DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO DE QUÍMICA UTILIZANDO AS OFICINAS TEMÁTICAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS COMO METODOLOGIA DE ENSINO

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Castro, F.B. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA) ; Assis Júnior, P.C. (UEA)

Resumo

Este estudo foi desenvolvido em uma escola de Ensino Médio e na Universidade, município de Parintins-AM. A escola desde 2013 faz parte do Programa “Escolas Sustentáveis” instituído pelo Ministério da Educação que em parceria com a Organização das Nações Unidas operacionaliza e promove ações educativas voltadas para a melhoria da qualidade de ensino. Adotam critérios de sustentabilidade socioambiental na perspectiva de tornar a escola um espaço vivo e sustentável. Participaram deste estudo alunos dos 2º e 3º anos do Ensino Médio, professores, estagiários, bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência e pós-graduandos. Os resultados das Oficinas Temáticas revelaram a importância de se utilizar estratégias de ensino que mostrem a dimensão da ciência química na sociedade moderna.

Palavras chaves

Oficinas Temáticas; Práticas Sustentáveis; Ensino de Química

Introdução

Nas últimas décadas, tem se observado a incidência de propostas metodológicas que visam minimizar problemas relacionados com a aquisição do conhecimento. Os professores têm buscado metodologias e estratégias, produzido materiais didáticos com o intuito de dar um novo significado aos conteúdos que são ensinados. Hoje é possível trabalhar os conteúdos de química fundamentados na abordagem experimental, CTS, pedagogia de projetos, ludicidade, etnográfica, contextual, investigativa e outras. O Ensino de Química fundamentado nessas abordagens possibilita aos alunos leitura do seu contexto e ao mesmo tempo, permite o desenvolvimento de habilidades necessárias para viver em sociedade. A Abordagem Temática é inspirada nos estudos de Paulo Freire e George Snyders, corroborada por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2012), dentre outros. O Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) (2014), operacionalizam ações educativas que tornam a escola um contexto vivo, sugerem a criação de espaços de debate das realidades locais com o intuito de fortalecer práticas comunitárias sustentáveis e garanta a participação da população nos processos decisivos sobre a gestão dos recursos ambientais. 1. Oficinas Temáticas na Educação Química: estratégia metodológica A Abordagem Temática considera como foco de estudo, questões que envolvem situações cotidianas ou de cunho social, que promova uma abordagem interdisciplinar, menos fragmentada e não se configure apenas em um instrumento de aproximação de disciplinas (AULER, 2003). A temática escolhida para ser abordada no contexto escolar ou na universidade deve se constituir ponto de partida para que as diferentes áreas do saber possam promover diálogos significativos. Em relação às Oficinas Temáticas e na perspectiva de Marcondes (2008), mostram como os saberes culturais, científicos e tecnológicos contribuíram e contribuem para a sobrevivência do ser humano, como influenciam no modo de vida das sociedades e como tornam o ensino de Química mais prazeroso e relevante para os alunos. Os temas escolhidos devem permitir o estudo da realidade, pois, é fundamental que o aluno reconheça a importância da temática para si e para seu grupo social. Eleutério (2015) vem mostrando que as Oficinas Temáticas no Ensino de Química, tem se configurado uma metodologia que possibilita a transgressão das fronteiras rígidas das disciplinas escolares e acadêmicas. Segundo a autora é importante romper com o paradigma newton-cartesiano, é o momento de aperfeiçoar metodologias e estratégias, de fortalecer as práticas pedagógicas, dando significado a que se ensina. 2. Práticas Sustentáveis na escola e na universidade: responsabilidade socioambiental O problema ambiental no Brasil e no mundo são fatores que sinalizam para o desenvolvimento de ações sustentáveis na sociedade. A escola e a universidade como espaço de reflexão e diálogo se configuram lugares propícios para a realização de atividades que contribuam para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu na década de 1970 a partir dos estudos realizados pela ONU sobre as mudanças climáticas. Em resposta a essa preocupação, e diante da crise ambiental e social que se abateu sobre o mundo desde a segunda metade do século passado, esta Organização em parceria com outras instituições, promove ações que evidenciam a necessidade de conciliar o desenvolvimento social e econômico para mitigar os problemas ambientais (GONÇALVES, 2005). O Ministério da Educação através da Resolução CD/FNDE nº 18, de 21 de maio de 2013, destinou recursos financeiros através do PDDE Escolas Sustentáveis, para operacionalizar e promover ações voltadas para a melhoria da qualidade de ensino e apoiar as escolas públicas das redes distrital, municipais e estaduais na adoção de critérios de sustentabilidade socioambiental, considerando o currículo, a gestão e o espaço físico, de forma a torná-los espaços sustentáveis educativos. Corroborando os pressupostos de Gomes, et al, (2012) a sustentabilidade envolve ações e atividades humanas, que visam suprir as necessidades da sociedade contemporânea sem comprometer as futuras gerações. É importante ressaltar que a sustentabilidade tem aspectos muito mais amplos do que imaginamos, pois, além de tratar a questão ambiental, social e econômica, ela engloba outros fatores: a formação ética e cidadania, igualmente importantes. Ser sustentável não é somente usar papel reciclado e efetuar doações a instituições filantrópicas, é muito mais que isso. Sua prática requer um alcance mais amplo e comprometido de práticas que promovam a compreensão do desenvolvimento científico, tecnológico e cultural, atendendo, dessa forma, às exigências da sociedade contemporânea.

