DOCÊNCIA EM FOCO: CONHECENDO A REALIDADE DA PROFISSÃO DE PROFESSOR DE QUÍMICA ATRAVÉS DO DIÁLOGO COM DOCENTES ATUANTES NA EDUCAÇÃO BÁSICA
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ensino de Química
Autores
Tolosa, F.E. (UFPA) ; Barbosa, J.C. (UFPA) ; Costa, B.P.F. (UFPA) ; Ferreira, W.Q. (UFPA) ; Jesus, H.H.S. (UFPA) ; Machado, J.R.C. (UFPA) ; Duarte, A.R. (UFPA)
Resumo
Este trabalho buscou apresentar e discutir a realidade do docente de química que atua na educação básica. Para isso, realizou-se entrevistas semiestruturadas tendo como suporte um conjunto de seis perguntas predefinidas. Ao todo, foram entrevistados cinco docentes, de idades entre 30 a 45 anos, vinculados a rede pública de ensino do Estado do Pará. As respostas obtidas revelam que a maioria dos entrevistados não desejava cursar Licenciatura em Química, sendo levados por outras circunstâncias a essa escolha. Desse modo, conseguiu-se observar que alguns dos participantes da pesquisa se encantaram pela docência, enquanto outros se adequaram a tal. O trabalho contribui para a formação de um pensamento reflexivo e crítico em relação aos rumos da profissão de professor de química no Brasil.
Palavras chaves
Diálogo; Docência em química; Educação básica
Introdução
A profissão de docente em nosso país apresenta inúmeros desafios: dificuldades quanto às condições de trabalho, desvalorização salarial, jornadas de trabalho desgastantes, dentre outras, o que demonstra uma preocupação crescente por parte de autores como Maldaner (1997), Schnetzler (2000) e Machado (2004) com o processo de formação e desenvolvimento da docência de química no Brasil. Outro ponto que merece destaque, segundo Pereira (1999, p. 111) é que “as licenciaturas permanecem, desde sua origem na década de 30, sem alterações significativas em seu modelo”. Isso acaba corroborando com concepções simplistas de que ensinar é fácil, basta ter um pouco de domínio do conteúdo e saber desenvolver algumas técnicas pedagógicas que estará se dando uma aula eficiente. Sendo a relação entre ensino e aprendizagem complexa, pelas suas inúmeras particularidades, sabe-se que não é bem assim que as coisas funcionam. Nesse sentido, faz-se conveniente conhecer as “facetas” do ofício de docente, a fim de que se possa ajudar na construção da identidade profissional de um educador, nesse caso, de química. Por meio do diálogo franco entre os futuros e os já atuantes professores de química, busca-se, desse modo, demonstrar as tendências e os desafios relacionados à formação docente. Realizou-se entrevistas semiestruturadas com professores de química que atuam na educação básica, visando evidenciar as percepções e pontos de vista desses profissionais. Sendo, sem sombra de dúvidas, uma forma de oportunizar ao Licenciando uma compreensão mais clara dos aspectos práticos da carreira de Professor.
Material e métodos
A realização das cinco entrevistas com docentes de química, de 30 a 45 anos, vinculados a rede pública de ensino do Estado do Pará, que atuam na educação básica, foram parte integrante de uma atividade proposta na disciplina de Prática Pedagógica IV, do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Pará (UFPA). É importante ressaltar que essa disciplina em seu quarto momento, objetiva o entendimento do que é ser um docente de química na educação básica do Brasil. A metodologia de pesquisa, empregada neste estudo, é de caráter qualitativo, tendo como atenção especial o “significado” que os docentes atribuíam as questões focalizadas, já que esta análise considera os diferentes pontos de vista dos participantes em uma tentativa de capturar a sua “perspectiva”. Optou-se como equipamento de coleta de informações, o gravador. As questões propostas para as entrevistas semiestruturadas buscaram evidenciar as concepções dos docentes acerca de formação acadêmica, de prática profissional, de condições de trabalho e de vida, de carreira e perspectivas de futuro. Vale destacar que os pesquisadores atuaram com máxima discrição, a fim de que os docentes não se sentissem intimidados. Isso contribuiu significativamente para o desenvolvimento e aprofundamento das questões propostas.
Resultado e discussão
Os resultados obtidos revelam particularidades interessantes da docência em
química. Quando perguntados sobre porque se tornaram professores de química,
tivemos os seguintes relatos:
“Encontrei na Licenciatura uma oportunidade de conseguir estabilidade
financeira [...] fiz Licenciatura em Química para poder sobreviver. ”
(DOCENTE B).
“Levei em consideração que eu gostava, mas também, pesou o mercado de
trabalho. ” (DOCENTE W)
“Tornei-me professora de química, pelo encantamento provocado pelas aulas de
química que tive em meu Ensino Médio. ” (DOCENTE F).
Constatou-se que a maioria dos docentes não queriam ser educadores.
Salienta-se, também, que a crise na Licenciatura ocorre, devido os
professores serem submetidos a métodos de formação demasiadamente restritos
e não problematizados (MALDANER, 1997), gerando comentários como: “[...] a
gente tem que aprender muita coisa na marra mesmo. ” (DOCENTE W).
Não se observou, em sua maioria, no diálogo com os professores de química da
educação básica, a necessidade de capacitação contínua para uma melhor
compreensão da educação em química.
Quando o assunto foi condições de sobrevivência como professor, verificou-se
que a remuneração para eles é tida como razoável. Segundo a docente H, o
ganho salarial dos professores se encontra em ascensão: “Estamos vivendo
mudanças muito grandes financeiramente. Hoje nós temos 220 horas mensais na
secretaria de educação e isso para um professor de química significa 17
turmas, incluindo turnos manhã, tarde e noite em horários variados. ”
Quando perguntados se tornaram-se grandes professores destaca-se o seguinte
relato: “[...]não me considero uma grande docente, no sentido que ainda
preciso aprender muito, mas acredito que evolui bastante com o decorrer do
magistério. ” (DOCENTE, F).
Conclusões
O estudo caracteriza-se como um relevante aporte quanto a formação e realidade do educador em química, posto que, pode-se verificar nas entrevistas, a predominância do retorno financeiro rápido para a escolha do curso de Licenciatura em Química, visto como uma válvula de escape. Destaca-se que dois dos cinco docentes entrevistados expressaram o desejo de não atuarem mais na educação básica, esses almejam ser professores universitários. Por fim, considera-se importante estudos que tratem da construção da identidade docente nos cursos de Licenciatura em Química das universidades brasileiras.
Agradecimentos
Agradecemos aos docentes de química que participaram da pesquisa e aos Professores Doutores, Jorge Ricardo Coutinho Machado e Ana Rosa Duarte, pelas significativas or
Referências
MACHADO, Jorge Ricardo Coutinho. A formação de professores de química na UFPA: a história de um curso de graduação e sua evolução curricular. 2004. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará.
MALDANER, Otávio Aloisio. A formação inicial e continuada de professores de química. Ijuí: Editora Inijuí, 1997.
PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. As licenciaturas e as novas políticas educacionais para a formação docente. Educação & Sociedade, v. 20, n. 68, 109-125, 1999.
SCHNETZLER, Roseli Pacheco. O professor de ciências: problemas e tendências de sua formação. In: SCHNETZLER, Roseli; ARAGÃO, Rosália (Org.). Ensino de Ciências: fundamentos e abordagens. Piracicaba: UNIMEP, 46-63, 2000.