Estudo de metais tóxicos em água produzida após a utilização de ostras Crassostrea brasiliana como bioacumuladores
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ambiental
Autores
Galvão, A.G.P. (UFRN) ; Santana, J.J. (UFRN) ; Costa, L.G.A. (UFRN) ; Costa, E.C.T.A. (UFRN) ; Medeiros, G.F. (UFRN) ; Silva, D.R. (UFRN)
Resumo
As ostras são seres filtradores e comumente usados como bioacumuladores, pois armazenam diversas substâncias em seu interior como, por exemplo, metais tóxicos. Esses metais alteram as estruturas celulares e enzimas. Portanto, este trabalho tem como finalidade determinar metais tóxicos por meio de ICP OES em água produzida após a utilização de ostras Crassostrea brasiliana como bioacumuladores. A metodologia de preparo adotada foi a MAWD. Os resultados obtidos mostraram que houve uma redução na concentração dos metais estudados nas alíquotas de água produzida, sendo que para Cd e Pb a redução foi mais significativa do que para Hg e Cr. Também foi observado um acréscimo no teor desses metais nas ostras quando comparado com o organismo de controle.
Palavras chaves
Ostras; Metais tóxicos; ICP OES
Introdução
A microbiota existente na carne das ostras relaciona-se com o ambiente do qual ela tem origem. Desse modo, esses moluscos podem acarretar grandes riscos ao consumo humano, pelo fato de serem filtradores de microrganismos, razão por que são muito usados como bioindicadores (ZAMARIOLI et al., 1997). Pela sua alta eficiência de filtração, esses bivalves tem capacidade de acumular, a partir da água do mar adjacente, grande quantidade de microrganismos e, consequentemente, armazenar uma flora bacteriana excepcionalmente rica, podendo agir como portadores de microrganismos patogênicos humanos (KINNE, 1983). As intoxicações por metais tóxicos, que ocorrem mais frequentemente, são causadas por alumínio, arsênio, bário, cádmio, chumbo, mercúrio e níquel. Esses elementos alteram as estruturas celulares, as enzimas e substituem metais co-fatores de atividades enzimáticas (MARKERT, 1998). Alguns metais tóxicos como o cromo, o cobre e o zinco, encontrados na natureza em solos, ar e águas (subterrâneas, produzida), além dos alimentos, são considerados como sendo microelementos essenciais ao metabolismo dos organismos vivos. Entretanto, o excesso ou carência desses elementos pode ocasionar distúrbios no organismo, até mesmo a morte. Estes micronutrientes essenciais são introduzidos nos tecidos vivos através da água, alimentos, respiração e até mesmo pela própria pele (MINDELL, 1996). Diante deste contexto, este trabalho tem como objetivo determinar Cd, Cr, Hg e Pb utilizando a técnica de Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP OES) em água produzida, principal efluente gerado na indústria de petróleo, após a utilização de ostras Crassostrea brasiliana (LAMARCK, 1819) como bioacumuladores.
Material e métodos
Para a realização do trabalho as ostras utilizadas como bioindicadores foram adquiridas na Associação de Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte (APROOSTA/RN). Após a aquisição, as ostras Crassostrea brasiliana (LAMARCK, 1819) foram encaminhadas para a Central Analítica do NUPPRAR, localizada na UFRN, em seguida foram realizados dois experimentos: No primeiro experimento (a) foi utilizada 3,0 L de água produzida pura proveniente da Bacia Potiguar, e no segundo (b) 1,5 L de água produzida pura foi diluída em 1,5 L de água do mar oriunda da Praia de Galinhos/RN. Em ambos os experimentos foram adicionados 10 mL de cada padrão dos metais estudados a fim de obter uma concentração final de 3,0 mg/L. Em cada aquário foram adicionadas 3 ostras, mantendo o sistema oxigenado e alimentando os organismos a cada 12 horas por um período de 48 horas de observação. Alíquotas da água dos dois sistemas foram coletadas a cada 24 horas e submetidas à digestão ácida assistida por radiação micro-ondas (MAWD), conforme o método EPA 3015. Ao término do período de observação, o tecido mole do interior das ostras foi extraído, pesado e liofilizado. Em seguida, o material seco foi macerado e submetido à MAWD, seguindo o procedimento EPA 3052. As soluções obtidas tanto do material biológico da ostra quanto das águas coletadas durante os experimentos a e b foram analisadas por Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP OES).
