Estudo da bioacumulação de As, Se e Sb presentes em água produzida através da utilização de ostras Crassostrea brasiliana
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ambiental
Autores
Santana, J. (UFRN) ; Galvão, A. (UFRN) ; Costa, L. (UFRN) ; Costa, E. (UFRN) ; Medeiros, G. (UFRN) ; Silva, D. (UFRN)
Resumo
O presente trabalho objetivou a observação do comportamento das ostras Crassostrea brasiliana (LAMARCK, 1819), conhecidas por sua alta eficiência de filtração. Constatou-se que mesmo com pouco tempo de exposição, as bivalves filtraram os analitos: As, Se e Sb, sendo que no tempo ótimo de 24h foi obtida a maior remoção, após esse período ocorreu a saturação e liberação dos mesmos para o sistema. Os semimetais estudados foram determinados através da técnica analítica ICP OES e os procedimentos de preparo das amostras foram a MAWD. Os resultados obtidos nos alerta para o perigo da introdução alimentar de ostras contaminadas por esses semimetais tóxicos, uma das possíveis causas da contaminação pode ocorrer através do deságue inapropriado de água produzida no mar.
Palavras chaves
Ostras; Metais; ICP OES
Introdução
A água oceânica pode ser contaminada por metais por vias como: contribuição continental pelos rios, entrada atmosférica, fontes hidrotermais, além de descarte inaproriado de efluentes (YASSUDA, 2006). O antimônio (Sb) em ambientes aquáticos ocorre principalmente como Sb (V) como resultado do desgaste de rochas (GARCIA et al., 1995). O Sb (III) aparece devido às atividades antropogênicas. A distribuição do antimônio ocorre em diferentes concentrações na atmosfera, crosta terrestre, ar, água, solo e alimentos. A toxicidade do antimônio é função de sua solubilidade em água e estado de oxidação das espécies (ANDREAE, 1977). O arsênio é um metalóide tóxico a baixas concentrações, vastamente distribuído na crosta terrestre, ocorrendo nos solos, rochas, água e ar. O arsênio é um semimetal muito tóxico e muito nocivo à saúde humana. Em concentrações elevadas (acima de 10 μg/L), pode causar vários tipos de câncer, malformação neurológica e abortos. O arsênio pode ser liberado na natureza por meio de causas naturais, como o contato da água de rios e nascentes com rochas que apresentam elevada concentração do metal (GLAGLIANOME; BASTOS, 1988). As principais fontes de selênio são os minérios de cobre, de onde o selênio é recuperado como subproduto nos processos de refinação eletrolítica, o selênio é introduzido na cadeia alimentar naturalmente, através do consumo de alimentos e artificialmente como atividade do homem na agricultura, processos industriais, uso de cigarros e medicamentos, que também pode transportar selênio para a dieta alimentar do ser humano (MOREIRA, 1994). Em virtude dos fatos mencionados, o objetivo desse trabalho é a quantificação desses semimetais nas ostras usadas como bioindicadores, já sendo conhecida sua alta eficiência de absorção.
Material e métodos
Para as análises realizadas, foram utilizadas ostras Crassostrea brasiliana (LAMARCK, 1819) como bioindicadores, que foram adquiridas na Associação de Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte (APROOSTA/RN). As mesmas foram encaminhadas para a Central Analítica do NUPPRAR/UFRN onde procedeu a realização dos experimentos: 1 – aquário contendo 3,0 L de água produzida pura, 2 –aquário contendo 1,5 L de água produzida pura diluídos em 1,5 L de água do mar. Em ambos os sistemas foram adicionados 10 mL de padrão de 1000 mg/L de cada um dos metais estudados, resultando numa concentração final de 3,0 mg/L. Em cada experimento, 2 ostras foram adicionadas ao sistema, mantendo-o oxigenado e alimentando os organismos a cada 12 horas. Alíquotas de água dos dois sistemas foram coletadas no início do experimento, após 24 e 48 horas. Ao término do período de observação, o tecido mole do interior das ostras foi retirado, pesado e liofilizado. Seguidamente, o material seco foi macerado e submetido a digestão ácida assistida por radiação micro-ondas (MAWD), conforme o método EPA 3052. As soluções dos digeridos obtidas e as alíquotas das águas coletadas durante os experimentos A e B foram analisadas por Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP OES).
