ANÁLISE DAS PROPRIEDADES DA FOLHA-DE-FLANDRES DEFORMADA EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DE DOBRADURA

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Materiais

Autores

Lemos, H.L.S. (UFF) ; Rollemberg, A.P. (UFF) ; Bertagnolli, D.C. (UFF)

Resumo

As embalagens metálicas oferecem uma vida de prateleira mais longa ao produto que ela reveste. Essas embalagens metálicas são fabricadas, em sua grande maioria, com folha-de-flandres que é um material metálico que tem em sua composição ferro e aço de baixo teor de carbono revestidos de estanho comercialmente puro. A utilização da folha-de-flandres para revestir alimentos pode resultar em dissolução de algum teor de estanho. O que se deseja saber é se existe evidência de que latas feitas de folha-de-flandres perdem suas propriedades protetoras após serem deformadas. Este trabalho considera tal fato citado, realiza ensaios laboratoriais e compara os resultados das amostras deformadas com os resultados das amostras em perfeitas condições, levando em consideração o ângulo de dobradura da peça.

Palavras chaves

folha-de-flandres; estanho; comida enlatada

Introdução

As embalagens metálicas oferecem uma vida de prateleira mais longa ao produto que ela reveste, sendo direcionadas a alimentos prontos ou semiprocessados. Essas embalagens metálicas são fabricadas, em sua grande maioria, com folha-de-flandres que representa mais de 80% da produção de alimentos enlatados (BLUNDEN et al., 2003). Contudo, em resultado do contato embalagem metálica/produto alimentício, existe a possibilidade de interação de ambos. Referindo-se ao enlatamento de alimentos que apresentam alguma acidez, mesmo que ainda baixa, esta interação é identificada pela lixiviação dos metais que constituem a embalagem, principalmente ferro e estanho pois são os metais encontrados na folha-de-flandres. A embalagem metálica também tem seu tempo de vida útil definido pelas possíveis reações com o meio de contato. Os fatores que determinam a vida útil dos alimentos que foram enlatados variam de acordo com as características do produto e da embalagem. Um dos mais importantes fatores foi, durante muitos anos, a concentração de estanho e chumbo presentes nos alimentos, sendo definido pela ANVISA a dose semanal máxima aceitável de estanho de 250 mg/kg de peso corporal. Devido ao prolongado período de prateleira que a embalagem metálica proporciona ao alimento, a mesma pode sofrer com alguns impactos durante seu período de estocagem, com isso acarretando em deformações. Dessa forma, tornou-se necessária a realização de estudos para verificar se a camada de estanho empregada na embalagem mantém suas características protetoras. Assim, as informações obtidas serão utilizadas como subsídio técnico para evidenciar as condições reais de proteção da lata de folha-de-flandres após sua deformação, levando em consideração os ângulos de dobradura.

Material e métodos

Para o respectivo estudo serão utilizados 5 ângulos diferentes no experimento, com triplicata com cada ângulo. Logo serão utilizadas 15 amostras para a realização dos ensaios. As 15 amostras são pedaços de folha- de-flandres obtidas através da tampa de lata de milho verde comercialmente vendida em mercado da marca “Quero”. Cada tampa foi cortada na metade para se obter 2 amostras. Todas as amostras foram encapadas com papel adesivo em rolo (contact) e esmalte incolor, deixando apenas uma área de trabalho exposta de 1 cm². Após encapar as amostras, as mesmas foram divididas em 5 grupos de acordo com a angulação que seria empregada. A divisão ocorreu de tal maneira: amostras 1, 2 e 3 com ângulo de 0°; amostras 4, 5 e 6 com ângulo de 20°; amostras 7, 8 e 9 com ângulos de 40°; amostras 10, 11 e 12 com ângulos de 60°; e amostras 13, 14 e 15 com ângulo de 90°. Depois de deformar as amostras com seus respectivos ângulos, as mesmas foram postas em uma solução ácida de pH 4,5 de ácido clorídrico e a reação se prolongou por 30 dias. Depois de decorrido esse tempo, as amostras foram retiradas do meio reacional, lavadas com água destilada, foram secadas e colocadas em um dessecador por 45 dias com a finalidade se retirar qualquer tipo de líquido remanescente. Em seguida as peças foram pesadas, comparando assim os pesos iniciais com os finais, analisando a lixiviação de material para a solução. A solução ácida foi analisada em um ICP-OES, com a finalidade de identificar e quantificar Fe, Sn, Cr e Pb que talvez saiu da peça e foi para a solução.

Resultado e discussão

Os resultados preliminares de tal trabalho encontram-se a seguir. Após a pesagem preliminar e a pesagem ao final do experimento, foi possível se ter as variações de massa que foram agrupadas e postas em forma de gráfico presente na Figura 1. Os resultados obtidos nessa etapa foram inconclusivos, pois, de acordo com a base teórica, as amostras que sofreram as deformações com maior angulação que deveriam ter sofrido também a maior variação de massa, porém as amostras que mais perderam massa foram as amostras 1 e 3, justamente as que não tinham sofrido deformação alguma. Após realizada as análises no ICP, obteve-se as concentrações de ferro e de estanho que foram desprendidos das amostras. A concentração de estanho permaneceu, praticamente, constante para todas as amostras analisadas, pois a concentração era tão pequena que ficou abaixo do limite de detecção do equipamento. Novas metodologias serão aplicadas para se quantificar esse elemento. Enquanto isso, a concentração de ferro variou em todas as amostras, o que possibilitou a construção do gráfico presente na Figura 2. Os resultados obtidos nesse ensaio também foram inconclusivos, pois, de acordo com a base teórica, as amostras com maior angulação na deformação deveriam apresentar a maior concentração de ferro na amostra ácida. Isso se dá porque conforme maior for a angulação, maior será o deslocamento das camadas que estão acima do aço base e, com isso, fragilizando essas camadas. Essa fragilização faz com que a solução ácida dissolva mais facilmente as camadas mais externa da folha-de-flandres. Entre as amostras 2 e 7, a concentração de ferro foi aumentando, assim como esperado. Porém a partir da amostra 8 as concentrações perderam o padrão que se imaginava.

Figura 1

Variação das massas de acordo com cada uma das 15 amostras

Figura 2

Concentração de ferro em cada uma das amostras.

Conclusões

Com o atual trabalho foi possível concluir que nem todos os resultados satisfizeram a base teórica e que ajustes devem e estão sendo feitos para obtenção de melhores resultados, como por exemplo, a mudança do ácido inorgânico por um ácido orgânico (mudar de ácido clorídrico para ácido acético), a verificação de mais pH's, o aumento da área de trabalho, utilização de peças da tampa, do fundo e da solda da lata metálica, entre outras mudanças.

Agradecimentos

Agradeço ao CAPES pela bolsa de mestrado, à Universidade Federal Fluminense pela estrutura cedida e à minha orientadora por todo o apoio.

Referências

(BLUNDEN, S.; WALLACE, T. Tin in canned food: a review and understanding of occurrence and effect. Rev. Food and chemical toxicology, v. 41, p. 1651-1662, 2003.)
(BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 42, de 29 de agosto de 2013. Dispõe sobre o regulamento técnico MERCOSUL sobre limites máximos de contaminantes inorgânicos em alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 30 de agosto de 2013. Seção 1E, p. 33-34.)
(BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005. Regulamento técnico sobre a ingestão diária recomendada (IDR) de proteína, vitaminas e minerais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 23 de setembro de 2005.)

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