Determinação de açúcares redutores em diferentes extratos de Hovenia dulcis por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Química Analítica
Autores
Radtke, J.F. (UNISC) ; Rubert, A. (UNISC) ; Schneider, R.C.S. (UNISC) ; Hillebrand, S. (UNISC)
Resumo
A uva-do-Japão é uma planta bem adaptada ao clima da região sul do Brasil, mas pouco explorada. Neste sentido este trabalho teve como objetivo identificar e quantificar os açúcares redutores em amostras de uva-do-Japão em diferentes preparações do fruto (in natura, farinha e xarope), empregando a técnica de cromatografia líquida de alta eficiência. A fruta contém elevada quantidade de açúcares redutores, glicose e frutose, respectivamente: in natura apresentou um total de 19,39±0,058 g 100 g-1, a farinha representou um total de 64,42±0,37 g 100 g-1 e o xarope apresentou valores de 78,33±0,14 g 100 g-1. Os elevados teores de açúcares redutores encontrados na uva-do-Japão indicam potencial para melhor aproveitamento na indústria de alimento.
Palavras chaves
Hovenia dulcis; CLAE/DIR; açúcares redutores
Introdução
Hovenia dulcis é uma árvore pertencente à família Rhamnaceae e popularmente conhecida como “uva-do-Japão”, sendo amplamente distribuída em toda a região sul do Brasil (CARVALHO, 1994; MAIEVES, 2015). É uma planta exótica e considerada invasora, podendo atingir até 15 metros de altura (ZENNI e ZILLER, 2011). Por apresentar tolerância a geadas e multiplicidade de usos, esta espécie tornou-se importante para a região Sul, sendo recomendada para arborização de culturas, pastagens, cercas vivas, uso como madeira e lenha para produção de energia (CARVALHO, 1994). Além disso, nas áreas de cultivo intencional ou espontâneo, observa-se forte visitação das flores por abelhas além da doçura intensa dos frutos maduros, fatos que indicam boas possibilidades de exploração do potencial econômico dos frutos da H. dulcis. Além do consumo direto da fruta, há relatos de estudos sobre processamento da fruta para alimentação humana na forma de farinha ou xarope (BAMPI et al 2010) e encontra-se em estudo o potencial de uso industrial alimentício de extratos de polissacarídeos como a pectina e de açúcares simples (dados não publicados). Considerando-se o possível uso industrial, realizou-se a caracterização da composição em açúcares redutores de três extratos obtidos de etapas de processamento experimental dos frutos.
Material e métodos
Foram preparadas três diferentes extratos a partir do fruto da uva-do-Japão. O primeiro extrato (Ext. I) foi obtido do fruto in natura processado em um triturador tipo cutter. Um segundo extrato (Ext. II) foi obtido na forma de farinha a partir de frutos desidratados até peso constante, a 70 °C, em estufa com circulação forçada de ar. Os frutos foram posteriormente processados em moinho de facas equipado com peneira de 80 mesh. Um terceiro extrato (Ext. III) foi obtido por infusão em água quente, de frutos frescos triturados. Ao extrato obtido após 60 minutos a 70 ºC, adicionou-se igual volume de etanol 96 °GL para precipitação da pectina. O líquido foi filtrado para remoção dos sólidos e evaporado até a formação de um xarope com concentração de 79 °Brix. Para a análise cromatográfica, os extratos I e II foram preparados em água contendo 10 mg/mL de material sólido, e submetidos a aquecimento a 40ºC por 60 minutos. O extrato III foi solubilizado em água também a 10 mg/mL. As três soluções-suspensões foram centrifugadas e o sobrenadante foi filtrado para posterior análise por CLAE. Para a identificação dos açúcares redutores foi utilizado CLAE da Shimadzu, com detector de índice de refração (DIR), sendo que para a separação foi utilizada a coluna RHM, monosaccharide H+, 300 x 7,8 mm, com temperatura de forno de 80 ºC, onde a fase móvel foi composta por água ultrapura (Milli-Q), com 0,8 mL/min e injeção de 20 µL. Para fins de quantificação foram construídas curvas analíticas com padronização externa de frutose e glicose, onde 5 pontos foram utilizados, variando de 5 mg/mL a 10 mg/mL. O trabalho foi realizado nos laboratórios de pesquisa e ensino, nas dependências da Universidade de Santa Cruz do Sul.