Resultado e discussão
Todos os semimetais aqui estudados demonstram comportamento linear na faixa
de 5 a 1280 µgL-1; onde As, Se e Sb tiveram o coeficiente de correlação
(R2) 0,995, indicando um fator de correlação forte, mesmo não
sendo a técnica mais utilizada para quantificação destes analitos, a ICP OES
mostrou-se eficiente e robusta, onde os desvios padrão relativos foram
inferiores a 10%, exceto para os tempos de 24 horas, onde notou-se a
saturação de filtração e após as 24h ocorreu a liberação dos analitos para o
meio. O limites de detecção foram 0,0045; 0,0025; 0,0042 mgL-1 e os limites
de quantificação foram 0,0135; 0,0075; 0,0126 mgL-1 para As, Se e Sb
respectivamente. O comportamento dos analitos em questão nos experimentos
com 100% e com 50% de água produzida possuíram comportamento similiar, algo
preocupante o que demonstra uma alta resistência desses bioindicadores em
ambientes adversos, por se tratarem de semimetais tóxicos a atenção deve ser
redobrada.
De acordo com os resultados obtidos, observou-se que as concentrações dos
semimetais estudados presentes na água diminuíram com o decorrer do tempo
inicial de 24 horas e aumentou após o período citado até o fim do
experimento, como pode ser observado na Figura 1.
A fim de comprovar essa capacidade de absorção, decorrido as 48 horas de
observações, as ostras foram submetidas para análise destes semimetais por
ICP OES e verificou-se que estas possuíam teores de As, Se e Sb maiores do
que os obtidos para as ostras que foram usadas como organismo de controle,
comprovando, desta forma, que as ostras reteram os metais que estavam
presentes nos sistemas aquáticos.
Concentração, em mg/L, de As, Se e Sb na água nos experimentos 1 e 2
Resultados do ICP OES
Conclusões
Em virtude do que foi mencionado, conclui-se que tanto o procedimento de preparo de amostras adotado, a MAWD, quanto à técnica analítica empregada, a ICP OES, para determinação de Sb, As e Se em amostras de ostras Crassostrea brasiliana (LAMARCK, 1819) e de água produzida mostraram-se eficientes, observamos o comportamento diferente, sendo que nas 24h iniciais do experimento ocorreu uma absorção dos analitos, nas horas subsequentes nota-se saturação e liberação dos mesmos, evidenciando os riscos que o descarte de água produzida da indústria do petróleo podem acarretar.
Agradecimentos
A Central Analítica do NUPPRAR e ao Laboratório de Ecotoxicologia Aquática pelos consumíveis e equipamentos disponibilizados. A CAPES e a FUNPEC pelas de bolsas de es
Referências
ANDREAE, M. O. Determination of arsenic species in natural-waters. Analytical Chemistry, v. 49, p. 820-823, 1977.
GARCIA, M. A.; et al. Sb(III) and Sb(V) separation and analytical speciation by a continuous tandem on-line separation device in connection with inductively coupled plasma atomic emission spectrometry. Fresenius Journal Analytical Chemistry,v. 353, p.128-132, 1995.
GLAGLIANOME, S., BASTOS, C. R. A. Aspectos físicos e químicos da poluição das águas. In: Recuperação da Qualidade das águas. São Paulo: CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, 17 p., 1988.
MOREIRA, M. B. Determinação de selênio em peixes do rio Madeira por voltametria de redissolução catódica.1994.120 f. Dissertação (Mestrado em Química) - Instituto de Química, Universidade de Brasília, Brasília, 1994.
YASSUDA, E. A., LAMMARDO,M., ROCHA, A.C, GABARDO,I.T., MOLLE Jr.,L., 2006. Modelagem do descarte de água produzida nas Bacias de Campos e Ceará. Palestra proferida em reunião do CONAMA, 13 de janeiro de 2006. (http:www.mma.gov/conama).