Quando o Humor Vai à Sala de Aula: A Utilização de Recursos Humorísticos como Ferramenta Pedagógica para o Ensino de Química Orgânica

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Oliveira França, M. (IFBA) ; Costa Santos, W. (IFBA)

Resumo

Este trabalho relata uma experiência com a utilização de recursos humorísticos como estratégia didática para o ensino de química orgânica numa turma de 3º ano do ensino médio. Buscou-se levar o humor e o riso para a sala de aula utilizando piadas, charges, paródias e memes de internet como mecanismos para compreensão de conteúdos específicos da química orgânica, o que desponta como um desafio, pois além de compreender o conteúdo, os discentes precisaram contextualizá-los e representá-los graficamente, pois estes recursos correspondem a um texto visual, com caráter crítico e humorístico que transmite variadas informações de uma só vez. Para tal, foram realizadas oficinas pedagógicas por ser uma forma de construir conhecimento, com ênfase na ação, sem perder de vista, porém, a base teórica.

Palavras chaves

Humor; Química; Aprendizagem

Introdução

O desenvolvimento de um processo pedagógico eficiente deve estar acompanhado de ações concretas, visando transformar o processo de construção do conhecimento. Desta forma, torna-se necessária uma prática que tem como objetivo construir não apenas a aprendizagem dos conteúdos ministrados, mas habilidades e competências para serem capazes de exercer plenamente a sua cidadania, entendendo a relação dos conteúdos aprendidos em sala de aula com a sua realidade. Na perspectiva de tornar o ensino de química mais atrativo, os educadores tem se deparado com a necessidade de repensar sua prática pedagógica e buscar diferentes mecanismos que auxiliem na construção do conhecimento. Porém, quais estratégias podem ser utilizadas para “educar” essa nova geração inquieta, vibrante e conectada? Nessa perspectiva e levando em consideração que a química não faz parte das disciplinas favoritas dos estudantes que justificam tal aversão por considera-la difícil e sem aplicação na sua realidade e a necessidade de desenvolver novos recursos que favoreçam a aprendizagem é que apresenta-se aqui, a proposta de levar o humor à sala de aula. Para Freire (2006), estamos na aurora do século XXI, ainda presos às mesas e cadeiras, como se estivéssemos nos monastérios, esses sim, lugares de silêncio, recolhimento e solidão. À luz das palavras de Freire, na perspectiva de romper com os ideais tradicionais da pedagogia, uma possibilidade é trazer a alegria para sala de aula, e despertar o carisma nos discentes. Barra (1995), afirma que o humor tem a capacidade de libertar o pensamento das convenções e das leis do pensamento racional, fato que evidencia o seu poder de criatividade, uma vez que a própria sociedade reforça nos indivíduos a capacidade de nos tornarmos práticos e lógicos.

Material e métodos

O presente trabalho nasce da experiência vivida durante os acompanhamentos de turma do Programa de Bolsa de iniciação à Docência (PIBID). Ao elaborar uma proposta de trabalho que contemplasse as especificidades da turma, foram desenvolvidas oficina pedagógica para construir conhecimento, com ênfase na ação, sem perder de vista, porém, a base teórica. Assim sendo, e para que fossem alcançados os objetivos almejados. Inicialmente, foi aplicado um questionário, a fim de reconhecer o posicionamento dos discentes quanto à proposta a ser desenvolvida. Logo após, foi feita a exposição o gênero “piada”, ao passo que foram apresentadas algumas para que os alunos tentassem descobrir a resposta e o conhecimento químico incutido em cada uma delas. Após essas vivências, os discentes foram orientados a produzirem piadas sobre os hidrocarbonetos. No segundo e terceiro momentos utilizou-se como eixo temático “o petróleo” na qual, foram retomadas as propriedades dos hidrocarbonetos e posteriormente, os discentes produziram charges à luz de temáticas como: o metano e a decomposição de resíduos orgânicos. Na execução do quarto momento, o eixo norteador para as discussões foi “Álcool”, por isso, iniciou-se com a distribuição e análise de texto informativo, foi apresentado o artigo “hálito culpado: o princípio químico do bafômetro” e discutiu-se sobre os conhecimentos de química necessários para o entendimento do bafômetro. Após as discussões, os alunos produziram uma paródia com as informações disponíveis no artigo acerca da oxidação dos álcoois. No quinto momento, foi feita uma breve discussão sobre os memes de internet, onde os alunos foram desafiados a produzirem memes diferenciando, álcool, enol e fenol e aldeído e cetona, e essas as produções foram veiculadas no facebook.

Resultado e discussão

Durante a execução das oficinas, foi perceptível como a utilização dos recursos humorísticos são relevantes para que os alunos aprendam conceitos químicos importantes. Inicialmente, ao analisar os questionários, os discentes apontaram que piadas e paródias, seriam os recursos que menos influenciariam a aprendizagem, porém os mesmos, mudaram de ideia, ao logo da execução da proposta. Nota-se que eles conseguiram organizar as informações científicas dentro do contexto da piada, que além de despertar o humor e o riso, continham informações relevantes para a aprendizagem de química. Quando um grupo produziu: Em uma DR de carbonos, o que um carbono falou para o outro? Já estou saturado de você. Percebe-se que, houve a compreensão do conceito que um carbono saturado é aquele ligado apenas por ligações simples, denominadas de sigma (σ). Ou ainda, por que os prótons e os elétrons se apaixonaram? Porque os opostos se atraem. Fica evidente a compreensão que a partir do atrito entre os corpos, ocorre o fenômeno chamado “eletrização”, que de modo geral todos os corpos possuem a propriedade de se atraírem ou se repelirem e dessa forma, cargas de mesma natureza se repelem, enquanto que as cargas de sinais contrários se atraem. Na produção das paródias, foram observados conhecimentos importantes sobre a oxidação dos álcoois, é o que se nota em “Que quimicamente, aldeído sendo originado, a parir de álcoois primários, pode assim se oxidar. Seguindo em frente, lá vem os álcoois secundários, podendo ser oxidados, produzindo cetona. Então por último, surgem assim os álcoois terciários, que não reage com os oxidantes” e por fim, deixaram um conselho “Galerada! cuidado com a cachaçada, evite essa palhaçada, de beber por aí, de beber sem fim. Eu não sabia e na delegacia me contaram!”

Conclusões

Essa proposta ampliou as possibilidades da aprendizagem de química. Os discentes entenderam que o objetivo de despertar o sorriso só seria alcançado caso compreendessem o teor científico contido em cada uma das produções. Propiciou um clima de descontração e suavidade entre todos. A aprendizagem foi consolidada, o que foi possível constatar com base nas avaliações realizadas no bimestre. O que leva a concluir que a utilização destes recursos desponta como uma interessante estratégia para romper com o tradicionalismo, que ainda hoje vigora no ensino de química.

Agradecimentos

Agradeço ao PIBID (Programa de Bolsa deIniciação à Docência) e ao Colégio Estadual Padre Luiz Soares Palmeira, por me aproximar dos mais diferentes saberes.

Referências

BARRA, Tânia Regina da Silva. O Avesso da Costura: há humor na Escola? Rio de Janeiro: UERJ, 1995. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Rio de Janeiro, 1995.

FREIRE, J.B. uma pedagogia lúdica. In ARANTES, V.A. (Org.) Humor e alegria na educação. São Paulo, 2006,186 p.

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