EXTRAÇÃO DE TANINOS DA CASCA DE BARBATIMÃO (Stryphnodendron adstringens (Mar.)) E SUA APLICAÇÃO NA FORMULAÇÃO DE CREMES CICATRIZANTES.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Físico-Química

Autores

Alves da Silva, J. (UEG) ; Alife Dutra Elias Santos, A. (UEG) ; do Nascimento Gomides, J. (ULBRA/UEG) ; Rover Rosa, J. (ULBRA/UEG)

Resumo

Os taninos são conhecidos por auxiliar processos de cura de feridas, formando uma camada protetora na forma de um complexo tanino-proteína e/ou polissacarídeo sobre tecidos epiteliais lesionados, portanto, torna-se interessante estudar a extração dos taninos da casca do barbatimão e aplicá- los na formulação de cremes com potencial cicatrizante. A extração de taninos ocorreu por aquecimento, sob refluxo, das cascas pulverizadas.A amostra vegetal foi submetida a ensaios de verificação de pureza e caracterização físico-química.Todos os testes apresentaram conformidades dentro dos padrões listados pela farmacopeia. O creme com potencial cicatrizante foi formulado e submetidos a testes cujos resultados confirmaram a estabilidade da emulsão obtida.

Palavras chaves

Taninos condensados; Emulsão; Estabilidade térmica

Introdução

A utilização de plantas com fins medicinais para tratamento, cura e prevenção de doenças é uma das práticas mais antigas da humanidade. Esta, com o decorrer do tempo, difundiu-se entre vários grupos étnicos por se tratar da única forma encontrada para o livramento de enfermidades. É frequente no cotidiano o fácil acesso a esse uso medicinal uma vez que essas plantas são encontradas em todas as regiões do país sendo comercializadas em farmácias, feiras livres, lojas de produtos naturais ou, ainda, cultivadas nos quintais das residências (VEIGA JUNIOR et al., 2005; MACIEL et al., 2005). Dentre a variedade botânica no Cerrado brasileiro, o Stryphnodendron adstringens (Mar.) Coville se destaca por seu uso disseminado, com o nome popular de barbatimão, cuja extração de taninos para diversos fins é a principal atividade econômica envolvendo a planta. Uma das suas principais aplicações é o uso empírico na cicatrização de feridas cutâneas (MEIRA et al., 2013; RIBEIRO, 2011). Segundo Mendonça e Coutinho (2009) por meio dos estudos etnobotânicos e da confirmação de sua eficácia terapêutica, o barbatimão foi inserido na lista da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS, junto às espécies vegetais com potencial medicinal de interesse ao SUS. Reconhecida também por possuir elevada atividade antioxidante, decorrente da inativação de radicais livres foi recomendada também no formulário de fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira como creme cicatrizante. Dentro desse contexto, objetivou-se realizar a extração dos taninos da casca do barbatimão, com sua incorporação em creme, que podem ser utilizados como auxiliares nos tratamentos de cicatrização de feridas cutâneas. Dessa maneira, dar início a estudos de novas formulações de cosméticos com funcionalidade fitoterápica.

Material e métodos

O material botânico utilizado foi recolhido no cerrado nativo preservado da fazenda Vargem das Flores, município de Joviânia-GO.Os taninos foram obtidos seguindo a metodologia proposta pela Farmacopeia Brasileira. As cascas do barbatimão foram secas em estufa á 55 °C por 3 dias, posteriormente estas foram trituradas, passadas em peneira e então aqueceu-se 3 g do pó sob refluxo com 60 mL de água destilada para obtenção do extrato. Foram feitos testes de presença de taninos, ensaio de pureza, teor de umidade, teor de cinzas totais e insolúveis em ácido, conforme métodos propostos pela Farmacopeia Brasileira. O extrato obtido foi utilizado para formulação do creme conforme metodologia de Batistuzzo, Itaya e Eto (2011). O creme formulado foi submetido a testes de pH, centrifugação e ciclo gela degela, segundo determina a RDC 48/2004 da ANVISA.

