Atividade antibacteriana do extrato hidroetanólico e das frações das raízes de Duguetia furfuracea (Annonaceae)

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Oliveira, R.C. (UFMT) ; Santos, T.C.B. (UFMT) ; Frasson, A.P.Z. (UFMT) ; Gomes, L.P.R. (UNIC) ; Teixeira, J.J.L. (UNIC) ; Silva, V.C. (UFMT) ; Violante, I.M.P. (UNIC) ; Ribeiro, T.A.N. (UFMT)

Resumo

Duguetia furfuracea (Annocaceae), conhecida como sofre-dos-rins-quem-quer, popularmente utilizada para reumatismo, cólicas renais e dores na coluna. Com o objetivo de avaliar a atividade antibacteriana empregou-se o método de microdiluição em caldo do extrato bruto hidroetanólico (EBHE) (7:3 v/v) das raízes de D. furfuracea e suas frações hexânica (FHex), diclorometânica (FDCM), acetato de etila (FAcOEt) e metanólica (FMeOH) . O EBHE e a FDCM apresentaram boa atividade inibitória do crescimento de S. aureus e K. pneumoniae e a FHex também inibiu o crescimento deste último microrganismo. As frações FAcOEt e FMeOH mostraram-se inativas frente a todas as cepas nas condições experimentais. Assim, este trabalho amplia as informações científicas quanto o potencial farmacológico da espécie.

Palavras chaves

Duguetia furfuracea; atividade antibacteriana; potencial farmacológico.

Introdução

O uso crescente de antibióticos tem aumentado o número de bactérias resistentes a esses medicamentos e, com isso, a pesquisa de antimicrobianos de origem natural torna-se uma alternativa eficaz e econômica (VARGAS et al., 2004), pois além de apresentar toxicidade mínima para as células hospedeiras podem se tornar capazes de inibir o crescimento de patógenos ou até matá-los (ASKARI et al., 2012). Algumas plantas medicinais apresentam um amplo espectro de atividade e inibição comprovada contra algumas bactérias e fungos (SILVA, 2010). Isso pode ser explicado pelo fato das plantas produzirem uma grande diversidade de metabólitos secundários, o que aumenta a probabilidade da ocorrência de interações sinérgicas entre os compostos produzidos, garantindo uma melhor atividade biológica (HASSAN, 2012). O estado de Mato Grosso é considerado um ambiente promissor, que fomenta e estimula e a investigação química de plantas com possíveis potenciais medicinais, já que possui em seu território, os três dos maiores ecossistemas presentes no Brasil, o cerrado, a floresta amazônica e o pantanal (BIESKI et al., 2012; BOLZANI et al., 2012). Duguetia furfuracea (Annonaceae), conhecida como “sofre-dos-rins-quem-quer”, é uma das espécies vegetais inseridas neste Estado, e há relatos da presença de metabólitos especiais tais como sesquiterpenos, alcaloides, flavonoides, taninos, acetogeninas, os quais possuem significativo potencial biológico (CAROLLO et al.,2005). O presente trabalho baseia-se na avaliação antibacteriana do extrato bruto hidroetanólico e das frações hexânica, diclorometânica, acetato de etila e metanólica das raízes desta espécie visando contribuir com os conhecimentos de interesse farmacológico.

Material e métodos

O material botânico foi coletado em março de 2016 em Cuiabá-MT e a exsicata depositada no Herbário Central da UFMT (nº 42.890). O extrato bruto hidroetanólico das raízes de D. furfuracea foi obtido através de percolação utilizando-se etanol-água (7:3), com posterior evaporação do solvente em evaporador rotativo. O EBHE foi submetido à partição sólido-líquido empregando-se solventes com polaridade crescente, sendo obtidas as frações hexânica, diclorometânica acetato de etila e metanólica. No teste da atividade antibacteriana foram utilizadas cepas padrão ATCC Gram positivas de Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis Streptococcus pyogenes e Bacillus subitilis e Gram negativas Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiela pneumoniae, Salmonella typhimurium e Shigella flexneri. A concentração dos inóculos foi ajustada para cerca de 5x105 células/mL e cloranfenicol foi utilizado como padrão antibacteriano. As amostras (EBHE e frações) foram diluídas às concentrações finais de 1000; 500; 250; 125; 62,5 e 31,25 µg/mL. A avaliação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) foi realizada em duplicata pelo método de microdiluição em placas de 96 poços, utilizando caldo Müeller-Hinton (Difco®). Após incubação à 35°C, por 24 horas fez-se a leitura visual observando-se o crescimento microbiano indicado pela turbidez, comparando o crescimento em cada poço com o observado no controle positivo (NCCLS, 2003). Após adição de 30 μL de resazurina (0,0001g/mL) em cada poço (ALVES et al., 2008), seguiu-se incubação a 35°C por 2 h e foi observada a menor concentração capaz de inibir o crescimento bacteriano (sem mudança de cor do indicador). Foram empregados os critérios da Tabela 1 para classificação da atividade.

Resultado e discussão

O EBHE das raízes de D. furfuracea e suas frações foram avaliados quanto a atividade antimicrobiana através do método de microdiluição em placa e os resultados são apresentados na Tabela 2. Frente às bactérias Gram positivas, o EBHE e a FDCM apresentaram boa atividade inibitória do crescimento apenas de S. aureus (CIM = 500 μg/mL). Contra as bactérias Gram negativas, foi observada boa inibição do crescimento de K. pneumoniae para o EBHE (CIM = 250 μg/mL) e para as frações FHex (500 μg/mL) e FDCM (125 μg/mL). As frações FAcOEt e FMeOH mostraram-se inativas frente a todas as cepas avaliadas nas concentrações testadas, considerando-se que não possuem potencial antibacteriano nas concentrações avaliadas. Destaca-se o efeito do EBHE e frações contra K. pneumoniae, bactéria que tem provocado preocupação na saúde pública devido a gravidade das infecções que acometem especialmente indivíduos imunocomprometidos, podendo leva-los a óbito (MOREIRA; FREIRE, 2012). Desta forma, ressalta-se a importância da continuidade dos estudos fitoquímicos da espécie, a fim de isolar e identificar os metabólitos especiais responsáveis pela atividade antibacteriana das frações que se demonstraram ativa.

Tabela 1

tabela citada no tópico "material e métodos"

Tabela 2



Conclusões

O EBHE de D. furfuracea, assim como as frações FDCM e FHex apresentaram moderada atividade de inibição no crescimento de bactérias Gram positivas e, em especial, Gram negativas, evidenciando que esta planta medicinal pode representar uma importante alternativa no controle de infecções bacterianas. Portanto, para trabalhos futuros, se faz necessário isolar e identificar as substâncias responsáveis por tal atividade.

Agradecimentos

LPQPN-UFMT, CAPES, CNPQ, FAPEMAT, UFMT e UNIC.

Referências

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