A PRÁTICA DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DO ENSINO MÉDIO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AS ORIENTAÇÕES CONTIDAS NOS PCN E DCNEM
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ensino de Química
Autores
Pinho, G.C. (MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMATICA/UFC) ; Almeida, M.M.B. (MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMATICA/UFC) ; Sousa, P.H.M. (UFC) ; Borges, E.E. (MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMATICA/UFC) ; Lima, I.B. (UECE)
Resumo
Essa pesquisa teve por finalidade analisar a concepção e prática dos Professores de Ciências do Ensino Médio de três escolas da rede pública estadual de Fortaleza-Ceará, sobre o Ensino de Educação Ambiental, a luz das orientações contidas nos PCN e nas DCNEM. A metodologia da pesquisa foi de natureza descritiva, de campo, com feição de estudo de caso e abordagem qualitativa. A técnica de pesquisa empregada foi a aplicação de questionários e entrevista estruturada. Através dos resultados, pode-se concluir que a maioria dos professores compreendem as recomendações contidas nos PCN e DCNEM para a EA. No entanto, não incorporam as recomendações dos mesmos em suas aulas, e realizam práticas que não atendem às orientações apregoadas pelos documentos.
Palavras chaves
Educação Ambiental; Prática docente; Documentos oficiais
Introdução
O surgimento dos problemas socioambientais fez com que o homem, que a princípio precisava submeter-se às leis da natureza para garantir sua sobrevivência, se distanciasse e passasse a encará-la apenas como uma gama de recursos disponíveis. Porém, em poucas décadas percebeu-se que os recursos naturais são finitos e insuficientes para atender as necessidades da sociedade de consumo. Constatou-se, também, que o bem-estar ilusório que o mesmo possui só é vivido por uma pequena parcela da população, pois a grande maioria que luta para sobreviver é, na verdade, a maior vítima dos problemas ambientais causados por esse modelo econômico (PÁDUA, 1999). E, nesse contexto, marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, torna-se necessário o engajamento de um conjunto de atores do universo educativo, pois estes podem fomentar o conhecimento e despertar a juventude para atitudes de cuidado e preservação do meio ambiente. De acordo com a Constituição Federal, Brasil (1998), é também papel da escola, além do pleno desenvolvimento dos educandos e preparação para o trabalho, o desenvolvimento para o exercício da cidadania. De acordo com Casalinho e Pitano (2013), a educação dos sujeitos é a única forma de provocar uma transformação no que de errado é imposto pela sociedade, pois contribui para que o ser humano compreenda sua responsabilidade no cuidado com o meio ambiente e com a vida. Não é possível pensar em modelos de desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente separadamente do homem, sem analisar os direitos que o mesmo possui e os que lhe são negados, por isso, cabe aos ambientalistas e aos educadores o papel de desenvolver uma educação que busque soluções, com a participação de todos, para os problemas sociais juntamente com os ambientais. De acordo com Loureiro (2012), a educação consiste em uma atividade coletiva, que envolve o diálogo, a mobilização, o conhecimento, como também a mudança cultural, a transformação social, a formação humana e a participação na vida pública. Por isso, é importante encontrar uma forma de aquisição de conhecimentos que possibilite enxergar o meio ambiente com seus vínculos e dentro dos contextos físico, biológico, histórico, social e político, com intenção de apontar soluções para os problemas enfrentados. A Constituição Federal de 1988 estabelece como um dos papeis da escola, além do pleno desenvolvimento do educando e a preparação para o trabalho, o exercício da cidadania (BRASIL, 1998). Nesse sentido, a Educação Ambiental surge como uma importante exigência educacional contemporânea que não busca apenas transmitir conhecimento, mas que deseja consolidar a democracia através da ampliação da participação política dos cidadãos, pois existe para mostrar uma nova forma do homem encarar seu papel no mundo, por propor modelos de relacionamentos mais harmônicos com a natureza e incentivar a construção de novos valores e novos paradigmas. Porém, sua abordagem deve ser fundada na integração entre conceitos científicos e na discussão de aspectos socais através de um trabalho que deve favorecer a criação de novos atores sociais. Para isso, o processo educativo deve articular sustentabilidade e participação, e também, está apoiado pela interação entre as diferentes áreas do saber. Nesse intuito, práticas pedagógicas precisam ser transformadas de modo a fazer com que os estudantes compreendam as diferentes teias de relações que integram essas temáticas para que, assim, não aprendam a questão ambiental apenas de forma fragmentada e descontextualizada. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) trazem importantes orientações que buscam auxiliar o professor também na realização de um bom trabalho em EA. Para isso, sugerem uma abordagem pautada na transversalidade entre os diferentes componentes curriculares e na contextualização dos temas, pois compreendem que as complexidades dessas temáticas não conseguiriam ser contempladas por uma única área individualmente, e que a contextualização dar mais significado à aprendizagem por tornar os conhecimentos mais próximos a realidade do aluno. Pensando na estruturação do conhecimento para essa pesquisa, foi proposto como objetivo investigar até que ponto as concepções e práticas dos professores de ciências do Ensino Médio estão de acordo com as orientações apregoadas nos PCN e DCNEM. Para alcançar o objetivo geral foram propostos os seguintes objetivos específicos: • Investigar se os professores de ciências pesquisados tiveram alguma formação em Educação Ambiental; • Analisar a concepção que os professores de ciências pesquisados têm sobre Educação Ambiental; • Identificar se esses professores de ciências conhecem o que existe nos PCN e DCNEM sobre educação ambiental e se exercem suas práticas à luz desses documentos.
