ESTUDO FARMACOGNÓSTICO DAS FOLHAS DE KALANCHOE PINNATA
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Produtos Naturais
Autores
Cavalcante, M.C. (UFOPA) ; Júnior, L.A.P.S. (UFOPA) ; Santos, E.A.S. (UFOPA) ; Miranda, I.S. (UFOPA) ; Filho, M.B.S. (UFOPA) ; Soares, A.M.S. (UFOPA)
Resumo
Para utilizarmos os fitoterápicos na prevenção e/ou cura de doenças são necessários estudos prévios relativos a aspectos botânicos, farmacognósticos, fitoquímicos, farmacológicos e toxicológicos. Crassulaceae apresenta interesse para estudos pois atende às diversas abordagens de estudos de prospecção (etológica, quimiotaxonômica e etnodirigida. Visou-se à caracterização físico- química e fitoquímica preliminar de Kalanchoe pinnata para contribuir com sua identificação e parâmetros de qualidade da espécie. Na triagem fitoquímica e identificou-se glicosídeos cardiotônicos, flavonoides, saponinas e fenóis e taninos. A caracterização físico-química auxiliou na determinação dos parâmetros de qualidade para a droga vegetal.
Palavras chaves
Kalanchoe pinnata; caracterização; fitoquimica
Introdução
Por um longo período de tempo, plantas têm sido uma das fontes de produtos naturais para a manutenção da saúde humana. As mais diversas enfermidades têm sido tratadas com chás (infuso, decocto, macerados), sucos, tinturas, banhos, cataplasmas e ungüentos, preparados a partir de parte das plantas. A referida conduta terapêutica remonta, principalmente, aos antigos povos da China, Egito, Ásia e Roma, em que os eruditos, com base em seus conhecimentos, classificaram numerosas espécies vegetais, com a respectiva indicação do uso medicinal. (FERNANDEZ et al., 1982; ROBERTS et al., 1997). Todavia, deve-se garantir que a droga vegetal a ser utilizada corresponde a um material de qualidade e que seu uso será seguro e eficaz. Para tanto, deve-se realizar a caracterização da matéria-prima vegetal por meio de técnicas de caracterização físico-química. Tais parâmetros são importantes para avaliar se a droga vegetal obtida tem qualidade e se deve seguir o processo produtivo. Logo, diversos estudos devem avaliar todas essas características de modo a contribuir para um consenso quanto aos parâmetros e perfis de qualidade para uma determinada espécie vegetal. Além disso, a presença dos metabólitos secundários responsáveis pela atividade deve ser averiguada. Quando não se tem conhecimento de quais são esses metabólitos, deve-se realizar uma triagem fitoquímica preliminar, podendo-se determinar quais classes de metabólitos estão presentes, como alcaloides, flavonóides, taninos, antraquinonas, saponinas, dentre outros. Buscou-se determinar os parâmetros físico- químicos da espécie Kalanchoe pinnata, bem como os seus perfis fitoquímicos, visando a contribuir para o estabelecimento de parâmetros de controle de qualidade para esta espécie vegetal.
