Atividade antifúngica e fitotoxicidade do Liquido da Casca da Castanha de Caju e seus constituintes frente ao fitopatógeno Lasiodiplodia theobromae e Artemia Salina.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Iniciação Científica

Autores

Matos, D.M.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Maia, S.S.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Abreu, K.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Oliveira, M.R.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Romão, A.L.E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Abreu, K.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Alves, C.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Soares, D.W.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

Neste trabalho buscou-se a avaliação de propriedades antifúngicas e de toxicidade para o uso no controle alternativo de pragas e doenças, de constituintes obtidos do LCC. Esses constituintes foram separados e purificados através de reações químicas e cromatografia liquida clássica. Após sua obtenção, realizou-se bioensaios. Avaliou-se o potencial antifúngico no controle do fungo Lasiodiplodia Theobromae pelas ações de diferentes concentrações sobre seu crescimento micelial, obtendo um percentual de inibição de até 48%. Na avaliação de toxicidade, utilizamos de cinco concentrações das soluções de biocidas sobre a Artemia Salina, obtendo percentual de até 77,5% de mortalidade. É possível concluir que há uma boa predisposição de tais constituintes para produção de novos fármacos.

Palavras chaves

LCC; Lasiodiplodia Theobromae; Toxicidade

Introdução

O LCC é um subproduto de uma das industrias comerciais mais lucrativas do nordeste do Brasil e resíduo da produção de beneficiamento da cajucultura. O mesmo pode ser classificado, segundo seus métodos de obtenção e sua composição, em natural e técnico (MAZETTO et al., 2009). Seus constituintes são substâncias com princípios ativos. No LCC Bruto temos em sua maioria Ácido Anacárdico e no Técnico, Cardanol Insaturado devido a reação de descarboxilação do Ácido Anacárdico que ocorre na produção do LCC técnico. A flexibilidade desses compostos através de transformações químicas motivam pesquisas, ao longo dos últimos anos, envolvendo a sua utilização para o desenvolvimento de biocidas (SANTOS, 1993; LOGRADO et al., 2005; RESCK, 2005). Contudo, a cajucultura sofre com uma praga de resinose no cajueiro, doença essa, de grande relevância no semiárido do nordeste brasileiro, causada pelo fungo Lasiodiplódia theobromae, que está diminuindo a produção e a qualidade dos frutos. (CARDOSO et al., 1998). Em vista disso, as avaliações quanto a ação desses metabólicos naturais é imprescindível. O bioensaio de letalidade com a Artemia Salina foi desenvolvido para detectar compostos bioativos em extratos vegetais, mas que também pode ser utilizado para expressar a toxicidade de outras substâncias naturais (RUIZ, 2005). A. salina é amplamente conhecido como indicador de toxicidade em um bioensaio que utiliza a CL50 (concentração letal média) como parâmetro de avaliação da atividade biológica. Diversos trabalhos tentam correlacionar a toxicidade sobre A. salina com atividade antifúngica (MACRAE, 1988). Portanto, o referido trabalho compreende a utilização do LCC e seus constituintes, para produção de biocidas a partir de uma matéria-prima abundante e sustentável.

Material e métodos

O LCC bruto e técnico foi obtido e cedido para testes pela CIONE - Companhia Industrial de Óleos do Nordeste. O isolamento do ácido anarcádico e a mistura de cardóis seguiram a metodologia de Paramshivappa et al 2001. O LCC bruto foi solubilizado em metanol e em seguida adicionou-se hidróxido de sódio, submetendo-os a agitação e temperatura de 50°C por 3 horas. Após esse tratamento a mistura foi filtrada, tendo o anacardato de cálcio retido e o líquido restante reservado para posterior uso. O precipitado foi misturado com água e ácido clorídrico, mantido por agitação por cerca de 1 hora. Após esse tratamento, foi submetido a lavagens com água e acetato de etila. Depois foi filtrado em sulfato de sódio anidro, sobrando assim somente o ácido anacárdico puro. O líquido que foi reservado anteriormente, tratava-se de uma solução na qual continha mistura de cardóis e cardanol. A solução obteve tratamento em coluna cromatográfica, onde se extraiu o cardanol com o hexano e em seguida a mistura de cardóis com diclorometano, separando assim mistura de cardóis do cardanol. Para avaliação de fungicidade os constituintes foram solubilizados em meio Ágar Sabouraud Dextrose, em placas de Petri de 9,0 cm que posteriormente foram inoculadas com um disco de micélio do fungo. O ensaio foi feito em triplicata de produto/fungo. Para o ensaio de toxicidade, pesou-se 20 mg dos produtos testados e realizou-se as diluições em series do mesmo com água salina em copos plásticos, obtendo assim as concentrações finais de 1000, 100, 10 e 1 μg/mL. Posteriormente transferiu-se 10 larvas de A. salina. para cada copo. Depois de 24 horas, fez-se a contagem do número de larvas sobreviventes. O teste foi realizado em triplicata, sendo todos os constituintes diluídos em Tween.

