a -20 °C até o momento da análise. Determinação dos microminerais O procedimento de digestão baseou-se no método AOAC (2002), utilizando 0,5 ml de ítrio (100 mg.L-1) como padrão interno, em forno de microondas fechado (MARSX press 6.0). A solução resultante foi diluída com água desionizada para 25,0 ml em um balão volumétrico antes de ser analisada por espectrômetro de emissão óptica de plasma indutivamente acoplado (ICP-OES). Todas as análises foram realizadas em triplicata. Concentrações de quatro minerais (Cu, Fe, Mn e Zn) foram determinadas. As medições para determinação simultânea foram realizadas com um ICP OES (Shimadzu, modelo 9820), equipado com nebulizador concêntrico e permitindo a escolha da configuração entre o modo radial ou axial em uma unidade integrada. As condições operacionais estão resumidas na Tabela 1.
Resultado e discussão
Os resultados para as espécies minerais foram submetidos à análise de
variância (ANOVA), seguida da aplicação do teste Tukey (5 % de significância),
a fim de verificar a existência de diferenças significativas entre as
concentrações. A avaliação nutricional das amostras estudadas foi feita tendo
como referência o Relatório Técnico do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998). Os
resultados das concentrações, em mg.100g-1, com seus respectivos
CVs (%), bem como os LDs e LQs do método analítico utilizado são
apresentados na Tabela 2.
Avaliando os resultados das concentrações (Tabela 1), observa-se que os
valores dos coeficientes de variaçã0 (CV%) estão abaixo de 8,99 %, indicando a
precisão das determinações. A ingestão de 100 g das partes comestíveis da
murta fornece 5,36; 1,0; 18,26 e 17,78 % de Fe Zn, Mn e Cu, respectivamente.
Sendo estas duas últimas classificadas como fonte dos elementos por
apresentarem teor acima de 15% da IDR. Do ponto de vista nutricional isso é
muito importante, pois o Cu é essencial como constituinte de algumas
metaloenzimas requeridas na síntese da hemoglobina e na catálise de oxidação
metabólica e o Mn previne sintomas que vão desde atraso no crescimento até
ataxia (Onianwa; Adeyemo; Idowu, 2001; ERIKSON et al., 2005).
Estudos indicam que o Zn faz parte da composição de várias enzimas envolvidas
em funções fisiológicas, como síntese de proteínas e metabolismo energético.
Já o Fe é responsável pela síntese das células vermelhas do sangue e também
pelo transporte de oxigênio para todas as células do corpo (MAPA, 2010).
Contudo, o fruto aqui investigado apresentou-se abaixo da IDR, o que torna
necessária uma complementação alimentar para que o índice diário recomendando
seja atingido.
Não foram encontrados, na literatura, registros da concentração de minerais
para murta. Vale ressaltar que o presente trabalho é o primeiro a apresentar
dados destes parâmetros para esta fruta. Entretanto, ainda que uma comparação
entre resultados seja complexa, em virtude das concentrações dependerem de
fatores inter-relacionados como genética, solo, clima, estágio de maturidade
da planta e biodisponibilidade (PEDROZO, 2003), fazendo-se uma comparação com
os resultados divulgados pelo IBGE (2009) para os frutos pitanga (Eugenia
uniflora) e araçá-açu (Eugenia stipitata), pertencentes ao mesmo
gênero da murta, observa-se que a murta apresentou concentrações de Cu, Mn e
Fe superiores aos relatados para pitanga, assim como as concentrações de Fe e
Mn em araçá-açu estiveram inferiores as da murta. No entanto quando feita uma
comparação entre as concentrações Zn do araçá-açu e da pitanga com as aqui
relatadas, observa-se que os valores para murta foram inferiores.
Condições operacionais do método ICP-OES utilizado durante as análises
Composição mineral dos frutos estudados
Conclusões
Com a avaliação da composição mineral do fruto, a murta se mostrou como fonte potencial dos minerais Cu e Mn, apresentando valores superiores a 15% do índice diário recomendado (IDR), 18,26% e 17,78%, respectivamente. Este estudo é um dos primeiros a fornecer uma avaliação detalhada das composições nutricionais da Eugenia punicifolia, ainda pouco explorada, utilizando métodos de ICP-OES. Trouxe ainda novas informações sobre composição química úteis que contribuirá para a orientação nutricional por especialistas com princípios de desenvolvimento local e diversificação na alimentação.
Agradecimentos
Referências
AOAC - ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. Determination of Lead, Cadmium, Zinc, Copper and Iron in Foods. Atomic Absorption Spectrophotometry after Microwave Digestion. AOAC, Official Methods. 999.10. AOAC, Rockville, MD. 2002.
ERIKSON, K. M.; SYVERSEN, T.; ASCHNER, J. L.; ASCHNER, M. Interactions between excessive manganese exposures and dietary iron-deficiency in neurodegeneration. Environmental Toxicology and Pharmacology, v. 19, n. 3, p. 415-421, 2005.
(IBGE), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tabelas de Composição Nutricional dos Alimentos Consumidos no Brasil. 2009.
KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. TEORES DE PROTEÍNA E MINERAIS DE ESPÉCIES NATIVAS POTENCIAIS HORTALIÇAS E FRUTAS. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 28, n. 4, p.846-857, 22 jan. 2008.
LORENZI, H. et al. Frutas Brasileiras e exóticas cultivadas (de consumo in natura). São Paulo : Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2006. 672p.
MAPA. Manual de hortaliças nao convencionais. Brasília: Sepdag, 2010. 92 p.
ONIANWA, P. C.; ADEYEMO, A. O.; IDOWU, O. E.; OGABIELA, E. E. Copper and zinc contents of Nigerian foods and estimates of the adult dietary intakes, Food Chem., 72 (2001) 89-95.
PEDROZO, M. F. M. In: AZEVEDO, F. A.; CHASIN, A. A. M. Metais: gerenciamento da toxidade. Ed. Atheneu, São Paulo, 2003.
RUFINO, M.S. M. PROPRIEDADES FUNCIONAIS DE FRUTAS TROPICAIS BRASILEIRAS NÃO TRADICIONAIS. 2008. 263 f. Tese (Doutorado) - Curso de Agronomia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, MossorÓ, 2008.