Avaliação da atividade antimicrobiana do cerne da raiz de Schinopsis brasiliensis sobre S. aureus resistente a antibióticos.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Oliveira Moreira, B. (UFBA) ; Yatsuda, R. (UFBA) ; Peixoto Cruz, M. (UFBA) ; Alves Campos, V. (UFBA) ; Azeredo Souza, P. (UFBA) ; Amorim Melo, T. (UFBA) ; Gomes da Silva Neto, J. (UFBA)

Resumo

Nas últimas décadas, destacou-se o interesse global na utilização de plantas medicinais, como alternativa de tratamento e prevenção de várias doenças. O objetivo deste estudo foi avaliar in vitro a atividade antimicrobiana do cerne da raiz de Schinopsis brasiliensis. Foi preparado o extrato metanólico do cerne da raiz da planta e as fases hexânica, clorofórmica, acetato de etila e butanólica foram obtidas a partir do extrato bruto. Sendo realizados os testes de atividade antimicrobiana com cepas de Staphylococcus aureus resistentes à meticilina. Realizou-se o teste de concentração inibitória mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM). A maioria das fases orgânicas do cerne da raiz de S. brasiliensis apresentou atividade antimicrobiana frente às bactérias MRSA testadas.

Palavras chaves

Schinopsis brasiliensis; atividade antimicrobiana; bactérias MRSA

Introdução

Atualmente, devido ao rápido aumento mundial da resistência microbiana aos antibióticos disponíveis no mercado, Baquero e Blázquez (1997) relataram o perigo do retorno a uma era pré-antibiótico, particularmente considerando que nenhuma nova classe de antibiótico foi descoberta nos últimos anos, apesar das intensas pesquisas das indústrias farmacêuticas. O uso indiscriminado dos antimicrobianos na comunidade e também no ambiente hospitalar é um fator de risco importante para aparecimento e disseminação da resistência microbiana (ANVISA, 2005). Schinopsis brasiliensis, popularmente conhecida como braúna ou baraúna é uma árvore que pertence à família Anacardiaceae, nativa caatinga onde é utilizada na medicina popular. Há relatos na literatura da atividade antimicrobiana da casca do caule (PEREIRA, 2007; SANTANA e FELISMINO, 2010). Entretanto, esse é o primeiro relato da atividade antimicrobiana da raiz dessa espécie vegetal. O Staphylococcus aureus é uma bactéria do grupo dos cocos gram-positivos que faz parte da microbiota humana, mas que pode provocar doenças que vão desde uma infecção simples, como espinhas e furúnculos, até as mais graves, como pneumonia, meningite, endocardite, síndrome do choque tóxico e septicemia, entre outras. Devido a sua enorme capacidade de adaptação e resistência, tornou-se uma das espécies de maior importância no quadro das infecções hospitalares e comunitárias. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo fazer a avaliação da atividade antimicrobiana das fases orgânica obtidas por partição do extrato metanólico do cerne da raiz de S. brasiliensis sob S. aureus resistentes a antibióticos. Bem como, realizar o estudo fitoquímico das fases que apresentarem atividade antimicrobiana.

Material e métodos

Preparo do Extrato metanólico e fracionamento: As raízes de S. brasiliensis, após serem secos em estufa a 40º C com ventilação e separados em casca e cerne, foram submetidos à moagem, separadamente. O material pulverizado, casca e cerne da raiz, foram então submetidos à maceração em MeOH, separadamente, e o filtrado obtido foi concentrado sob pressão reduzida, originando os extratos metanólicos da casca e do cerne da raiz. Esses extratos foram dissolvidos, separadamente, em MeOH/H2O (7/3) e particionado dando origem as fases hexânica, diclometânica, acetato de etila e butanólica. Fracionamento da fase acetato de etila do cerne da raiz: A fase acetato de etila do cerne da raíze de S. brasiliensis foi submetida à purificação por CC de sílica gel 60 utilizando como fase móvel os solventes CHCl3 e MeOH em ordem crescente de polaridade. Foram obtidas 35 frações de aproximadamente 150 mL cada, as quais foram reunidas em 9 frações após análise em CCDC. A fração CCaRSB.5 foi identificada através de CLAE-DAD. Estudos antimicrobianos: Microrganismos - Os microrganismos que foram utilizados na determinação da concentração inibitória mínima e concentração bactericida mínima foram S. aureus ATCC43300, S. aureus 16A. Os testes de Concentração Inibitória Mínima (CIM) – microdiluição e Concentração Bactericida Mínima (CBM) foram realizados seguindo os protocolos da literatura (YATSUDA et al., 2005).