Material e métodos

Este estudo classifica-se como um método de investigação qualitativa ancorado em Oficinas Temáticas e Práticas Sustentáveis. As Oficinas foram realizadas na escola e na universidade (pós-graduação) no período compreendido entre abril a novembro de 2016. Essas atividades estavam vinculadas ao Projeto “Minha Escola Sustentável: diálogos entre a Educação Ambiental e as disciplinas da área de Ciências Naturais e Matemática”. Foram envolvidos 79 alunos do 2º ano e 80 do 3º ano do Ensino Médio, 7 professores, 3 estagiários, 3 bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID) do Centro de Estudos Superiores de Parintins (CESP) e 2 alunos de pós-graduação. Nas Oficinas foram extraídos óleos da semente e tortas de andiroba (Carapa guianensis Aubl.) e produzidos pães a partir do aproveitamento da polpa e das cascas de tucumã (Astrocaryum aculeatum), fruto amazônico bastante apreciado pela população do município de Parintins-AM. Os resultados das Oficinas foram apresentados na escola, no I Workshop de socialização dos resultados parciais, que ocorreu em junho de 2016; na universidade na 13ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia que discutia o tema “Ciência Alimentando o Brasil” em outubro e na Feira Interdisciplinar da escola em novembro do mesmo ano.

