Investigação da atividade farmacológica do extrato etanólico das folhas de Erythroxylum deciduum A. St.-Hil. (Erythroxylaceae)coletadas no Cerrado goiano.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Vila Verde, G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL GOIÁS) ; Machado, J.A.R. (FACULDADE CAMBURY) ; Ferreira, H.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Galdino, P.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA) ; Costa, E.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS) ; Paula, J.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)

Resumo

Erythroxylum deciduum é conhecida popularmente como “cocão” e ocorre no Cerrado. Seus frutos podem intoxicar ovinos de forma severa com acometimento neurológico e motor. Este trabalho investigou a atividade farmacológica geral do extrato etanólico bruto das folhas de E. decicuum nas doses de 100, 300 e 1000 mg/Kg via oral; avaliou a atividade sobre o SNC na indução do tempo de sono por barbitúrico, e implicações motoras pelos testes de rota- rod e campo aberto. Resultados foram expressos como média +/- erro padrão da média e submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste t de Students. Houve aumento no tempo de sono na dose 300mg/kg; no rota-rod não houve interferência na frequência de locomoção e no campo-aberto houve diminuição da frequência de locomoção na dose de 1000 mg/kg.

Palavras chaves

Erythroxylum ; extrato; farmacologia

Introdução

No estado de Goiás, a vegetação predominante é o Cerrado, cuja riqueza e diversidade favoreceram a utilização de plantas medicinais como recurso terapêutico. Segundo Rizzo et al. (1990), se as plantas forem utilizadas corretamente podem trazer uma gama de benefícios à população.Constituindo a flora goiana, encontram-se E. campestre A. St. -Hil. e E. deciduum A. St. - Hil., ambas pertencentes à família Erythroxylaceae e ao gênero Erythroxylum, do qual é conhecido por apresentar indivíduos produtores de alcalóides como metabólitos secundários (BACCHI, 2004).Trata-se de espécies com pouca investigação sobre seu potencial farmacológico. Segundo Colodel et al. (2004), a E. deciduum é conhecida por provocar casos de intoxicação severa em ovinos, apresentando alterações neurológicas como tremores musculares, ataxia e hiperexcitabilidade, sintomas que podem estar presentes em quadros convulsivos (FERRAZ et al. 1999). Já a E. campestre, na medicina popular mineira, as raízes de E. campestre são empregadas como laxante na forma de infuso (RODRIGUES, 2001).Estudos realizados por Nascimento et al. 2008 demonstram que o potencial citotóxico das frações metanólicas dos frutos de E. deciduum é elevado, quando testadas contra linhagens células de leucemia mielóide crônica. Tais espécies possuem elevada semelhança morfológica, o que permite dificultosa distinção entre elas e potencial para intoxicação no contexto de utilização popular. Assim,o trabalho objetivou investigar atividade farmacológica do extrato de E. deciduum, a fim de estabelecer parâmetros que possam subsidiar pesquisas na busca de protótipos de fitoterápicos e/ou tóxicos.

Material e métodos

O material botânico foi coletado nas coordenadas de latitude: 16.66°S, longitude: 49.3634°O, exatidão da posição: 16.51 metros. A identificação botânica do material foi realizada pelo Dr. Heleno Ferreira Dias ICB/UFG e depositada a exsicata no Herbário da Universidade Estadual Goiás, sob o número de tombo 8088. O extrato etanólico foi obtido de acordo com os procedimentos de Matos (1988). A atividade farmacológica foi baseada nos procedimentos de Lapa (2004). Os animais Na realização das análises foram utilizados grupos (n=8) de camundongos machos Swiss albinos pesando aproximadamente 30g, oriundos do Biotério Central da Universidade Federal de Goiás. Os animais foram aclimatados e mantidos no mini-biotério recebendo alimentação adequada e água até minutos antes do início dos experimentos. Após os experimentos foram sacrificados por meio de deslocamento de cervical de acordo com as normas vigentes.As drogas utilizadas na avaliação da atividade farmacológica foram: Pentobarbital sódico (Abbott – Brasil) e DMSO 1%.As drogas foram diluídas em água destilada e o EDFE/ECFE em água destilada utilizando o DMSO como agente emulsificante (1%), veículo (água e DMSO).Os testes utilizados para a investigação farmacológica foram teste geral de atividades farmacológicas, avaliação da atividade depressora do SNC, rota-rod e campo aberto. Os resultados serão expressos como média mais ou menos erro padrão da média e submetidos à análise de variância (ANOVA). A comparação entre as médias será feita pelo teste t de Students, considerando significância os valores de p < 0,05 (SOKAL e ROHLF, 1981).

Resultado e discussão

No teste geral de atividades farmacológicas os camundongos tratados com EDFE nas doses de 100 mg, 300 mg e 1000 mg/Kg (v.o, s.c. ou i.p., n=8) houve efeito de redução da movimentação espontânea (hipocinesia), melhor observados na dose 1000 mg/Kg. Foram observados também, efeitos de anestesia e momentos de passividade alternados com estimulação durante os períodos mais curtos de observação (2-4 horas). Durante o tempo do experimento um camundongo sofreu convulsão tônica e morte em apenas 20 minutos de administração do EDFE na dose de 1000mg/Kg por via intraperitoneal. Esses resultados nortearam os demais testes definidos pela necessidade de se investigar possíveis ações de ordem central e motora do EE, já que implicações nestes campos foram citados por Colodel et al. (2004). Avaliação da atividade depressora no SNC baseia-se no aumento do tempo de sono provocado por potencialização do efeito de um barbitúrico, o pentobarbital sódico (50mg/Kg), quando administrado concomitante a outra droga depressora do SNC. Observou-se aumento do tempo de sono na dose de 300mg/kg (71,63 ± 4,8) em relação ao grupo controle. No rota-rod não houve variação significativa na frequência de locomoção. No teste do campo aberto, o resultado observado foi de redução da frequência de locomoção dos camundongos à medida que se aumenta a dose do extrato e comparado com o controle que foi considerado como padrão de locomoção e observou-se as frequências de locomoção: controle (29,3 ± 3,0); 100 mg/kg (25,9 ± 2,7); 300 mg/kg (20,8 ±2,0); 1000 mg/kg (18,4 ± 2,1). Entretanto, na maior concentração a diminuição da frequência de locomoção apresentou significância. Houve uma diminuição na produção de bolos fecais por esses animais, significativamente na dose de 300mg/kg.

Depressão Central Avaliada pelo Método de Tempo de Sono Induzido por b



Avaliação da Atividade Motora pelo Método de Campo Aberto



Conclusões

A avaliação farmacológica geral norteou demais análises direcionando para a investigação da ação depressora, que foi corroborada no teste do sono na dose de 1000mg. Houve uma estimulação nos primeiros 20 minutos de análise e rápida substituição por depressão podendo ser associado à ação provocada por alcaloides tropânicos como a cocaína, descrita para o gênero Erythroxylum e quantificada por Bieri et al.(2006) em 14 espécies deste gênero, incluindo a E. deciduum. Resultados do teste do campo aberto demonstraram redução significativa na frequência de locomoção na dose de 300mg/kg. Assim, sugere-se que EDFE tenha influência nos mecanismos de ordem central do sistema nervoso tendendo à depressão e motora dose-dependente. Contudo, os mecanismos de ação precisam de elucidação.

Agradecimentos

À Fapeg pelo auxilio financeiro. À Universidade Federal de Goiás e Universidade Estadual de Goiás pelo suporte concedido durante toda a pesquisa.

Referências

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