Tecnologia assistiva no ensino de química: O uso do pHmetro vocalizado.
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ensino de Química
Autores
França, F.A. (UFG) ; Benite, C.R.M. (UFG) ; Oliveira, M.S.G. (UFG) ; Vargas, G.N. (UFG) ; Candido, A.C. (UFG)
Resumo
O ensino de química para deficientes visuais se depara com alguns obstáculos que atrapalham a aprendizagem dos alunos, como o fato de a química ser uma ciência experimental e necessitar da visão para a coleta de dados. Como possível neutralizador deste obstáculo, nessa investigação, utilizamos a tecnologia assistiva como ferramenta cultural para a experimentação no ensino de química com deficientes visuais utilizando um pHmetro vocalizado na identificação de substâncias acidas e básicas do cotidiano. A pesquisa contém elementos da pesquisa ação e as aulas são dadas semanalmente por professores em formação inicial e continuada e participam das aulas cerca de 15 alunos deficientes visuais. Nossos resultados indicam que as ferramentas culturais tampem devem ser pensadas para os DV.
Palavras chaves
tecnologia assistiva; deficiencia visual; Experimentação
Introdução
No ensino de Química existem entraves que dificultam a aprendizagem de alunos com deficiência visual (DV), dentre eles: aulas que exploram a visão como meio de acesso à informação, falta de acessibilidade nos laboratórios, ausência de estímulos por parte dos professores, recursos didáticos ineficazes e escassez de informações que efetivam sua passividade (BENITE et al., 2017a). Para ensinar química ao DV devemos incentivá-lo a participar de atividades que promovam a observação, a investigação e a experimentação a partir dos sentidos remanescentes para que estes adquiram a percepção global necessária ao processo de interpretação dos fenômenos, compreensão de suas significações e representação da linguagem específica (SÁ et al., 2007; BENITE et al., 2017b). Nessa investigação, propomos o uso de tecnologia assistiva como ferramenta cultural para a experimentação no ensino de química com deficientes visuais objetivando a identificação do caráter ácido e básico de substâncias do cotidiano dos alunos e seus potenciais hidrogeniônicos com o uso de um phmetro vocalizado.
Material e métodos
Pautados em elementos da pesquisa-ação (THIOLLENT, 1992), professores em formação inicial e continuada buscam a melhoria da prática docente para uma perspectiva inclusiva a partir da reflexão teórica de aulas de química realizadas por meio de experimentos transformados em atendimento à deficiência visual. Durante a realização dos experimentos pelos alunos DV surgem demandas que podem proporcionar uma participação mais efetiva desses alunos nessas atividades. Diante de tais demandas, o Núcleo de Tecnologia Assistiva do nosso Laboratório de Pesquisas transforma materiais e equipamentos visando possibilitar aos alunos DV a aquisição de informações necessárias para discussão dos conteúdos envolvidos nos experimentos e para realizarem as atividades com mais autonomia. Nessa investigação, apresentamos um pHmetro vocalizado para identificação do potencial hidrogeniônico das substâncias. Os materiais desenvolvidos pelo Núcleo são aplicados semanalmente em aulas de química de uma Instituição de Apoio, com a participação de um professor em formação continuada (PFC), três professores em formação inicial (PFI), uma professora de apoio da Instituição e doze alunos regulares (A).
Resultado e discussão
Quando procuramos na literatura propostas de métodos de identificação de
soluções ácidas e básicas, essas utilizam o referencial perceptual da visão
como meio para aquisição de informações, como: substâncias indicadoras que
fazem a distinção por meio da mudança de coloração sejam elas naturais
(extratos vegetais de repolho roxo e beterraba, por exemplo) ou sintéticas
(fenolftaleína, o azul de bromotimol ou vermelho de metila); fita universal
que identifica o caráter das substâncias pela comparação da faixa de pH com
uma tabela de cores e valores; medições por meio de equipamento específico,
como o pHmetro digital que oferece maior precisão dos resultados (LUCAS et
al., 2013; ZAPP et al., 2015). No extrato a seguir PFI1 pede a A12 medir o
pH de uma das soluções usadas no experimento.
PFI1: A12, você que está mais próximo do equipamento, coloque o sensor e
identifique o pH da sua solução, apertando o botão.
pHmetro: Dois.
PFI1: A solução é ácida ou básica?
Todos: Ácida.
PFI1: Tem cheiro de quê?
A12: De vinagre.
Buscando possibilitar a familiarização de DV com ferramentas culturais da
Química para a apropriação de conhecimentos e o desenvolvimento de
habilidades técnicas – a identificação do pH das soluções (BARBERÁ e VALDÉS
CASTRO, 1996) – o equipamento informa o pH da solução por um display,
concomitante à medida vocalizada. O equipamento é composto por um eletrodo e
uma central de comandos para medições com fontes de alimentação bivolt
Considerando as limitações dos DV em aulas experimentais o pHmetro
vocalizado, Tecnologia Assistiva para a experimentação no ensino de Química,
surge como uma ferramenta cultural que possibilita a coleta de dados do
experimento por meio de um dos sentidos remanescentes desse grupo: a
audição.
PHmetro vocalizado desenvolvido pelo grupo de tecnologia assistiva do laboratório de pesquisas em ensino de química e inclusão da UFG.
Conclusões
Nossos resultados apontam que a relação entre a ação docente e a inclusão de alunos com deficiência no contexto educacional perpassa por conhecimentos sobre as ferramentas culturais características dessa Ciência que devem ser repensadas também para o atendimento educacional especializado. Nesse estudo, o pHmetro vocalizado, tecnologia assistiva para a experimentação no ensino de química, usado na identificação dos potenciais hidrogeniônicos dos materiais permitiram transpor as barreiras impostas aos DV objetivando a aprendizagem, a participação autônoma e a possibilidade do caráter democrático nas aulas experimentais das classes comuns.
Agradecimentos
Ao CNPq
Referências
BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; BONOMO, F.A.F.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. Observação inclusiva: o uso da tecnologia assistiva na experimentação no ensino de química. Experiências em Ensino de Ciências, v.12, n.2, p.94-103, 2017a.
BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; FRANÇA, F.A.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. A experimentação no ensino de química para deficientes visuais com o uso de tecnologia assistiva: o termômetro vocalizado. Química Nova na Escola, no prelo, 2017b.
BARBERÁ, O; VALDÉS CASTRO, P. Investigación y Experiencias didácticas: el trabajo práctico em la enseñanza de las Ciencias: uma revisión. Enseñanza de las Ciencias, v.14, n.3, p.365-379, 1996.
LUCAS, M.; CHIARELLO, L.M.; SILVA, A.R.; BARCELLOS, I.O. Indicador Natural como Material Instrucional para o Ensino de Química. Experiências em Ensino de Ciências, v.8, n.1, 2013.
SÁ, E.D.; CAMPOS, I.M.; SILVA, M.B.C. Formação continuada a distância de professores para o Atendimento Educacional Especializado - Deficiência Visual. SEESP/SEED/MEC, Brasília, 2007.
THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1992.
ZAPP, E.; NARDINI, G.S.; COELHO, J.C.; SANGIOGO, F.A. Estudo de Ácidos e Bases e o Desenvolvimento de um Experimento sobre a “Força” dos Ácidos. Química Nova na Escola, v.37, n.4, p.278-284, 2015.