A vitamina C e a cura do Escorbuto: Uma intervenção pedagógica e a implementação da Lei 10.639/03.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Souza, B.S. (UFG) ; Santos, V.L.L. (UFG) ; Silva, A.G. (UFG) ; Moura, A.R. (UFG) ; Costa, D.S. (UFG) ; Scorsi Neto, M. (UFG) ; Moreira, M.B. (UFG) ; Benite, A.M.C.B. (UFG)

Resumo

O presente trabalho aborda uma intervenção pedagógica (IP) no ensino de química em uma disciplina eletiva, denominada Química na cozinha: alimentação como forma de manutenção da cultura afro-brasileira, para alunos do ensino básico no nível médio no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE). A IP versou sobre a diáspora africana, a cura do escorbuto e a vitamina C , numa proposta da Lei 10.639/03 no ensino de química.

Palavras chaves

Experimentação; Vitamina C; Lei 10.639/03

Introdução

Os discursos desenvolvidos em sala de aula, contemplam os diversos saberes escolares. Deles, a química, uma disciplina pertencente à esfera das ciências exatas, apresenta uma linguagem simbólica, cujo objetivo estudar e observar a transformação da matéria. No entanto, a apropriação dessa linguagem por parte dos educandos é feita de forma desconexa, pois, os mesmos não conseguem correlacionar os conhecimentos científicos com a sua realidade (REIS & LOPES, 2011). A partir disso, necessita-se desenvolver diálogos em sala de aula que consigam entrelaçar os saberes químicos e a realidade a qual o estudante está inserido, fazendo com que cada aluno se compreenda como pertencente das práxis humanas (social e histórica). Assim, o Coletivo de Negros e Negras Ciatas, tem orientado suas pesquisas ao desenvolvimento de Intervenções pedagógicas para as aulas de química que proporcionam um deslocamento epistêmico no currículo de ciências Tendo como base a Lei 10,639/03 que se torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Todas as propostas direcionam-se na inserção de negras(os) como sujeitos pertencentes das práxis humanas, ´´nos centrarmos quase exclusivamente no mundo ocidental e o fazermos sob ótica eurocêntrica e alimentada por olhares brancos, masculinos, cristãos....``(Chassot, 2001, p. 34) Com a imigração forçada de africanos por grandes embarcações problemas resultantes da má alimentação e consequentemente a ingestão de vitaminas, complicações como o escorbuto foram acarretados aos navegantes, pois não tinham acesso a alimentos cítricos sendo esses fonte rica da vitamina C. Assim, a presente pesquisa tem por intuito apresentar um recorte de uma intervenção pedagógica intitulada acerca do método experimental que visa trabalhar a importância da Vitamina C na alimentação humana e como esta tem importância na prevenção do escorbuto, a fim de desconstruir ideias que foram edificadas sobre os africanos escravizados que ainda permeia no imaginário da sociedade brasileira.

Material e métodos

O trabalho contém elementos da pesquisa participante em que são buscados a promoção de ações coletivas visando o benefício da comunidade escolar, em melhorias da visão crítica dos educandos e na formação de professores. Trata-se de uma atividade educativa de formação cidadã e de ação social.A atividade foi proposta na disciplina “Química na cozinha: alimentação como forma de manutenção da cultura afro-brasileira”, ofertada no CEPAE-UFG, para 32 alunos da rede básica de ensino médio, como disciplina eletiva. A aula teve duração de 90 minutos, sendo ministradas por 4 alunos de iniciação à Docência, 1 aluno de iniciação Científica, de 1 aluno de Pós-Graduação (todos discentes da Licenciatura em Química da Universidade Federal de Goiás), e da professora regente.A prática experimental usada foi “O papel da vitamina C na prevenção e a cura do escorbuto”. A aula se basea-se em dois momentos, o primeiro pela entrada e leitura de textos ao qual foram levantadas questões para discussões sobre as condições das pessoas negras traficadas da África para cá. em um segundo o momento a parte do experimento que deu-se em grupos de aproximadamente 4 alunos. Cada grupo contava com 7 tubos de ensaios contendo 20 mL de solução de vitamina C, de sucos comercial em pó, Tampico®, acerola, limão, laranja e mamão (os 4 últimos da fruta). Aos quais, foram acrescentadas uma alíquota de solução de amido, 40 gostas, que atuou como indicador para cada solução. Logo após, e com o auxílio de um conta gotas, os alunos deveriam gotejar tintura de iodo a 2% (comercial) cuja sessão se dava pela mudança de coloração (cor escura). Ao fim deveriam anotar a quantidade de gotas usadas e fazer uma correlação entre a quantidade de vitamina C e o total de gotas de iodo consumidas.

