ANÁLISE MICROQUÍMICA DA LÂMINA FOLIAR DE Syzygium cumini L.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Carolayne Caetano da Silva, H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Damasceno Sá, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Perrelli Randau, K. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO)

Resumo

Syzygium cumini L., conhecida como azeitona roxa, é uma espécie da família Myrtaceae amplamente distribuída no Brasil e utilizada popularmente como antidiabética. Com o intuito de ampliar suas informações farmacobotânicas, esse trabalho teve como objetivo realizar a caracterização microquímica da lâmina foliar de S. cumini. Foram realizadas secções transversais da lâmina foliar e utilizados testes específicos para cada classe de composto pesquisada. Evidenciou-se a presença de compostos fenólicos, taninos, triterpenos e esteroides, alcaloides, óleos essenciais, lignina, amido e cristais de oxalato de cálcio. Através dos testes microquímicos, obteve-se informações sobre os componentes químicos da lâmina foliar, mostrando seus locais de síntese e/ou acúmulo nos tecidos da planta.

Palavras chaves

Syzygium cumini; histoquímica; microquímica

Introdução

Syzygium é um gênero da família Myrtaceae que compreende espécies frutíferas (SOUZA; LORENZI, 2005). É encontrado principalmente nas regiões tropicais e subtropicais do mundo (AYYANAR; SUBASH-BABU, 2012). Um de seus representantes é Syzygium cumini L., uma árvore de copa frondosa e densa, de 12-20 m de altura. No Brasil, é encontrada nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste, onde é muito cultivada como ornamental e seus frutos são muito apreciados por algumas pessoas, sendo consumidos frescos (LORENZI; LACERDA; BACHER, 2015). A espécie é conhecida popularmente por azeitona roxa (RODRIGUES; ANDRADE, 2014), azeitona preta (LOZANO et al., 2014), jamelão (ALMEIDA et al., 2014) e jambolão (FEIJÓ et al., 2012). Suas folhas têm sido utilizadas pela população para o tratamento de diabetes (LOZANO et al., 2014), problemas renais (AGRA et al., 2008), colesterol alto (RODRIGUES; ANDRADE, 2014) e para problemas de pressão (SANTOS et al., 2012). Há estudos sobre os compostos químicos presentes nas folhas da espécie, entretanto, pouco se sabe a respeito da histolocalização desses compostos. Por isso, o objetivo do trabalho foi realizar a caracterização microquímica das folhas de S. cumini.

Material e métodos

O material vegetal foi coletado na Cidade Universitária, Recife, Pernambuco, Brasil. Uma exsicata foi depositada no herbário Dárdano de Andrade Lima, do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), sob o número de tombamento 88151. A caracterização microquímica foi realizada em secções transversais de lâminas foliares frescas, obtidas à mão livre, usando lâminas de aço e medula do pecíolo de embaúba como material de suporte. Os seguintes reagentes foram utilizados para indicar a presença das substâncias: dicromato de potássio (10%) para compostos fenólicos (GABE, 1968); vanilina clorídrica para taninos (MACE; HOWELL, 1974); tricloreto de antimônio para triterpenos e esteroides (MACE; BELL; STIPANOVIC, 1974); Dragendorff para alcaloides (BRASIL, 2010); Sudan III para compostos lipofílicos (SASS, 1951); Nadi para óleos essenciais e oleoresinas (DAVID; CARDE, 1964); floroglucinol para lignina (JOHANSEN, 1940); Lugol para amido (JOHANSEN, 1940) e ácido clorídrico (10%) para estabelecer a natureza dos cristais (JENSEN, 1962). Controles foram realizados em paralelo aos testes histoquímicos e lâminas semipermanentes foram preparadas contendo as secções transversais (JOHANSEN, 1940; SASS, 1951). A análise das lâminas histológicas foi conduzida em imagens em software (Toup View Image), obtidas por uma câmera digital acoplada a um microscópio óptico de luz (Alltion).

Resultado e discussão

Compostos fenólicos foram visualizados nas células epidérmicas, no parênquima da nervura central e no mesofilo. Estudos recentes de revisão da literatura a respeito da propriedade antidiabética das folhas de S. cumini mostram que essa atividade está relacionada principalmente a presença de flavonoides (AYYANAR; SUBASH-BABU; IGNACIMUTHU, 2013; SRIVASTAVA; CHANDRA, 2013; CHAGAS et al., 2015). Taninos foram encontrados nos mesmo locais onde foram observados os compostos fenólicos, além de também serem encontrados no floema e nas cavidades secretoras. Triterpenos e esteroides foram identificados nas cavidades secretoras, no mesofilo, e no colênquima e parênquima da nervura central. A presença de compostos fenólicos, taninos, triterpenos e esteroides corroboram investigações fitoquímicas da literatura (ITANKAR et al., 2015; VEBER et al., 2015; SANCHES et al., 2016). Alcaloides foram visualizados no parênquima da nervura central e no mesofilo e óleos essenciais foram visualizados nas cavidades secretoras e na cutícula. Segundo Metcalfe e Chalk (1950), cavidades secretoras estão geralmente presentes na família Myrtaceae e secretam substâncias oleosas. No óleo essencial das folhas da espécie coletada em São Paulo, os constituintes majoritários encontrados foram α-pineno (36,54%), α-terpineol (12,85%) e β- pineno (12,74%) (RUGGIERO, 2004). Compostos lipofílicos foram evidenciados na cutícula e a lignina foi evidenciada no xilema. De acordo com Oliveira et al. (2005), essa substância normalmente localiza-se nos elementos do feixe vascular. A presença de grãos de amido foi demonstrada nas células parenquimáticas da nervura central. Com a adição do ácido clorídrico (10%) pode-se confirmar que os cristais presentes na lâmina foliar de S. cumini são de oxalato de cálcio.

Conclusões

O trabalho fornece informações sobre os componentes químicos da lâmina foliar de S. cumini, mostrando sua histolocalização e contribuindo com a padronização farmacobotânica da espécie.

Agradecimentos

Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco.

Referências

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