Estado da arte da pesquisa sobre formação docente na revista ‘Química Nova na Escola’
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ensino de Química
Autores
Nascimento, M.F. (IFPB) ; Silva, A.C.C. (IFPB) ; Oliveira, A.G. (IFPB) ; Nascimento, M.M.A. (IFPB) ; Vargas, G.C. (IFPB)
Resumo
Em resposta às metodologias tradicionais utilizadas em sala de aula, tem-se buscado nos últimos anos reestruturar os currículos nas escolas objetivando uma mudança metodológica na prática docente. Nesse sentido, advoga-se por uma melhoria da formação inicial e continuada dos professores para a utilização eficiente dessa nova prática curricular. Coerente com tal proposição, esse estudo tem por objetivo analisar as produções científicas, entre os anos 2011 e 2016, da Revista Química Nova na Escola que tratam da formação de professores, inicial e continuada. Os dados foram categorizados e os resultados apontam para uma ênfase em formações de cunho cognitivista e pouca valorização da formação continuada.
Palavras chaves
formação docente; ensino de Química; prática pedagógica
Introdução
Tem-se ampliado o debate acerca da baixa qualidade da formação docente. A maioria dos professores da educação básica no Brasil, por exemplo, enfrentam problemas como baixos salários e formação deficiente, fatores esses que influenciam diretamente na prática profissional. Nesse sentido, tem-se entendido como necessária uma mudança estrutural quanto à formação docente, inicial e continuada, que promova transformações na atuação (PIERINI et al, 2015). No caso da Química, grande parte dos currículos de licenciaturas foi adaptada dos cursos de bacharelado. Neles, percebe-se que o foco está nas disciplinas que tratam da Química “pura”, ignorando os conteúdos pedagógicos, de forma que ela termina sendo apresentada sem contextualização e entendida como processo mecânico. Evidentemente que um curso de Licenciatura que teve seu currículo adaptado de um curso de bacharelado, produzido por professores técnicos, tende a reproduzir esta natureza tecnicista. Com a evolução da sociedade, a educação passa a ter outra perspectiva: formar indivíduos críticos. Apoiadas neste princípio, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores sugerem a criação de cursos de licenciatura com identidade própria, adequados ao novo contexto histórico-social. Essa nova formação propõe para o professor uma postura crítica que não se finaliza com a conclusão de sua licenciatura, evidenciando a importância da formação continuada no processo de ressignificação da prática. É no intento de produzir conhecimentos sobre esse processo de formação de professores de Química que este estudo se insere. Objetivou-se, assim, analisar as produções científicas da Revista Química Nova na Escola sobre o tema, entendendo que as publicações da área refletem seus debates/conflitos internos.
Material e métodos
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica que, segundo Cervo, Bervian e Silva (2007), “busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema”. Para execução dessa proposta foi realizada uma seleção das produções científicas da Revista Química Nova na Escola, entre os anos de 2011 e 2016, que exploravam a temática formação de professores. A escolha de tal revista ancorou-se na sua relevância para aqueles que atuam no ensino de Química. Foram selecionados 16 artigos que tratavam diretamente do tema, excluindo-se aqueles vinculados ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). A seleção deu-se pela análise do título, do resumo e das palavras-chave dos artigos. Dentre eles, 13 artigos abordavam a formação inicial e três a formação continuada. Após o processo de seleção inicial, procedeu-se à segunda etapa da análise, de leitura flutuante dos artigos. A partir dela, foi possível construir, a priori, categorias de análise que dessem conta dos objetivos propostos, permitindo a passagem para a terceira etapa da análise: seleção das respostas para inserir nas categorias pré-determinadas: ano de publicação, local de pesquisa, tipo de formação sugerido, conteúdo aplicado na formação, técnicas e recursos utilizados na formação e objetivos da proposta de formação. Por fim, partiu-se para a última etapa, na qual foi realizada uma análise descritiva dos resultados que deu suporte ao debate explicativo, ancorado na literatura existente na área. É possível afirmar, então, que a presente investigação contemplou um modelo qualitativo de análise. Tal modelo, segundo Ruiz (2004), caracteriza-se por focalizar preferencialmente elementos discursivos que permitem o detalhamento das características do grupo investigado.
Resultado e discussão
A categorização do material permitiu que alguns resultados principais fossem evidenciados. Com relação aos
objetivos dos estudos, foram subdivididos em: atuação docente, recursos didáticos e análise de documentos.
A divisão mais expressiva (66%) se refere à aplicação de diferentes recursos didáticos como ferramenta de
formação. A elaboração metodológica diversificada para o ensino básico é algo previsto nas OCEM,
principalmente para as disciplinas da área de Ciências. Acredita-se que, hoje em dia, o professor necessita
utilizar recursos que tornem a disciplina mais palpável e que atendam à formação docente.
No que concerne às técnicas, as análises revelaram que grande parte dos estudos se concentra em
aplicações de recursos metodológicos. Das produções analisadas, apenas 5 abordam a experimentação
como ferramenta didática. Acredita-se, entretanto, ser ela uma das mais eficientes, por despertar uma visão
palpável da disciplina, importante ao docente formado e em formação.
Observou-se, ainda, que a produção sobre formação de professores tem diminuído, mesmo com a
implantação das políticas educacionais pelo governo. Notou-se que entre 2012 e 2013 concentrava-se o
maior número de produções, possivelmente devido à publicação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio, caindo gradativamente nos anos posteriores.
Por fim, é importante destacar que os conteúdos focalizados nos textos sobre a formação inicial gravitam em
torno de análise da atuação dos licenciandos e licenciados, recursos didáticos (experimentação, lúdico,
interdisciplinaridade, contextualização) e o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação. A formação
continuada, por sua vez, foca no estudo de caso.
Conclusões
O ensino de Química encontra-se defasado, talvez por privilegiar aspectos teóricos e abstratos, com metodologias desatualizadas. Segundo Mortimer et al (2000), os currículos tradicionais expõem simplesmente aspectos conceituais da Química, descolando a área do contexto social. Na contramão, observou-se, em geral, que as publicações analisadas discutem a dicotomia entre a formação específica e as práticas pedagógicas, relatam experiências curriculares diferenciadas, revelam a importância da aplicação de recursos didáticos e métodos inovadores.
Agradecimentos
Referências
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia Científica. Disponível em http://www.fio.edu.br/manualtcc/co/7_Material_ou_Metodos.html. Acesso em 03 de março de 2017.
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MARCOLAN, S. G.; MALDANER, O. A. Espaços de formação continuada de professores em escolas pequenas e isoladas: uma lacuna a ser preenchida. Química Nova na Escola, v. 37, n. 3, p. 214-223, agosto 2015.
MORTIMER, E.F.; MACHADO, A.H.; ROMANELI, L.I. A Proposta curricular de Química do estado de Minas Gerais: Fundamentos e Pressupostos, Química Nova, 23, 2, 273-283, 2000.
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RUIZ, F. M.. Pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa: complementaridade cada vez mais enriquecedora. Administração de Empresas em Revista, n.3, p. 37-47, 2004.