A pedagogia de projetos no ensino de química orgânica: Um relato de experiência sobre a Química no Cuidado da Pele.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Oliveira França, M. (IFBA)

Resumo

Este trabalho relata uma experiência com o uso da pedagogia de projetos como estratégia didática para o ensino de química orgânica numa turma de 3º ano do ensino médio. Por meio do projeto "A Química no Cuidado da Pele", buscou- se a compreensão dos conteúdos de química orgânica por meio da sua utilização no cotidiano, proporcionado a interdisciplinaridade na sua abordagem ao fazer um recorte do contexto histórico entre a química e o ramo da cosmetologia, culminando no reconhecimento os grupos orgânicos funcionais a partir da composição química dos cosméticos. Para tal, foram planejadas várias atividades, tais como, jogos lúdicos, leitura e análise de rótulos, preenchimento de estudo dirigido, leitura de textos temáticos, construção de gráfico de opinião, dentre outras.

Palavras chaves

Pedagogia de Projetos; Cosméticos; Química orgânica

Introdução

É notória a dificuldade de muitos discentes brasileiros no que diz respeito ao ensino de ciências exatas, por considerarem esses componentes curriculares complexos. Muito se diz que essa aversão se deve á forma na qual elas são ensinadas e desenvolvidas em sala de aula, não conseguindo associá-las com seu cotidiano, tornando-se desinteressados pelo tema. Por ser um instrumento de formação humana (BRASIL, 1998), a Química deve interagir com as necessidades de aprendizagem do cidadão, onde além de conhecer deve se aprender a fazer, conviver e ser (DELORS, 2000). A Pedagogia de Projetos caracteriza-se pela forma de abordagem de um tema ou assunto, permitindo uma aproximação das vivências e experiências dos alunos, fortalecendo o vínculo entre os conteúdos escolares e os conhecimentos e saberes produzidos no contexto social e cultural, assim como com problemas que dele emergem. Nesta perspectiva, o aluno aprende no processo de produzir, levantar dúvidas, pesquisar e criar relações que incentivam novas buscas e descobertas. Contextualizar a química, e ao mesmo tempo, mostrar a sua evolução e importância no cuidado com o corpo não é uma tarefa fácil, principalmente pelo caráter negativo que alguns meios de divulgação insistem em priorizar. Deste modo, este trabalho buscou, por meio do projeto “A Química no Cuidado da Pele” e as diversas atividades propostas, despertar nos discentes o desejo de aprender por meio de atividades cotidianas, deixando de lado os bloqueios voltados às práticas pedagógicas tradicionalistas e relacionando os conceitos teóricos com aulas práticas experimentais e com a prática de vida dos educandos, para que os mesmos pudessem repensar a importância do estudo da química, valorizá-la e também como relacionar suas aplicações com o cotidiano.

Material e métodos

Tendo em vista, a proposta metodológica de ensino por projetos citada por Hernandez (1998), os quais defendem o processo de ensino e aprendizagem que ocorre por meio de projetos subdivididos em, ao menos, três componentes estruturais básicos: problematização do tema, desenvolvimento e plano de avaliação, o projeto teve como púbico alvo a turma do 3º do Ensino Médio de uma escola estadual do Município de Planalto-Ba e foi realizado em cinco momentos. No primeiro momento o projeto foi apresentado à turma sendo construído um gráfico de opinião coletiva para sondagem dos conhecimentos prévios acerca da cosmetologia e a química orgânica. No segundo momento, os alunos foram conduzidos ao laboratório de informática, para realização de pesquisa com base na leitura de rótulos de cosméticos que havia sido solicitado anteriormente. Foi entregue um estudo dirigido e com base na investigação da composição química dos cosméticos, os alunos foram preenchendo-o com informações, como: composição química, fórmula molecular, nomenclatura, aplicação, estrutura e grupo funcional. Este último não foi respondido no primeiro momento, os alunos apenas agruparam os cosméticos por semelhanças estruturais e analisaram as alterações na composição quando utilizada diferentes marcas disponíveis do mercado da cosmetologia. O terceiro momento seguiu com a exposição sobre os grupos orgânicos funcionais, os alunos puderam mais uma vez utilizar o estudo dirigido para completar a qual grupo funcional fazia parte as substâncias pesquisadas nos rótulos dos cosméticos. No quarto momento, foi feita a distribuição do texto “A química do batom” para análise das funções orgânicas presentes nesta substância e foi feita a exposição sobre o batom e a polaridade das substâncias presentes em sua composição.

Resultado e discussão

Para sondar os conhecimentos prévios dos alunos como alavanca para investigação, foi realizada inicialmente uma pesquisa de opinião por meio da construção do gráfico coletivo, onde os alunos oriundos de zona rural, falaram sobre cuidados naturais, como uso da Baboza (Aloe succotrina e Aloe vera) para tratamento capilar e houve relatos de pessoas que já tiveram irritação na pele após a utilização de maquiagem. Por meio das respostas obtidas pelo gráfico, notou-se que os alunos relacionam os cosméticos com química, porém não conseguem identificar componentes químicos presentes em sua composição. Iniciado o processo investigativo, os alunos foram orientados quanto ao uso do celular, ao utilizá-lo para realização da próxima atividade. Foi solicitado que os alunos dispusessem sobre mesa, os rótulos de cosméticos solicitados na aula anterior, e após a distribuição e orientação para o preenchimento do estudo dirigido, o trabalho foi iniciado. Era perceptível a curiosidade dos alunos. A cada pesquisa que era feita quanto à composição química dos cosméticos eles debatiam entre si, vendo se havia alguma semelhança entre produtos de mesma base, mas fabricado por empresas diferentes. Os alunos inicialmente sentiram um pouco de dificuldade, pois a maioria dos rótulos estava escrito em inglês, mas depois transcorreu tudo bem, pois foram se familiarizando com os termos. Durante o preenchimento do estudo dirigido, os alunos foram orientados a não preencherem a coluna que se referia ao grupo funcional. Isso os deixou curiosos. Mas quando foi solicitada a criação de uma legenda observando os cosméticos que possuíam estruturas químicas similares, eles já argumentavam se a semelhança entre as estruturas indicava o mesmo grupo funcional.

Conclusões

O projeto “A química no cuidado da pele” despertou nos alunos o interesse pela química, bem como a sua relação com o cotidiano, evidenciando o interesse expressado na realização das atividades propostas. Ao final do processo, percebeu-se a consolidação da aprendizagem, no que tange os conteúdos conceituais e atitudinais, onde os alunos conseguiram relacionar a química com o cotidiano, principalmente com a composição dos cosméticos. Os discentes se mostraram satisfeitos com a metodologia utilizada, o que leva a concluir que a utilização da pedagogia de projetos, é uma interessante estratégia.

Agradecimentos

Agradecimento especial os Colégio Estadual de Planalto e aos discentes do 3º ano do ensino médio que se permitiram navegar nesta proposta.

Referências

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2ed. São Paulo, 2003.
HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança na educação e projetos de trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
MOURA, D. G.; BARBOSA, E. F. Trabalhando com Projetos – Planejamento e Gestão de Projetos Educacionais. Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 2006.
Parâmetros Curriculares Nacionais (ensino médio): Parte IV – Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2002.

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