ENSINO HÍBRIDO: POSSIBILIDADES PARA ENSINO INTERDISCIPLINAR
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ensino de Química
Autores
Kafer, G.A. (UNIFRA/IFFAR) ; Deponti, M.A.M. (UNIFRA) ; Konflanz, T.L. (UNIFRA) ; Marques, I.L. (UNIFRA) ; Nunes, J.F. (UNIFRA)
Resumo
Este trabalho relata uma prática interdisciplinar realizada com alunos do 3º ano do Ensino Médio do Instituto Federal Farroupilha,Campus Santo Augusto, RS,realizada em Junho de 2017. Esta consistiu na criação de um espaço virtual para organizar as atividades didáticas integrando ensino presencial e a distância. Objetivando utilizar diferentes metodologias, inseridas no espaço virtual, buscou-se melhorar os processos de ensino e aprendizagem e efetivar o ensino híbrido por meio de ações integradoras e articuladas entre as disciplinas de Química, Física e Biologia.A participação, a interação e o desempenho dos alunos na realização das atividades foram fatores que contribuíram para considerar que os objetivos estabelecidos fossem atingidos, evidenciando a importância da atividade.
Palavras chaves
Espaço virtual; interdisciplinaridade; metodologias ativas
Introdução
Os processos de ensino e de aprendizagem requerem cada vez mais, a necessidade de utilizar formas diferentes de encarar a prática pedagógica e também a própria educação. Dessa forma, as metodologias e os processos de ensino e de aprendizagem precisam ser repensados. Muitas críticas são tecidas quando esses processos acontecem somente de forma tradicional, ou seja, quando o estudante é colocado numa posição passiva, isto é, um mero ouvinte e/ou receptor de informações que o professor “despeja”. Muitas dessas informações sequer são associadas a fenômenos cotidianos ou de vivências dos estudantes, desprezando assim os conhecimentos prévios que os mesmos construíram durante suas vidas, dificultando ainda mais esses processos de ensino e de aprendizagem. Uma das possibilidades para diversificar e melhorar as aulas, é a utilização de tecnologias digitais de informação e de comunicação (TDICs) como ferramentas auxiliares nos processos de ensino e de aprendizagem. Os estudantes de Ensino Médio, a maioria adolescentes, têm grande afinidade por atividades que envolvem tais tecnologias, devido à diversidade de interações oferecidas. Entende-se, assim, que a aquisição de competências científicas e tecnológicas apropriadas é necessária para lidar com os desafios das crescentes necessidades dos locais de trabalho, cada vez mais informatizados. Entende-se assim, que o ensino híbrido pode ser uma estratégia metodológica que pode facilitar os processos de ensino e de aprendizagem, uma vez que consiste num conceito de formação intermediado pelo uso das TICs combinando abordagens pedagógicas e didáticas que ocorrem na forma presencial e à distância, com o auxílio da internet. Nessa perspectiva, o Ensino Híbrido surge como uma forma de combinar ou misturar o ensino tradicional com novas formas de ensinar e de aprender. Também chamado de blended learning, ou b-learning, o Ensino Híbrido consiste num conceito de formação intermediado pelas TIC, à distância, na qual combina abordagens pedagógicas e didáticas que ocorrem na forma presencial e com o auxílio da internet. De acordo com Bacich (2016), o Ensino Híbrido pode ser entendido como um modelo que alia o ensino tradicional que ocorre, na maioria das vezes, em sala de aula, com o ensino online, que é promovido através do uso das tecnologias digitais. A hibridização possibilita que educadores e estudantes ensinem e aprendam em tempos e espaços variados. Este trabalho teve por objetivo criar um espaço virtual para organizar as atividades didáticas de forma a integrar o ensino presencial e a distância e efetivar o ensino híbrido, além de utilizar diferentes metodologias ativas, inseridas no espaço virtual, buscando melhorar os processos de ensino e de aprendizagem, de estudantes de uma turma de 3º ano do Curso Técnico de Administração Integrado ao Ensino Médio. Nesse sentido, neste trabalho, procuramos avaliar se a proposta, que teve o intuito de diversificar e de melhorar as aulas, acreditando que se pode despertar o interesse dos estudantes, facilitando a busca pelo conhecimento, possibilita melhoria do processo de ensino e aprendizagem.
