Estudo preliminar da produção de sabão a partir de óleo de peixe e sebo caprino: tecnologia social para comunidades vulneráveis da região de Paulo Afonso/BA
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Química Tecnológica
Autores
Ferreira Silva, R. (IFBA) ; dos Santos, E. (IFBA) ; Felix dos Santos, D.E. (IFBA) ; Gois Araújo da Silva, Y. (IFBA)
Resumo
A região de Paulo Afonso/BA possui grandes psiculturas e, consequentemente, exite uma demanda pelo aproveitamento , ambientalmente sustentável, dos resíduos do peixe. Dentre estes resíduos, pode-se citar as vísceras. Tais vísceras são ricas em óleo, o qual pode ser aproveitado para diversos fins. O sebo caprino, por sua vez, é um produto secundário da caprino cultura regional. Seu destino, muitas vezes negligenciado, implica em um problema ambiental, em contraste ao seu potencial econômico. Conforme este panorama, este trabalho apresenta um estudo preliminar visando o aproveitamento de tais matérias-primas na produção de sabão em barra e líquido. A dureza, pH e poder de formação de espuma dos sabões obtidos foram muito bons quando comparados aos encontrados no comércio.
Palavras chaves
óleo de peixe; sebo caprino; sabão
Introdução
Só o velho Chico, ainda majestoso apesar das grandes transformações pelas quais tem passado, oferece uma fartura de água represada em imensos e belos reservatórios, capazes de transformar, através da aqüicultura, todo o perfil econômico local. No entanto, tendo em vista a preservação do meio ambiente, norteada pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca (Lei 11.959/09), toda a comunidade deve ficar atenta em especial aos resíduos gerados por tal seguimento. Santos,Xavier e Farias (2015) apontam também a importância da reciclagem de resíduos agroindustriais. O resíduo de peixe é constituído pelos restos da filetagem, restos da descamação e evisceração do peixe e ainda pelo pescado inteiro impróprio para o consumo humano(DE LIMA e LESSI,2004). Estes resíduos, se não adequadamente destinados, podem causar sérios danos ao meio ambiente. Estes restos do beneficiamento do peixe podem ser reunidos e utilizados na fabricação de by products, ou seja, produtos secundários com valor agregado, tais como óleo e farinha de peixe. A extração do óleo das vísceras e sua utilização para a produção de biodiesel e/ou sabão tem sido alternativas sustentáveis e economicamente viáveis em regiões com vocação para a piscicultura. O desenvolvimento da tecnologia do processamento e uso do óleo de peixe configura-se como uma questão estratégica para a região, na busca por criação de novos postos de trabalho, simultaneamente à destinação ambientalmente adequada dos resíduos produzidos no seguimento de pesca. O presente trabalho teve por objetivo um estudo preliminar da produção de sabão a partir de sebo caprino e do óleo de peixe extraído das vísceras de tilápia - peixe extensivamente criado e comercializado na região.
Material e métodos
O óleo de peixe foi extraído a partir das vísceras de tilápia por cocção com água. A mistura óleo/água foi separada por decantação seguida de filtração. Em seguida, foram determinadas a umidade, densidade, viscosidade cinemática (viscosímetro capilar Cannon Fenske) e índice de saponificação do óleo conforme Zenebon, Pascuet e Tiglea(2008). O sabão sólido foi obtido por intermédio de dois métodos diferentes denominados F1 e F2. Tais métodos apresentam proporções de álcool (comercial), água e hidróxido de sódio diferentes. Destaque-se o emprego do sebo caprino, cujos volumes utilizados foram 20 mL e 40 mL. Poder de formação de espuma, dureza e pH (pHmetro HANNA pH 21) foram determinados.Para a determinação do pH, foram preparadas soluções a 10% de cada sabão produzido. O sabão líquido, por sua vez, foi produzido com óleo de peixe e óleo residual. De um modo geral, a metodologia é semelhante à empregada para o sabão sólido; a não ser pela adição de água em maior quantidade, respeitando-se, naturalmente, a relação estequiométrica. Densidade e pH também foram determinadas.
