APROVEITAMENTO DE RASPAS DE COURO COMO MATERIAL DE REFORÇO EM TIJOLOS MACIÇOS

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ambiental

Autores

Costa Vieira Arantes, G. (PUC GOIÁS) ; Mendes Gonçalves, L. (PUC GOIÁS) ; Pereira Barbosa, D. (PUC GOIÁS) ; Carvalho Marques, F. (PUC GOIÁS E UNI-ANHANGUERA)

Resumo

No preparo do couro e de suas manufaturas são produzidos vários tipos de resíduos constituídos em grande parte de substância dérmica. Um dos maiores problemas são as raspas de couro produzidas na operação de rebaixamento, devido à enorme quantidade de resíduos gerados. A adição de raspas de couro em concreto revelou-se um material capaz de absorver grandes quantidades de água, diminuindo a exsudação e a trabalhabilidade da pasta. A adição de resíduos de couro curtido no compósito para a fabricação de tijolos maciços pode ser uma excelente alternativa de reciclagem. O objetivo deste trabalho foi estudar a influência das raspas de couro quando misturadas à argila, considerando a absorção de água e a resistência mecânica dos tijolos maciços, propriedades importantes na fabricação dos mesmos.

Palavras chaves

tijolos maciços; resíduos industriais; raspas de couro

Introdução

Os curtumes são caracterizados pela enorme quantidade de resíduos que produzem, devido ao fato de utilizarem matérias-primas não-homogêneas no que concerne à morfologia e qualidade (HOINACKI et al., p. 112, 1994). No preparo do couro e de suas manufaturas são produzidos vários tipos de resíduos constituídos em grande parte de substância dérmica, ou seja, material proteico que poderá ser utilizado na produção de outros produtos. Mais de 40 % da matéria-prima colocada no processo são descartados como resíduos no curtume, sob a forma de resíduos sólidos e com as águas residuais (ERICKSON et al., p. 57, 1997). Os resíduos sólidos podem ser agrupados em resíduos não curtidos (da pele bruta até os resíduos do descarne e da divisão) e resíduos curtidos (provenientes das operações de rebaixe). Um dos maiores problemas são as raspas de couro produzidas na operação de rebaixamento, devido à enorme quantidade de resíduos gerados (SILVA et al., p. 53, 2001). Para cada couro curtido, são produzidos 4,5 kg de resíduos sólidos, dos quais 1,0 a 2,0 kg são de raspas de couro provenientes da rebaixadeira (BIDONE et al., p. 14, 2001). A adição de raspas de couro em concreto revelou-se um material capaz de absorver grandes quantidades de água, diminuindo a exsudação e a trabalhabilidade da pasta. A adição de resíduos de couro curtido no compósito para a fabricação de tijolos maciços pode ser uma excelente alternativa de reciclagem para este resíduo industrial, gerando assim um produto “ecológica e tecnicamente correto”. O objetivo deste trabalho foi estudar a influência das raspas de couro quando misturadas à argila, levando-se em conta a absorção de água e a resistência mecânica dos tijolos maciços, propriedades importantes na fabricação dos mesmos.

Material e métodos

Os corpos de prova (tijolos maciços) foram preparados de acordo com a norma NBR 6460. Pesou-se as amostras de tijolos maciços a serem analisadas para determinação da capacidade de absorção de água. Em seguida, as amostras foram imersas em um tanque de 500 L cheio de água por um período de 24 horas. Após este período, retirou-se as amostras do tanque. Foi realizada uma nova pesagem das amostras em uma balança analítica, de forma a obter a massa úmida das mesmas. Feito isso, colocou-se as amostras em uma estufa por um período de 24 horas, até que toda a água fosse completamente evaporada. Após este intervalo de tempo, retirou-se as amostras da estufa, colocando-as em um dessecador para que esfriassem. Em seguida, pesou-se novamente as amostras em uma balança analítica para obter a sua massa seca. Após obter a massa úmida (tanque) e a massa seca (estufa) das amostras, determinou-se as absorções das mesmas. Mediu-se através de um paquímetro – aproximação de ± 1,0 mm – o comprimento, a largura e a altura dos tijolos a serem utilizados para a preparação dos corpos-de-prova. Os corpos-de-prova foram numerados e imersos em água potável durante 24 horas. Pouco antes de realizar o ensaio de resistência à compressão, retirou-se os corpos-de-prova da água e os mesmos foram enxugados superficialmente. Mediu-se as dimensões das faces de trabalho, com aproximação de ± 1,0 mm. Procedeu-se o ensaio de compressão, regulando os comandos da máquina de ensaio (prensa), de forma que a carga fosse elevada progressivamente à razão de, aproximadamente, 500 N/s. Obteve-se o limite de resistência para cada corpo-de-prova, expresso em MPa, dividindo-se a carga máxima, em N, observada durante o ensaio, pela média das áreas das duas faces de trabalho.

