BIODEGRADAÇÃO DO TEBUCONAZOL NO SOLO DURANTE O CULTIVO DE MORANGO COM O USO DE LODO DE ESGOTO
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Ambiental
Autores
Bohm, G. (IFSUL) ; Arsand, D. (IFSUL) ; Lanius, S. (IFSUL) ; Caldas, S. (FURG) ; Primel, E.G. (FURG)
Resumo
O cultivo de morango é caracterizado pelo uso indiscriminado de agrotóxicos. Técnicas que minimizem as concentrações residuais nos produtos e no meio são desejadas. Assim, este trabalho visa avaliar a destinação de lodo no cultivo de morango e seu potencial para degradação do fungicida tebuconazol (TEB) no solo e sua concentração residual no fruto. O experimento foi feito usando um planejamento experimental do tipo CCD. A detecção de resíduos foi feita por cromatografia líquida acoplada a espectrometro de massas. Os resultados mostram que maiores dosagens de TEB resultaram em maiores concentrações residuais no solo, porém não afetaram os teores residuais no fruto. A adição de lodo biológico ao solo durante o cultivo de morango não afetou os teores residuais de TEB no solo.
Palavras chaves
Fungicida; Resíduos; Biodegradação
Introdução
O Brasil é um dos maiores produtores de morango da América do Sul (ANTUNES e PERES, 2012). Grande parte dos defensivos agrícolas usados na cultura do morango possuem alta hidrofobicidade e baixa reatividade no meio ambiente, que são as características responsáveis pela tendência em se acumularem ou bioconcentrarem nos tecidos dos organismos vivos (OSHITA e JARDIM, 2012). O fungicida tebuconazol (TEB) é amplamente utilizado na cultura do morango, com ação preventiva e curativa da Mancha-foliar ([Mycosphaerella fragariaei]). É um fungicida sistêmico do grupo dos triazóis (MAPA, 2017) e encontrado em concentrações residuais em alimentos tratados com esta substância, sendo um produto altamente persistente no meio ambiente. Uma alternativa para acelerar o processo natural de biodegradação de poluentes orgânicos é a utilização de microorganismos. A aplicação de lodo de esgoto tratado na agricultura tem mostrado elevado potencial, não só pelo suprimento de nutrientes, mas também, pela elevada atividade microbiana e potencial de biodegradação de compostos orgânicos (BOHM et al, 2016). Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a destinação de lodo biológico no cultivo de morango, seu potencial de degradação do fungicida tebuconazol (TEB) no solo, sua influência nas concentrações residuais e sua atividade microbiana no solo. Partindo da hipótese que o lodo de esgoto doméstico, por conter grande número de microrganismos em sua constituição, tem potencial para acelerar a biodegradação do fungicida TEB em solos agrícolas.
Material e métodos
Utilizou-se planejamento fatorial com análise por superfície de resposta através do Delineamento Composto Central (CCD). A matriz resultante apresentou 10 tratamentos distribuídos aleatoriamente, sendo: fatoriais (combinações dos níveis +1 e -1), centrais (nível 0) e pontos axiais (+1,41 e -1,41). A análise estatística, bem como o planejamento experimental, foram feitos com auxílio do software Statistica 10.0. Os experimentos foram realizados em casa de vegetação situada em 31°46'00.8 "S52°21'12.6"W, no período de julho de 2016 à janeiro de 2017, totalizando 173 dias. As mudas de morango foram plantadas em vasos com capacidade de 1,8 L, com aplicações de lodo de esgoto tratado de 0, 24, 80 e 136 mg. kg[-1]. O TEB foi aplicado aos 61, 75 e 94 dias, de acordo com as instruções de uso. As amostras de solo (0-15cm de profundidade) e as amostras de morango foram coletadas 100 dias após o plantio e armazenados no escuro a 4±1 °C até os procedimentos analíticos. A extração de TEB do morango e do solo foi realizada de acordo com o proposto por ANASTASSIADES et al. (2003) e ARIAS et al. (2014). Exatidão e precisão foram avaliadas: as amostras foram realizadas em dois níveis de concentração de TEB (0,005 e 0,01 mg kg[-1]). Obtiveram-se recuperações entre 82 e102% com RSD inferior a 13%. A concentração residual de TEB foi determinada por meio de cromatografia líquida acoplada a espectrometro de massas (LC-MS/MS) realizada no equipamento Waters Alliance 2695 (Waters, Milford, EUA), equipado com um amostrador automático, degaseificador e bomba quaternária no modo MRM. As análises foram realizadas Segundo Caldas et al (2010). O limite de quantificação (LOQ) de amostras de resíduo no morango e no solo foi de 0,001 mg kg-1 (r > 0,99).
Resultado e discussão
Para o solo, as concentrações residuais de TEB variaram de 1 a 67,5 µg kg[-1]. A análise de variância
(ANOVA) destes resultados mostram que a aplicação de TEB no cultivo de morangos influencia
significativamente a concentração residual deste fungicida no solo (p 0,000037). Apesar de mostrar
influência, a quantidade aplicada de lodo, nas quantidades avaliadas, não apresentaram resultados
estatisticamente significativos nas concentrações residuais de TEB no solo. A superfície de resposta
resultante está apresentada na Figura 01. Outros autores como GARLAND et al. (1999) estudaram a
dissipação de TEB em outras culturas usando três aplicações do fungicida de 125 e 250 g ha[-1] e
resultaram na detecção de resíduos a 0,26 e 0,80 mg Kg[-1] no solo após 64 dias da última
aplicação esses teores foram bem superiores aos encontrados nesse estudo. As concentrações residuais de
TEB nos frutos variaram de 1 a 7,5 µg kg[-1]. Essas concentrações residuais encontram-se abaixo do
limite 100 µg Kg[-1] TEB considerado tóxico para o ser humano (AGROFIT, 2016). Através de ANOVA,
as concentrações residuais de TEB nos morangos mostraram não sofrerem influências estatisticamente
significativas de ambos. Na Figura 02 observa-se uma interação negativa do lodo nestas concentrações.
Ainda, o processo de degradação de pesticidas em plantas pode estar relacionado a enzimas metabólicas,
aos quais ainda são pouco conhecidos (ZHUANG et al., 2011).
Concentração residual de TEB no solo em função da dosagem do fungicida e do lodo biológico aplicados no cultivo de morangos.
Concentração residual de TEB no fruto em função da dosagem do fungicida e do lodo biológico aplicados no cultivo de morangos.
Conclusões
Maiores dosagens de TEB aplicadas ao cultivo de morango resultaram em maiores concentrações residuais desse fungicida no solo, porém não afetaram os teores residuais no fruto. O lodo biológico testado nesse estudo pode ser destinado ao cultivo de morangos sem consequências negativas em termos de concentração residual de TEB.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), a Universidade Federal de Rio Grande (FURG) pelo suporte financeiro e infra-estrutura e a FAPERGS pela bolsa de IC.
Referências
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