Resultado e discussão

Para uma melhor análise dos dados os professores formadores (PF) foram enumerados PF1 a 7, e aos alunos foram codificados de A1 a 32. A explanação da aula contou com os conhecimentos históricos acerca da doença escorbuto que assolou e muito as viagens marítimas durante anos. Tal doença, afetou bastante o povo africano da diáspora, que por deficiência de Ácido Ascórbico (AA)/Vitamina C, apresentavam sangrias nas gengivas e na pele por falta desse nutriente. Ademais, esbouçou-se aos educandos acerca do conhecimento que o povo africano detinha para impedir essa doença em seu meio social, por meio das frutas cítricas. No guia trabalhado, diversos conceitos químicos foram envolvidos. A proposta de intervenção pautou-se no compreendimento dos educandos acerca da concentração de AA nos diversos alimentos analisados e na sua função no organismo. O extrato 1, norteia a correlação dada pelo estudante A1. EXTRATO 1 PF: Em qual dos sucos houve maior consumo de gotas de iodo? A1: Suco de pó. PF: Sabe-se que quanto maior a quantidade de gotas de iodo que você gastou maior será o teor de vitamina C na amostra. Se uma pessoa estiver com o teor de vitamina C baixo no organismo qual desses sucos você recomendaria. Porque? A1: O comprimido de vitamina C. PF: Mas além do comprimido, qual foi o segundo que mais utilizou iodo? A1: O suco de acerola No extrato 1 percebe-se o início do compreensão por parte de A1 sobre o objetivo do experimento. Ao fazermos a correlação com fatos sócio-históricos com conhecimentos científicos, almejamos dialogar com os pressupostos de Chassot (1990), tentando retirar os exemplos desvinculados que implicam permear o ensino de ciências. Por fim, “a Química que se ensina deve ser ligada à realidade” (Chassot, 1990, p. 32).

Conclusões

Ao desenvolver a Intervenção Pedagógica, IP, tentou-se correlacionar as vertentes pautadas na Lei 10.639/03, pensando na promoção de aulas experimentais imergidas na realidade da população brasileira. Assim, fora desenvolvida a aula “O papel da vitamina C na prevenção e a cura do escorbuto” trazendo elementos do ensino de química e também conhecimentos sócio históricos acerca da diáspora africana e da manutenção e tratamento da doença escorbuto. Em suma, ao promover atividades que envolvam a realidade dos alunos com o ensino de ciências pode ser um recurso no combate das sobreposições sociais.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer ao CEPAE-UFG por ceder o espaço para o desenvolvimento da Pesquisa, bem como, ao CAPES pelo fomento à mesma.

Referências

CHASSOT, A. I. Outra história da ciência latino-americana. Revista Química nova na escola N° 13,p.34-37; Maio, 2001.

CHASSOT, A. I. A educação no ensino da Química. Ijuí: UNIJUÍ, 1990.

REIS, R. C.; LOPES, J. G. S. A construção do conhecimento químico por alunos do ensino fundamental com base no tema fotossíntese. VIII Encontro Nacional de pesquisas em Educação em Ciências. Campinas - SP, 2011.

SALES, B. C. P.; RIBEIRO, F. C. T.; DINIZ, J. P.; SACHS, G.; SACHS, L. G. A prevenção do escorbuto e o domínio dos mares. Educação para o século XXI, 3° Congresso Internacional de Educação. Rio de Janeiro, 2011.

SILVA, S. L. A.; FERREIRA, G. A. L.; SILVA, R. R. A procura da Vitamina C. Química Nova na Escola, N.2, 1995


Patrocinadores

Capes CNPQ Renner CRQ-V CFQ FAPERGS ADDITIVA SINDIQUIM LF EDITORIAL PERKIN ELMER PRÓ-ANÁLISE AGILENT NETZSCH FLORYBAL PROAMB WATERS UFRGS

Apoio

UNISC ULBRA UPF Instituto Federal Sul Rio Grandense Universidade FEEVALE PUC Universidade Federal de Pelotas UFPEL UFRGS SENAI TANAC FELLINI TURISMO Convention Visitors Bureau

Realização

ABQ ABQ Regional Rio Grande do Sul