DISCURSO QUÍMICO NA FICÇÃO CIENTÍFICA: O USO DE FILMES COMO FERRAMENTA PARA A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Veloso Pinto, L. (UFMA) ; Pereira Ribeiro, R.K. (UFMA) ; Nogueira Almeida, A. (UFMA) ; Vieira Carvalho Oliveira Marques, C.V. (UFMA)

Resumo

Este trabalho buscou destacar a importância do uso de recursos tecnológicos midiáticos (filme “O nome da Rosa”) como possibilidade real de recurso didático-pedagógico para construção de conhecimento químico. Suscitou-se os aspectos histórico-filosóficos do conhecimento científico, no trato dado aos acontecimentos da época. Metodologicamente, utilizou-se a análise de conteúdo, buscando-se identificar/retirar as unidades de significados que destacassem linguagem cientifica apresentada para o público por meio de acontecimentos históricos. Observou-se que as explicações cientificas para os fenômenos ocorridos na trama do filme eram focados principalmente sob os aspectos do raciocínio hipotético-dedutivo, que faz menção aos empiristas clássicos.

Palavras chaves

Filme Ficção cientifica; Ensino de Química; História da Ciência

Introdução

Diante da perspectiva em que a História das Ciências (HC) possibilita um entendimento da construção de conceitos no Ensino de Química (EQ), é que a filosofia e a história da química tornam-se necessárias no que converge aos aspectos de aportes teóricos conduzindo a um ensino de química atemporal, contextualizado e significativo (PIAGET e GARCIA, 1987). Portanto, a química, enquanto ciência historicamente construída deveria ser tratada numa perspectiva além da conceitual, ou seja, emergir discussões sobre questões como ética, cidadania, tecnologia, política, cultura, religião, filosofia, dentre outros (CHASSOT, 2016). Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCNEM e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio - OCN contemplam em suas discussões uma sugestão de organização de currículo em torno de eixos temáticos orientadores, e dentre esses eixos, o histórico-social é mencionado, dada as constantes transformações históricas do movimento de construções da sociedade (BRASIL, 1999; BRASIL, 2002). Assim, o presente trabalho destacou a importância do uso de recursos tecnológicos midiáticos para suscitar reflexões no ensino de química, ao fazer uma análise reflexiva do filme de ficção científica, ”O Nome da Rosa”, buscando verificar aspectos histórico-filosóficos do conhecimento científico da linguagem química, analisando principalmente dados que envolvem a história da ciência, no que se refere a construção de conceito e sua aplicação na construção do conhecimento humano. Ressalta-se que este trabalho foi fruto de uma atividade da disciplina de História e Filosofia das Ciências ofertada pelo mestrado em ensino de ciências (PPECEM/UFMA), que promoveu análises de filmes na perspectiva de promoção de alfabetização científica pela história das ciências.

Material e métodos

A metodologia seguiu a abordagem de pesquisa qualitativa, pois foi conduzida com o intuito de compreender a proposição de discursos do conhecimento químico, a partir do conteúdo fílmico, na perspectiva do contexto da Filosofia e História da Ciência. A pesquisa qualitativa pode orientar a compreensão da construção de processos pedagógicos, assim utilizou-se a interpretação de narrativas de trechos presentes em cenas de um filme (comercial) para vislumbrar a análise de conteúdo destes, por se entender como vertente de pesquisa voltada à prática educacional, no tocante a verificação de material didático informal (TRIPP, 2005; ESTEBAN, 2010; LUDKE, ANDRÉ, 2015). Fez-se portanto, um estudo analítico do conteúdo da narrativa oral e visual de um filme de entretenimento para verificação da conexão entre a possível compreensão do senso comum e a perspectiva da argumentação científica, pois defende-se a alfabetização científica como uma das formas de se facilitar o conhecimento científico para homens e mulheres do mundo em que habitam (CHASSOT, 2016). O trabalho buscou enfatizar a possibilidade em potencial de uso de recursos midiáticos no ensino de ciência. Os dados desta pesquisa remetem-se ao conteúdo presente nos trechos de falas dos personagens, nas cenas que fizessem alusão a ciência, principalmente na direção do conhecimento químico, bem como sobre as inferências relacionadas ao método científico de raciocínio hipotético dedutivo, visto que, diante desse método usado pelos personagens, há uma situação problema em que se levanta uma hipótese e tentativas de falseamento (MARCONI, LAKATOS, 2004). A análise dos dados foi feita por meio do método da análise de conteúdo da narrativa do filme, pontuando-se as correlações do conhecimento científico dentro do seu uso no cotidiano.

