Estudo da Produção de Etanol pela Fermentação do Caldo de Mandiocaba (Manihot esculenta Crantz)

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Bioquímica e Biotecnologia

Autores

Freitas, T.H.A. (UFPA) ; Souza, M.C. (UFPA) ; Monteiro, S.F. (UFPA) ; França, L.F. (UFPA) ; Corrêa, N.C.F. (UFPA)

Resumo

A mandiocaba é uma variedade da mandioca (Manihot esculenta Crantz) que possui como característica na sua raiz maior quantidade de água e açúcares e baixo teor de amido. Os açúcares livres podem ser convertidos em etanol por meio de fermentação sem necessitar a etapa de hidrólise do amido. O trabalho visa estudar as características físico-químicas da raiz, bem como utilizar a sua parte líquida como matéria-prima para geração de etanol, por meio do processo fermentativo. O efeito do uso do caldo in natura (4,5 ºBrix) e concentrado (13 ºBrix) da mandiocaba sobre o rendimento em álcool são estudados.

Palavras chaves

mandiocaba; etanol; fermentação

Introdução

A Mandioca (Manihot esculenta) pertence à classe das dicotiledôneas, à ordem Euphorbiales, à família Euphorbiaceae. Seu gênero Manihot é composto por 98 espécies, porém a espécie Manihot esculenta é a mais cultivada comercialmente devido a sua elevada quantidade de amido. A mandioca é uma das bases alimentícias mais importantes no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento devido à quantidade de calorias e carboidratos que servem tanto para a alimentação humana quanto animal. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de mandioca com 7,8% de participação, com mais de 1,5 milhões de hectares e 21 milhões de toneladas produzidas em 2013 (FAO, 2013). No Brasil, a região norte continua sendo grande produtor de mandioca com 21,51% na participação no cultivo desse alimento produzindo mais de 4 milhões de toneladas (IBGE, 2013). A mandioca açucarada também chamada de “manipueira” ou “mandiocaba” é um variedade da mandioca que apresenta menor quantidade de amido e maior quantidade de açúcares livres e água (90%). Como a mandiocaba possui pouco amido é menos cultivada sendo mais utilizada para produção de melaço e etanol (CARVALHO et al, 2004). Atualmente, há grande procura de matérias-primas para produção de energia renovável como as biomassas açucaradas. A mandiocaba, diferente da mandioca, não precisa passar pelo processo de hidrólise do amido para produção de etanol, podendo servir como alternativa da cana-de-açúcar para a produção álcool combustível. Neste trabalho serão investigadas as características física, físico-química e química da mandiocaba e observar a influência da concentração do caldo de mandiocaba na eficiência do processo de fermentação e destilação do álcool.

Material e métodos

A raiz de mandiocaba, utilizada para análises foi oriunda de Cametá-PA em julho de 2016. Determinou-se o rendimento de suas frações casca, polpa, caldo, amido e torta. As análises feitas foram: teor de água método 984.25 AOAC (1997) utilizando estufa a vácuo a 105 ºC. O teor de cinzas método 923.03 da AOAC (1997) utilizando mufla a 550 °C. O teor de lipídeos segundo Adolfo Lutz (2008). O teor de proteínas foi determinado utilizando o método de Kjeldahl. O teor de amido foi determinado pelo método de Cereda (2004). O teor de fibras foi determinado pelo método de Van Soest (1963). O teor de açúcares redutores (AR) foi realizada pelo método Lane & Eynon. O valor de sólidos solúveis (ºBrix) foi determinado utilizando o refratômetro de bancada (QUIMIS, Brasil, modelo Q-767B). O processo de fermentação foi feito com base nos parâmetros de fermentação determinados pela SODRÉ no caldo concentrado e não concentrado. O caldo, obtido da prensagem da raiz, foi filtrado e depois submetido a decantação. O caldo foi concentrado num béquer em chapa de aquecimento até alcançar cerca de 13 ºBrix, valor aproximado ao da cana de açúcar. A fermentação ocorreu com 200 mL de caldo, pH 5, com levedura Saccharomyces cerevisiae numa concentração de 10 gramas por litro de caldo. As amostras foram cobertas com papel alumínio e colocadas em estufas numa temperatura de 28 ºC, sendo retirada uma alíquota a cada 1 hora para acompanhamento do processo por meio da análise do °Brix. As amostras após a fermentação foram centrifugadas para a retirada da levedura e levadas ao sistema de destilação utilizando temperatura de 78 ºC onde ocorreu a obtenção de etanol. O teor alcoólico foi medido por meio do densímetro digital (Anton Paar, Brasil, DMA-35).