Material e métodos
Obtenção do material vegetal: Folhas de K. pinnata foram coletadas e lavadas em solução de hipoclorito de sódio (0,2%) e água destilada na sequência. Posteriormente as folhas foram conduzidas à secagem em estufa de circulação de ar a 40°C, seguido de trituração. Abordagem Fitoquímica: O extrato foi submetido a uma investigação dos constituintes químicos por classe metabólica, no qual é utilizada para se determinar quais metabólitos secundários estão presentes na droga vegetal. Os testes foram realizados seguindo-se a metodologia proposta por Costa (2001). Através da metodologia citada foram extraídos saponinas, flavonoides, purinas, fenóis e taninos e Glicosideos cardiotônicos. Granulometria: Baseado na Farmacopéia Brasileira (1988), 25 g do material vegetal pulverizado foram submetidos à passagem forçada por vibração, através de tamises com abertura de malhas e coletor correspondentes a 0,125; 0,18; 0,25; 0,5 e 0,85 mm, utilizando tamisador vibratório, na escala oito do aparelho, durante 30 minutos. Após este processo, as frações foram retiradas dos tamises e do coletor e quantificadas quanto às suas proporções. Determinação do teor de extrativos: De acordo com a metodologia de DEUTSCHES ARZNEIBUCH, 1994, para tanto utilizou-se a equação 01:TE= (g*FD*100)/m (01). Em que: TE = teor de extrativos (%); g = massa do resíduo seco (g); m = massa da amostra (g); FD = fator de diluição. Determinação do pH: Foi preparada uma solução a 1% por infusão com a droga vegetal. Em erlenmeyer, 99 g de água foram colocados sobre uma chapa- elétrica para ebulir durante 5 minutos. Em seguida, a água foi vertida sobre a droga e o recipiente foi fechado e deixado em infusão por 15 minutos. Após este tempo, a mistura foi filtrada e arrefecida, procedendo-se à leitura em peagômetro calibrado em pH de 4 a 9(FARMACOPEIA BRASILEIRA, 1988). Determinação da densidade aparente não compactada: Uma proveta de 100 mL foi previamente pesada e, posteriormente, preenchida com a droga vegetal. A densidade aparente foi determinada com os dados de volume e massa, de acordo com os seguintes cálculos (equação 02):Dap=(Mpc-Mpv)/Vp (02) Em que: Dap=densidade aparente; Mpv = massa da proveta vazia; Mpc = massa da proveta cheia; Vp = volume da proveta. Perda por dessecação em estufa: Foram pesados 2 g da droga e colocados em “pesa- filtros” previamente tarados. Em seguida, foram levados até estufa a 105 ºC por duas horas. Após esse tempo, os “pesa filtros” foram mantidos em dessecador por mais 30 minutos, e então, pesados. Em seguida foram colocados normalmente em estufa, repetindo o procedimento, até obtenção de massa constante (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988). Determinação do resíduo sólido do vegetal fresco: Três amostras de 10,00g de folhas frescas de cada espécie vegetal foram colocadas em estufa com circulação de ar a 40°C. A massa foi medida diariamente até obtenção de valores constantes. Os resultados foram expressos em porcentagem (FARMACOPEIA, 1997).
Resultado e discussão
ANÁLISES FITOQUÍMICAS
Triagem fitoquímica das principais classes
de metabólitos secundários
Os processos de prospecção fitoquímica são
de extrema importância, pois
permitem identificar quais classes de
metabólitos secundários e/ou
princípios ativos estão presentes em
determinada amostra vegetal e, a partir
daí, orientar a extração e/ou
fracionamento de extratos para isolamento
de
compostos de maior interesse. Muitas
substâncias, quando tratadas com
determinados reativos, apresentam reações
de coloração e/ou precipitação
características, que permitem a
identificação das amostras que as contêm.
As
plantas produzem diferentes substâncias
químicas e o fazem em diferentes
proporções, dependendo do hábitat, do
regime de chuvas, da insolação, do
solo, enfim, das características climato-
edáficas. Entretanto, algumas
substâncias químicas são bastantes
características para um determinado
vegetal, e desta forma podem servir como
parâmetro para sua caracterização e
identificação.
No caso das folhas pulverizadas de
Kalanchoe pinnata, ficou bem evidente a
partir da triagem fitoquímica, a presença
de fenóis e taninos, as saponinas,
os flavonoides e os Glicosídeos
cardiotônicos (Tabela 01), como grupos de
substâncias químicas que podem ser
empregadas para a caracterização da
matéria-prima. Vale ressaltar que para que
fique caracterizada a presença de
determinado grupo de substância química na
amostra, todos os testes
executados devem ser positivos. Deve-se
fazer a ressalva de que os
glicosídeos cardiotônicos geralmente
possuem índice terapêutico bastante
baixo, tendo potencial como agente tóxico
fatal. Por essa razão, a
utilização desta planta na medicina
popular não deve ser indicada antes que
sejam realizados testes toxicológicos que
garantam sua segurança ou, ainda,
que tais compostos sejam isolados e não
façam parte do conjunto de
substâncias a serem utilizadas pelo
indivíduo, sendo que este processo deve
ser realizado por profissionais
capacitados. Determinação das
características físico-químicas do pó das
folhas: O tamanho médio de
partícula (granulometria), é o grau de
divisão de pós, é expressa em
referência à abertura nominal da malha do
tamis utilizado (FARMACOPÉIA,
1988). Segundo a literatura (LIST e
SCHMIDT, 2000), a droga pulverizada que
apresente partículas de tamanho superior à
classificação de fino é mais
adequada para os processos de extração.