Material e métodos
O presente trabalho classifica-se como uma pesquisa de natureza descritiva, de campo, com feição de um estudo de caso com abordagem qualitativa. Optou-se por investigar os professores de ciências de três escolas públicas da rede estadual de ensino de Fortaleza-Ce. As escolas escolhidas foram: Walter de Sá Cavalcante (no bairro Cidade dos Funcionários), João Mattos (no bairro Montese) e Estado do Paraná (no bairro Montese). Os sujeitos da pesquisa foram três professores de cada uma das escolas participantes. Em cada instituição pesquisou-se um conjunto formado por um professor de Física, um de Química e outro de Biologia, que trabalhavam no mesmo turno e possuíam turmas em comum.A escolha dessas disciplinas da área de ciências se deveu pelo fato de, na maioria das vezes, as escolas delegarem a essa área a responsabilidade pelo desenvolvimento de temas de EA. As técnicas de pesquisa empregadas foram a aplicação de questionário e entrevista estruturada. Os questionários foram aplicados com intenção de conhecer um pouco da formação acadêmica dos educadores, como também sobre a formação dos mesmos em EA. A técnica da entrevista foi escolhida por sua praticidade e flexibilidade, pois o número de professores entrevistados foi pequeno, e teve por objetivo investigar as concepções e práticas dos professores com relação à EA. Quanto aos procedimentos técnicos, decidiu-se pela escolha do estudo de caso múltiplo como meio de obter um número de observações que ajude a preservar o grau de certeza das teorias. A primeira etapa da pesquisa se iniciou com um estudo das orientações dos PCN e DCNEM para a Educação Ambiental, pois este auxiliou o pesquisador em todo o trabalho, desde a construção dos questionários e da entrevista estruturada, como também, facilitou a análise dos dados obtidos. Uma revisão bibliográfica também foi efetuada com o objetivo de conhecer trabalhos existentes na área, buscando conhecer conceitos e orientações de alguns autores sobre a Educação Ambiental. Na segunda etapa da pesquisa foi realizada uma reunião com os três professores pesquisados de cada escola. Nesse encontro, foram realizadas conversas e reflexões, e os docentes foram convidados a responder a um questionário sobre formação acadêmica e a outro sobre a formação dos docentes na área de Educação Ambiental. Na terceira etapa da pesquisa foi avaliada a prática docente dos nove professores de ciências pesquisados sobre Educação Ambiental, a luz do que preconiza os documentos legais (PCN e DCNEM). Para isso foi utilizado uma entrevista estruturada com questões objetivamente definidas. A quarta etapa da pesquisa foi constituída pela análise e discussão dos resultados. Na ocasião, o pesquisador buscou relacionar as respostas obtidas com os dados da literatura, principalmente com as orientações dos PCN e DCNEM. A quinta etapa foi o momento de escrever a conclusão e, através desta, investigar se os objetivos da pesquisa foram ou não alcançados.
Resultado e discussão
O questionário sobre a formação dos docentes na área de Educação Ambiental
teve como objetivo avaliar a trajetória escolar do docente e capacitação na
área de Educação Ambiental. Na análise desse questionário, optou-se por
considerar cada questão separadamente.
Questão 1: Perguntou-se aos professores se já fizeram algum curso de pós-
graduação. A pesquisa mostrou que apenas 11,11% dos professores
entrevistados ainda não fizeram nenhum curso de pós-graduação. A maioria
(66,67%) são especialistas e 22,22% já possuem titulação de mestre. Esse
fato revela o interesse da maioria dos docentes, em investir em pós-
graduação.