Resultado e discussão
As condições de análise cromatográfica permitiram uma boa separação dos
analitos, conforme apresentado na Figura 1, e a obtenção de curvas
analíticas com boa linearidade (coeficiente de correlação mínimo de 0,99)
nas faixas de concentração estudadas. Os resultados obtidos para cada
extrato são apresentados na Tabela 1. Para a fruta in natura, Ext. I,
os teores determinados de açúcares redutores foram de 9,27 g 100
g-1 de glicose e 10,12 g 100 g-1 de frutose,
correspondendo a 19,39 g 100 g-1 de açúcares redutores totais.
Estudos realizados por Bampi et al (2010) demonstram valores de
12,57g 100 g-1 para a base úmida de açúcares totais, já Almeida e
Valsechi (1966) encontraram valores 14,27g 100 g-1. A farinha do
fruto, Ext. II, apresentou um total de 64,42 57 g 100 g-1 de
açúcares redutores, sendo 29,40 g 100 g-1 de glicose e 35,02 g
100 g-1 de frutose. Bampi et al (2010) relataram 32,34 g
100 g-1 de açúcares redutores, Almeida e Valsechi (1966)
apresentam valores 36,46 g 100 g-1. O xarope, Ext. III,
apresentou teores de açúcares redutores de 78,33 g 100 g-1 sendo
38,93 g 100 g-1 de glicose e 39,4 g 100 g-1 referente
à frutose. O valor de açúcares redutores encontrados foi maior do que o
encontrado em alimentos convencionais como o mel (71,6 g 100
g-1), citado por Azeredo M. A. et al.
Teor de açúcares redutores em cada extrato
Cromatograma dos açúcares redutores
Conclusões
A composição de açúcares redutores observada nos três extratos indica teor aproximado de 50% em frutose. Na indústria de alimentos emprega-se muito o xarope de glicose obtido pela hidrólise do amido de milho. O uso de grandes quantidades deste xarope tem sido criticado por aumentar o índice glicêmico dos alimentos que o contém. Neste sentido, uma possível substituição por um xarope que contenha 50% de frutose, coloca a H. dulcis como potencial fonte de matéria-prima para uso em formulações na indústria alimentícia.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Tecnounisc - Parque Cientifico e ao Departamento de Química e Física da Universidade de Santa Cruz do Sul.
Referências
ALMEIDA, J.R. de; VALSECHI, O. Guia de composição de frutas. Piracicaba: Instituto Zimotécnico, Boletim técnico p.250,1966.
AZEREDO M.A., AZEREDO L.C., DAMASCENO J.G. Características físico-químicas dos méis do município de São Fidelis-RJ. Setor de Química Analítica - Departamento de Química - Instituto de Ciências Exatas - UFRRJ - Seropédica - RJ. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/veiculos_de_comunicacao/CTA/VOL19N1/CTA19N1_1.PDF>. Acesso em: 19 de junho, 2017.
BAMPI M. et al. Composição centesimal do fruto, extrato concentrado e da farinha da uva-do-japão. Ciência Rural, n.11, v. 40 Santa Maria, 2010.
CARVALHO P.E.R.. Ecologia, silvicultura e usos da Uva-do-Japão (Hovenia dulcis Thunberg). Circular Técnica Embrapa-CNPF n.23, p.24., Colombo, 1994.
MAIEVES H. A. et al. Uva-do-japão (Hovenia dulcis) – Valor nutricional e aceitabilidade. Comunicado técnico Embrapa, Colombo PR, 2015.
ZENNI R.D. e ZILLER S.R. An overview of invasive plants in Brazil. Rev. bras. Bot. n.3 v.34 p.431-446, 2011.