Resultado e discussão

Os resultados encontrados nas análises físico-químicas correspondem às médias de três amostras e foram de 13,77% para umidade e 0,15% de cinzas totais. Os valores encontrados apresentaram-se dentro do parâmetro descrito pela Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010b, p. 672) de no máximo 14% de umidade e 2% de cinzas, indicando a viabilidade do uso das cascas do barbatimão. O extrato obtido foi submetido a testes de indicativos de presença de taninos, os quais apresentaram resultados positivos para taninos totais devido a formação de precipitados quando reagido com ácido clorídrico e gelatina (Figura 1A) e de um precipitado avermelhado quando reagido com ácido acético e acetato de chumbo (Figura 1B). Segundo Monteiro, Albuquerque e Araújo (2005) taninos são muito reativos quimicamente, formando pontes de hidrogênio com o colágeno que é uma proteína, indicando a presença de taninos totais. O extrato foi submetido à duas formulações de cremes, uma contendo 5% e outra 10% do ativo e ajustado o pH para 6.0, possuindo valores aceitáveis para utilização do creme. Segundo Ferreira (2009), as bases não- iônicas são menos irritantes que as aniônicas. Além disso, o pH da preparação deve ser ajustado preferencialmente entre 6,0 e 6,5 (pH fisiológico da pele). Os cremes foram submetidos aos testes de centrifugação e ciclo gela degela, os quais não foram observadas quaisquer alterações nas amostras, o que assegura a estabilidade destas. Na avaliação dos parâmetros propostos todas as amostras apresentaram resultados satisfatórios, onde a mesma demostrou-se homogênea, de cor brilhante e aspecto liso (Figura 2). Sendo assim, podemos concluir que o creme formulado apresenta características favoráveis para a sua administração.

Figura 1.

Precipitados no extrato em reação com ácido clorídrico e gelatina (A) e em reação com ácido acético e acetato de chumbo (B).

Figura 2.

Cremes contendo 5% (amostra 1) e 10% (amostra 2) de extrato da casca de barbatimão após testes de estabilidade de formulação.

Conclusões

A formulação apresentada ao longo do trabalho obteve resultados satisfatórios em todos os testes propostos.Os indicativos referentes à amostra vegetal, como os testes de pureza, demonstram risco reduzido de contaminantes no extrato viabilizando, consequentemente, a presença de taninos (princípio ativo) com elevado potencial terapêutico. Assim, com estudos futuros espera-se que a ação cicatrizante proveniente dos taninos presentes na casca de barbatimão seja satisfatória e atóxica para seus usuários. As análises pendentes buscarão esclarecer a eficácia dos objetivos propostos.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Universidade Estadual de Goiás - Campus Itumbiara e à Universidade Luterana do Brasil - ILES Itumbiara pelo apoio físico, técnico e financeiro

Referências

ANVISA. Resolução RDC n° 48, de 16 de março de 2004. Disponível em:< http://www.cpqba.unicamp.br/plmed/docs/Resolucao%20RDC%2048%20de%2016032004.PDF>. Acesso em: 17 set. 2016.
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BATISTUZZO, J. A. O.; ITAYA, M.; ETO, Y.; Formulário médico-farmacêutico. 4° edição, Pharmabooks editora, São Paulo, 2011.
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MEIRA, et al. Barbatimão: Ecologia, produção de taninos e potencial sócio econômico na região norte mineira. Montes Claros, 2013. Disponível em:< http://www.conhecer.org.br/enciclop/2013a/agrarias/barbatimao.pdf> Acesso em: 21 mai. 2016.
MENDONÇA, R. J.; COUTINHO, N. J. Aspectos celulares da cicatrização. Associação Brasileira de Dermatologia, 2009. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/abd/v84n3/v84n03a07.pdf> Acesso em: 01 set. 2016.
MOTEIRO, J. M.; ALBUQUERQUE, U. P.; ARAUJO, E. L. Taninos: Uma Abordagem da Química a Ecologia. Quim. Nova, Recife, 2005.
RIBEIRO, A. O. Analise Anatômica e Quantificação de Taninos de Stryphnodendron adstringens (Mar.) Coville em diferentes estratos da copa e entre períodos de coleta. Dissertação para obtenção do titulo de Mestre. Lavras, 2011.
VEIGA JUNIOR, V. F.; PINTO, A. C. Plantas Medicinais: Cura Segura? Química Nova, vol. 28, no. 3, p. 519-528. 2005.

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