Questão 2: Perguntou-se aos professores que afirmaram ter curso de pós-
graduação (especialização ou mestrado), se o fizeram em área relacionada à
Educação Ambiental e qual curso fizeram. O resultado mostrou que apenas um
terço (33,33%) dos professores entrevistados optou por fazer pós-graduação
(especialização ou mestrado) em área voltada para a Educação Ambiental.
Pois, 22,22% dos professores afirmaram que fizeram especialização em
Educação Ambiental e 11,11% afirmaram ter feito Mestrado em Energias
Renováveis.
Questão 3: Perguntou-se aos professores se já participaram, ou ainda
participam, de algum curso de capacitação com foco em EA, presencial ou à
distância. Apenas 11,11% dos entrevistados afirmaram ter participado de um
curso de capacitação com foco em EA.
Questão 4: perguntou-se aos professores se em seus cursos de graduações
cursaram alguma disciplina, obrigatória ou opcional, com foco em EA. Entre
os professores investigados (66,67%) disseram que cursaram alguma disciplina
voltada para a EA durante a graduação.
Com intenção de complementar a questão 4, perguntou-se aos docentes quais
foram as disciplinas cursadas por eles, que tinham foco em EA. A disciplina
de Ecologia foi a mais citada pelos professores de Química e Biologia, pois
44,44% dos entrevistados afirmaram tê-la cursado. 22,22% dos professores
cursaram as disciplinas de CTS e Energias alternativas, porém, 33,34% dos
docentes pesquisados não fizeram nenhuma disciplina com foco em EA (Tabela
2). Esse fato revela uma limitação dos cursos de licenciatura que se ocupam
em formar para uma disciplina específica, mas não se preocupam em trabalhar
questões sociais relevantes que necessitam de uma abordagem
interdisciplinar.
Para avaliar “A prática pedagógica e concepções dos professores sobre
Educação Ambiental” foi aplicada uma entrevista estruturada. Para a análise
dos resultados também se optou por considerar cada questão separadamente.
Questão 1: Perguntou-se aos professores entrevistados, se em algum momento
já haviam realizado consulta ou estudo nos PCN ou DCNEM, com a finalidade de
aprimorarem suas práticas pedagógicas. O resultado mostrou que apenas 33,33%
dos entrevistados já tiveram contato com os PCN ou DCNEM, porém, nenhum
deles chegou a realizar consulta com a finalidade de aprimorarem suas
práticas pedagógicas. Infere-se então, que os mesmos não devem conhecer as
orientações relacionadas à Educação Ambiental, contidas nesses documentos.
Questão 2: Perguntou-se aos professores se saberiam explicar por que razão a
EA é incluída nos PCN na parte relacionada aos temas transversais.Os
resultados mostraram que 55,56% dos professores acreditam que o Meio
Ambiente foi incluído nos temas transversais por seu caráter
interdisciplinar, ou seja, entendem que sua abordagem deve relacionar as
diferentes áreas. E 11,11% dos entrevistados acreditam que foi incluído nos
temas transversais por se tratar de uma questão social importante.
De acordo com os PCN, os temas transversais correspondem a questões
importantes e urgentes da vida cotidiana, na busca da construção de uma
prática educacional voltada para a construção da cidadania. Para isso, os
critérios adotados para a eleição dos temas transversais foram: urgência
social, abrangência nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no
Ensino Fundamental, favorecer a compreensão da realidade e a participação
social, com a pretensão de integrar as diferentes áreas convencionais
relacionando-as a questões da atualidade (BRASIL, 1999).
Questão 3: Perguntou-se se a Educação Ambiental deveria ser ministrada como
mais uma disciplina específica do currículo. Constatou-se, pelas respostas,
que 77,78% dos professores pensam de acordo com as orientações contidas nos
PCN e DCNEM, que orientam para que a EA não constitua uma nova disciplina do
currículo escolar, pois os docentes demonstraram compreender seu caráter
interdisciplinar.
As DCNEM também consideram que o tratamento transversal das temáticas
ambientais é importante não apenas para superar a visão fragmentada do
conhecimento, mas também, para ampliar os horizontes de cada área do saber
(BRASIL, 2013).
Questão 4: Perguntou-se aos entrevistados qual a importância de se discutir
EA na escola. As respostas revelaram que os mesmos consideram importante
discutir EA na escola porque este é um dos papeis dessa instituição: formar
o cidadão. Também afirmaram que é importante para conscientizar os alunos,
formar cidadãos críticos e conscientes e que possam repassar esses
conhecimentos, estimular a mudança de hábitos e fazer com que os estudantes
compreendam que é por causa do consumismo que o homem agride a natureza.