Resultado e discussão

De acordo com Tanaka et al. (2005) e Holetz et al. (2002) a atividade antimicrobiana pode ser classificada de acordo com a CIM em: Inativa (CIM > 1000 μg/mL); atividade fraca (500 < CIM < 1000 μg/mL); atividade moderada (100 < CIM < 500 μg/mL) e ativa boa (CIM < 100 μg/mL). No presente trabalho as fases diclorometânica, acetato de etila e butanólica do cerne da raiz de S. brasiliensis apresentaram atividade antimicrobiana frente às bactérias MRSA testadas (Tabela 01). A fase clorofórmica apresentou uma boa atividade (CIM = 31,25 µg/mL) para o isolado 16A, ao passo que apresentou uma atividade moderada para a cepa ATCC 43300 (CIM = 250 µg/mL). A fase acetato de etila apresentou uma boa atividade para as duas cepas de bactérias MRSA testadas. A fase butanólica apresentou resultados semelhantes para ambas às cepas (CIM = 250 µg/mL e CBM = 1000 µg/mL), sendo sua atividade classificada como moderada. A fase escolhida para o início do estudo fitoquímico foi a acetato de etila, pois apresentou a melhor atividade antimicrobiana. A fração CCeRSB.5 obtida através de uma coluna cromatográfica da fase acetato de etila, foi analisada no CLAE-DAD e apresentou o mesmo tempo de retenção (tR = 4,022 min) que o galato de metila. Além disso, foi possível observar que os espectros no UV- vis do pico em tR = 4,022 e do padrão de galato de metila, obtidos pelo detector DAD, apresentam sobreposições nas regiões ascendente, apical e descendente dos picos. Desta forma, podemos concluir que essa fração é constituída majoritariamente por galato de metila (figura 01). Daremos continuidade ao estudo fitoquímico com as fases que apresentaram atividade, visando a obtenção de novas substâncias bioativas.

Tabela 01

Atividade antimicrobiana das fases orgânicas obtidas por partição do cerne da raiz de S. brasiliensis sobre S. aureus resistentes a antibióticos.

Figura 01

A-Cromatograma da fração CCeRSB.5. B-Comparação dos espectros no UV obtidos pelo detector DAD do padrão à direita e da fração CCeRSB.5 à esquerda.

Conclusões

Foi observada a atividade antimicrobiana frente cepas de bactéria resistentes a antibióticos das fases clorofórmica, acetado de etila e butanólica do cerne da raiz de S. brasiliensis. O estudo fitoquímico foi iniciado com a fase acetato de etila, pois está fase mostrou-se a mais ativa. Através do fracionamento dessa fase foi possível isolar e identificar a substância galato de metila. É necessário a continuação do estudo fitoquímico visando a purificação e identificação da(s) substância(s) responsável(is) pela atividade antimicrobiana apresentada pelas fases.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPq, Banco do Nordeste e PROPCI/PROPG–UFBA/MCTIC Edital 004/2016 PROGRAMA DE APOIO A JOVENS PROFESSORES DOUTORES–PROPESQ pelo apoio financeir

Referências

Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Pediatria: prevenção e controle de infecção hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde, ANVISA, 116 p., 2006.


BAQUERO F. AND BLÁZQUEZ J. Evolution of antibiotic resistance, Tree, v. 12, p. 482-487, 1997.

NASCIMENTO, G. G. F.; LOCATELLI, J.; FREITAS, P. C. D. Antibacterial activity of plant extracts and phytochemicals on antibiotic-resistant bacteria. Brazilian Journal of Microbiology, v. 31, n. 4, p. 247-56. 2000.

Pereira.J.F.S Avaliação do potencial microbiano do extrato da casca de Schinopsis brasilienses Engler (Brauna): um estudo baseado na indicação etnofarmacológica. Campina grande, 2007, 60f. Trabalho orientado acadêmico- Centro De Ciências Biológicas E Da Saúde/ Universidade Estadual Da Paraíba.

TANAKA, J. C. A.; SILVA, C. C.; DIAS FILHO, B. P.; NAKAMURA, C. V.; CARVALHO, J. E.; FOGLIO, M. A. Constituintes Químicos de Luehea divaricata MART. (TILIACEAE) Quim. Nova, v. 28, n. 5, 834-837, 2005.

YATSUDA, R. Efeito antimicrobiano “in vitro” da Mikania laevigata e Mikania glomerata sobre estreptococos do grupo mutans. 2008. 67f. Dissertação (Mestrado em Odontologia). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Piracicaba. 2004.

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