Resultado e discussão

O filme “O nome da Rosa” retrata uma história de suspense que ocorre ano 1327 (na alta Idade Média), na qual a alquimia medieval foi utilizada para investigação de crimes que ocorreram dentro de um mosteiro. A trama se pontua na elucidação sobre a composição de um suposto veneno (arsênico) presente nas bordas de um livro de autoria de Aristóteles, presente na biblioteca do mosteiro, como meio de esconder fontes de informações cientificas. Dentre as cenas selecionadas presentadas no filme, que apresentaram fenômenos químicos destacam-se: (i) fundição do ferro para a fabricação de utensílios; (ii) a utilização de plantas medicinais no alívio de dores - como a folha de lima; (iii) a prática de utilização de tingidores, fabricação de vidro e processos de metalurgia. Pontua-se também, o uso de registros por desenhos, para a busca do solvente universal que também era uma das preocupações dos alquimistas medievais. Observou-se que o personagem principal do filme, procurava explicações cientificas (por conhecimentos alquímicos) para os fenômenos ocorridos nos crimes, através do raciocínio hipotético-dedutivo, o que se faz menção aos empiristas clássicos, que acreditavam que a ciência começava com a observação, registro fidedigno dos fatos para o estabelecimento de enunciados. Para eles a construção do conhecimento valorizava as experiências e observações, independentemente de uma teoria, pois as observações ditavam os fatos, autorizando as hipóteses, onde as ideias seriam resultados sensoriais (PRAIA; CACHAPUZ; GIL-PEREZ, 2002). Essa visão empirista nos remete a lógica aristotélica, defendida a partir da verdade, relacionando o sentido com a realidade a partir dos argumentos e a existência de elementos que sustentem a argumentação (RAMOS, 2011).

Conclusões

A construção do conhecimento científico pode ser favorecida por metodologias que envolvem recursos midiáticos, posto que é uma ferramenta lúdica e presente no entretenimento dos alunos, por permitir uma linguagem visual fantástica, dinâmica e muito aprazível. Diante dessa perspectiva, sugere-se que o referido filme tem um significativo potencial para ser utilizado em sala de aula para discussões em várias vertentes de conteúdos e aspectos da abordagem química, possibilitando a apropriação da linguagem científica em movimento interdisciplinar.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática – PPECEM da Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. MEC, Secretaria de Educação Média e Tecnológica – Semtec. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec, 1999.
_________________. PCN + Ensino Médio: Orientações educacionais complementares Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002.
CHASSOT, A. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 7.ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2016.
ESTEBAN, M. P. S. Pesquisa qualitativa em educação: fundamentos e tradições. Porto Alegre: AMGH, 2010.
LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, EPU, 2015.
MARCONI, M. A; LAKATOS, E. V.. Metodologia científica. São Paulo: Editora Atlas, 2004.
PIAGET, J.; GARCIA, R. Psicogênese e história das ciências. Lisboa: Dom Quixote, 1987.
PRAIA, J. F.; CACHAPUZ, A. F. C.; GIL-PÉREZ, D. Problema, teoria e observação em ciência: para uma reorientação epistemológica da educação em ciência. Ciência & Educação (Bauru), v. 8, n. 1, p. 127-145, 2002.
RAMOS, F. P. Introdução à Lógica Aristotélica. 03 Out 2011. Disponível em: < http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/search/label/2011-A2-10V.out.-S.03%2F10>. Acesso em: 15 Dez 2016.
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1517- 97022005000300009>. Acesso em: 06 jun. 2017.

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