Questão 5: Perguntou-se aos professores se costumam utilizam temas
ambientais em suas aulas. Todos responderam que sim.
Questão 6: Completou-se a pergunta 5, perguntando sobre a forma como os
docentes trabalham as temáticas ambientais. As respostas revelaram que
66,67% dos professores pesquisados utilizam as temáticas ambientais mais
como forma de contextualizar ou dar exemplos dos conteúdos de suas
disciplinas. 33,33% afirmaram que buscam conscientizar e despertar os
estudantes para as questões ambientais, como também para suas
responsabilidades diante de tais questões, para que os estudantes entendam
que também fazem parte do meio ambiente e para estimular o senso crítico dos
alunos.
Questão 7: perguntou-se aos professores se em suas aulas sobre temáticas
ambientais costumam estimular o diálogo, a participação e a cooperação entre
os estudantes. Todos os docentes entrevistados disseram que costumam
incentivar o diálogo, a participação e a cooperação entre os estudantes, e
justificaram que o fazem para que os mesmos aprendam a respeitar a opinião
do outro, para que desenvolvam uma visão crítica e também para dar
importância ao assunto. Entre outros motivos.
Para os PCN, a participação, como princípio democrático, estimula a
construção da cidadania ativa, além de favorecer a participação popular no
espaço público e a compreensão de que a sociedade é heterogênea. Consideram
também que é importante, para o professor, estimular situações de
aprendizagem que favoreçam a participação do educando (BRASIL, 1999).
Questão 8: Perguntou-se aos entrevistados como avaliam suas abordagens em
EA. As respostas apresentadas revelaram que 88,88% dos professores
pesquisados reconhecem como fracas suas abordagens, pois ponderam que, na
maioria das vezes, encontram-se presos aos conteúdos e sem condições de
planejar algo diferente, pois, além de terem pouco tempo de aula, também não
têm tempo para planejar essas abordagens. Por isso, trabalham as questões
ambientais mais na forma de exemplos dos conteúdos de suas disciplinas.
Conclusões
Ao investigar se os professores tiveram alguma formação em EA, a pesquisa revelou que os mesmos não tiveram uma formação sólida a nível de graduação, como também a nível de pós-graduação. Os docentes pesquisados afirmaram que durante seus cursos de licenciatura cursaram apenas uma disciplina ou outra com foco em EA. Apenas um deles afirmou ter participado de curso de capacitação profissional voltado para as temáticas ambientais. Um terço dos professores fizeram curso de pós-graduação (especialização ou mestrado) em áreas relacionadas ao meio ambiente, porém, a maioria desses cursos não eram especificamente voltados para a qualificação do professor para a prática da EA. Ao analisar as concepções dos professores sobre a EA, inferiu-se que os mesmos consideram importante discutir meio ambiente na escola, pois compreendem que este é um espaço destinado também à formação da cidadania. Entendem o caráter interdisciplinar das questões ambientais e demonstraram interesse pelas temáticas, mas, reconhecem que ainda não conseguem trabalhar de forma significativa essas questões. Acreditam que é importante conscientizar os alunos para que os mesmos possam ter uma mudança de hábitos e atitudes diante do meio ambiente. Ao investigar se os docentes conhecem as recomendações dos PCN e DCNEM e se exercem suas práticas à luz desses documentos, constatou-se que nenhum deles jamais realizou pesquisa nesses documentos com o intuito de aprimorarem suas práticas,mas, mesmo assim, demonstraram compreender muitas das recomendações dos contidas nos PCN e DCNEM para o desenvolvimento da EA, porém, ainda realizam práticas de forma isolada e superficial que, dessa forma, não estão de acordo com as recomendações sugeridas nos documentos legais.
Agradecimentos
A UFC e ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática (ENCIMA).
Referências
BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Brasília: Senado, 1998.
_______. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC; CNE, Câmara da Educação Básica, 2013.
_______. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC; SEMTEC, 1999.
CASALINHO, J. V.; PITANO, S. J. A Importância da educação nas questões ambientais: abordagens e reflexões baseadas nas ideias freirianas. Educação em Revista, Minas Gerais, p. 1-12.
LOUREIRO, C. F. Sustentabilidade e educação: um olhar da ecologia política. São Paulo: Ed. Cortez, 2012.
PÁDUA, S. M. (coordenador). Conceitos para se fazer Educação Ambiental. Secretaria do Meio Ambiente, Coordenadoria de Educação Ambiental. 3ª edição. São Paulo: A Secretaria, 1999.