ESTUDO COMPARATIVO: DEGRADAÇÃO TÉRMICA DA LEVOTIROXINA SÓDICA®
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Química Analítica
Autores
Gonçalves, M.F. (FUNDAÇÃO TÉCNICO EDUCACIONAL SOUZA MARQUES) ; Oliveira, A.L.C. (FUNDAÇÃO TÉCNICO EDUCACIONAL SOUZA MARQUES)
Resumo
Este trabalho apresenta um estudo comparativo da degradação térmica do medicamento levotiroxina sódica®, entre diferentes fabricantes e a respeito de um medicamento de referência e o seu similar genérico. As amostras foram submetidas à análise de termogravimetria (TG) e termogravimetria derivativa (DTG), a fim de comparar e qualificar este medicamento através de suas propriedades de degradação térmica. O objetivo final desta pesquisa é o de contribuir, para o melhor entendimento da formulação de medicamentos genéricos e da substituição entre fabricantes. Foi observado, pelas análises de TG e DTG, que as diferenças de formulação se concentram mais em relação ao fabricante do que em relação à substituição do fármaco de referência pelo seu genérico.
Palavras chaves
levotiroxina sódica; termogravimetria; degradação térmica
Introdução
Fármacos são desenvolvidos em uma combinação de processos complexos que na maioria dos casos envolvem longos períodos de pesquisa e alto custo (NASCIUTTI, 2012). Um dos distúrbios de saúde que tem atingido a sociedade brasileira é o hipotireoideismo, caracterizado pela presença de níveis elevados do hormônio estimulador da tireoide (TSH), essa alteração hormonal atinge principalmente a parte feminina da população (SGARBI et al, 2013). A levotiroxina sódica é a versão sintética do principal hormônio produzido pela glândula tireoide, a tiroxina, utilizada para o tratamento do hipotireoidismo, que é a doença provocada pela deficiente produção do hormônio T4 (PINHEIRO, 2017). Uma versão sintética do hormônio T4, a levotiroxina, ativa o metabolismo de quase todas as células do corpo, estimulando essas células a consumirem carboidratos, gorduras e proteínas para produzir energia. Caso a tireóide não produza hormônio suficiente, a levotiroxina acelera o metabolismo para níveis normais (PINHEIRO, 2017). Devido à elevação acelerada de custos com a saúde no Brasil e em outros países, se desenvolveu como medida alternativa a produção de medicamentos denominados genéricos a fim de reduzir os gastos com saúde pública. Esses medicamentos possuem fórmulas farmacêuticas similares aos denominados de marca ou referência (WARD, 2011). De acordo com a ANVISA, o medicamento genérico deve conter os mesmos princípios ativos, na mesma dose, administrado pela mesma via, com mesma posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência. Em geral o fármaco deve apresentar eficácia e segurança ao paciente, por isso a importância de qualificar a composição de medicamentos, em especial a levotiroxina sódica, devido ao seu crescente uso e a possível substituição entre fabricantes e genérico.
Material e métodos
Foram adquiridas em farmácias da Cidade do Rio de Janeiro, amostras de comprimidos de levotiroxina sódica, 50 mcg, de quatro fabricantes distintos (LV1, LV2, LV3 e LV4), e uma amostra de comprimidos de levotiroxina sódica genérico (LV1G) à uma das amostras citadas anteriormente, dentro do prazo de validade estipulado pelo fabricante. Os comprimidos foram mantidos em suas embalagens originais até o momento de realização das análises, sendo armazenado em local seco, protegido na luz e à temperatura ambiente. Foram realizadas, as análises de termogravimetria (TG) para as amostras de levotiroxina sódica, sob atmosfera inerte (N2), com fluxo de 25 mL min-¹, de 30°C a 500°C e a uma velocidade de aquecimento de 10°C min-¹, utilizando TG Q500 V6. 7 Build 203. Da primeira derivada da curva obtida da análise termogravimétrica obteve-se o gráfico da termogravimetria derivativa (DTG). Os gráficos foram gerados utilizando o programa Origin 8.0. Assim, os resultados foram comparados entre as amostras por fabricante e entre uma amostra de referência e seu genérico.