Material e métodos
Esta proposta pedagógica foi desenvolvida durante o 1º semestre do ano letivo de 2017, com a turma de 3º ano do Ensino Médio Técnico Integrado – Curso de Administração nos Componentes Curriculares de Química, Biologia e Física no Instituto Federal Farroupilha – Campus de Santo Augusto, estado do Rio Grande do Sul. A referida turma tem aulas no período integral e é constituída de 21 alunos, sendo destes 15 meninas e 6 meninos, com faixa etária variando de 16 a 18 anos. Na primeira etapa apresentou-se a página criada na plataforma Moodle. No segundo momento solicitou-se aos estudantes que assistissem, à distância, a dois videos que traziam abordagens referentes aos conceitos de fontes de energia renovável e não renovável. Após assistir os videos, os estudantes deveriam participar de um fórum de discussões sobre alguns questionamentos que eram trazidos durante a exibição dos videos. Na terceira etapa foram disponibilizado aos estudantes três artigos para que fizessem a leitura. Os mesmos traziam informações sobre impactos ambientais, dificuldades, vantagens e desvantagens ao se utilizar as fontes alternativas de energia. Depois da leitura, que fizeram em casa, os estudantes foram orientados a construirem infográficos utilizando a ferramenta on line PIKTOCHART para realização desta tarefa. Em seguida, os mesmos deveriam postar os infográficos em um espaço criado na própria página do Moodle, de modo que os colegas pudessem apreciar a criação e as professoras pudessem fazer as avaliações. O quarto momento ocorreu no laboratório de informática da instituição, no qual realizou-se uma aula utilizando-se o software de simulação disponibilizado pela COPEL. Com o auxílio deste, os estudantes puderam verificar o consumo de energia dos aparelhos eletrônicos e fazer uma relação das potências e o consumo. Os estudantes fizeram a simulação, a partir dos aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos que tem em casa, dos valores da conta de energia. Na etapa seguinte, os estudantes foram desafiados a resolverem um problema apresentado pelas professoras, em forma de história em quadrinhos. A problemática consistia em encontrar uma solução para a instalação da melhor fonte alternativa de energia para uma fazenda. Para tal, os estudantes foram divididos em 4 grupos e puderam utilizar material disponibilizado na página do Moodle, além de buscar em outras fontes quando acreditavam ser necessário. A apresentação da solução foi feita em forma de história em quadrinhos e estes, postados na página do Moodle. Além disso os estudantes fizeram as “defesas das soluções” em sala de aula. Para finalizar a atividade, os estudantes alunos responderam um questionário sobre suas percepções a respeito da estratégia metodológica, para assim podermos também avaliar a proposta.
Resultado e discussão
A intenção, no presente trabalho, não é de exaltar o uso ou a introdução do
ensino híbrido na educação, de forma interdisciplinar, para a solução de
problemas de ensino e de aprendizagem das grades curriculares. Nosso
propósito é analisar as possibilidades e os desafios da utilização das
tecnologias aliadas a metodologias ativas, como resolução de problemas, nos
processos de ensino e aprendizagem.O ambiente virtual de aprendizado
implementado na plataforma Moodle, foi um espaço importante onde os
estudantes puderam discutir os conceitos e resultados relacionados à
temática abordada, que é Fontes Alternativas de Energia. Além disso, a
dinâmica de trabalho permitiu que pudessem comentar e complementar as
discussões dos colegas, uma vez que cada um ficou responsável por postar seu
ponto de vista, sua resposta. Além disso, os estudantes tiveram acesso aos
vídeos e artigos postados no ambiente, referente ao conteúdo estudado, o que
possibilitou um maior aprendizado fora da sala de aula. Analisa-se que todas
as discussões foram relevantes e estas proporcionaram momentos diferenciados
na construção do conhecimento, como pode ser observado em um recorte feito
do fórum de discussões sobre "energia limpa" e apresentado na Figura 1. O
simulador auxiliou os estudantes a terem uma visão mais crítica em relação
aos aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos utilizados em casa.