Por essa razão, é importante
conhecer a distribuição do tamanho de
partículas e não somente seu tamanho
médio.
O resíduo sólido do vegetal fresco indica
haver grande quantidade de água no
vegetal (cerca de 88,33%). Por isso, é
importante observar que as folhas
destas espécies devem ser submetidas à
secagem o quanto antes, considerando-
se o momento da colheita, garantindo assim
a pronta estabilização de
possíveis reações de degradação metabólica
dos princípios ativos. Contudo,
essa secagem não deve ser efetuada em
temperaturas elevadas por não se
conhecer a termo labilidade dos
metabólitos secundários. Sugere-se,
portanto, o uso de estufas com circulação
de ar, pois nestas o ar saturado é
constantemente insuflado para o exterior
da câmara de secagem, acelerando o
processo.
Outro parâmetro que auxilia a
caracterização da droga é representado
pela
perda por dessecação, que está ligada à
estabilidade microbiológica da
droga, como expressão de sua
susceptibilidade ao desenvolvimento de
bactérias e fungos, e estabilidade
química, representada especialmente pelos
processos de hidrólise (WHO, 1992). A
variabilidade nos valores pode ser
reduzida, desde que haja padronização nos
parâmetros de plantio, coleta,
armazenagem e tratamento prévio da droga
utilizada. A perda por dessecação
pode fornecer dados acerca do rendimento
de extração, já que a secagem
influi no estado de integridade das
estruturas celulares, expondo-as mais ou
menos ao contato com solventes (HARBORNE,
1993). Além do mais, sob o ponto
de vista tecnológico e de produção, é
importante conhecer quantitativamente
o conteúdo de água presente na matéria-
prima vegetal, para que este valor
seja considerado nos cálculos de
rendimento. A determinação da perda por
dessecação mostrou que a droga vegetal
apresenta valores dentro dos
parâmetros com relação à umidade, que deve
variar de 8 a 14%, com relação à
maioria das drogas vegetais constituídas
de sumidades floridas (FARMACOPÉIA,
2000).
A importância do pH nos vegetais está
ligada ao mecanismo de
formação de ATP, que é impulsionado por
uma força próton-motriz durante a
fotofosforilação nos cloroplastos
(STRAYER, 1996). As alterações
metabólicas provocadas por reações de
óxido-redução podem modificar o pH
das células vegetais, promovendo desvio
das rotas metabólicas normais
(STRAYER, 1996).
O ensaio do teor de extrativos (TE) indica
a quantidade de substâncias
extraíveis, ou seja, solúveis em
determinado sistema solvente. Neste
estudo,
o teor de extrativos da droga vegetal foi
empregado exclusivamente como um
ensaio auxiliar na caracterização físico-
química, visto que se trata de um
parâmetro importante no controle de
qualidade da matéria-prima vegetal. O
valor de TE encontrado para a droga
vegetal em estudo foi de 70 % (m/m).
Tabela 01: Triagem fitoquimica das folhas de Kalanchoe pinnata
Tabela 02: Resumo da análise da droga K. pinnata
Conclusões
Os testes de caracterização físico-química contribuíram para a identidade e qualidade do material utilizado para a preparação da droga vegetal. Para isso, deve-se estudar espécies coletadas em diversas épocas do ano e locais de cultivo para que todas as variações relacionadas à aclimatação e à sazonalidade sejam consideradas quando da construção da pesquisa. Os testes químicos evidenciaram a ocorrência de diversas classes de metabólitos secundários, as quais já foram estudadas e demonstraram possuir efeitos biológicos de interesse, justificando o estudo de novas ações farmacológicas para essas espécies vegetais. A presença de glicosídeos cardiotônicos deve ser vista com cautela já que pode ser um indício de toxicidade por parte de K. pinnata. Por isso, sugere-se a realização de estudos de identificação e isolamento desses compostos, os quais podem ser estudados para utilização em indivíduos com insuficiência cardíaca.
Agradecimentos
Agradeço a Adriele pela orientação e a UFOPA pelo espaço cedido e auxilio.
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