Resultado e discussão
- Análise de degradação térmica da levotiroxina sódica: fabricantes
distintos: Das curvas de TG foi observada perda de massa de 35°-160°C, que pode ser atribuída à perda de água por amostra. De acordo com O'Neil (2013)
a temperatura de degradação da levotiroxina sódica padrão compreende a faixa
entre 235,5°-236,0°C. Assim, pela análise da DTG (Figura 1), os picos que
aparecem nas regiões R2 e R3 podem estar relacionados à composição da
levotiroxina sódica, a variação pode se dar devido a interações do princípio
ativo com demais excipientes da formulação. Na região decomposição R4 pode
estar associada e decomposição de demais excipientes. Observa-se para LV2, a
amostra que possui adição de corante, que o pico na região R3 tem um
deslocamento razoável quando compara as amostras LV1 e LV4, também foi
observado que as amostras LV1 e LV4 pouco diferem entre si. Sendo assim, a
amostra LV3 foi a que apresentou formulação e comportamento de degradação
mais diferenciado quando comparado às demais amostras. - Análise de
degradação térmica da levotiroxina sódica: levotiroxina sódica® e seu
análogo genérico: Em geral, o medicamento começa com uma temperatura estável
e depois, há perda de massa até uma temperatura final. Nas curvas de TG para
as amostras de levotiroxina sódica LV1® e seu análogo genérico LV1G, foi
observado comportamento similar, ocorre um declive entre 25°C a 130°C,
atribuído à perda de água nas amostras. Pela curva de DTG (Figura 2) é
observado que os picos de degradação da LV1® e LV1G são parecidos onde R1 é
atribuído a possível perda de água, R2 e R3 a degradação da levotiroxina
sódica (princípio ativo), porém R3 também pode estar associada aos demais
excipientes da fórmula.
Curva de termogravimetria derivativa (DTG) para as amostras de levotiroxina sódica: LV1® à LV4®.
Curva de termogravimetria derivativa (DTG) para as amostras de levotiroxina sódica LV1® e seu análogo genérico LV1G.
Conclusões
Foram observadas diferenças na composição dos medicamentos por fabricante, podendo causar divergências no modo de atuação. Deve-se ficar atento à troca do fármaco entre “marcas”, sendo possível encontrar em algumas bulas dos medicamentos, que a troca por fabricante deve ser acompanhada através de exames. Entre o medicamento de referência e seu genérico, de acordo com as análises, mostra que o fabricante atende as exigências de equivalência farmacêutica. A exigência de atuação do fármaco deve se dar principalmente em relação à substituição por “marca” e pouco à substituição pelo genérico.
Agradecimentos
Os autores agradem à Faculdade Técnico-Educacional Souza Marques e ao Laboratório de Apoio Instrumental do Instituto de Macromoléculas (IMA/UFRJ).
Referências
ANVISA. Guia de controle de qualidade de produtos cosméticos; Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2ª Ed, revista. Brasília, 2008. NASCIUTTI, P. N. Desenvolvimento de novos fármacos. Seminários aplicados: Universidade Federal de Goiás, 2012. O'NEIL, M. J. The Merck Index - An Encyclopedia of Chemicals, Drugs, and Biologicals. Cambridge, UK: Royal Society of Chemistry, p. 1743, 2013. PINHEIRO, P. Levotiroxina (PURAN T4) – Indicações, doses e efeitos colaterais; 2017. Disponível em: <http://www.mdsaude.com/2014/09/levotiroxina-puran-t4.html>. Acesso: 05 abr. 2017. SGARBI, J. A.; TEIXEIRA, P. F. S.; MACIEL, L. M. Z.; MAZETO, G. M. F. S.; VAISMAN, M.; J. MONTENEGRO, R. M.; WARD, L. S.; Consenso brasileiro para a abordagem clínica e tratamento do hipotireoidismo subclínico em adultos: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Arq Bras Endocrinol Metab. v.57/3, p. 167-183, 2013. WARD, L, S.; Levotiroxina e o problema da permutação de drogas de estreito intervalo terapêutico. Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM); Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/ Unicamp), Campinas, SP, Brasil. 2011.