ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA UTILIZANDO A QUÍMICA DOS COSMÉTICOS COMO OBJETO DE ESTUDO

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

da Silva Barbosa de Freitas, Q.P. (DQ/UFPE) ; Cosme Rodrigues, J. (DQ/UFRPE) ; da Silva Rufino de Freitas, L.P. (CES/UFCG) ; de Freitas Filho, J.R. (DQ/UFRPE)

Resumo

Este trabalho apresenta e discute a elaboração e aplicação de uma sequencia didática (SD) elaborada por bolsistas do Programa de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Licenciatura em Química da Universidade Fe¬deral Rural de Pernambuco (UFRPE) apresentou-se como uma opção interessante de estratégia de ensino e aprendi¬zagem relativa a aspectos teóricos e fenomenológicos do tema Química dos Cosméticos, mais especificamente a química dos esmaltes. Os recursos usados foram: experimentos e textos adaptados, os quais se revelaram como materiais potencialmente signi¬ficativos que contribuíram não só na formação dos estudantes da educação básica, mas principalmente na formação inicial de professores de Química.

Palavras chaves

Sequência didática; Ensino de Química; Cosméticos

Introdução

No ensino de ciências, o que se observa em geral nas escolas é a supervalorização dos conteúdos, que em geral não são articulados a situações da vida real, o que de certo modo contribui muito pouco para a formação plena do cidadão (SANTOS E SCHNELTZLER, 2003). No entanto, de acordo com Teixeira (2003, p. 178), a ciência que é ensinada nas escolas, sustenta uma imagem idealizada e distante da realidade do trabalho dos cientistas, omitindo antagonismos, conflitos e lutas que são travadas por grupos responsáveis pelo progresso científico. Desse modo nas aulas de química, os estudantes são meros espectadores, ou seja, não possuem ou, quando possuem, é mínima a participação ativa na construção de seu conhecimento. Existem diversos estratégias de ensino utilizadas diariamente pelos professores em sala de aula, tais como, aulas expositivas, debates e discussões em grupo, experimentação, elaboração de projetos, jogos e simulações, dentre outros. Logo, enfatiza-se aqui que infelizmente não existe um método milagroso capaz de atender a todos os estudantes. Cabe ao professor a escolha de uma estratégia que mais se adeque àquela sala de aula. De acordo com o conteúdo a ser trabalho, esse exige determinado tipos de atividades a ser utilizado pelo docente. De acordo com Laburú et al. (2003), a aplicabilidade de determinada estratégia de ensino se dá conforme a necessidade de cada turma. Segundo Carvalho (2003), a adoção de uma única estratégia de ensino, seja ela qual for certamente compromete o desempenho de uma parcela dos estudantes por não respeitar as suas diferenças individuais, quanto a sua maneira de assimilar os conteúdos propostos. Neste contexto, a busca por estratégias de ensino que possam atuar como facilitadora de sua prática é uma constante no planejamento dos professores. A sequência didática é exemplo de estratégia que poderá permitir que o estudante construa o conhecimento através de uma sucessão de questionamentos, facilitando o fazer pedagógico. Na elaboração da sequência didática, seguimos os três momentos pedagógicos propostos por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011) - problematização, organização e aplicação do conhecimento. Esse modelo metodológico permitiu verificar o conhecimento prévio dos estudantes sobre o tema. Segundo o autor, esse momento é organizado de tal modo, que os estudantes sejam desafiados a expor o que estão pensando sobre as situações (2011, p. 199). No momento seguinte, que trata da organização do conhecimento os estudantes estudam os conteúdos necessários para a compreensão do tema e contam com o monitoramento do professor. Segundo Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011, p. 200), as mais variadas atividades são, então, empregadas, de modo que o professor possa desenvolver a conceituação identificada como fundamental para uma compreensão científica das situações problematizadas. Entre uma variedade de temáticas a serem trabalhadas nas aulas de Química, estão os cosméticos, estes possuem uso diário pelos estudantes, estando inseridos no seu dia a dia. Parafraseando Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), os conhecimentos científicos estão presentes no dia a dia dos estudantes, tanto pelos objetos e processos tecnológicos das diferentes esferas da vida contemporânea quanto pelas formas de explicação científica. Ainda segundo Krasilchik e Marandino (2004), é inegável atualmente a forte presença da ciência e da tecnologia no dia a dia dos cidadãos, seja por meio das consequências que nos trazem ou pelos produtos que são consumidos. Um dos fatores de importância situado entre as dificuldades no ensino da Química, segundo Chassot (1990) é que os conceitos encontram-se fora das vivências dos estudantes. Cosméticos e Ensino de Química Apesar dos cosméticos estarem presentes constantemente no dia a dia dos estudantes, há um desconhecimento de seus constituintes químicos (MUNCHEN, 2012). Nessa perspectiva, de acordo com o autor, os cosméticos são um possível exemplo de produtos que estão relacionados a diversos conceitos científicos da disciplina de química e que estão presentes na vida de boa parte da população (MUNCHEN, 2012). Por outro lado, de acordo Nogueira (2015), os cosméticos fazem parte do cotidiano das pessoas desde a antiguidade, que já utilizavam, por exemplo, alguns materiais como leite e mel para banhos com o intuito de amaciar a pele. A temática dos cosméticos possibilita uma abordagem de conceitos Químicos no Ensino Médio contemplando uma contextualização sociocultural, onde o conhecimento científico está inserido nos diferentes setores da sociedade, bem como suas relações com os aspectos políticos, econômicos, sociais e tecnológicos (BRASIL, 2002). Neste trabalho, relataremos a elaboração e aplicação de uma sequência didática desenvolvida com atividades de laboratório, registro textual utilizando como temática a Química dos cosméticos, mais especificamente a química dos esmaltes.

