AVALIAÇÃO FITOQUÍMICA, FARMACONÓSTICA E ATIVIDADE BIOLÓGICA DO EXTRATO DE LOBEIRA (SOLANUM LYCOCARPUM).
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Produtos Naturais
Autores
Mendonça Pascoal, A. (IFG) ; Rodrigues de Macêdo, A. (IFG) ; Paula Santos Siqueira, A. (IFG) ; Monteiro Santana, I. (IFG) ; Muniz Vila Verde, G. (UEG)
Resumo
O objetivo do presente trabalho é realizar um estudo fitoquímico e farmacológico geral dos frutos e das folhas da Solanum lycocarpum (lobeira), visando à obtenção do perfil químico do extrato e identificação de substâncias responsáveis pela ação biológica. A lobeira é uma espécie nativa do cerrado e vêm sendo utilizada no tratamento de afecções das vias urinárias, colesterol, cólica renal e abdominal, diabete e redução da pressão sanguínea. Foi verificada na amostra em pó dos frutos e das folhas, a presença dos principais metabólitos secundários, tais como antraquinonas, flavonoides, saponinas, taninos, entre outros. A análise antifúngica realizada com os extratos etanoicos dos frutos e das folhas não demonstrou atividade na presença dos fungos fitopatogênicos.
Palavras chaves
Prospecção fitoquímica; lobeira; metabólitos secundários
Introdução
No passado, a fitoterapia era mais adotada pela população carente da área rural ou urbana, devido à fácil disponibilidade e menores custos (MACIEL et al., 2002). Atualmente, o uso de plantas como uma fonte de medicamentos é predominante em países em desenvolvimento como uma solução alternativa para problemas de saúde e está bem estabelecido em algumas culturas e tradições, especialmente na Ásia, América Latina e África (SHALE, 1999). O avanço nas pesquisas das plantas em detrimento a ocorrência de efeitos indesejáveis dos medicamentos convencionais fez com que o interesse mundial pela fitoterapia aumentasse nos últimos 10 anos (YUNES, PEDROSA e FILHO, 2001). No Brasil, a fitoterapia desenvolveu-se muito no início do século XX, quando médicos, farmacêuticos e laboratórios nacionais passaram a estudar e utilizar as plantas já consagradas pelo uso popular (SIMÕES et al., 2000). A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera fundamental que se realizem investigações experimentais acerca das plantas utilizadas para fins medicinais e de seus princípios ativos, para garantir sua eficácia e segurança terapêutica (SANTOS, 2004). A medicina popular tem sido alvo constante de estudos farmacológicos sobre a ação terapêutica das plantas (CECHINEL FILHO & YUNES, 1998). Diante da complexibilidade da fauna e da flora brasileira e a diferença do tipo de vegetação em diversas regiões brasileiras, a característica do Cerrado Brasileiro se destaca pela sua capacidade de aguentar épocas de seca, chuva e até queimadas. Entre as espécies de plantas encontra-se a Solanum lycocarpum, popularmente conhecida como Lobeira, baba-de-boi, berinjela-do-campo e maça do cerrado, sendo uma espécie nativa do Brasil.
