Cosméticos: uma proposta de experimento com deficientes visuais para o ensino de hidrocarbonetos

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Alves de Faria, B. (UFG) ; Araújo França, F. (UFG) ; Cândido Rodrigues, A.C. (UFG) ; Nobre Vargas, G. (UFG) ; da Silva Gosmes Oliveira, M. (UFG) ; Benite, C.R.M. (UFG)

Resumo

Nessa investigação articulamos a experimentação com o tema “cosméticos” como estratégia motivadora no ensino de Química para alunos deficientes visuais. Contendo elementos de pesquisa-ação a atividade foi realizada em uma Instituição de Apoio ao ensino regular, ministradas por professores em formação continuada e inicial, com a participação de doze alunos. Nossos resultados apontam que experimentos envolvendo temáticas do cotidiano podem favorecer o interesse dos alunos pelos conhecimentos escolares envolvidos e que o diálogo e o uso de tecnologia assistiva pode contribuir para uma participação mais ativa dessa especificidade.

Palavras chaves

Ensino de Química; Deficiência visual; Cosméticos

Introdução

Pautados em Wartha, Silva e Bejarano (2013), assumimos que situações cotidianas podem ser uma possibilidade para se explorar a experimentação no ensino de química, pois permite compreende-las a partir dos conhecimentos sistematizados proporcionando um olhar diferenciado e mais complexo àquilo que é comum. Considerando que “a aprendizagem de qualidade é o resultado da sinergia entre motivação e cognição” (LABURÚ, 2006, p.388), defendemos a experimentação com deficientes visuais (DV) como estratégia cativante para estimulá-los à participação mais efetiva nas aulas de química se contrapondo as aulas tradicionais baseadas apenas na linguagem representacional. Qualquer método didático que requeira que o aprendiz nas aulas práticas seja ativo, mais do que passivo, está de acordo com a crença de que os alunos aprendem melhor pela experiência direta (HODSON, 1988). No ensino de Química para DV, as escolhas das temáticas e dos experimentos devem ter como pressupostos a especificidade do aluno, possibilitando a exploração dos sentidos remanescentes considerando que estes possuem a limitação visual, uma das principais vias de coleta de informações nos experimentos. Ao promover a aprendizagem dos DV explorando os demais sentidos sensoriais, torna-se possível o rompimento do ver para aprender (CONFORTO e SANTAROSA, 2002). Nesta investigação, apontamos as contribuições da temática “cosméticos” para a realização de experimento por DV envolvendo a produção de hidratante corporal para o ensino da função orgânica hidrocarbonetos. Apresentamos o caráter motivador da participação dos alunos presente na realização do experimento com o uso de tecnologia assistiva, deflagrando a discussão sobre as ligações químicas entre os elementos que caracterizam a cadeias carbônica da parafina.

Material e métodos

O ensino de Química requer a abstração e o domínio de sua linguagem para a compreensão de conceitos, mas para que haja aprendizagem efetiva é necessário que se adote diferentes estratégias de ensino, se contrapondo ao ensino tradicional. Pautados na pesquisa-ação, o professor se empenha politicamente com o desenvolvimento dos sujeitos na qual o estudo se instaura visando compreensão da percepção dos mesmos acerca da realidade vivenciada. Segundo Thiollent (1992), a pesquisa deve ser centrada diretamente numa situação ou problema coletivo no qual os participantes estão envolvidos de modo participativo. Nesse caso, a deficiência visual promove limitações na coleta de dados dos experimentos, informações fundamentais para a compreensão do conhecimento químico. Configurando-se como uma pesquisa colaborativa, essa investigação foi desenvolvida numa Instituição de Apoio ao ensino regular que atende apenas DV e conta com a participação de um professor formador, uma professora em formação continuada (PFC) e três em formação inicial (PFI), uma professora de apoio da Instituição e 12 alunos DV (A), na qual todos são sujeitos da realidade estudada e visam modificar essa realidade buscando a participação efetiva dos DV nas aulas experimentais. Essa investigação se caracteriza em um ciclo-espiral de três etapas: 1) planejamento da aula experimental considerando a especificidade dos alunos; 2) ação – realização das aulas experimentais, gravadas em áudio e vídeo, com uso de recursos didáticos acessíveis (tecnologia assistiva); 3) reflexão sobre a ação: análise teórica de transcrições das gravações e discussão sobre as mesmas buscando identificar pontos passíveis de melhoria. Vale ressaltar que esse ciclo-espiral é um recorte do trabalho realizado desde 2009 nessa Instituição de Apoio.

