Determinação do Teor de Metais em Méis Produzidos por Abelhas Africanizadas ([i]Apis mellifera[/i]) no Rio Grande do Sul
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Alimentos
Autores
Rosa, F.P. (URI - CÂMPUS DE SANTIAGO) ; Soares, L.B. (URI - CÂMPUS DE SANTIAGO) ; Resmim, C.M. (URI - CÂMPUS DE SANTIAGO) ; Ruviaro, C. (URI - CÂMPUS DE SANTIAGO) ; Tusi, M.M. (URI - CÂMPUS DE SANTIAGO)
Resumo
O objetivo deste trabalho foi determinar o teor de Na, K, Fe, Cu e Zn em 23 amostras de mel de abelhas Apis mellifera produzidas em 11 diferentes cidades do Rio Grande do Sul. Os teores de Na e K foram determinados por fotometria de chama, enquanto os teores dos demais metais foram determinados por espectrometria de absorção atômica. Para realizar as leituras, os méis foram diluídos em solução 0,1 mol/L de HNO3. Os valores médios encontrados (em mg/kg) foram: Na, 57; K, 1412; Cu, 17,755; Fe, 15,536; Zn, 1,173. As faixas de teores (em mg/kg) foram: Na (11-216), K (990-2544), Fe(2,072-43,758) Cu (13,977-20,161) e Zn (0,095-4,531). A composição do mel depende da flora de origem do mesmo o que justifica as diferenças de teores de metais.
Palavras chaves
Apicultura; Técnicas espectroscópicas; Mel
Introdução
O mel é um produto natural obtido por abelhas a partir do néctar das flores ou secreções de outras partes vivas das plantas ou excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre suas partes vivas. Apesar de se caracterizar por uma mistura com elevada concentração de açúcares, o mel apresenta uma composição complexa com cerca de 180 componentes diferentes. É principalmente constituído por frutose e glicose, porém também apresenta outros carboidratos, água e diversos constituintes nos quais se incluem compostos fenólicos e flavonoides, minerais, enzimas, aminoácidos e vitaminas. Os minerais estão presentes numa concentração que varia de 0,02% a valores próximos de 1%. Entre os elementos químicos inorgânicos encontrados no mel, pode-se citar Ca, Cl, Cu, Fe, Mn, Mg, P, B, K, Si, Na, S, Zn, I, Ra, Sn, Os, Al, Ti e Pb. O potássio é o elemento dominante no mel, seguido por cloro, enxofre, sódio, fósforo, magnésio, silício, ferro e cobre. A composição do mel é, contudo, muito variável uma vez que depende não só da sua origem floral e da espécie de abelhas que o fabricam como também das condições ambientais da zona onde é produzido (tipo de solo e clima) e do modo como é recolhido e posteriormente processado. Qualquer deficiência mineral acentuada do solo, rochas ou água é refletida na composição mineral das plantas e, portanto, do néctar e do pólen. Assim, os teores de íons metálicos no mel podem ajudar a determinar sua origem geográfica, pois tal composição é consistente com as condições ambientais. Este estudo visou determinar, por meio de técnicas espectroscópicas, o teor de minerais em amostras de mel de Apis mellifera provenientes de diferentes cidades do Rio Grande do Sul.
