Atividade antioxidante de compostos fenólicos em maracujá do mato (Passiflora caerulea Linnaeus)
ISBN 978-85-85905-21-7
Área
Alimentos
Autores
Beling, P.C. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA) ; Sganzerla, W.G. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA) ; Machado, V.C.S. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA) ; Komatsu, R.A. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA) ; Zinger, F.D. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA) ; Nunes, M.R. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA) ; Veeck, A.P.L. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA)
Resumo
Os frutos do maracujazeiro do mato são bagas de forma globosa e carnosa, onde a parte interna é formada pelas sementes e arilos, sendo que no ponto de maturação alcançam polpa de cor vermelha intensa. Aliado a isso, as frutas apresentam compostos bioativos, sendo os compostos fenólicos os principais responsáveis pela ação antioxidante, estabilizando os radicais livres. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi quantificar os compostos fenólicos e a atividade antioxidante em maracujá do mato (Passiflora caerulea Linnaeus), utilizando etanol como solvente extrator e dois tratamentos para o arilo. Os resultados demonstram que a secagem das amostras favorece a concentração dos compostos fenólicos, sendo estatisticamente maior no arilo em base seca, que vão possuir maior ação antioxidante.
Palavras chaves
frutas nativas; compostos bioativos; atividade antioxidante
Introdução
O Brasil apresenta em sua flora uma rica diversidade de árvores frutíferas, e destaca-se por apresentar um alto potencial alimentar, na comercialização e no desenvolvimento de novos produtos. Aliado a isso, a serra catarinense apresenta uma gama de frutíferas nativas, tais como a goiaba serrana (Acca sellowiana), a uvaia (Eugenia pyriformis Cambess), a amora preta (Morus nigra), a cereja do Rio Grande (Eugenia involucrata), o butiá (Butia eriospatha), a guabiroba (Campomanesia reitziana) , dentre outros. O maracujazeiro do mato pertence à família da Passifloraceae, e pode alcançar uma altura de 2 a 4 metros, sendo encontrado desde a caatinga, mata atlântica e até floresta ombrófila mista. Os frutos podem ser consumidos ainda verdes, mas no ponto de maturação alcançam polpa de cor vermelha intensa. São caracterizados como ovoide, possuindo tamanho variando de 4-6 e 3-4 cm. Segundo Manica (1997), os frutos de maracujazeiro são bagas de forma globosa e carnosa, onde a parte interna é formada pelas sementes e respectivos arilos, sendo este conjunto a parte comestível da fruta. Outro fator que pode agregar valor é a presença de ácidos fenólicos que conferem às frutas, em geral, ação antioxidante alta, sendo eficaz no combate das moléculas pró-oxidantes, quando consumidos com certa frequência. O consumo de antioxidantes naturais é associado à prevenção e tratamento da obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes (COSTA e ROSA, 2010; REIS et al., 2016;). Diante disso, o objetivo deste trabalho foi quantificar os compostos fenólicos e a atividade antioxidante em maracujá do mato (Passiflora caerulea Linnaeus), utilizando etanol como solvente extrator.
Material e métodos
As amostras de maracujá do mato foram coletadas, no ponto da maturação característico da espécie, na área urbana do município de Lages/SC. Em seguida, as amostras foram separadas manualmente em arilos (polpa com as sementes) e casca, sendo armazenadas em freezer industrial (-18 ± 2ºC). Utilizaram-se dois tratamentos para os arilos (base seca e base úmida), sendo os extratos preparados em duas repetições e analisados em triplicata para cada análise. Os extratos foram preparados utilizando uma diluição na proporção de 1:10 (m/v), utilizando etanol como solvente extrator, permanecendo em repouso por uma semana, em frasco âmbar escuro e sob refrigeração. Em seguida os extratos foram filtradas em papel filtro qualitativo para a realização das análises. A análise de compostos fenólicos totais foi determinada segundo o método modificado de Folin-Ciocauteau (SWAIN; HILLIS, 1959). Já a determinação da atividade antioxidante foi realizada através da remoção do radical DPPH - (1,1-difenil-2- picrilhidrazil), proposto por Brand-Willians et al. (1995) e a remoção do radical ABTS - (ácido 2,2′-azino-bis(3-etilbenzotiazolino-6-sulfônico)), segundo Arnao et al. (2001). Já a atividade antioxidante pela redução do ferro (FRAP - Ferric Reducing Antioxidant Power) determinou-se de acordo com a metodologia de Benzie e Strain (1996). Os resultados obtidos de compostos fenólicos e de atividade antioxidante foram submetidos à análise de variância (ANOVA), e as diferenças entre as médias foram determinadas pelo teste de Tukey (p<0,05), através do programa Statistica® 7.0.
