Atividade antibacteriana do óleo essencial de alecrim (Rosmarinus officinalis) em Salmonella enterica
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Produtos Naturais
Autores
Lobo, V. (UTFPR) ; Machado, C. (UTFPR) ; Bastian, L. (UTFPR) ; Busso, C. (UTFPR) ; Rosa, M. (UNIOESTE)
Resumo
O óleo essencial de alecrim vem sendo amplamente estudado pela sua característica antibacteriana. Para o presente estudo coletou-se o alecrim fresco e analisou-se a composição química de seu óleo. Para as análises contra a bactéria Salmonella enterica realizaram-se os testes de Concentração Inibitória Mínima, segundo padronização estabelecida pelo National Committee for Clinical Laboratory Standarts, e a Concentração Bactericida Mínima, a partir dos resultados que não houveram crescimento bacteriano visível. Os constituintes químicos majoritários foram: cânfora 25,69%, 1,8-cineol 13,84%, α-pineno 12,76% e β-mirceno 9,80%. O óleo essencial apresentou valores de 5,19 µLmL-1 e 20,75 µLmL-1 para CIM e CBM respectivamente, indicando futuros estudos com a aplicação desse óleo em alimentos.
Palavras chaves
alecrim; bacteria gram-negativa; atividade
Introdução
Os óleos essenciais são matérias-primas de origem vegetal extraídos por processos físicos específicos que dão origem a um extrato líquido à temperatura ambiente. Os óleos essenciais podem ser obtidos pela destilação da casca do fruto, das flores, folhas, talos, entre outros (SANTOS, 2011). O método de extração utilizado para a obtenção do óleo essencial (OE) influência a sua composição, os óleos podem se extraídos pelo método de destilação a vapor, hidrodestilação, extração por solventes entre outros métodos de extração (CHARLES; SIMON, 1990, OLIVEIRA et al., 2012). A Hidrodestilação é o método mais utilizado em escala laboratorial para extração de óleos essenciais, nesse método a matéria-prima é totalmente coberta por água (BUSATO et al., 2014). Óleos essenciais são muito complexos podendo conter 20-60 compostos em concentrações bastante diferentes. Eles são caracterizados por dois ou três componentes majoritários em concentração bastante elevada (20-70%) em comparação com os outros componentes presentes (BAKKALI et al., 2008). A composição dos óleos essenciais pode variar de acordo com as condições climáticas, estágio de desenvolvimento da planta e localização na planta da estrutura secretora. Os compostos ativos presentes nos óleos são originados dos metabólitos das plantas. Podendo a composição química variar conforme a parte da planta, o grau de desenvolvimento, o horário do dia e o ambiente onde tais plantas se encontram (SIMÕES et al., 2010). As variações da composição química nos óleos essenciais também foram relatadas em estudos de (CASTRO; MING; MARQUES, 2002) mostrando que a constituição química dos óleos essenciais nem sempre apresentam resultados uniformes, podendo atribuir as variações as condições climáticas, solo e época de colheita.
Material e métodos
OBTENÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL O material vegetal foi coletado no município de Toledo/PR, em seguida lavado e preparado para a extração do óleo. A extração do OE ocorreu por hidrodestilação, em aparelho do tipo Clevenger, in natura, por 3 horas (JIANG et al., 2011) (RIBEIRO et al., 2012). Após a extração o óleo foi purificado e utilizado para a sua caracterização e determinação de sua atividade antimicrobiana. DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DE ALECRIM Analisou-se a composição química do OE através de cromatógrafo gasoso acoplado a um espectrômetro de massas (CG/MS). Utilizou-se uma coluna Capilar DB – 5 (5% fenil – 95% metilpolissiloxano) de sílica fundida com 30 m de comprimento, 0,25 mm e 0,25 μm de espessura de filme da fase estacionária (J & W Scientific); o gás de araste: Hélio (99,99%) à vazão de 1 mL min-1. Temperatura: 50°C, elevando-se até 280°C a 5°C.min-1 permanecendo nesta por 10 min. Temperatura da fonte de ionização (EI 70eV): 250°C , temperatura do injetor: 220°C. Diluiu-se as amostras em diclorometano com grau de pureza CG e injetou-se 1 μL no cromatógrafo. DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA Realizaram-se os testes para o OE utilizando-se a cepa da bactéria Salmonella entérica (ATCC 13076), disponibilizada pela Coleção de Microrganismos de Referência em Vigilância Sanitária – CMRVS da FIOCRUZ. Os testes de CIM seguiram as recomendações estabelecidas pelo National Committee for Clinical Laboratory Standarts (NCCLS M7-A6, 2003). Definiu-se a CIM como a menor concentração do extrato em mg mL-1, capaz de impedir o crescimento microbiano. Determinou-se a Concentração Bactericida Mínima (CBM) a partir dos poços nos quais não houve crescimento bacteriano visível no teste da CIM.
Resultado e discussão
ÓLEO ESSENCIAL
O rendimento de extração do óleo essencial do alecrim, em estudo, a partir
da forma in natura via hidrodestilação por 3h, foi de 0,45% em massa de
planta utilizada.
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL
Através de análise em CG-EM do OEA, foi possível identificar 27 componentes,
tendo como constituintes majoritários: cânfora 25,69%, 1,8-cineol 13,84%, -
pineno 12,76% e o -mirceno 9,80%, correspondendo a 62,1% do total de
componentes do óleo.
Em estudo realizado na cidade Campos do Goytacazes/RJ os compostos
predominantemente identificados em óleos de folhas secas do alecrim foram
aproximadamente: cânfora 35,17%, 1,8-cineol 24,14%, -pineno 24,14% e -
mirceno 14,87% que correspondeu em média a 90% da composição geral (PRINS;
LEMOS; FREITAS, 2006).
Essa comparação indica que com alguma variação de concentração de cada
componente, a composição obtida está de acordo com a literatura.
DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA
O óleo essencial apresentou valores de 5,19 µL.mL-1 e 20,75 µL.mL-1 para CIM
e CBM respectivamente, frente á bactéria Salmonella entérica, apresentando
atividade. Esses valores mostram-se promissores para posteriores estudos com
a aplicação desse óleo essencial em alimentos.
PICCAGLIA et al. (1993) testaram a atividade antibacteriana do óleo
essencial de 12 plantas diferentes frente a 25 tipos de microorganismos,
sendo o alecrim uma das plantas estudadas. O óleo de alecrim mostrou halos
de inibição para todos os microorganismos estudados, estando entre eles o
Staphylococcus aureus e Escherichia coli.
Conclusões
Esse trabalho mostra que é possível e indicado o uso de óleos essenciais para uma aplicação em produção de alimentos, visto que apresenta boa atividade antimicrobiana, principalmente para bactérias gram-negativas. Isso favorece o estudo de avaliações de óleos essenciais a partir de ervas condimentares, pois possuem, em sua composição, substâncias químicas com ações bactericidas já comprovadas isoladamente.
Agradecimentos
CAPES, Fundação Araucária e UTFPR.
Referências
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