Estudo químico do extrato hexânico das folhas de Piper klotzschianum Kunth (Piperaceae)

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Santos Gusmão, A. (UESB) ; Oliveira Silva, A. (UESB) ; Gomes dos Santos, T. (UESB) ; Chagas do Nascimento, J. (UESB) ; Fonseca de Paula, V. (UESB)

Resumo

A espécie Piper klotzschianum, pertencente à família Piperaceae, é comumente utilizada na medicina popular do norte do Espírito Santo para o alívio de dores reumáticas através da infusão de suas raízes, caules e folhas em frascos de álcoois comerciais. Neste trabalho, utilizando técnicas usuais de separação, foi possível isolar do extrato hexânico das folhas de Piper klotzschianum, uma mistura de três isômeros: isoasarona, cis-asarona e trans- asarona; as quais foram identificadas através de técnicas de Ressonância magnética nuclear de 1H e 13C, além do uso do CG-EM. A atividade tóxica do extrato etanólico e da mistura isomérica, frente à Artemia salina foi avaliada. O extrato etanólico apresentou atividade moderada, enquanto que a mistura de isômeros apresentou elevada atividade tóxica.

Palavras chaves

Piper klotzschianum; fitoquímica; asarona

Introdução

A família Piperaceae é uma das maiores dentre as Angiospermas basais, somando aproximadamente 3000 espécies (BORNSTEIN, 1989). Segundo Jaramillo et al. (2004), a família Piperaceae está dividida em cinco gêneros: Macropiper, Zippelia, Piper, Peperomia e Manekia. No Brasil são encontradas aproximadamente 500 espécies (YUNCKER, 1974), dos cinco gêneros supracitados os três últimos se encontram presentes no território brasileiro, distribuídos principalmente nas florestas Amazônica e Atlântica (MONTEIRO & GUIMARÃES, 2008). Algumas espécies do gênero Piper já possuem algumas atividades biológicas comprovadas como, inseticida (YANG et al., 2002), larvicida (PARK et al., 2002), adipogênica (ZHANG et al., 2008), fungicida (SILVA & BASTOS, 2007), citotóxica (AVELLA & MOTTA, 2010), dentre outras. Em busca da descoberta de novos fármacos, as pesquisas na área da Química dos Produtos Naturais estão sendo direcionadas para isolamento e identificação de princípios ativos com as mais variadas atividades biológicas. Com uma flora muito diversificada, é importante o estudo fitoquímico de espécies predominantemente brasileiras e que possuem poucos relatos na literatura, como a Piper klotzschianum; essa espécie é utilizada na cidade de Aracruz, norte do Espirito Santo, para alívio de dores reumáticas através da infusão de suas raízes, caules e folhas em frascos de álcoois comerciais; sua aplicação se dar diretamente no local da dor. Este trabalho teve como objetivo o estudo fitoquímico do extrato hexânico das folhas de P. klotzschianum e a avaliação do efeito de toxicidade do extrato etanólico e da fração obtida, frente à Artemia salina.

Material e métodos

Estudo fitoquímico: as folhas de P. klotzschianum (281,85 g), coletadas em Aracruz-ES, foram submetidas à extração a frio em etanol por 7 dias, em seguida o solvente foi removido em evaporador rotatório sob pressão reduzida, sendo obtido 19 g do extrato etanólico, o qual foi codificado como EEFPK. O EEFPK foi submetido a um fracionamento em coluna de vidro, utilizando como fase estacionária a sílica gel, para obtenção dos extratos hexânico, diclorometânico, de acetato de etila e metanólico. Posteriormente, o extrato hexânico (16,02 g), codificado como EHFP, foi incorporado em sílica gel e eluído em uma mistura de hexano/acetato de etila em gradiente crescente de polaridade, obtendo-se 18 frações. Após análise em CCD, a fração EHFP1-2 (1 g) foi purificada em cromatografia em coluna (CC), a qual foi eluída em hexano/acetato de etila em ordem crescente de polaridade, obtendo-se 18 subfrações. A subfração EHFP 2-14 (130,9 mg) foi purificada por CC, utilizando como sistema eluente hexano/diclorometano (6:4), obtendo-se 8 subfrações. Destas, verificou-se que EHFP 3-3 (34,5 mg) apresentava-se pura, após análise por CCD. A amostra EHFP 3-3 foi analisada em CG-EM e RMN de 1H e 13C para auxiliar na elucidação estrutural. Atividade de toxicidade: foi feito o teste de atividade de toxicidade frente à Artemia salina, da fração EHFP3-3 e do EEFPK. Dez larvas recém eclodidas de A. salina foram adicionadas em cada um dos 6 frascos, contendo as soluções de EHFP 3-3 e de EEFPK, com as seguintes concentrações: 5; 10; 20; 30; 50 e 100 µL/mL. As análises foram realizadas em triplicatas. Os frascos foram mantidos sob iluminação e as larvas sobreviventes contadas após 24 e 48h, estas foram considerados mortas caso não exibissem nenhum movimento durante 10 segundos de observação.

Resultado e discussão

Observando o cromatograma da fração EHFP 3-3 (Figura 1a), nota-se que a mesma se trata de uma mistura de três substâncias, as quais tiveram suas estruturas elucidadas por meio dos dados obtidos de RMN 1H e 13C (Figura 2a) e por comparação com os dados descritos na literatura (NASCIMENTO, 2011; PATRA & MITRA, 1981), por meio dos quais se pode chegar a conclusão de que estas três substâncias se tratam dos isômeros: isoasarona, cis-asarona e trans-asarona (Figura 1b). A isoasarona trata-se de um componente volátil pertencente à classe dos fenilpropanóides e já foi isolada por Nascimento (2011) no extrato hexânico das raízes da espécie P. klotzschianum e identificada no óleo essencial das folhas desta mesma planta. Já a cis-asarona e trans-asarona, que são também compostos voláteis, foram identificados por Autran et al. (2009) como componentes majoritários do óleo essencial das folhas e caules da espécie Piper marginatum. Para a espécie estudada neste trabalho, estas duas substâncias estão sendo relatadas pela primeira vez. A toxicidade de EFHP 3-3 e EEFPK frente A. salina foi avaliada considerando a CL50 (concentração letal de 50% das larvas), o EEFPK apresentou atividade tóxica moderada, com CL50 de 217,86 μg/mL (após 24h de exposição da amostra) e CL50 de 148,96 μg/mL (após 48 horas de exposição da amostra). Já a fração EHFP3-3 teve uma elevada atividade tóxica, com CL50 de 89,06 μg/mL (após 24h de exposição da amostra) e CL50 de 66,82 μg/mL (após 48h de exposição da amostra), como consta na Figura 2b.

Figura 1. A) Cromatograma em CG-EM da amostra EHFP 3-3 B) Estruturas d



Figura 2. A) Tabela 1 – Dados de RMN de 1H e de RMN de 13C da isoasaro



Conclusões

Através da prospecção fitoquímica do extrato hexânico das folhas da P. kloztschianum foram isolados uma mistura das substâncias: isoasarona, cis- asarona e trans-asarona; sendo as duas últimas relatadas pela primeira vez nesta espécie. A mistura isomérica apresentou consideráveis valores de CL50 frente à Artemia salina em análises de 24 e 48 horas. As investigações realizadas neste estudo contribuem para o aumento de informações acerca dos constituintes químicos e de atividades biológicas da espécie estudada.

Agradecimentos

Agradecimentos expressos à CAPES pela concessão da bolsa, a FAPESB pelo fomento da pesquisa, à UFBA e à UESB.

Referências

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