Resultado e discussão

No ensaio fungicida, os resultados obtidos foram comparados com um padrão composto pela testemunha que apresenta o PIC de 100%. Utilizou-se a formula de porcentagem de inibição do crescimento micelial (PIC) proposta por Menten (1976) para calcular a porcentagem de toxicidade dos constituintes frente a Artemia S, onde PIC=CRTE-CRT/CRTE, sendo CRTE é o crescimento radial da testemunha e CRT é o crescimento radial de tratamento.Ao analisarmos os resultados na figura 01, o LCC Bruto apresentou os melhores percentuais de inibição frente ao fungo L. theobromae. Na concentração de 1100 e 1400 µg/mL, o LCC bruto apresentou um PIC entre 46-48% durante 24h de exposição (Fig. 1A). O fungo apresentou maior sensibilidade ao LCC bruto, LCC técnico e a mistura de cardóis nas primeiras 24 e 48 horas nas concentrações de 1100 e 1400 µg/mL para a o crescimento micelial (Figura 1). Todas concentrações em teste apresentam baixa sensibilidade após 72 horas de exposição (Fig. 1C). No teste de toxicidade, a Concentração Letal Média (CL50) das amostras foram definidas a partir de equações obtidas por regressão linear que determinam os valores de CL50 de extratos naturais ativos em ppm (MEYER et al., 1982). Os extratos com CL50 < 1.000 μg/mL serão julgados biologicamente ativos e classificados conforme os níveis de CL50 em A. salina: CL50 < 80 μg/mL, altamente tóxicos; entre 80 μg/mL e 250 μg/mL, moderadamente tóxico; e CL50 >250 μg/mL, com baixa toxicidade (KRISHNARAJU, 2005).Na figura 2, observamos que o LCC Bruto apresentou o maior potencial tóxico, tendo 77,5% de mortalidade das Artemias S nas 24 horas de exposição. O LCC Técnico (71,67%), Cardanol Insaturado (51,66%) e o Hidrogenado (69,16%) foram moderadamente tóxicos. Os outros compostos não apresentaram atividade significativa.

Figura 1

Figura 1: Potencial fungicida dos constituintes do LCC no intervalo de 24, 48 e 72 horas de exposição ao fungo Lasiodiplodia theobromae.

Figura 2

Figura 2: Percentual de concentração letal para 50% da população de A. Salina e sua classificação quanto ao nível de toxicidade.

Conclusões

Com este trabalho, verificou-se a eficiência positiva dos constituintes, pois apresentaram considerado potencial antifúngico frente ao fitopatógeno. Os resultados sugerem que possam contribuir para amenizar problemas de ordem fúngicas que ocasionam perdas na produtividade da indústria do caju. Sua toxicidade, verificada através da Concentração Letal Média (CL50), indicam o potencial fungicida ao notar-se a alta toxicidade dos compostos frente a Artemia Salina. Estudos mais amplos devem ser priorizados para a utilização dos subprodutos como biocidas.

Agradecimentos

A UECE, ao SISNABIO e a FUNCAP.

Referências

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MENTEN, J. O. M.; MACHADO, C. C.; MINUSSI, E.; CASTRO, C.; KIMATI, H. Efeito de Alguns fungicidas no crescimento micelial de Macro-phomina phaseolina (TASS.) GOID. “In vitro”, Fitopatologia Brasileira, v.1, n.2, p. 57-66, 1976.
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PARAMSHIVAPPA, R.; PHANI KUMAR, P.; VITHAYATHIL, P. J.; SRINIVASA RAO, A. Novel method for isolation of major phenolic components from cashew (Anacardium occidentale L.) nut shell liquid. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 49, p. 2548- 2551, 2001.
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