Material e métodos

A sequência didática aqui apresentada pautou-se na temática Química dos cosméticos, que foi elaborada para ser trabalhada com estudantes do terceiros anos do ensino médio. Além das questões a serem discutidas sobre a Química dos cosméticos, buscou-se apresentar ainda, a relação da referida temática com os conceitos químicos, como grupos funcionais e funções orgânicas. No desenvolvimento da sequência didática (SD) todas as atividades propostas, foram planejadas para quatro encontros. O primeiro com duração de 60 minutos e os outros três (03) com duração 60 (sessenta) minutos cada (Tabela 1). Muitas estratégias e recursos didáticos foram selecionados, como levantamentos das concepções prévias, charges, textos, questionários, experimentos, projetor de multimídia, vidrarias, reagentes e vídeos etc. A utilização dessas se dá com o intuito de promover uma aprendizagem mais significativa que contribua com o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes envolvidos. A sequência didática foi elaborada e desenvolvida nos três momentos pedagógicos propostos por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009): a problematização, a organização do conhecimento e a aplicação do conhecimento. Para a problematização inicial, primeira aula foram propostas as seguintes questões, apresentadas para os estudantes, cujo objetivo foi analisar as concepções dos estudantes por meio da temática, objeto do estudo. 1. Você costuma lê os rótulos dos cosméticos que consume? 2. Você conhece alguns constituintes químicos dos cosméticos usados pela população? 3. Quais os constituintes químicos dos esmaltes? Para a organização do conhecimento, elaborou-se as aulas de número 2, 3 as quais foram trabalhadas através de exposição dialogado e elaborou-se um questionário que serviram de suporte ao professor ao se fazer o uso da sequência didática proposta. As perguntas do questionário foram: 1) Qual a composição química dos esmaltes? 2) Quais grupos funcionais podemos encontrar na composição dos esmaltes? Após discussão dos questionários, propor-se aos estudantes a realização de um experimento simples sobre identificação de grupos funcionais. Os procedimentos e materiais a foram utilizados no experimento: Para a identificação dos grupos funcionais, foi realizado o seguinte experimento: Em um tubo de ensaio foi adicionado 6 gotas de Ac. Crômio P.A. e em seguida 6 gotas do esmalte, em outro tubo de ensaio adicionado 2 gotas de esmalte e 10 gotas de álcool etílico e mais 10 gotas de 2,4-dinitrofenil-hidrazina. E finalmente, na etapa de aplicação do conhecimento, foi proposto aos estudantes elaboração de relatório sobre a aula prática e resenha sobre as demais aulas.

