OBTENÇÃO DE BIOPRODUTOS A PARTIR DE PROCESSO TERMOQUIMICO DE RESÍDUO DE BABAÇU
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Físico-Química
Autores
Silva, I.L. (UFT) ; Madeira, C.S.P. (UFT) ; Moraes Junior, A.S. (UFT) ; Sousa, J.F. (UFT) ; Fanslau, P.H. (UFT) ; Sousa, D.A.S. (UFT) ; Vieira, G.E.G. (UFT)
Resumo
O babaçu possui uma das cadeias do extrativismo vegetal mais representativa do Brasil. Neste trabalho, foi realizada a caracterização físico-química e aplicação do processo de pirólise ao resíduo de epicarpo e mesocarpo de babaçu, utilizando temperatura de processo de 550ºC, taxa de aquecimento de 10ºC/min e tempo de retenção de 120 minutos, para cálculo de rendimento das frações. Os resultados obtidos na caracterização do epicarpo e mesocarpo foram respectivamente: 3,44% e 5,07% de umidade, 94,46% e 85,47% de voláteis, 1,13% e 1,55% de cinzas, 0,97% e 7,90% de carbono fixo. O processo de pirólise do epicarpo e mesocarpo apresentou rendimento respectivamente de: 33,90% e 34,13% de fração orgânica, 28,96% e 25,78% de fração sólida, 37,13% e 40,09% de fração gasosa.
Palavras chaves
BABAÇU; PIRÓLISE; RENDIMENTO
Introdução
O babaçu (Orbygnia phalerata Mart.) é uma das palmeiras brasileiras com maior relevância para a economia nacional, especialmente para os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins (ALBEIRO et al., 2011). Seu extrativismo é pautado na extração do óleo das amêndoas dos seus frutos, porém, nesse processo, é desprezado até 93% do fruto, correspondendo ao epicarpo (13%), mesocarpo (20%) e endocarpo (60%) (SOLER et al., 2007; QUEIROGA et al., 2015). Estes resíduos podem ser efetivamente transformados em outros produtos, nos processos integrados envolvendo a conversão biomassa- combustíveis, em energia e produtos químicos (FOSTER-CARNEIRO et al., 2013). A produção de energia a partir de biomassa pode ser dividida em duas categorias principais: processos termoquímicos e vias de conversão biológica. Existem diversas rotas termoquímicas para produção de energia, dentre elas a pirólise (BALAT et al., 2009). Segundo Vieira, (2004) citado por Teixeira et al.,(2014) a pirólise pode ser definida como um processo de degradação térmica de qualquer material orgânico, na ausência de um agente oxidante. Durante a pirólise são gerados produtos líquidos (bio-óleo e fração aquosa), gasosos e sólidos, que são produzidos em diferentes proporções a partir do rompimento das ligações, levando à obtenção de produtos com capacidade energética e propriedades melhores do que aquelas da biomassa inicial (VIEIRA, 2004). Neste trabalho foi realizado analise gravimétrica de teor de umidade, voláteis, cinzas e carbono fixo de epicarpo e mesocarpo de babaçu, a fim de conhecer as características físico-químicas desse resíduo, e foi aplicado o processo de pirólise com os mesmos parâmetros, para obter o rendimento das frações.