Material e métodos
Foram analisadas 23 amostras de méis de abelhas africanizadas (Apis mellifera) de onze diferentes municípios do Rio Grande do Sul: Nova Esperança do Sul (NE1, NE2 e NE3), Santiago (S1, S2 e S3), Jaguari (J1, J2 e J3), Itaqui (Iq1 e Iq2), Itacurubi (I1, I2 e I3), Santo Antônio das Missões (SA1), São Francisco de Assis (SF1, SF3 e SF4), Alegrete (A1), Formigueiro (F1), Manoel Viana (MV1 e MV2) e Unistalda (U1). As amostras foram adquiridas em mercados e diretamente de apicultores e armazenados em refrigerador até o momento da análise. Toda a vidraria utilizada nos experimentos foi lavada com Extran, imersa em solução 0,1 mol/L de ácido nítrico (HNO3) durante 48 h e, depois, lavadas com água ultrapura antes da sua utilização, a fim de evitar potencial contaminação. A determinação da concentração dos metais Na e K foi realizada por fotometria de chama utilizando um fotômetro DIGIMED (modelo DM-62), enquanto os demais metais tiveram sua concentração determinada por espectrometria de absorção atômica de chama (FAAS) em um espectrofotômetro de absorção atômica com atomização por chama Thermo (modelo ICE 3000). Para determinação de Fe, Cu e Zn foram utilizados os comprimentos de onda de 248,3; 324,7 e 213,9 nm, respectivamente, e chama de ar-acetileno. Para determinação de Na e K, o fotômetro de chama foi calibrado com uma solução comercial (solução 20 ppm de Na, K, Li e Ca, DM-S13) da DIGIMED. As curvas de calibração de Fe, Cu e Zn foram construídas a partir de soluções preparadas pela dissolução destes metais. Os teores de íons metálicos foram determinadas diretamente de uma solução composta de 10 g de mel dissolvidos com solução 0,1 mol/L de HNO3 suficiente para completar 100 mL em um balão volumétrico.
Resultado e discussão
A Tabela 1 apresenta os teores de metais nas 23 amostras de mel analisadas.
Os teores de Na foram na faixa de 11 a 216 mg/kg, sendo o menor valor
encontrado para a amostra S1 e o maior valor da amostra I2. No caso do K, os
teores foram na faixa de 990 a 2544 mg/kg, sendo o menor valor encontrado
para o mel F1 e o maior valor para o mel MV1. Os teores de Fe apresentaram-
se na faixa de 2,072 a 43,758 mg/kg, sendo o menor valor encontrado para a
amostra SF1 e o maior para a amostra I2. Para o Cu, a concentração medida no
mel foi na faixa de 13,977 e 20,161 mg/kg, sendo o menor valor da amostra
SA1 e o maior da amostra I1. Os teores de Zn foram na faixa de 0,095 e 4,531
mg/kg, sendo o menor valor encontrado para a amostra J3 e o maior para a
amostra S1. Neste estudo, os valores médios encontrados (em mg/kg) foram:
Na, 57; K, 1412; Cu, 17,755; Fe, 15,536; Zn, 1,173. O estudo do teor de
metais em 84 amostras de mel coletados na região de Lazio (Itália) encontrou
valores médios (em mg/kg) de: Na, 96; K, 472; Cu, 0,31; Fe, 4,51; Zn, 3,14.
Em estudo da composição mineral de amostras de mel provenientes das Ilhas
Canárias bem como de outras regiões foram encontrados teores (em mg/kg) de:
Fe (0,40–52,51, com valor médio de 4,85), Cu (0,10 a 1,73 com valor médio de
0,37), Zn (0,18 a 19,1, com valor médio de 1,57), K (214 a 3166, com valor
médio de 1088) e Na (9,42 – 258, com valor médio de 70,0). Um estudo com
méis provenientes de Sergipe apresentou valores (em mg/kg) de: Fe (9,35–
49,82 mg/kg), K (266,34–1299,39 mg/kg) e Na (14,21–174,84 mg/kg). Outro
estudo, envolvendo méis de diferentes regiões brasileiras, mostrou teores
(em mg/kg) de: K (41,2-60,6), Na (28,2-54,6), Zn (0-0,69) e Cu (0-3,4).
Teores de Na, K, Fe, Cu e Zn em méis de [i]Apis mellifera[/i] provenientes de diferentes cidades do Rio Grande do Sul.
Conclusões
A análise da composição mineral de amostras de mel provenientes de diferentes municípios do Rio Grande do Sul apresentou valores semelhantes a alguns estudos da literatura científica, mas discrepantes com relação a outros. Tais discrepâncias ao comparar com méis provenientes de diferentes origens geográficas podem ser explicadas pela composição do néctar que, como mencionado, reflete as condições ambientais. Estudos adicionais serão realizados a fim de avaliar correlações entre os teores de minerais e outras propriedades físico-químicas bem como a relação com a posição geográfica de produção.
Agradecimentos
Os autores agradecem à PROPEG-URI, à CNPq pelo apoio financeiro.
Referências
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