Análise de coloração, teor de cinzas e minerais em méis da abelha Melipona subnitida D. (Jandaíra) produzidos em cidades do Ceará
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Produtos Naturais
Autores
Tavares Cavalcanti Liberato, M.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; de Carvalho Magalhães, C.E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Falcão Bezerra, P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; dos Santos Costa, J.W. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)
Resumo
Abelhas nativas sem ferrão pertencem à subtribo Meliponina. Na Caatinga encontra-se a abelha Melipona subnitida D. conhecida como Jandaíra, típica do Ceará e Rio Grande do Norte, produtora de um mel de sabor agradável e muito usado pela população desses estados. A Meliponicultura no Brasil tem sido uma atividade desenvolvida em quase todas as regiões por pequenos e médios produtores. Nesse trabalho pesquisou-se a cor, o teor de cinzas e os principais minerais presentes em amostras de méis heteroflorais da abelha Jandaíra coletados em diferentes cidades do Estado do Ceará. Observou-se que a cor dos méis variou de âmbar-escuro a branco-água, e o teor de cinzas de 0,03±0,02 (mel de Itapiúna) a 0,61±0,91(mel de Itatira) %p/p. Quanto aos minerais os teores variaram com a região de coleta.
Palavras chaves
MEL DE ABELHAS; MELIPONA SUBNITIDA D.; MINERAIS
Introdução
O consumo do mel de abelhas sem ferrão no Brasil foi privilégio de comunidades tradicionais, por exploração predatória de colônias em habitat natural (IMPERATRIZ-FONSECA, 2012), pois seus ninhos estão em árvores ameaçadas pelo desmatamento. As abelhas do gênero Melipona visitam vegetais nos trópicos participando do equilíbrio e manutenção da natureza pela polinização (RAMALHO, 2004). Produzem mel mais claro e fluido que o das abelhas com ferrão. O mel da Melipona subnitida D. (Jandaíra) é apreciado pelo valor terapêutico, sabor único e composição físico-química diferenciada, porém é pequeno o volume produzido pelas colmeias. A falta de pesquisa sobre essas abelhas, em especial as mais promissoras de cada região, de seus produtos, plantas afins, contribui mais rapidamente para a destruição da diversidade principalmente na Caatinga. Minerais pertencem a uma classe de micronutrientes considerados essenciais, e divididos em macrominerais e oligoelementos (MAHAN, 2005). Concentrações de minerais são retidas no solo, transportados para as plantas pelas raízes então para o néctar que é levado pelas abelhas para produção de mel. Composição e teor de metais no mel dependem das origens geográfica e botânica (POHL, 2009). O mel pode ser considerado fonte essencial de metais na dieta. A cor do mel relaciona-se com a origem floral, processamento, armazenamento, fatores climáticos durante o fluxo de néctar, temperatura na qual o mel amadurece na colmeia e o teor de minerais presentes (MARCHINI, 2005). Cinzas em alimentos são resíduos inorgânicos da queima da matéria orgânica (CECCHI, 1999). O teor de minerais no mel é descrito como cinzas e o teor de cinzas é influenciado pela origem botânica sendo importante na avaliação da qualidade e origem do produto (Bogdanov, 1999).
Material e métodos
Amostras de mel de Jandaíra foram coletadas nas cidades de Aracati, Morada Nova, Limoeiro do Norte, Ibicuitinga, Itatira e Itapiúna entre 2013 e 2014. Determinação da cor do mel: A análise foi realizada em espectrofotômetro a 560 nm em célula de 1 cm e usando como branco a glicerina pura, com três repetições por amostra e obtendo-se a média. Posteriormente o valor encontrado foi transformado em cor pela escala de Pfund (VIDAL e FREGOSI, 1984) Determinação de Cinzas Para a análise de cinzas das amostras, O conteúdo de cinzas foi determinado de acordo com o método CAC (CODEX..., 1990). Amostras de 5g de mel foram aquecidas no bico de bunsen até ficarem carbonizadas. Em seguida foram incineradas em mufla a 550 0C usando-se cadinhos de porcelana previamente tarados onde permaneceram por 5 horas. O cálculo foi feito por diferença entre o material inicial e o resultado final. Determinação dos Minerais As cinzas obtidas foram solubilizadas em meio ácido (HCl 0,1M) e o volume aferido em balão de 10 mL. A partir da solução das cinzas, determinou-se o teor de constituintes minerais (Na, K, Ca, Mg, Fe, Zn) por espectrofotometria de absorção atômica com chama (VARIAN, modelo SpectrAA55). As análises foram feitas em triplicatas.