Material e métodos
As amostras de babaçu utilizado neste trabalho foram coletadas no distrito de Taquaruçu, em Palmas-TO. Os frutos do babaçu foram coletados de forma manual e levados ao Laboratório de Ensaio e Desenvolvimento em Biomassa e Biocombustíveis (LEDBIO), localizado na Universidade Federal do Tocantins, Palmas-TO. Os resíduos dos frutos foram secos em estufa a 110 ºC até atingirem peso constante. Para determinação do teor de umidade (ASTM-D 3173- 85), as amostras foram trituradas em moinho de facas marca: Marcone, modelo MA130/1 e passados por peneiras com abertura de 0,59 mm, segundo metodologia proposta (ABNT 30/Tyler 28). Os experimentos de pirólise foram realizados em triplicata, usando 30g de biomassa para cada um dos resíduos epicarpo e mesocarpo. A amostra é colocada em barquinha de alumínio e inserida no tubo reator de leito fixo, aquecido por um forno horizontal, modelo FTHI-40, todos os experimentos foram realizados no Laboratório de Ensaio e Desenvolvimento de Biocombustíveis na Universidade Federal do Tocantins (LEDBIO-UFT). O reator opera em um ambiente inerte promovido pelo fluxo de nitrogênio (grau pureza 99%), o forno apresenta uma temperatura programável. A pirólise foi processada com parâmetros de: Temperatura de 550ºC, Taxa de aquecimento de 10ºC.min-1 e Tempo de 120 minutos.
Resultado e discussão
A caracterização físico-química é de grande importância em processos
térmicos. A Tabela 1 apresenta os valores médios para as amostras de
mesocarpo e epicarpo de babaçu.O baixo teor de umidade encontrado nas
amostras de mesocarpo e epicarpo de babaçu em estudo é uma característica
desejável em processos de conversão termoquímica de biomassa. Protásio et
al,. 2013 encontrou teor de voláteis variando de 68,3% para casca de arroz e
78,41% para amostras de babaçu. Geralmente, os conteúdos de voláteis em
combustíveis de biomassa variam de aproximadamente 70% a 87% (GARCÍA et al.,
2013), que está próximo ao resultado encontrado para mesocarpo de babaçu
(85,47%).O carbono fixo indica a fração de matéria orgânica não volátil, mas
pode conter oxigênio e hidrogênio (PARIKH et al.,2007). Assim, quanto maior
o teor de carbono fixo, mais lenta e mais resistente termicamente será a
biomassa (PROTÁSIO et al.,2013). Sendo assim baixos valores são desejáveis
(7,90% e 0,97%). Quanto ao teor de cinzas, altos níveis não são desejáveis
para o uso direto da biomassa na geração de energia, porque diminui a
inflamabilidade do combustível e a transferência de calor, além de aumentar
a corrosão e causar perdas de energia pelo aquecimento de óxidos minerais
(TAN E LAGERKVIST,2011; BUSTAMANTE-GARCÍA, et al.,2013). O rendimento das
frações obtidas no processo de pirólise termoquímica da amostra de babaçu é
apresentado na tabela 2. Vieira et al.,2013 encontrou rendimentos de Fração
orgânica 12,32%, sólida 33,13% e gasosa 54,56% para amostras de resíduo de
babaçu. Em relação a outras biomassas, Silveira(2012) ao aplicar o processo
de pirólise à biomassa de pequi nas mesmas condições de processo, obteve
valores de 35,16%, 23,34%, 23,42% e 18,08 respectivamente para as frações
orgânica, sólida, gasosa.
Teores médios em porcentagem das análises imediatas de babaçu
Rendimentos dos produtos da pirólise termoquímica de babaçu
Conclusões
Os estudos de caracterização físico-química do mesocarpo e epicarpo de babaçu mostraram que os teores de umidade, voláteis, cinzas e carbono fixo, estão dentro dos parâmetros desejáveis na biomassa para aplicação em processo de pirólise. No processo de pirólise foram obtidas três frações:fração orgânica, sólida e gasosa. As médias de rendimento entre as amostras de mesocarpo e epicarpo foram bem próximas. A partir dos valores encontrados nas frações obtidas na pirólise, conclui-se que há potencial para caracterização da biomassa com possibilidade de aplicação na indústria química e energética.
Agradecimentos
Laboratório de Ensaio e Desenvolvimento em Biomassa e Biocombustíveis –LEDBIO, Fundação Universidade Federal do Tocantins- UFT
Referências
ALBEIRO, D.; MACIEL, A. J.S.; GAMERO, C. A. Design and development of babassu (Orbignya phalerata Mart) harvest for small farms in areas of forests transition of the Amazon. Acta Amazônica. v. 37, p. 57–68, 2011.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D 3173-85. Standard Test of Humity, 1985.
