Avaliação da atividade antitumoral de um produto de síntese obtido a partir do Ácido Anacárdico, um constituinte do Líquido da Casca da Castanha de Caju.
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Iniciação Científica
Autores
Matos, D.M.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Abreu, K.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Maia, S.S.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Romão, A.L.E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Pinto, C.C.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Oliveira, M.R.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Alves, C.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Soares, D.W.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)
Resumo
Existe um grande avanço na realização de estudos com produtos naturais no campo da oncologia, propiciando o descobrimento de substancias bioativas terapêuticas. O objetivo do trabalho em questão foi o desenvolvimento e avaliação de um produto de síntese derivado de um constituinte do Líquido da Casca da Castanha de Caju através da realização de teste citotóxico. O produto de síntese passou por um processo de purificação e obtenção através de CCL e recristalização para a realização do teste antitumoral. As análises foram realizadas frente as células de linhagem HCT-116 (colorretal humano), PC-3 (adenocarcinoma de próstata), SF-295 (glioblastoma humano). Seu potencial pôde ser observado com um percentual baixo de inibição do câncer, não possuindo disposição para produção de um biocida.
Palavras chaves
LCC; Ácido Anacardico; Teste citotóxico
Introdução
A procura por substâncias bioativas naturais despertam grande interesse se tratando de uma rica fonte de moléculas com grande diversidade tanto estrutural como potencial de atividade biológica (SILVA e SILVA, 1998). As plantas medicinais, que são utilizadas desde os primórdios da civilização humana como forma de cura medicinal, são umas das melhores percursoras de drogas farmacêuticas para tratamento e manutenção da saúde humana. Observa-se um grande avanço na realização de estudos de produtos naturais no campo da oncologia, notadamente com plantas, propiciando o descobrimento de variadas substâncias bioativas terapêuticas. O estudo de mecanismos celulares e isolamento dos princípios ativos das plantas se tornou prioridade nas áreas de produção farmacêutica (Cragg e Newman 2013; Nascimento 2000). Neste quadro, o Líquido da Casca da Castanha de Caju (LCC) vem ocupando posição de destaque na obtenção de matéria-prima precursora de aditivos naturais e biocidas. Sendo um dos resíduos da indústria de beneficiamento da castanha do caju, o LCC, em sua maior quantidade de produto, é transformado em resinas. O mesmo pode ser classificado, segundo seus métodos de obtenção e sua composição, em natural e técnico (MAZETTO et al., 2009). Modificações químicas na estrutura das cadeias dos constituintes do LCC, podem resultar em substâncias com aumento de potenciais pré-existentes. (Oliveira, 2015). Dentro deste contexto objetivou-se a criação de análogos, a partir do LCC, que apresentassem tais características naturais, podendo ser usadas na preparação de fármacos sustentáveis e agregar valor a um resíduo muitas vezes descartado.
Material e métodos
O isolamento do ácido anacárdico seguiu a metodologia de Paramashivappa et al. 2001. O LCC bruto foi solubilizado em metanol e em seguida adicionou-se hidróxido de sódio, submetendo-os a agitação e temperatura de 50°C por 3 horas. Após esse tratamento a mistura foi filtrada, tendo o anacardato de cálcio retido e o líquido restante reservado para posterior uso. O precipitado foi misturado com água e ácido clorídrico, mantido por agitação por cerca de 1 hora. Após esse tratamento, foi submetido a sucessivas lavagens com água e acetato de etila. Depois foi filtrado em sulfato de sódio anidro, sobrando assim somente o ácido anacárdico puro. O produto foi sintetizado através de reação química que teve como base a Diazotização do Ácido Sulfanilico (Allinger, 1976), é formado o sal de diazônio que reage com o Ácido Anacárdico. Para a análise da citotoxidade, realizou o teste do MTT segundo a metodologia de Mosmann et al 1983. As linhagens tumorais utilizadas foram HCT-116 (colorretal humano), PC-3 (adenocarcinoma de próstata), SF-295 (glioblastoma humano), tendo sido cultivadas em meio RPMI 1640, suplementados com 10% de soro fetal bovino e 1% de antibióticos, mantidas em estufa a 37 °C e 5% CO. Foram sedidas pelo Instituto Nacional do Câncer (EUA). As amostras foram diluídas em água destilada. O produto foi testado na concentração de 20 μg/mL. As linhagens celulares utilizadas foram plaqueadas nas concentrações de 96 poços (0,7x105 celulas/mL). As placas foram incubadas por 72 horas, em estufa a 37 °C. A absorbância foi lida através de um espectrofotômetro de placa, a 595 nm. Os experimentos foram analisados segundo a média da porcentagem de inibição do crescimento celular. Cada amostra foi testada em triplicata.