Possibilitou que os mesmos observassem a quantidade de energia gasta por
determinados aparelhos e assim criar uma consciência de economia de energia
elétrica. Quando desafiados a resolver um problema, os estudantes se
empenharam a solucionar, da melhor maneira possível o que lhes havia sido
proposto. Buscaram alternativas e bibliografias extras, permitindo assim,
entender que esse desafio fizesse com que eles se sentissem motivados para o
desenvolvimento da tarefa. As histórias criadas com auxílio do Pixton, nos
mostraram muita criatividade e também conhecimento acumulado por parte dos
estudantes, fato que pode ser observado em um recorte feito e apresentado na
Figura 2. As atividades realizadas ao longo desta prática, permitiram
verificar uma evolução dos conhecimentos dos alunos em relação aos conceitos
de fontes alternativas de energia. Observou-se uma participação ativa dos
estudantes na postagem de respostas e participação dos fóruns, demonstrando
grande satisfação no desenvolvimento de cada uma das atividades. Constatou-
se, assim, que a utilização das tecnologias de informação e de comunicação
despertou maior interesse por parte dos estudantes, pois durante essa aula,
houve menos problemas relacionados à falta de interesse. No questionário que
foi respondido ao final das atividades, foi possível observar a partir da
análise das respostas, que metodologias diferenciadas auxiliam nos processos
de ensino e aprendizagem, facilitando a compreensão dos estudantes e
possibilitando um processo contínuo na construção do conhecimento. Destaca-
se aqui algumas respostas dos estudantes frente aos questionamentos
propostos. Inicialmente foram perguntados sobre a vivência dessa
experiência, com metodologia diferenciada, aliando ensino presencial e a
distância. Para esse questionamento, todo os estudantes responderam ter
gostado e justificaram a adesão, como pode ser evidenciado em alguns
recortes feitos a partir das respostas: Estudante 1- “A metodologia foi
muito válida, porque nos proporcionou um número muito grande de experiências
com novas ferramentas de ensino, o moodle vouestudar.com, o Piktochart, o
Pixton..." Estudante 2 - “Creio que tanto para mim quanto o resto da turma
foi uma experiencia completamente nova..." Estudante 3 - “Foi algo inovador
e diferente, que ainda não tinha vivenciado ainda. Considero também que foi
eficiente todo o trabalho realizado pelas professoras e alunos, pois foi
notória a participação e interesse de todos nas atividades propostas".
Estudante 4- “Foi bem interessante, pois foi algo diferente que desenvolve a
criatividade, faz com que a gente se empenhe bastante no trabalho e com que
tivéssemos a aprender a trabalhar em outros aplicativos que podem ser uteis
futuramente e em outras matérias, e que sem estas atividades provavelmente
muitos não teriam acesso a estas ferramentas." A partir destas respostas,
corrobora-se com a afirmação de Barão (2006), que afirma que o computador
facilita a correlação dos conteúdos vistos em sala de aula com os
disponibilizados no AVA, o que possibilita a ampliação dos horizontes do
aluno, antes limitado à sala de aula, com pouco ou nenhum acesso a vídeos e
laboratórios equipados na área da química. Em relação a possíveis
dificuldades encontradas durante a realização das atividades, praticamente
todos os estudantes, 19, responderam que encontraram dificuldades por não
conhecerem ainda algumas ferramentas, o Pixton, mais especificamente, mas
que conseguiram sanar essas dúvidas e dificuldades explorando a ferramenta.