Resultado e discussão

Os resultados dos balanços de massa feitos na raiz bruta e na polpa da mandiocaba estão apresentados nas tabelas figura 1. Nota-se que a raiz contém grande quantidade de caldo (42g caldo/100g raiz). A porcentagem da torta no balanço de massa indica que resta considerável quantidade de bagaço que pode ser utilizado para a geração de subprodutos. O baixo teor de amido é esperado como já foi demonstrado na literatura (CARDOSO et al, 2004; de SOUZA, 2013). Os resultados encontrados da caracterização (Figura 1) demonstram grande teor de água na raiz de mandiocaba (84%). O teor de fibras indica que a raiz possui uma alta quantidade de fibras se comparada a outras amostras da raiz em regiões diferentes (de SOUZA, 2013). A quantidade de cinzas e proteínas demonstram o pouco teor de resíduos minerais e proteínas na raiz (MAFFRA, 2008). O teor de lipídios (5,30%) não segue como demonstrado pela literatura (SODRÉ, 2011; AGUIAR, 2014) podendo ser resultado de um problema na extração. O teor de açúcares redutores (37,53g/ 100g mandiocaba) a define como grande fonte para a geração de etanol. A Figura 2 apresenta os resultados da fermentação do caldo concentrado e in natura da raiz. Devido ao baixo teor de sólidos solúveis do caldo in natura houve um menor consumo de açúcar das leveduras resultando em um menor tempo de fermentação. O caldo concentrado teve um maior tempo de fermentação devido a ter uma maior quantidade de açúcar como é demonstrado pelo alto valor dos sólidos solúveis (13ºBrix). Na destilação dos mostos (Figura 2), houve baixo volume alcoólico destilado e um menor teor alcoólico devido a menor quantidade de açúcar contida no caldo, diferente do caldo concentrado onde foi determinado um melhor teor alcoólico devido a maior quantidade de açúcar.

Figura 1

Resultados dos balanços de massa feitos na raiz inteira e polpa da mandiocaba; e caracterização da raiz.

Figura 2

Resultados da fermentação e destilação do mosto da mandiocaba in natura e concentrado.

Conclusões

Os resultados encontrados da mandiocaba determinam a grande potencialidade da mesma para a produção de etanol devido ao alto valor de açúcares livres em seu caldo não sendo necessário o processo de hidrólise para a fermentação tendo maiores resultados no caldo concentrado da mandiocaba. A produção de etanol com alto teor alcoólico pode ser utilizada como combustível, mas a utilização do caldo de mandiocaba também pode servir para a produção de bebidas destiladas, fermentadas e xarope de glicose sendo necessário serem feitos trabalhos nessa área.

Agradecimentos

FAPESPA (Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas), PROEX (UFPA).

Referências

AOAC. Official method of analysis of association of official analytical chemistry. 16.ed. Gaithersburg, 1997. 1200p.
AGUIAR, R.; CUNHA, R. L.; CUNHA, E. F. M.; REGO, J. Y. N. Caracterização Física Química de Raízes de Mandiocaba. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/994722/caracterizacao-fisica-quimica-de-raizes-de-mandiocaba> Acessado em: 28 de abril 2016.
CARDOSO, E.M. et al. Sugary cassava (Manihot esculenta Crantz): preliminary morphological characterization and agronomic evaluation. In: INTERNATIONAL SCIENTIFIC MEET OF THE CASSAVA BIOTECHNOLOGY NETWORK, 6., 2004 Cali. Expanded abstract. Cali: Centro Internacional de Agricultura Tropical, 2004. Available from: <http://webapp.ciat. cgiar.org/biotechnology/cbn/sixth_international_meeting/Posters- PDF/PS-2/E_Cardoso_AAA.pdf>. Acessado em: 28 de maio, 2016.
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LIMA DE SOUZA, H.G.; BENTES, A.S.; SOUZA LADERIA, T.M.; LOPES, A.S; PENA, R.S. Propriedades físico-químicas de três acessos de mandiocaba. Ciência Rural, Santa Maria, v.43, n.5, p.792-796, mai, 2013.
MAFFRA, A. C. C.; OLIVEIRA, M. S. F. Mandiocaba: caracterização física, físico-química e obtenção de concentrado açucarado. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Engenharia de Alimentos) Universidade Federal do Pará, 2008. 67p.
SOUZA, Leiliane do Socorro Sodré de. Avaliação do processo de produção de etanol pela fermentação do caldo de mandiocaba (Manihot esculenta Crantz). Disponível em: <http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/4647> Acessado em: 28 de abril 2016.

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