Resultado e discussão

A aula sobre hidrocarbonetos iniciou com um experimento, como apresentado a seguir. PFC: Nesse semestre vamos trabalhar a “Química dos Cosméticos”, usados para higiene pessoal e beleza. E hoje a gente vai fazer um... A3 e A6: Experimento! Legal! PFC: Sim, vão fazer hidratante para a pele. Aí vamos estudar a função orgânica hidrocarboneto. Vamos iniciar o experimento? Sintam o copo à frente, é a medida da parafina que vocês vão colocar no béquer! Ela é sólida e vamos derrete-la numa manta aquecedora e acompanhar seu ponto de fusão com o termômetro vocalizado. (Após o experimento). PFC: A parafina é um hidrocarboneto, estruturas formadas por carbono e hidrogênio. Qual família do carbono? A12: 4A! PFC: Até quantas ligações químicas o carbono pode fazer com o hidrogênio? A12: Quatro! PFC: E o hidrogênio? A12: Uma! Qualquer aula interessante comporta relação com o aprender, pois está vinculada à interação do sujeito com a sua volta permitindo-o atribuir sentido às assertivas do conhecimento (DRIVER et al, 1999), como a proposta feita por PFC de produzir hidratante corporal para discutir hidrocarbonetos. Contudo, a motivação resulta de interações do aluno com as ferramentas da cultura em que estão sendo inseridos (parafina, béquer, sólido, etc.), que para os DV buscamos na tecnologia assistiva (termômetro vocalizado), construída no nosso laboratório, uma alternativa para os DV participarem do experimento de forma mais ativa (BENITE et al., 2017). Ressaltamos que aprender química requer processos pessoais de significação a partir de relações sociais que envolvem a orientação de representante mais experiente dessa cultura (DRIVER et al, 1999), como na discussão de PFC com os DV sobre a valência dos elementos carbono e hidrogênio que compõem os hidrocarbonetos.

Conclusões

Nossos resultados apontam que apesar dos experimentos convencionais promoverem a exclusão de deficientes visuais por intensificarem na visão o meio de coleta de dados para a discussão de conteúdos a atividade planejada a partir de temas do cotidiano com o uso de ferramentas culturais que considerem a especificidade do aluno (tecnologia assistiva) podem promover um maior envolvimento dos alunos no processo de aprendizagem dos conteúdos químicos. Além disso, conferimos que os experimentos envolvendo materiais do cotidiano podem assumir um papel relevante no despertar da atenção dos alunos.

Agradecimentos

A CAPES e à UFG.

Referências

BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; FRANÇA, F.A.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. A experimentação no ensino de química para deficientes visuais com o uso de tecnologia assistiva: o termômetro vocalizado. Química Nova na Escola, no prelo, 2017.
CONFORTO, D. e SANTAROSA, L.M.C. Acessibilidade à Web: Internet para Todos. Revista de Informática na Educação: Teoria, Prática – PGIE/UFRGS. 2002.
DRIVER, R.; ASOKO, H.; LEACH, J.; MORTIMER, E. e SCOTT, P. Construindo conhecimento científico em sala de aula. Química Nova na Escola, n.9, p.31-40, 1999.
HODSON, D. Experiments in science and science teaching. Educational Philosophy and Theory, n.20, p.53-66, 1988.
LABURÚ, C.E. Fundamentos para um experimento cativante. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.23, n.3, p.382-404, 2006.
THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1992.
WARTHA, E.J.; SILVA, E.L.; BEJARANO, N.R.R. Cotidiano e contextualização no ensino de química. Química Nova na Escola, v. 35, n.2, p.84-91, 2013.

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