Resultado e discussão

A análise visual dos tijolos maciços fabricados com adição de rapas de couro demonstra que os mesmos não apresentam empenamento, possuem dureza suficiente quando queimados a uma temperatura moderada e uniformidade geral de coloração após a queima. Os tijolos maciços apresentaram, ainda, vantagens tais como a leveza e a firmeza do produto retirado das extrusoras. A partir dos valores obtidos no procedimento experimental, foram plotados gráficos de resistência à compressão e absorção de água das amostras, Figuras 1 e 2 respectivamente. Realizou-se um tratamento estatístico através da análise de variância, sendo possível constatar que a absorção de água é influenciada pelo percentual de raspas utilizado na carga dos tijolos, como era esperado, já que uma das principais características das raspas de couro é o fato das mesmas serem altamente higroscópicas. Os resultados obtidos encontram-se de acordo com a legislação, que determina que a absorção de água pelos tijolos maciços não deve ser inferior a 8,0 % e nem superior a 25,0 %. Comprovou-se também que não existe diferença entre as resistências dos tijolos fabricados com concentrações de 0,0; 4,3; 5,3 e 7,4 % de raspas de couro. Em todos os casos, as amostras estavam de acordo com a norma NBR 6460. Constatou-se, ainda, que há um aumento da resistência à compressão do concreto obtido com a adição de raspas de couro, devido ao fato deste material indisponibilizar a água para o amassamento (OLIVEIRA et al., p. 88, 2000). De acordo com a análise de variância, obteve-se um intervalo de confiança de 0,7771. Este resultado indica que a hipótese nula deve ser aceita, ou seja, que não há diferença na resistência dos tijolos fabricados.

Resistência à Compressão dos Tijolos Maciços


Absorção de Água dos Tijolos Maciços

Conclusões

A adição de raspas de couro curtido aos tijolos aumentou suas resistências à compressão, porém, constatou-se que esse aumento independe da concentração de raspas. Dessa forma, mantiveram as mesmas condições dos tijolos sem adição de raspas de couro curtido, porém com maior leveza e firmeza do produto retirado da máquina extrusora. A adição de resíduos de couro curtido no compósito para a fabricação de tijolos maciços pode ser uma excelente alternativa de reciclagem a este resíduo industrial. Há também a diminuição da quantidade de argila utilizada nas indústrias de tijolos.

Agradecimentos

Referências

P. E. OLIVEIRA; E. H. ARAÚJO e A. M. GOMES, Efeitos da Adição da Serragem de Couro Cromada (SCC) em Concreto, Ciência & Engenharia, Uberlândia, 9(1), p.88-93, 2000.
HOINACKI. E, MOREIRA. M. V e KIEFER. C. G. ,Manual básico de Processamento de Couro, Porto Alegre, Convênio: PADCT / CNPq – SENAI/RS, 1994.
F. R. A. BIDONE e S. L. S. COTRIM, Utilização de Aparas de Couro ‘WET-BLUE’ como Leito Suporte em Filtros Biológicos destinados ao Tratamento de Esgotos Domésticos, Revista Tecnicouro, Dezembro 2000/Janeiro 2001.
J. SILVA e E. V. M. VASLICH, Pirólise: Uma Alternativa na conversão de Resíduos Sólidos, SCIENTLA, V.9, n.2, p.53-67, 1998.
P. R. ERICKSON, Wet Blue shavings: the green solution, World Leather, p.57-58, novembro, 1997.