EXTRAÇÃO ASSISTIDA POR ULTRASSOM E CARACTERIZAÇÃO DO ÓLEO DE SEMENTE DE BACABA (Oenocarpus bacaba Mart.)

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Química Analítica

Autores

Valladao, D.M.S. (UFMT- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Torres, M.P.R. (UFMT- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Raiser, A.L. (UFMT- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Esprendor, R.V.F. (UFMT- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Ribeiro, E.B. (UFMT- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Andrighetti, C.R. (UFMT- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Vasconcelos, L.G. (UFMT- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO)

Resumo

A bacaba (Oenocarpus bacaba Mart.) é um fruto rico em ácidos graxos. O objetivo deste estudo foi obter e verificar a qualidade do óleo extraído partir da semente da bacaba por ultrassom, uma vez que as mesmas são descartadas. Foram avaliados os parâmetros umidade, cinzas, índice de refração, acidez, peróxido, iodo e saponificação, que apresentaram boa qualidade. O perfil de ácidos graxos mostrou a predominância dos ácidos oleico e palmítico e estabilidade térmica até a temperatura de 300°C. Ainda, o óleo apresentou compostos bioativos verificados pela quantidade de fenóis e potencial atividade antioxidante. O método proposto para obtenção de óleo a partir da semente do fruto utilizando extração assistida por ultrassom mostrou-se simples, rápido e de baixo custo.

Palavras chaves

ÓLEO BACABA; Oenocarpus bacaba Mart; EXTRAÇÃO POR ULTRASSOM

Introdução

A bacaba (Oenocarpus bacabaMart.) é uma palmeira nativa da região amazônica, pertencente à família Arecaceae cujos frutos apresentam formato elíptico globoso e de coloração roxa (SILVA, 2006; FINCO et al., 2012). É um fruto pouco conhecido no mercado apresentando peculiaridades sensoriais e nutricionais, além de grande potencial funcional. Os frutos são consumidos como polpa ou “vinho”, sendo empregados como matéria-prima na produção de sorvetes, picolés, geleias e licores. Do endocarpo dos frutos, extrai-se um óleo com características semelhantes às do azeite de oliva (BALICK, 1986). As folhas e caules são usados na produção de fibras e telhados ou para fins medicinais enquanto suas inflorescências são utilizadas na confecção de vassouras e artesanatos (CAVALCANTE, 1991; VIEIRA, 1991; DOMINGUES, 2014). Na medicina popular, o xarope de bacaba é indicado para tratar a tosse (MENDONÇA e ARAUJO, 1999). Assim, observa-se que a importância desta palmeira em diversas áreas, destacando-se o interesse na área alimentícia, farmacêutica e cosmética. Para extração de óleos de frutos, os métodos tradicionais envolvem a prensagem, a extração com solvente (Soxhlet) ou a combinação de ambos (ROBBERRS et al., 1997; SANTOS et al.,2013).A extração com ultrassom não é comumente usada para extração de óleos vegetais embora apresente vantagens como a simplicidade do equipamento, a economia de reagentes, a possibilidade de usar diferentes solventes para a extração, bem como a diminuição do tempo necessário para realizá-las (THOE et al.,1998; BENEDITO et al.,2002; PERRIER et al. 2017). Dentro desse contexto, buscou-se extrair o óleo de bacaba a partir de suas sementes pelo método do ultrassom, bem como a avaliar a sua qualidade.

Material e métodos

Os frutos foram coletados na região de Sinop/MT, lavados e deixados de molho em água destilada a 45°C por aproximadamente 40 minutos para separação do fruto das sementes. As sementes foram secas em estufa de circulação forçada a 45°C, trituradas em moinho de facas e levadas para extração do óleo em ultrassom na frequência de 45 KHz por 2 horas utilizando hexano, etanol e água (4:3:3) como líquido extrator , na proporção de 1:5. A fração hexânica foi coletada e evaporada em evaporador rotativo para obtenção do óleo. A caracterização físico-química do óleo foi realizada seguindo as Normas do Instituto Adolfo Lutz (LUTZ, 2005), sendo analisados os índices de refração, acidez total, peróxidos, saponificação e índice de iodo. A identificação dos ácidos graxos presentes no óleo foi realizada por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (Shimadzu CG-MS QP2010) e a estabilidade térmica do óleo, bem como a umidade e cinzas foi determinada por termogravimetria (curva TG) utilizando-se o equipamento da TA Instruments, modelo SDT 2960. O teor de fenóis foi analisado de acordo com Lange et al. (2009) com modificações e o resultado expresso em µgg-1de EAG (equivalentes de ácido gálico por g de óleo) e a potencial atividade antioxidante foi realizada pelo método de captura do radical DPPH (2,2–difenil-1-pricil-hidrazila), calculando-se a concentração necessária para reduzir em 50%concentração de radical DPPH (IC50) seguindo protocolo estabelecido por Lange et al (2009) e Melo e Pinheiro (2012).

Resultado e discussão

O rendimento da extração do óleo a partir da semente da bacaba utilizando o ultrassom foi de aproximadamente 1,37%, concordante com Balick (1979). O óleo apresentou índice de refração de 1,467 que é um índice que varia com a natureza do óleo sendo utilizado na identificação e como critério de qualidade de óleos, uma vez que seu valor é diretamente proporcional ao valor do índice de iodo, ou seja, aumentando conforme o número de insaturações dos ácidos graxos presentes. O índice de acidez foi de 2,74 ± 0,019 mg(KOH)g-1, estando dentro do limite estabelecido pela ANVISA (2005), que limita o valor de acidez a 4,0 mg(KOH)g-1 para óleos não refinados. O valor do índice de iodo obtido foi de 78,20 g I2/100g. Este índice indica o nível de insaturação dos ácidos graxos componentes do óleo, sendo que quanto maior o seu valor, maior o nível de insaturação dos ácidos graxos. A quantidade de peróxidos foi insignificante, não sendo detectável pelo método oficial (LUTZ, 2005). O índice de saponificação foi de 185,7 mg(KOH)g-1. Pela curva TG foi possível verificar que o óleo é estável até 300ºC e que apresentou umidade de 0,25% e 0,4905% de cinzas. Os principais ácidos graxos identificados pela cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de foram o ácido oleico e o ácido palmítico, dados que corroboram com os resultados encontrados por Santos et al. (2017) no óleo extraído do fruto da bacaba por Soxhlet. A quantidade de fenóis no óleo foi de 37,05 ± 0,33 µgg-1 e a potencial atividade antioxidante apresentou valor de IC50de 23,38 mg.

Conclusões

O método proposto para obtenção de óleo de bacaba a partir de sua semente utilizando extração assistida por ultrassom mostrou-se simples, rápido e de baixo custo. Os resultados obtidos foram comparáveis aos obtidos por Soxlhet demostrando a eficiência da extração, além de utilizar quantidades reduzidas de reagentes. Ainda, sendo a semente um produto de descarte da cadeia produtiva da bacaba, pode- se considerar a extração do óleo da semente juntamente com a extração da polpa como uma alternativa de uso para a mesma, evitando seu descarte completo.

Agradecimentos

À FAPEMAT (Processo nº 224179/2015), ao CNPq e a UFMT.

Referências

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