ESTUDO DA CRESCENTE DEGRADAÇÃO AO LONGO DO CURSO DE UM RIO URBANO

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ambiental

Autores

Moreira, P.R.V. (IFRJ-RJ) ; Chastinet, J. (IFRJ-RJ) ; Favrat, C.M.N. (IFRJ-RJ) ; Hermes, F.C.M. (IFRJ-RJ) ; Nogueira, S.P. (IFRJ-RJ) ; Vendramel, S.M.R. (IFRJ-RJ)

Resumo

O rio Maracanã localizado no município do Rio de Janeiro-RJ é um dos rios principais da bacia hidrográfica do canal do Mangue, contribuinte da Baía de Guanabara. Trata-se de um corpo hídrico visivelmente impactado por atividades antrópicas, em grande parte canalizado e com recebimento de esgoto “in natura”. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade das águas deste rio por parâmetros físico-químicos, e comprovar a crescente degradação do mesmo ao longo do seu curso. A partir dos resultados obtidos para os nove parâmetros ambientais investigados foi possível constatar que ao longo do Rio Maracanã a qualidade das suas águas é decrescente para praticamente todos os parâmetros avaliados, comprovando o crescente grau de poluição de um rio urbano ao longo do seu curso.

Palavras chaves

Rio urbano; Poluição; Parâmetros Ambientais

Introdução

Uma das principais fontes de poluição em cursos d’água no Brasil é o despejo de esgoto doméstico nos mesmos. Mais de 100 milhões de brasileiros não tem acesso à coleta de esgoto, e mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maiores cidades do país, despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2015). Dentre os principais problemas provocados pelo lançamento de esgoto em cursos hídricos encontram- se: o aumento da turbidez, a diminuição do oxigênio dissolvido e a possível eutrofização provocada pelo aumento da concentração de nutrientes como fósforo e nitrogênio. O consumo de oxigênio dissolvido nas águas, pelos micro-organismos que metabolizam os poluentes, constitui possivelmente o principal problema de poluição das águas em nosso país (VON SPERLING, 2005). Como consequências destas ocorrências, pode ocorrer a proliferação de insetos e mosquitos, maus odores, surgimento de microalgas e cianobactérias que liberam toxinas na água, decaimento da população de peixes, entre outros prejuízos para o próprio homem e meio ambiente, como as enfermidades que podem ocorrer quando há consumo e/ou contato humano com águas contaminadas (ANA, 2010). Sendo assim, observar a qualidade dos rios que cruzam nossas cidades é de extrema relevância. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade das águas do Rio Maracanã por 9 parâmetros físico- químicos que são indicadores ambientais e atestar a crescente degradação do mesmo através de 3 pontos de coleta ao longo do seu curso. O Rio Maracanã é um dos principais rios da Grande Tijuca, com a nascente localizada no bairro Alto da Boa Vista e a sua foz no canal do Mangue, que por sua vez desagua na Baía de Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro.

Material e métodos

Foram escolhidos 3 pontos ao longo do rio Maracanã para a realização da coleta das suas águas: o primeiro com a menor contribuição antrópica possível (PONTO1), o segundo num local intermediário (PONTO2) e o terceiro, próximo ao final do seu curso e antes de estar totalmente canalizado (PONTO3). As coletas foram realizadas em 3 dias distintos, nos meses de maio, junho e julho de 2017. As águas foram coletadas em frasco de vidro de 1L acoplado a um sistema de aço para permitir que a mesmo fosse mergulhado a 0,1 m da camada superficial do rio, e armazenadas em garrafas plásticas para o transporte até o laboratório no qual foram analisadas. Os parâmetros oxigênio dissolvido (OD) e temperatura (T) foram determinados “in situ”. O OD foi determinado pelo método de Winkler, e a T com termômetro de mercúrio. A Turbidez foi determinada em um turbidímetro nefelométrico e o pH por potenciômetro. Sólidos totais foram determinados gravimetricamente. Nitrogênio total foi determinado a partir do método Kjedahl somado a determinação de nitrito e nitrato, ambos por método espectrofotométrico. Fósforo total também foi determinado pelo método espectrofotométrico após hidrólise ácida da amostra. A demanda química de oxigênio (DQO) foi determinada pelo método espectrofotométrico de refluxo fechado. Todas as determinações foram realizadas em triplicata no laboratório no mesmo dia da coleta. As amostras para a determinação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO) também foram manipuladas no mesmo dia da coleta e utilizou-se o método de incubação padrão com água de diluição em frascos de DBO, incubados por 5 dias, baseado no protocolo da NBR 12614 (ABNT, 1992). Todos os demais parâmetros físico-químicos foram determinados segundo os procedimentos do “Standard Methods” (APHA, 2005).