Resultado e discussão
O óleo de peixe obtido após a extração, decantação e filtração, apresentou-
se límpido, de cor amarelada e com um leve odor. O sebo caprino, por sua
vez, após extração, apresentou-se com cor branca, opaco e com consistência
cerosa.
A Tabela 1 apresenta algumas propriedades do óleo de peixe empregado na
produção do sabão.
Os valores encontrados estão de acordo com aqueles previamente disponíveis
na literatura técnica.
Após a produção dos sabões, os valores de pH foram obtidos conforme dados da
Tabela 2.
Os valores indicam, conforme Uchimura (2007), que as formulações empregadas
no presente trabalho proporcionam um sabão adequado para limpeza de roupas.
De um modo geral, todos os sabões produzidos apresentaram cor, cheiro e
consistência similar aos encontrados no comércio. Já com relação ao poder de
formação de espuma, todas as formulações apresentaram resultados
satisfatórios. No aspecto dureza, o sabão F2C foi o que apresentou maior
dureza, apesar do maior tempo de solidificação causado pela ausência de
álcool.
O sabão líquido foi produzido com óleo de peixe e com óleo de fritura (soja)
residual, para fins de comparação. O sabão de óleo residual apresentou pH
igual a 6,5 e densidade igual a 0,886,04 kg/m3. Já o sabão com óleo de
peixe, apresento pH igual a 13 e densidade igual a 1,00 kg/m3.
Outra fato observado foi a consistência dos sabões líquidos ao longo de duas
semanas: o produzido a partir do óleo residual apresentou-se líquido, já o
produzido com óleo de peixe, apresentou-se inicialmente líquido e após
transcorrido o tempo citado, o sabão passou a ter um aspecto gelatinoso.
Apesar do aspecto apresentado, o sabão líquido apresentou poder de formação
de espuma satisfatório e, por conta de seu pH, pode ser utilizado para
limpeza pesada de auto, por exemplo.
Propriedades do óleo de peixe de tilápia
Valores de pH dos sabões produzidos
Conclusões
A produção de sabão sólido a partir do óleo de tilápia e sebo caprino mostrou- se extremamente promissora. Conforme comentado, o sabão produzido com álcool apresentou uma taxa de conversão maior do aquele produzido sem etanol. Isto implica em uma maior velocidade de endurecimento do sabão – algo interessante para produções em grande escala. Outro aspecto positivo foi a obtenção dos sabões com pH, dureza e poder de formação de espuma equivalentes aos encontrados no comércio. Fica como sugestão para trabalhos futuros um estudo físico-químico mais detalhado dos sabões, especialmente o líquido.
Agradecimentos
A equipe agradece à coordenação do Projeto de Incentivo à Aprendizagem (PINA/IFBA) pelas bolsas concedidas aos estudantes.
Referências
BRASIL. Lei n. Lei 11.959, de 29 de junho de 2009. Dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, regula as atividades pesqueiras, revoga a Lei no 7.679, de 23 de novembro de 1988, e dispositivos do Decreto-Lei no 221, de 28 de fevereiro de 1967, e dá outras providências. DOU, 2009.
DE LIMA, R. C. C.; LESSI, E. Utilização do resíduo de pescado para produção de farinha, óleo de peixe e sub-produtos à base do óleo extraído. Anais da XIII Jornada de Iniciação Científica do PIBIC/CNPq/FAPEAM/INPA. Manaus, 2004.
SANTOS, F.C.; XAVIER, E. F.; FARIAS, V. N.C. Produção de sabão e detergente biodegradável através do óleo de cozinha usado. Anais do XIII Congresso Internacional de Tecnologia na Educação. Recife, 2015.
UCHIMURA, M.S. Dossiê Técnico: Sabão. Instituto de Tecnologia do Paraná, 2007.
ZENEBON, O.; PASCUET, N. S.; TIGLEA, P. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008.