BALAT, M. et al. Main routes for the thermo-conversion of biomass into fuels and chemicals. Part 1: Pyrolysis systems. Energy Conversion and Management. v. 50, p.3147-3157, 2009.
BRAGATO, M.; JOSHI, K.; CARLSON, JB.; TENÓRIO, J.A.S.; LEVENDIS, Y.A.; Combustão de carvão, bagaço e suas misturas: Parte II: Especulação das emissões de HAP. Combustível. v.96, p.51-58, 2011.
BUSTAMANTE-GARCÍA,V.; CARRILLO-PARRA, A.; GONZÁLEZ-RODRÍGUEZ, H.; RAMÍREZ-LOZANO, R.G.; CORRAL-RIVAS, J.J.; GARZA-OCAÑAS, F.; Avaliação de um processo de produção de carvão a partir de resíduos florestais de Quercus sideroxyla em um forno de colméia brasileiro. Ind Crop Prod. v. 42, p.169-174, 2013.
FOSTER-CARNEIRO, T.; BERNI, M. D.; DORILEO, I. L.; ROSTAGNO, M. A. Biorefinery study of availability of agriculture residues and wastes for integrated biorefineries. Resources, Conservation And Recycling. v. 77, p.78-88, 2013.
GARCÍA, R.; PIZARRO, C.; LAVÍN, A.G.; BUENO, J.L. Caracterização de resíduos de biomassa para consumo de energia. Bioresour Technol. v.103, p. 249-258, 2012.
PROTÁSIO T.P.,; BUFALINO L.; TONOLI G.H.D.; GUIMARÃES JUNIOR M.; TRUGILHO P.F.; MENDES L. M. Resíduos brasileiros lignocelulósicos para produção de bioenergia: caracterização e comparação com combustíveis fósseis. BioResour. v.8, p.1166-1185, 2013.
QUEIROGA, V. P.; GIRÃO, E. G.; ARAÚJO, I. M. S.; GONDIM, T. M. S.; FREIRE, R. M. M.; VERAS, L. G. C. Composição centesimal de amêndoas de coco babaçu em quatro tempos de armazenamento. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais. v. 17, p. 207-213, 2015.
SILVA, L. C. A. Estudo do processo de pirólise de lodo de esgoto em reator de leito fixo em escala laboratorial. 2012. 67 f. Dissertação (Mestrado em Agroenergia). Universidade Federal do Tocantins. Palmas, 2012.
SOLER, M. P.; VITALI, A. A.; MUTO, E. F. Tecnologia de quebra do coco babaçu (Orbignya speciosa). Ciência e Tecnologia de Alimentos. v. 27, p. 717-722, 2007.
TAN, Z.; LAGERKVIST, A. Recuperação de fósforo da cinza de biomassa: uma revisão. Renew Sust Energ Ver. v.15, p. 3588-3602, 2011.
TEIXEIRA, L. F.; VIEIRA, G. E. G.; CORREIA, L.A. R.; COLEN, A. G. N.; AGUIAR J. G. L. Rendimento dos produtos da pirólise de lodo de esgoto anaeróbio em reator de leito fixo em diferentes temperaturas. XX Congresso Brasileiro de Engenharia Química. Florianópolis–SC. 2014.
VIEIRA, G. E. G. Fontes alternativas de energia – Processo aperfeiçoado de conversão térmica. 2004. 181 f. Tese (Doutorado em Química Orgânica). Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2004.
VIEIRA, G. E. G. PICKER, A; GALLO, L.F.; COLEN, A.G.N.; TEIXEIRA, L. F.; CAMPOS, C.E.; FALEIRO, J. K.; BATISTA, R.R. Aplicação de processo termoquímico em resíduo agroindustrial de babaçu – influência na obtenção de bioprodutos. 37º Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. 2013.