A EXPERIMENTAÇÃO PROBLEMATIZADORA COMO RECURSO METODOLÓGICO NO ENSINO DE QUÍMICA PARA ALUNOS SURDOS

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Brito, G.K.M. (IFBA) ; Santana, A.S. (IFBA) ; Silva, S.A. (IFBA)

Resumo

O presente resumo relata o trabalho desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID em uma turma, na qual dois discentes surdos estão inseridos, da 2ª série do Ensino Médio integrado ao técnico em Informática do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA campus Vitória da Conquista. Ao utilizar a experimentação de caráter investigativo, os discentes foram estimulados a refletir, questionar sobre os fenômenos apresentados a eles, vinculando ainda ao cotidiano e despertando o interesse a estudar química; a adoção de tal recurso, visa satisfazer necessidades dos educandos surdos, nos quais tem sua cognição desenvolvida pela visão, logo, por meio da experimentação, foi proporcionado um desenvolvimento eficiente de suas capacidades.

Palavras chaves

Ensino de Química ; experimentação; alunos surdos

Introdução

A educação inclusiva é uma realidade nas escolas brasileiras e a inserção de alunos surdos nas escolas regulares é parte do processo de inclusão no qual a nossa sociedade está inserida (CARVALHO; SILVA, 2014). Todavia, estudos apontam que poucas são as propostas educacionais que satisfaçam as necessidades dos educandos surdos, isto é, que propiciem um desenvolvimento eficiente de suas capacidades (LACERDA, 2006; SOUZA et al., 2012; THOMA et al., 2014). Autores defendem que as tais propostas no âmbito educacional devem considerar que o surdo é um indivíduo visual, sendo a sua cognição desenvolvida pela visão; os surdos carecem de relações da linguagem visual com as quais tenham oportunidade de interagir, a fim de desenvolver significado, proporcionando a aquisição de conhecimento; assim, propõe-se que sejam utilizados recursos didáticos nos quais sejam predominantemente visuais (GADIOT, 2010; THOMA, et al., 2014). Visando satisfazer tais necessidades e propostas, o trabalho buscou adotar a experimentação problematizadora como recurso metodológico no ensino de Química para discentes surdos, enaltecendo a criticidade, a criatividade, a reflexão, formulação de hipóteses frente a um problema, logo havendo uma participação efetiva do indivíduo e ajudando no entendimento teórico- conceitual de uma situação real (BRASIL, 2006; FRANCISCO JÚNIOR et al., 2011). Partindo da suposição de que a profissionalização de um licenciando fundamenta-se no preparo para o exercício da docência (SANTOS; GAUCHE; SILVA, 1997), acredita-se que tais experiências possibilitam a criatividade do futuro docente, instigando a pesquisa em busca de novas opções educacionais, enfrentando como desafio as diversas situações do ambiente educacional (BRASIL, 2006).

Material e métodos

Tal trabalho foi desenvolvida no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA; a aula planejada e realizada pela bolstista teve como participantes a turma da 2ª série do Ensino Médio integrado ao técnico em Informática e o intérprete de LIBRAS, no instituto supracitado. A metodologia utilizada foi fundamentada na proposta feita por Delizoicov (2005), adotada por Francisco Júnior et al. (2008), na qual orienta que, por meio dos três momentos pedagógicos (3MP), as dinâmicas realizadas em sala contemplem os seguintes momentos: a problematização inicial, a organização do conhecimento e a aplicação do conhecimento. Foi-se realizado com os discentes, no laboratório de Química no campus, experimentos a fim de que os discentes compreendessem o conteúdo “Cinética Química”; tal aula ocorreu em três momentos. No primeiro momento, a bolsista realizou um experimento no qual foi-se adicionado a uma solução aquosa de corante vermelho uma quantidade de alvejante doméstico, que contém hipoclorito de sódio, e solicitou aos alunos que observassem o desaparecimento da coloração e, de modo simultâneo, cronometrassem e anotassem o tempo necessário para que tal reação ocorresse; foi-se repetido tal procedimento três vezes, todavia alterando-se a concentração do alvejante. Após as observações e anotações feitas por eles, foi-se perguntado aos mesmos o que fez com que o desaparecimento da coloração ocorresse de modo mais rápido ou lento, a fim de que os discentes formulassem hipóteses e estas foram pontuadas no quadro pela bolsista. Após tal momento, houve houve a explanação sobre o conteúdo “Cinética Química” e por fim foi-se retomado a experimentação do início da aula.