Material e métodos
Coleta e preparo do material vegetal: As amostras de frutos e folhas da lobeira foram coletadas no perímetro urbano da região norte do município de Goiânia, Goiás. Parte do material, ainda fresco, foi utilizado para o estudo morfológico a olho nu e o restante foi seco à temperatura ambiente, triturado e empregado nas análises de pureza, fitoquímicas e obtenção do extrato etanoico (OLIVEIRA et al., 1998). Análise de pureza: O teor de umidade das folhas e dos frutos foi determinado através do Analisador de Umidade por Infravermelho- IV 2500, versão 1.03, marca Gehaka. O teor de cinzas foi determinado por meio de calcinação da amostra em mufla à 450 °C, até obtenção de cinzas brancas e peso constante (COSTA, 1982; PREGNOLATTO & PREGNOLATO, 1985). Preparação do extrato etanoico: As amostras de fruto e folha foram pulverizadas e submetidas a imersão em etanol 96%, por 72 horas, com agitação ocasional para a obtenção do extrato. Logo após, os extratos foram filtrados e concentrados em rotoevaporador na temperatura de 40º C (FERRI, 1996). Prospecção Fitoquímica: As análises qualitativas dos metabólitos secundários foram realizadas a conforme as técnicas descritas por Costa (1982), Matos (1988), Matos e Matos (1989). Análise Antifúngica: A avaliação da atividade antifúngica foi realizada adaptando o método do canudo descrito por POLEZEL (2015). Foi utilizada uma placa de Petri em meio Batata Dextrose Ágar para cada suspensão de fungo fitopatogênico. Foram usados os fungos fitopatogênicos Sclerotinia scleotiorum, Sclerotinia scleotiorum, Rhizoctonia solani, Rhizoctonia solani , Rhizoctonia solani, Fusarium oxysporum phaseoli Var3, Fusarium oxysporum phaseoli, Fusarium oxysporum phaseoli.As placas inoculadas foram incubadas durante 7 dias a 30ºC.
Resultado e discussão
A análise morfológica dos frutos e das folhas foi realizada a olho nu. Os
frutos apresentam de 7 a 16 cm de diâmetro, são globosos, são constituídos
por dois ou mais lóculos com cavidade central repleto de polpa carnosa.
Possui endocarpo verde, tomentoso e com pequenos “pelos” que se desprendem
quando tocados e na parte do cálice se localiza espinhos (CASTELLANI et al.,
2008). As folhas são alternas, de consistência firme, densamente recoberta
por tricomas (pelos) com margens irregulares, variando de 10-20 cm de
comprimento (PPMAC, 2016). O teor de umidade para os frutos foi de 12,4% e
para as folhas 8,9%. O teor de cinzas para o os
frutos foi de 5,13 % e 3,47 % para as folhas. Nas folhas foram identificadas
as antraquinonas, que possuem potencial cicatrizante, antibacteriano e
antivirótico (SILVEIRA et al, 2008). Na amostra de folhas foram
identificados heterosídeos antraquinônicos, esteróides e triterpenóides,
heterosídeos, flavonoides, taninos, alcaloides, cumarinas e resinas.Já na
amostra de fruto foram identificados esteróides e triterpenóides,
heterosídeos flavonoides, heterosídeos saponínicos, taninos, alcaloides,
cumarinas e resinas. A presença de flavonoides, tanto nos frutos quanto nas
folhas reforça a atividade antioxidante (LIMA et al., 2013). Os taninos
possuem ação antioxidante e sequestradora de radicais livres, podendo ser
utilizados no tratamento de feridas, queimaduras e inflamações (CASTEJON,
2011). Os alcaloides são utilizados no tratamento de hemorragia pós-parto e
pós-aborto (OLIVEIRA et al., 2009). As cumarinas possuem ação
antiflamatória, antitrombótica e vasodilatadora. A análise antifúngica
realizada com os extratos etanoicos dos frutos e das folhas não demonstrou
atividade na presença dos fungos fitopatogênicos testados.
Conclusões
As análises realizadas foram capazes de relevar diversos metabólitos secundários presentes na espécie Solanum lycocarpum, tais como, antraquinonas, flavonoides, saponinas, taninos, entre outros. Esses grupos de compostos podem ser os responsáveis pelas propriedades terapêuticas da planta, bem como a ação cicatrizante, antiflamatória e antioxidantes. Os resultados obtidos neste trabalho fazem da Solanum lycocarpum (lobeira) uma fonte muito promissora para aplicações na indústria farmacêutica, mas para isso estudos mais aprofundados devem ser realizados.
Agradecimentos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Campus Goiânia
Referências
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