Resultado e discussão

Conforme descrito no percurso metodológico a sequência didática sobre temática Química dos cosméticos foi desenvolvida nos três momentos pedagógicos propostos por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009): a problematização, a organização do conhecimento e a aplicação do conhecimento em relação a relação da referida temática com os conceitos químicos, como grupos funcionais e funções orgânicas. No primeiro momento, o professor aplicou um questionário sobre a temática com o intuito de averiguar o conhecimento prévio dos estudantes, ou seja, o que eles já sabiam a respeito do que estava sendo estudado. O questionário abordou questões problematizadoras sobre a química dos cosméticos. A tabela 2 sumariza as questões propostas sobre a temática e as contribuições dos estudantes. Esse momento teve como objetivo iniciar o diálogo e as problematizações para o desenvolvimento do tema. A partir das contribuições dos estudantes (Tabela 2), estas contribuíram para dar suporte ao professor para que o mesmo possa nortear e delinear sua prática pedagógica a partir das concepções levantadas pelos estudantes permitindo a (re)construção do conhecimento, de modo a favorecer o processo de ensino e da aprendizagem. A primeira questão, rótulos, abarca os diversos apontamentos dos estudantes sobre as questões referentes aos rótulos dos cosméticos. Para averiguar se as informações contidas nos rótulos são um fator decisivo na escolha dos cosméticos, questionamos os estudantes acerca de quais aspectos são levados em consideração na hora da compra desse produto. Ao analisar as respostas dos estudantes, percebe-se que a maioria considera as informações contidas no rótulo como fator decisivo na escolha do esmaltes. Nesse sentido, é necessário que os cidadãos saibam interpretar os rótulos dos cosméticos, para tal, é importante discutir as informações contidas nos rótulos, nas aulas de química, pois, além do rótulo ser um recurso interessante para desenvolver conceitos químicos, ainda, permite que o estudante com embasamento científico, possa realizar uma análise atenciosa seja para o consumo ou compreensão da ação do produto utilizado. De acordo com a análise das respostas obtidas a partir da pergunta: Você conhece alguns constituintes químicos dos esmaltes?, percebe-se que 52% dos estudantes responderam álcool e 36% responderam água. Com base no resultado, obtidos nessa pergunta, pudemos perceber que os constituintes dos cosméticos, de fato, poderiam ser tema de muita discussão e aprendizagem entre os estudantes, visto que sua aplicação é contínua e seu uso é de grande importância para a maioria destes. Notamos, também, a necessidade de esclarecer algumas concepções que os estudantes tinham sobre o tema e ampliar seus conhecimentos dos saberes científicos que envolvem a temática para que, deste modo, pudéssemos contribuir para a construção de saberes que possíveis de serem refletidos no seu dia-a-dia. Por fim, em relação às respostas referentes à terceira questão, pode-se observar que os estudantes apresentaram diversos conhecimentos prévios acerca do tema. Eles citaram que na composição dos esmaltes há álcool e água; água e acetona; água e formol, o que permitiu que o professor, com base nessas informações, trabalhasse com os estudantes o conteúdo químico de funções orgânicas, por exemplo. Com base nas observações dos conhecimentos prévios dos estudantes, realizou- se o segundo momento pedagógico, ou seja, a organização do conhecimento. Nesse momento, que consistiu a partir do diálogo-problematizador da etapa anterior, o professor organizou situações que possibilitou a aprendizagem dos temas: Química dos Esmaltes. Em seguida, a temática Química dos esmaltes foi trabalhada em duas aulas (cada aula com duração de sessenta minutos). A primeira aula consistiu em esclarecer dúvidas dos estudantes através de uma exposição dialogada, onde foram abordados os conteúdos de grupos funcionais e funções orgânicas