Resultado e discussão
A Figura 01 apresenta o resultado obtido para os fenólicos totais para o
arilo de maracujá do mato em base seca e em base úmida. Segundo Miranda
(2015), a polpa de maracujá cobra (Passiflora trintae) obteve 19,31 mg de
GAE.100g-1 de polpa. Já Cazarin et al. (2014) avaliaram a presença de
compostos fenólicos em Passiflora edulis, e obtiveram 206 mg de GAE.100g-1
de polpa para o extrato etanólico. Os valores de compostos fenólicos foram
estatisticamente iguais dentro de cada repetição, sendo inferiores
utilizando a polpa de maracujá em base úmida, ou seja, in natura. Com a
secagem da polpa, o teor de compostos fenólicos aumentou significativamente.
De maneira geral, percebe-se que diferentes espécies de maracujá, apresentam
diferentes concentrações de compostos fenólicos. Essas espécies podem
apresentar diferença entre si, com relação ao rendimento de polpa, cor de
polpa, números de sementes, dentre outras. Diante desses fatores, a presença
de compostos bioativos, principalmente os compostos fenólicos, variam muito
entre cada tipo de espécie de maracujá, sendo o maracujá do mato, o que
apresentou maior valor de compostos fenólicos (comparado com outros
trabalhos). A Tabela 01 apresenta os resultados de atividade antioxidantes,
pelos métodos de DPPH, ABTS e FRAP, para a polpa e semente de maracujá.
Através dos resultados obtidos, percebe-se que o maracujá do mato em base
seca, apresentou estatisticamente (p<0,05) maior atividade antioxidante em
todos os testes (DPPH, ABTS e FRAP) e foi superior em relação ao maracujá em
base úmida. A atividade antioxidante está associada à presença de compostos
fenólicos. O maracujá em base seca apresentou maior teor de compostos
fenólicos, obtendo assim maior valor de atividade antioxidante, sendo
estatisticamente igual em cada repetição.
Fenólicos totais para o maracujá do mato
Atividade antioxidante.
Conclusões
Diante disso, a secagem das amostras favorece a concentração dos compostos fenólicos, que vão possuir maior ação antioxidante. As amostras em base úmida apresentaram menores teores de compostos fenólicos e menores teores de atividade antioxidante, comparado com as amostras em base seca.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC Campus Lages e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo apoio concedido.
Referências
ARNAO, M. B. et al. The hydrophilic and lipophilic contribution to total antioxidant activity. Food Chemistry, v. 73, p. 239–244, 2001.
BENZIE, I. F. F.; STRAIN, J. J. The ferric reducing ability of plasma (FRAP) as a measure of ‘‘antioxidant power’’: the FRAP assay. Analytical Biochemistry, v. 239, p. 70–76, 1996.
BRAND-WILLIAMS, W. et al. Use of a free radical method to evaluated antioxidant activity. LWT - Food Science and Technology, v. 28, p. 25-30, 1995.
CAZARIN, Cinthia Baú Betim et al. Capacidade antioxidante e composição química da casca de maracujá (Passiflora edulis). Ciência Rural, v. 44, n. 9, p.1699-1704, set. 2014.
COSTA, N. M. B; ROSA, C. O. B. Alimentos Funcionais: componentes bioativos e efeitos fisiológicos. Rio de Janeiro: Rubio, 2010.
MANICA, I. Maracujazeiro: Taxonomia, anatomia e morfologia. Maracujá: temas selecionados (1): melhoramento, morte prematura, polinização e taxonomia. In: MANICA, I. (ed.); Porto Alegre : Editora Cinco Continentes, 1997. p. 7-24.
MIRANDA, Cindy Emanuely Pereira. Compostos bioativos do maracujá cobra (Passiflora trintae). 2015. 51 f. Dissertação (Mestrado) - Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Triângulo Mineiro - Campus Uberaba, Uberaba, 2015.
REIS, L.C.R. et al. Análise da composição nutricional e estabilidade de compostos fenólicos e antocianinas totais do guabijú (Myrcianthes punges). Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p.89-104, jan/abr. 2016.