Resultado e discussão
A procura por produtos naturais gerou uma demanda crescente por produtos
apícolas, com maior participação do mel na alimentação humana. O mel
destaca-se não só por suas propriedades terapêuticas, mas também como
suplemento alimentar sem a adição de outras substâncias durante a sua
elaboração (AZEREDO, 2003). Sua composição mineral varia com a origem
floral, clima, solo e fatores relativos às abelhas (MARCHINI, 2005). Assim
tanto os valores relativos à cor do mel como os valores dos teores de cinzas
e de minerais não foram homogêneos já que as amostras de méis analisadas
eram heteroflorais. É importante ressaltar a espécie de abelha, Melipona
subnitida D., cujo mel foi usado nesse trabalho, bem como a diferença de
vegetação visitada por essa espécie. Os teores de minerais encontrados nas
amostras de méis das regiões em estudo apresentaram os seguintes valores
mínimo e máximo para Na (6,14±0,24 - 10,85±0,08mg/kg), K (4,25±0,01 -
9,59±0,86mg/kg), Mg (5,08±0,15 - 11,34±0,18mg/kg), Ca (1,02±0,08 -
3,78±0,15mg/kg), Fe (1,01±0,28 - 4,31±0,23mg/kg), Zn (0,75±0,12 -
1,06±0,01mg/kg). Almeida (2012) estudando méis de Apis mellifera L.
coletados no Estado de Sergipe encontrou para Na (14,21 – 174,84 mg/kg), K
(266,34 – 1299,39mg/kg), Mg (7,82 – 112,63mg/kg), Ca (20,04 - 81,71 mg/kg),
Fe (9,35 – 49,82mg/kg). Liberato (2013) pesquisando méis de A. mellifera do
Ceará encontrou os valores para Na (1,80 – 47,20mg/kg), K (21,30 –
1.513,30mg/kg), Mg (2,48 – 28,33mg/kg), Ca (14,58 – 304,82mg/kg). A
dificuldade em se encontrar pesquisas voltadas para méis da abelha M.
subnitida, a Jandaíra do Ceará torna imperativo uma atenção especial, com o
objetivo de buscar-se uma legislação própria para os méis dessa abelha. Os
resultados das análises realizadas encontram-se nas tabelas 1e 2.
A TABELA MOSTRA A VARIEDADE DE CORES DE MÉIS DE MELIPONA SUBNITIDA ANALISADAS
A TABELA APRESENTA OS TEORES DE CINZAS E MACROMINERAIS DAS AMOSTRAS DOS MÉIS DE MELIPONA SUBNITIDA DO CEARÁ ANALISADAS
Conclusões
De acordo com a legislação brasileira para méis o percentual de cinzas em méis não deve exceder 0,6% para os de origem floral e 1,2% para os de melato. No mel, o metal mais abundante é o K, seguindo-se o Na, Ca e Mg. Fe e Zn se encontram em quantidades intermediárias (OMODE, 2008). Os resultados mostram que o mel de Aracati e Itapiúna apresentam maiores valores de K. O maior teor de Na está no mel de Itapiúna e de Morada Nova. O mel de Ibicuitinga apresenta o maior teor de Mg e de Zn, e o de Limoeiro do Norte o de Ca e Fe. Observa-se relação entre cor, teor de cinzas e conteúdo de minerais.
Agradecimentos
AO CNPq, À FUNCAP E À UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Referências
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