Quantificação da concentração do carbono orgânico total (COT) em diferentes fases hidrológicas no rio Cuiabá – MT.
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ambiental
Autores
Agostinho-abreu, C.A. (UFMT) ; Calheiros, D.F. (EMBRAPA/PANTANAL) ; Abreu, A.B.G. (UNEMAT) ; Dores, E.F.G.C. (UFMT)
Resumo
A dinâmica do carbono nos ecossistemas tem recebido considerável importância, devido à necessidade de compreender os efeitos das mudanças nos ciclos biogeoquímicos dos ecossistemas terrestres e aquáticos, no seu balanço global. O objetivo desta pesquisa foi quantificar a concentração de carbono orgânico total (COT) no rio Cuiabá – MT relacionando com o ciclo hidrológico. As amostras foram coletadas entre o período de agosto de 2012 a abril de 2015. As concentrações de COT variaram de 1,11 mg L-1 a 6,66 mg L-1, sendo os maiores valores encontrados no período de cheia. O aumento de COT no período de cheia deve-se as chuvas que carreiam os materiais alóctones ao rio Cuiabá, principalmente na planície de inundação.
Palavras chaves
água; COT; rio Cuiabá
Introdução
O Pantanal pode ser subdividido em 10 sub-regiões em termos de padrões de inundação, sendo uma delas a do Pantanal do Rio Cuiabá. A região onde se insere a bacia do rio Cuiabá é nitidamente sazonal quanto à distribuição de chuvas, com duas épocas bem definidas, a da seca e a das chuvas, portanto, a principal força responsável pela dinâmica das variáveis físicas, químicas e biológicas ao longo do ano é o regime hidrológico de cheias e secas, ou pulso de inundação (JUNK et al., 1989; FIGUEIREDO, 2009). A hidrodinâmica da planície pantaneira e os processos que ali ocorrem influenciam a dinâmica do carbono, importante fonte de energia nas suas formas orgânicas e inorgânicas. Os processos de decomposição do material orgânico recém-submerso, no período da chuva, principalmente gramíneas de fácil decomposição, são favorecidos e potencializados pelas altas temperaturas do verão. Este processo de decomposição é tão intenso, que a atividade de oxidação da matéria orgânica pelas bactérias é capaz de consumir todo o oxigênio dissolvido na coluna d’água, tornando gradativamente os ambientes hipóxicos ou anóxicos e liberando dióxido de carbono livre (CO2 Livre) (HAMILTON et al., 1997; CALHEIROS & HAMILTON 1998; CALHEIROS 2003; ANDRADE et al. 2015). Pesquisas sobre interações do carbono com os ciclos biogeoquímicos são de extrema importância para a conservação do Pantanal. Neste trabalho o objetivo foi quantificar a concentração do carbono orgânico total (COT) nas diferentes fases hidrológicas (estiagem e cheia) no rio Cuiabá – MT.
Material e métodos
Ao longo do rio Cuiabá as coletas foram feitas nos seguintes pontos: Rosário Oeste (RO – s 14°33’57,74”; w 56°19’50,12”), Passagem da Conceição (PC – s 14°33’57,74”; w 56°08’29,49”), Santo Antônio do Leverger (AS – s 15°58’55,1”; w 55°56’09,3”), Porto Cercado (CER – s 16°30’53,9”; W 56°22’36,9”). Foram coletadas amostras superficiais, em tréplica, em frascos de polietileno de 250 mL, no meio do corpo de água e próximo às duas margens, ao longo do leito do rio Cuiabá, as amostras foram preservadas com H3PO4 a pH ≤ 2,0 e posteriormente analisadas. O analisador de COT utilizado neste trabalho foi da marca AURORA modelo 1030 W Analyzer da O.I Analytical equipado com detector de infravermelho não dispersível (NDIR). A faixa de trabalho foi entre 1 e 25 mg L-1 de carbono orgânico total. Considerou-se que a fração não purgável de carbono orgânico (NPOC) é equivalente ao carbono orgânico total e que a presença de compostos orgânicos voláteis nas amostras é desprezível. Os dados obtidos foram separados por pontos de coleta e período hidrológico e depois utilizou-se o software Oringin 8.0 e aplicou o teste de normalidade de Shapiro-Wilk, e fez-se a comparação dos dados por analise de variância (ANOVA).
Resultado e discussão
Os resultados obtidos de COT nos pontos amostrais inferem a existência de um
padrão que demonstra o aumento no período de cheia, quando todos os pontos
apresentaram sua máxima concentração, e a diminuição dos mesmos no período da
estiagem. A dinâmica do COT apresenta estreita dependência com a dinâmica
hidrológica do rio Cuiabá, enfatizando assim, sua importância entre os fatores
limnológicos nos ambientes de planície de inundação (Figura 1). Os dados
obtidos foram separados por pontos de coleta e período hidrológico e depois
aplicou o teste de normalidade de Shapiro-Wilk admitindo-se α = 0,05, e
verificou-se que os conjuntos de dados de COT tem uma distribuição normal, o
que permitiu o uso da analise de variância (ANOVA). Espacialmente as
concentrações médias de COT de cada ponto de coleta não apresentaram
diferenças estatisticamente significativas na cheia com um α de 0,05 f =
0,7526 e p = 0,5320, como também na estiagem α de 0,05 f = 1,8423 e p =
0,1545. Porém, em ambos os períodos se observou uma tendência de aumento do
COT nas regiões mais baixas (Santo Antônio e Porto Cercado) do rio Cuiabá
(Figura 2). As regiões de SA e CER são áreas de planície em que no período
transitório entre cheia e seca ocorre um acúmulo de matéria orgânica nas águas
represadas no sistema de drenagem e quando se inicia um novo ciclo de cheias,
o processo de enchente promove o carreamento destas águas com elevados teores
de COT para o leito do rio Cuiabá.
Figura 1 - COT (mg L-¹) nos quatro pontos de coleta (RO, PC, SA e CE), ao longo do rio Cuiabá – MT entre agosto/2012 a abril/2015.
Figura 2 - Comparação das médias de COT (mg.L-¹) nos quatro pontos amostrados ao longo do Rio Cuiabá-MT, nas fases hidrológicas de estiagem e cheia.
Conclusões
A hidrodinâmica do rio Cuiabá influência na dinâmica do COT contribuindo com o aporte deste nutriente até a alta planície de inundação do Pantanal. O fator que está relacionado com o aumento das concentrações de COT nos trechos de alta inundação do rio Cuiabá é o carreamento das águas estagnadas com elevado teor de matéria que é acumulada na fase inicial de inundação.
Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro, a EMBRAPA/Pantanal e ao ICMBio/MT.
Referências
ANDRADE, M. H. SILVA; BRANDIMARTE, A. L; CALHEIROS, D. F; TAMBOSI, L. Caracterização limnológica de dois ambientes de área d inundação do rio Paraguai, Pantanal de Mato Grosso do Sul, com ênfase no fenômeno da ‘decoada’. Anais 5° Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.220-230, Campo Grande – MS, 2014.
CALHEIROS, D. F. Influência do pulso de inundação na composição isotópica (13C e 15 N) das fontes primárias de energia na planície de inundação do rio Paraguai (Pantanal – MS). 2003. 164 f. Tese (Doutorado em Ciências, área de concentração: Energia Nuclear na Agricultura) Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2003.
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