Resultado e discussão
Padrões aquosos foram utilizados para construção da curva de calibração para
determinação de Cr, Cd, Hg e Pb por ICP OES. Os parâmetros de mérito
alcançados estão apresentados na Tabela 1.
Todas as amostras de material biológico das ostras e de água estudadas foram
preparadas e analisadas em triplicata. Desvio Padrão Relativo (DPR)
inferiores a 3% foram alcançados para as amostras aquosas e inferiores a 10%
para as amostras de material biológico das ostras tanto para os ensaios de
repetibilidade e de reprodutibilidade.
De acordo com os resultados obtidos, observou-se que as concentrações dos
metais estudados presentes na água diminuíram com o decorrer do tempo, como
pode ser observado na Figura 1.
Esse comportamento ocorreu devido às ostras serem organismos filtrantes,
realizando, desta forma, continuamente o processo de filtração da água e,
consequentemente, retendo em seus tecidos os metais presentes na solução.
Ao comparar os resultados das concentrações dos metais estudados nas ostras
que foram sujeitas ao experimento com os dados obtidos para o organismo
controle, observou-se que as concentrações dos metais eram mais elevadas,
indicando que as ostras reteram os metais em solução. Para o experimento a,
as concentrações médias encontradas para Cd, Cr, Hg e Pb foram 1,4568,
2,8673, 0,6809 e 3,1265 mg/L, respectivamente, e para o experimento b,
1,1807, 1,7729, 0,7865 e 2,4214 mg/L, já as concentrações destes metais no
organismo de controle foi de 0,9097, 0,3892, 0,5126 e 0,4696 mg/L.
PARÂMETROS DE MÉRITO PARA DETERMINAÇÃO Cr, Cd, Hg E Pb POR ICP OES
CONCENTRAÇÃO, EM mg/L, DE Cd, Cr, Hg E Pb NA ÁGUA NOS EXPERIMENTOS a E b
Conclusões
Com base no que foi discutido no trabalho, pode-se afirmar que o método de digestão úmida assistida por radiação micro-ondas foi bastante eficiente assim como a técnica analítica empregada de ICP OES. Também foi visto que a concentração dos metais analisados decrescia em função do tempo, mais acentuado para o Pb e Cd enquanto para os Hg e Cr o decaimento foi mais discreto, em ambos os experimentos realizados. Por fim, foi observado que os moluscos bivalves utilizados neste trabalho possuem alta capacidade de impregnar os metais estudados, demonstrando que o descarte de água produzida da indú
Agradecimentos
A Central Analítica do NUPPRAR e ao Laboratório de Ecotoxicologia Aquática da UFRN pelos consumíveis e equipamentos disponibilizados. A CAPES e a FUNPEC pelas de bo
Referências
MARKERT, B. Distribution and Biogeochemistry of Inorganic Chemicals in the Environment. In: SCHÜÜRMANN, G. and MARKERT, B. Ecotoxicology. John Wiley ans Sons. Inc and Spektrum Akademischer Verlag. Part 2. Chapter 6, p. 165-199. 1998.
MINDELL, E.; MUNDIS, H. Vitaminas: guia prático das propriedades e aplicações. Trad. R. J. Schneider. São Paulo: Melhoramentos. Viver com saúde. 1996.
KINNE, O. Diseases of marine animals. Vol. II. Hamburg: Biologische Anstalt Helgoland. 1038 p. 1983.
ZAMARIOLI, L. A.; PEREIRA, O. M.; FAUSTINO, J. S.; HENRIQUES, M. B.; VASQUES, R. O.; ANDRADE, T. C.; SANTOS, M. A. Estudo microbiológico do tecido mole de bivalves Crassostrea brasiliana, Perna perna e Mytella falcata recém coletados nos bancos naturais do litoral da baixada santista. Relatório Apresentado ao Grupo de Vigilância Sanitária DIR XIX, Secretaria de Estado da Saúde, São Paulo, 1997.