Resultado e discussão

No primeiro momento, ao serem questionados, de imediato os discentes não conseguiram identificar o motivo de tais diferenças de tempo anotadas e observadas, pois afirmavam que, visivelmente, a quantidade de alvejante adicionado à solução aquosa de corante vermelho era a mesma. Após um período de reflexão e discussão entre os educandos, um dos alunos surdos deduziu que a quantidade de alvejante nos recipientes não era a mesma; o outro discente surdo julgou como um outro motivo a excessiva quantidade de corante na solução; tais deduções foram anotadas no quadro. No segundo momento, ao longo da explanação do conteúdo, os discentes surdos mostravam-se interessados e, em boa parte da aula, faziam questionamentos; antes do término da discussão sobre o conteúdo, conseguiram relacionar o que foi abordado com o experimento realizado. No último momento, foi-se analisado novamente o experimento feito no início da aula; os discentes reformularam suas hipóteses, que tinham como base os seus conhecimentos prévios e agora, relacionaram o fenômeno com os conceitos discutidos na aula, com as observações e deduções feitas por eles; os discentes afirmaram que, o desaparecimento da coloração ocorreu em distintos intervalos de tempo devido a alteração da concentração do alvejante dos respectivos recipientes. Inferiram ainda que, para que tal reação química ocorresse de modo mais rápido, poderiam aquecer a mistura ou diminuir a quantidade do corante vermelho. Após isso, os alunos, a bolsista e o intérprete de LIBRAS discutiram sobre a aula; os discentes surdos demonstraram grande interesse pela química, afirmando que ao ser utilizada a experimentação, tornou-se a aula não só atrativa, mas também contextualizada, instigando-os a pensar e relacionar com o conteúdo abordado

Conclusões

Ao fim desse trabalho, notou-se que, ao utilizar tal metodologia, os discentes foram estimulados a refletir, questionar sobre os fenômenos apresentados a eles, despertando o interesse a estudar química. Os discentes mostraram-se satisfeitos com a metodologia utilizada, sugerindo ainda que essa seja utilizada mais vezes nas aulas do componente curricular. Percebeu-se que a utilização desse recurso satisfaz as necessidades dos educandos surdos, nos quais tem sua cognição desenvolvida pela visão, logo acredita-se que, por meio da experimento houve um desenvolvimento eficiente de suas capacidades.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Programa Institucional de Iniciação à Docência – PIBID, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

Referências

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. v. 2. Brasília, 2006, 140 p.

CARVALHO, N. S. A. SILVA, C. A. F. Educação inclusiva para surdos. Revista Virtual de cultura surda, n. 13, p. 1-25, 2014.

DELIZOICOV, D. Problemas e Problematizações. In: Pietrocola, M. (Org.). Ensino de Física: Conteúdo, Metodologia e Epistemologia em uma Concepção Integradora. Florianópolis: UFSC, p. 1-13, 2005.

FRANCISCO JÚNIOR et al. Experimentação Problematizadora: Fundamentos Teóricos e Práticos para a Aplicação em Salas de Aula de Ciências. Química Nova na Escola, n. 30, p. 34-41, 2008.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_02_internet.pdf>
Acesso em: 25 de julho de 2017.

GADIOT, D. M. S. F. Sala de aula para surdos: recomendações ergonômicas. Pernambuco, 168 p.,2010. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.

LACERDA, C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Cad. Cedes, v. 26, n. 69, p. 163-184, 2006.

SANTOS, W. L. P. S. GAUCHE, R. SILVA, R. R. Currículo de licenciatura em Química da Universidade de Brasília: uma proposta de implantação. Química Nova, v. 20, n. 6, p. 675-682, 1997.

THOMA, A. S., et.al. Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Disponível em:
<www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=56513>
Acesso em: 2 de julho de 2017.

Patrocinadores

Capes CNPQ Renner CRQ-V CFQ FAPERGS ADDITIVA SINDIQUIM LF EDITORIAL PERKIN ELMER PRÓ-ANÁLISE AGILENT NETZSCH FLORYBAL PROAMB WATERS UFRGS

Apoio

UNISC ULBRA UPF Instituto Federal Sul Rio Grandense Universidade FEEVALE PUC Universidade Federal de Pelotas UFPEL UFRGS SENAI TANAC FELLINI TURISMO Convention Visitors Bureau

Realização

ABQ ABQ Regional Rio Grande do Sul