Questionados sobre impacto de melhoria no processo de aprendizagem, os
estudantes responderam com unanimidade que esse tipo de metodologia,
utilizando o ensino híbrido possibilita melhorias no processo de ensino e
aprendizagem. A partir de algumas respostas, pode-se observar essas
afirmações. Estudante 1 - "A metodologia diferente em que foi abordada
vários conteúdos, mudou o modo em que vi as aulas, pois chamou mais minha
atenção para realizar as atividades e instigou a curiosidade sobre os temas
abordados no moodle, o que fez com que houvesse maior absorção dos assuntos
abordados." Estudante 2- “Apesar de defender com todas as forças que a
melhor forma de aprendizagem é a aula convencional, esta proposta teve sim
impacto em minha aprendizagem devido a dinâmica, que nos instigava a buscar
o conhecimento.” Estudante 3- "A proposta foi inovadora e diferenciada, um
meio alternativo aos meios tradicionalmente usados, e isso se faz necessário
nas escolas atualmente, para a educação poder se tornar mais eficiente do
que está no momento.” Estudante 4- "Eu nunca havia imaginado, proporcionou
trabalhar de uma maneira criativa, de maneiras novas, utilizando métodos
inimagináveis.” Nesse sentido, Kenski (2001) entende a tecnologia como algo
a ser utilizado para a transformação do ambiente tradicional da sala de
aula, possibilitando a criação de um espaço em que os processos de ensino e
aprendizagem e, logo, a produção do conhecimento aconteça de forma criativa
e participativa, de modo que possibilite ao professor e ao estudante
aprenderem e ensinarem usando imagens, videos, softwares, diferentes formas
textuais para adquirirem os conhecimentos necessários para a sobrevivência
cotidiana em sociedade. Embora não tivéssemos enfrentado esse problema, é
sempre importante o professor verificar se todos os estudantes tem acesso à
internet fora da instituição de ensino, para não comprometer um trabalho
como este apresentado aqui, visto que a maioria das atividades foram
realizadas fora da sala de aula, fora da instituição. Dessa forma, sugere-se
fazer um prévio conhecimento da turma e verificar se todos tem acesso antes
de propor seu uso.
Fórum de discussão sobre "energias limpas".
Criação das histórias em quadrinhos.
Conclusões
Entende-se, que uma das possibilidades de melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem, é o uso adequado da tecnologia no contexto escolar, com suas contradições, possibilidades e desafios que permeiam todos esses processos.A realização e desenvolvimento das atividades aqui relatadas, possibilitou aprofundamento teórico, análise e reflexão da atuação profissional e a busca por formas diferenciadas de organização do trabalho pedagógico. Representou, também, um avanço na profissão e uma oportunidade de contribuir para a formação dos estudantes para que modificassem a sua visão sobre a interdisciplinaridade. A comparação do questionário inicial com as atividades que foram sendo desenvolvidas no decorrer da realização deste trabalho, evidenciou um potencial crescimento dos conceitos relacionados às Fontes Alternativas de Energia, evidenciando que as metodologias utilizadas proporcionaram uma aprendizagem que fosse significativa para os estudantes. Pôde-se constatar que houve uma ampliação da estrutura do conhecimento, pois verificaram-se diferenças significativas entre os questionários inicial e as discussões que foram surgindo durante o processo até a finalização das atividades. Com base nos resultados deste estudo, foi possível observar que, nas condições certas, o ensino híbrido pode ser um aliado nos processos de ensino e de aprendizagem, substituindo ou potencializando eficazmente métodos utilizados tradicionalmente. Desta forma, arrisca-se dizer que os recursos tecnológicos podem contribuir para a qualificação dos processos de ensino e de aprendizagem, pois o uso de diferentes linguagens amplia o acesso às informações e facilita a construção do conhecimento. É importante destacar também que, no nosso entendimento, o uso de computadores e similares não deve resumir-se à transmissão de informações e à interação social, mas precisam ser percebidos como facilitadores nos processos de ensino e de aprendizagem.
Agradecimentos
UNIFRA e IFFARROUPILHA, e alunos do 3º ano do Ensino Médio Técnico Integrado – Curso de Administração.
Referências
BACICH, Lilian. Ensino híbrido: relato de formação e prática docente para a personalização e o uso integrado das tecnologias digitais na educação. SIMEDUC – Simpósio Internacional de Educação e Comunicação, p. 1-13, 2016.
BARÃO, Gládis C. Ensino de Química em Ambientes Virtuais. Universidade Federal do Paraná, 2006.
KENSKI, Vani Moreira. Em direção a uma ação docente mediada pelas tecnologias digitais. In: BARRETO, R.G. (Org). Tecnologias educacionais e educação a distância: avaliando políticas e práticas. Rio de Janeiro: Quartet, p. 74-84, 2001.