com ênfase em propriedades, estrutura dos grupos e nomenclatura. Também foram respondidas algumas questões do livro didático. Dando continuidade na segunda aula, foi trabalhado as questões do questionário da tabela 3. Entretanto, na segunda aula, após discutirmos com os estudantes o conceito de grupo funcional, função orgânica e isomeria versus quiralidade, por meio das atividades proposta no tabela 3, observou-se que os estudantes compreenderam as substâncias que compõem os esmaltes, a diferença entre grupo funcional e funções orgânicas, o conceito de isomeria e quiralidade, etc. Com relação a composição química dos esmaltes a maioria dos estudantes conseguiu responder que o esmalte é formado basicamente por solventes, nitrocelulose, plastificantes, resinas e corantes, porém algumas respostas estavam incompletas, e alguns estudantes também responderam que o esmalte contém álcool e acetatos. Com relação a pergunta sobre a diferença entre grupo funcional e funções orgânica a maioria dos estudantes responderam que Função orgânica é um álcool, um éster, um éter, um hidrocarboneto, um haleto, um composto carbonílico (aldeído, cetona, ácido carboxílico, ésteres), e grupo funcional é aquilo que caracteriza a função, por exemplo: o grupo funcional do álcool é a hidroxila -OH; a do hidrocarboneto alqueno a dupla ligação do aldeído, cetona, ácidos, ésteres a é a carbonila - C=O. No entanto, três estudante citaram a diferença da seguinte maneira: “Funções orgânicas são classes de substâncias orgânicas que apresentam propriedades químicas semelhantes. Grupos funcionais é um átomo ou grupo de átomos que caracterizam a substância”. Após discussão dos questionários, propor-se aos estudantes a realização de um experimento simples sobre a identificação de alguns grupos funcionais presentes no esmalte e identificaram o grupo carbonílicos. A importância das atividades experimentais é evidenciada por Guimarães (2009), o qual afirma que a experimentação é uma estratégia eficiente para a criação de problemas reais que permitam a contextualização e o estímulo de questionamentos sobre o tema. Na realização do experimento os estudantes distinguiram um aldeído de uma cetona. Segundo Soares et al (1988) os aldeídos reagem com a 2,4- dinitro-fenil-hidrazina em meio ácido para dar 2,4-dinitro-fenil-hidrazona, um produto de coloração amarela avermelhada. E finalmente, na etapa de aplicação do conhecimento, os estudantes escreveram uma resenha onde foram retomadas todas as questões problematizadas ao longo de todas as intervenções dos professores e também foram respondidas questões referentes aos conceitos abordados e diálogos referentes à relação entre os conhecimentos abordados na temática. Ainda nessa etapa os estudantes elaboram relatório individual dos experimentos realizados; os quais deram origem aos dados para que os professores realizassem sua avaliação em relação à metodologia utilizada.

Figura 1

Descrição das atividades da SD e conteúdos químicos por aula.

Figura 2

Tabela 2. Questões problematizadoras para observar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre a química dos cosméticos.

Figura 3

Questões elaboradas e contribuições dos estudantes para temática Química.

Conclusões

Com a utilização da temática dos cosméticos, mais especificamente, a química dos esmaltes de unhas foi possível estudar as funções orgânicas e grupos funcionais, através da análise do rótulo dos esmaltes e do conhecimento das estruturas de suas substâncias. Através da aula experimental foi possível identificar algumas propriedades físicas e químicas de alguns componentes do esmalte e através das reações envolvidas. Através dos questionários aplicados ao longo da sequencia didática, pôde-se observar a compreensão de grande parte dos estudantes sobre os assuntos, pois os alunos conseguem relacionar os conteúdos estudados como em que estão inseridos.

Agradecimentos

CNPq e FACEPE.

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