Resultado e discussão

A Figura 1 apresenta os pontos de coleta ao longo do curso do rio Maracanã na cidade do Rio de Janeiro. A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos para os nove parâmetros físico-químicos avaliados nas águas do Rio Maracanã em três pontos de coleta. A partir dos resultados da Tabela 1 é possível observar que, com exceção dos valores de OD, os resultados são crescentes do PONTO1 ao PONTO3, mesma direção do curso do rio a partir da sua nascente. O comportamento do OD foi inverso aos demais, pois a poluição interfere de forma negativa neste parâmetro, ou seja, quanto menor o valor de saturação do OD na água, maior é o consumo do oxigênio presente pelos micro-organismos que promovem a biodegradação de poluentes e, consequentemente, mais impactado está o curso d’água. Para compreender o comprometimento da qualidade das águas do rio Maracanã fez-se uma comparação dos resultados com a CONAMA 357 (2005) para a classificação das águas doces superficiais, que vão de Classe 1, para os fins mais nobres e melhor qualidade até a Classe 4 para fins paisagísticos e de transporte e, portanto bem menos restritiva. Constatou-se que a qualidade da água no PONTO1, enquadra-se na Classe 1 da Resolução, com exceção para o parâmetro fósforo total (Pt). Neste parâmetro o PONTO1 se enquadraria apenas na Classe 4. O PONTO 2 já não se enquadra a nenhuma das 3 primeiras Classes, por conta de apresentar valores mais altos do que os preconizados para Pt, Nt (Nitrogênio total) e DBO. Este ponto se enquadraria na Classe 4. Contudo, o PONTO 3 não se classificaria sequer como Classe 4, pois não atinge o valor mínimo de OD. Assim, constata-se o crescente estado de poluição no curso do Rio Maracanã desde próximo da nascente até a sua foz.

Figura 1

Pontos de coleta ao longo do curso do rio Maracanã na cidade do Rio de Janeiro.

Tabela 1

Apresenta os resultados obtidos para todos os nove parâmetros físico-químicos avaliados nas águas do Rio Maracanã.

Conclusões

A análise das águas do Rio Maracanã permitiu verificar o crescente grau de deterioração da qualidade ao longo do seu curso, visto que desde o PONTO1 já existe contaminação considerável, acima do aceitável pela CONAMA 357 para fósforo total e que chegando ao PONTO3 o rio não se enquadraria nem mesmo na Classe 4. Nestas condições constata-se a crescente degradação ao logo do Rio Maracanã. Além de suas águas não poderem ser destinadas a qualquer tipo de uso nas proximidades de sua foz, ainda contribuem para aumentar o grau de poluição no Canal do Mangue e, consequentemente, na Baía de Guanabara.

Agradecimentos

Ao IFRJ pela infraestrutura e ao CNPQ pelo auxílio financeiro.

Referências

ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS) - ABNT NBR 12614. Águas - Determinação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO) - Método de incubação (20°C, cinco dias), 1992.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA, 2010). Publicação: Panorama da Qualidade das Águas Superficiais no Brasil. Disponível em: http://portalpnqa.ana.gov.br/Publicacao/PANORAMA_DA_QUALIDADE_DAS_AGUAS.pdf. Acesso em: 22 abr. 2017.

APHA; AWWA; WEF. Standard Methods for Examinatiom of Water and Wastewater. 21ª ed. American Public Health Association, Washington, D. C, 2005.

INSTITUTO TRATA BRASIL, Situação Saneamento no Brasil, Estudo Trata Brasil “Ociosidade das Redes de Esgoto – 2015”, 2015. Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br/saneamento-no-brasil Acesso em: 30 mai. 2017.

Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005 - Dispõe sobre a classificação das condições e padrões de lançamento de efluentes. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente.

VON SPERLING, Marcos. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3ª edição. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental; Universidade Federal de Minas Gerais; 2005.

Patrocinadores

Capes CNPQ Renner CRQ-V CFQ FAPERGS ADDITIVA SINDIQUIM LF EDITORIAL PERKIN ELMER PRÓ-ANÁLISE AGILENT NETZSCH FLORYBAL PROAMB WATERS UFRGS

Apoio

UNISC ULBRA UPF Instituto Federal Sul Rio Grandense Universidade FEEVALE PUC Universidade Federal de Pelotas UFPEL UFRGS SENAI TANAC FELLINI TURISMO Convention Visitors Bureau

Realização

ABQ ABQ Regional Rio Grande do Sul