Resultado e discussão
A eficiência da síntese foi comprovada por RMN de 1H e 13C(FIG 1). Na figura
2, os espectros de 13C apresentaram picos múltiplos para aromáticos na
região de δ = 113.3; 129.4 ppm sendo esses do anel do ácido anarcádico e
picos de 124.3ppm e 128.5ppm referente ao anel aromático do sal diazônio. A
região de sinais múltiplos entre δ = 20,4 representa a cadeia carbônica
ramificada ligada ao anel aromático do ácido anarcádico. E por fim o pico δ
= 152 é referente ao carbono do anel aromático do sal diazônio ligado ao
enxofre. Os espectros para 1H, também na Figura 1, indicou sinais múltiplos
entre δ = 8.13 e 8.05 ppm referente aos prótons da região de aromáticos do
sal diazônio e ácido anarcádico, respectivamente. Revelou também picos
múltiplos entre δ =1.29 a 2.63 ppm para cadeia ramificada e referente a suas
insaturações apresentou picos entre δ =4.92 a 5.71ppm.
Uma escala de intensidade foi utilizada seguindo a metodologia de Mosmann et
al 1983, para avaliar o potencial citotóxico das amostras testadas: amostras
sem atividade (SA), com pouca atividade (inibição de crescimento celular
variando de 1 a 50%), com atividade moderada (inibição de crescimento
celular variando de 50 a 75%) e com muita atividade (inibição de crescimento
variando de 75 a 100%). As absorbâncias obtidas foram utilizadas para
calcular o RVC% pelo programa GraphPad versão 5.0.
Dentre os resultados obtidos para a citotoxidade, pode-se observar na tabela
01, que o Produto de síntese análogo do Ácido Anacárdico, constituinte do
LCC, apresentou pouca atividade em relação a inibição do crescimento celular
das células tumorais, pois as linhagens de HCT-116 (colorretal humano), PC-3
(adenocarcinoma de próstata), SF-295 (glioblastoma humano) sofreram um
percentual de inibição tumoral médio entre 1 e 50%.
RMN de 13C, RMN de 1H e produto sintetizado
Média percentual de inibição de crescimento tumoral.
Conclusões
As técnicas experimentais empregadas (RMN 13C, 1H) foram adequadas para a caracterização do produto, não restando receio quanto a sua obtenção. Com este trabalho, verificou-se a negativa atividade citotóxica do produto sintetizado ao apresentar percentual inibitório médio baixo de 8,54% para PC-3, 14,33% para HCT-116 e 36,33% para SF-295 no teste de MTT. A técnica experimental empregada (MTT) foi adequada para a avaliação do produto, restando somente a persistência na necessidade de testes futuros para avaliação de outros potenciais biológicos presentes neste composto.
Agradecimentos
A UECE, ao SISNABIO e a FUNCAP.
Referências
Allinger, N. L.; Cava, M. P.; Johnson, C. R.; Lebel, N. A.; Stevens, C. L. Química Orgânica, 2ª ed, p 529-533, 1976.
ALMEIDA, J, R, G,S; ARAÚJO, C, S; PESSOA, C, Ó; COSTA, M, P; PACHECO, A, G, M. ATIVIDADE ANTIOXIDANTE, CITOTÓXICA E ANTIMICROBIANA DE Annona vepretorum MART. (ANNONACEAE), 2013.
CRAGG, G.M.; NEWMAN, D.J. Natural products: a continuing source of novel drug leads. Biochimica et Biophysica Acta. v.1830, n.6, p.3670-3695, 2013.
Nascimento, G, F,; Locatelli, J; Freitas, P, C; Silva, G, L. ANTIBACTERIAL ACTIVITY OF PLANT EXTRACTS AND PHYTOCHEMICALS ON ANTIBIOTIC-RESISTANT BACTERIA. Braz. J. Microbiol. vol.31 no.4 São Paulo, 2000
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Oliveira, M. R. F. ATIVIDADE INSETICIDA DE DERIVADOS DO CARDANOL SOBRE LIRIOMYZA SP. (DIPTERA: AGROMYZIDAE) E BEMISIA TABACI BIÓTIPO B (HEMIPTERA: ALEYRODIDAE), pg 14-15, 2015.
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