Resultado e discussão

Para que os alunos compreendessem a finalidade das atividades que seriam desenvolvidas no Projeto “Minha Escola Sustentável: diálogos entre a Educação Ambiental e as disciplinas da área de Ciências Naturais e Matemática”, foi necessário destacar a importância da Educação, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Para discutir sobre essa temática, um professor da escola proferiu uma palestra intitulada “Consumismo no século XXI”, fator preponderante para a geração de resíduos sólidos. Em outro momento foi evidenciado a importância da “Manipulação, Higiene e Boas Práticas de Alimentos” com base nas RDC nº 216/2004 e RDC 218/2005 que dispõem sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação (BRASIL, 2004; 2005). As Oficinas Temáticas foram estruturadas e amparadas no princípio de conservação da matéria postulado por Lavoisier que define “na natureza nada se perde, tudo se transforma”. A intenção das Oficinas era extrair o óleo da semente e das tortas de andiroba (Carapa guianensis Aubl.), aproveitar a polpa e as cascas do tucumã (Astrocaryum aculeatum) na produção de pães. Os alunos foram orientados a pesquisar em livros, revistas e na internet, a composição química dos ingredientes que seriam utilizados na produção desse alimento. Nas Oficinas foi possível explorar o problema do desperdício de alimentos, mostrando que o Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo e que 54 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza. Estima-se que da área de produção até a mesa, cerca de 30% a 40% de alguns produtos, como verduras, folhas e frutas, são jogados fora, sem contabilizar o que não passa pelo controle de qualidade das indústrias, mas que certamente poderia estar na mesa de qualquer brasileiro, especialmente na mesa daqueles que vivem abaixo da linha de pobreza (GOULART, 2008). Outra atividade desenvolvida pelos alunos foi a produção de um pão enriquecido com farinha da polpa e casca de tucumã (Astrocaryum aculeatum) (Figura 1). Essa prática possibilitou discutir sobre a “oxidação dos alimentos”, mostrar aos alunos que os organismos responsáveis por essa oxidação pode ser de ordem biológica (fungos, enzimas e bactérias) ou química (oxidação do ar, suor, poeira e outros agentes). Após a oficina, os alunos responderam as seguintes questões: 1) Que tipo de substância orgânica se faz presente no pão produzido com a farinha da polpa de tucumã? Como a ciência química contribui para a nossa alimentação? 3) Quais os fatores que influenciam no modo de vida das pessoas que consomem alimentos industrializados? Que tipo de substância orgânica se faz presente no pão produzido com a farinha da polpa de tucumã? Para produzir foram utilizados alguns produtos como: farinha de trigo e tucumã, fermento biológico, margarina e açúcar. Os alunos explicaram que na farinha de trigo e tucumã (Astrocaryum aculeatum) e no fermento biológico existem: carboidrato, proteína, lipídeo, fibra alimentar, cinza, cálcio e magnésio. Na margarina só não estão presentes os carboidratos e as fibras, a proteína se apresenta em pequeníssimas quantidades (elementos-traço). No açúcar é possível identificar baixa concentração de proteína, lipídios e cinza. Esses dados foram confirmados pela Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - TACO (2011). Com essa prática foi possível também evidenciar o processo de fermentação que segundo Gava, Silva e Frias (2009), a levedura Saccharomyces cerevisiae conhecida como fermento biológico, realiza um processo anaeróbico de transformação de uma substância em outra. Como a ciência química contribui para a nossa alimentação? Os alunos responderam que a ciência química contribui significativamente para a nossa alimentação porque consumimos alimentos que contém substâncias que são a base da vida como: a água, os carboidratos, as proteínas, as vitaminas, os sais minerais e outras. A ingestão de alimentos com baixa concentração dessas substâncias pode causar a desnutrição ou outro tipo de doença. Quais os fatores que influenciam no modo de vida das pessoas que consomem alimentos industrializados? Os alunos destacaram que as propagandas de alimentos anunciadas principalmente pela televisão estão influenciando hábitos alimentares das pessoas, principalmente de crianças e adolescentes, pois se percebe um consumo exagerado de refrigerantes, sucos artificiais, salgadinhos industrializados, salgados fritos, pirulitos, balas e gomas de mascar. Os alunos participaram da prática de extração de óleo das sementes e tortas de andiroba (Carapa guianensis Aubl.) (Figura 2), observaram que as tortas de andiroba após a exposição ao sol (38ºC) não liberavam mais óleo, mas essas tortas continuavam úmidas. Os professores e alunos preocupados com o descarte desse subproduto ao meio ambiente extraíram através da centrifuga de uma máquina de lavar roupas, o óleo residual presente nas tortas. Esse óleo foi utilizado em outra oficina na produção de sabonetes. Com esta Oficina os alunos tomaram conhecimento de que o óleo de andiroba é utilizado no tratamento de picadas de animais peçonhentos, afecções de pele, inflamações musculares, de garganta e como repelente de insetos. Nos aldeados indigenas e nas comunidades tradicionais da Amazônia, os óleos de plantas são usados como remédios. A temática “Educação, Meio Ambiente e Sustentabilidade” foi contextualizada em sala de aula em diálogo com a química e outras disciplinas do currículo.

Figura 1- Produção de pão



Figura 2 - Extração de óleos de andiroba



Conclusões

As Oficinas Temáticas mostraram que é possível ensinar partindo de situações cotidianas, que possibilitem o diálogo entre os conteúdos disciplinares que são ensinados diariamente aos alunos com uma temática social (meio ambiente, sustentabilidade, práticas sustentáveis etc.). No atual contexto não se aceita mais que os conteúdos sejam sustentados no modelo da racionalidade técnica que apoia a realização de tarefas mecânicas, alienantes e sistematizado do conhecimento. E importante trabalhar com temáticas que promovam a compreensão do desenvolvimento científico, tecnológico e cultural, atendendo, dessa forma, às exigências da sociedade contemporânea. Tanto os professores quanto os alunos perceberam, que os conteúdos disciplinares se entrecruzam num projeto dessa natureza e a aprendizagem tende a ser mais significativa.

Agradecimentos

Aos professores e alunos da educação básica; professores, estagiários e pibidianos do Curso de Química da Universidade do Estado do Amazonas.

Referências

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